Art.
3 — Se o Espírito Santo deve ser considerado pai de Cristo segundo a
humanidade.
O terceiro discute-se assim. — Parece que o
Espírito Santo deve ser considerado pai de Cristo segundo a humanidade.
1. — Pois, segundo o Filósofo, o pai dá o princípio activo na geração e a
mãe ministra a matéria. Ora, a Santa Virgem é considerada mãe de Cristo,
por causa da matéria que ministrou na sua concepção. Logo, parece que também o
Espírito Santo pode ser considerado pai de Cristo, por ter sido o princípio activo
na sua concepção.
2. Demais. — Assim como o coração dos
outros santos foi formado pelo Espírito Santo, assim também o foi o corpo de
Cristo. Ora, por causa dessa formação, os outros são considerados filhos de
toda a Trindade; e por consequência, do Espírito Santo. Logo, parece que Cristo
deve ser considerado filho do Espírito Santo.
3. Demais. — Deus é considerado nosso
pai por nos ter feito, segundo a Escritura: Não
é ele teu pai, que te possuiu, e te fez e te criou? Ora, o Espírito Santo
fez o corpo de Cristo, como se disse. Logo, o Espírito Santo deve ser
considerado corpo de Cristo, por causa do corpo que formou.
Mas, em contrário, Agostinho diz: Cristo não nasceu como filho do Espírito
Santo, mas sim, como filho de Maria Virgem.
As qualidades de
paternidade, de maternidade e de filiação resultam da geração; não de qualquer,
mas propriamente, da geração dos seres vivos e sobretudo dos animais. Assim,
não dizemos que há um fogo gerado por outro, gerador, senão só metaforicamente.
Mas assim o dizemos dos animais, cuja geração é mais perfeita. Contudo, nem
tudo o gerado nos animais recebe o nome de filiação, mas só o gerado semelhante
ao gerador, Por isso, como adverte Agostinho, não dizemos que o cabelo nascido
no homem é filho do homem; nem, que um recém-nascido é filho do sémen. Pois,
nem o cabelo tem a semelhança do homem, nem o recém-nascido a semelhança do sémen,
mas, do homem gerador. E se essa semelhança for perfeita, perfeita será a
filiação, tanto na ordem divina como na humana. Mas se a semelhança for
imperfeita, imperfeita será também a filiação. Assim, o homem é uma semelhança
imperfeita de Deus, por ter sido criado à imagem de Deus e por ter sido criado
uma segunda vez pela semelhança da graça. Donde, de um e outro modo, o homem
pode ser considerado filho de Deus, tanto por ter sido criado à sua imagem,
como por se lhe ter assemelhado pela graça. Devemos porém notar, que o nome
atribuído perfeitamente a um ser, não se lhe deve atribuir de um modo
imperfeito. Assim, por ser Sócrates considerado homem, no sentido próprio desta
expressão, nunca lhe chamaremos homem no sentido em que consideramos homem o
que só em pintura o é, embora Sócrates se assemelhasse a outro homem.
Ora, Cristo é o Filho de Deus na
acepção perfeita da palavra filiação. Por isso, embora pela sua natureza humana
fosse criado e justificado. não deve ser chamado Filho de Deus, nem em razão da
criação, nem em razão da justificação. Mas só em razão da geração eterna, pela
qual é o Filho só do Pai. Portanto, Cristo de nenhum modo deve ser considerado
filho do Espírito Santo, nem também de toda a Trindade.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Na concepção de Cristo, de Maria Virgem, esta ministrou a matéria com
semelhança específica. Por isso dizemos que Cristo é seu filho. Mas Cristo,
enquanto homem, foi concebido do Espírito Santo como do princípio activo: mas
não pela semelhança específica como dizemos que um filho nasce de seu pai. Por
isso não dizemos que Cristo é filho do Espírito Santo.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Os homens,
formados espiritualmente pelo Espírito Santo, não podem chamar-se filhos de
Deus, na acepção perfeita da palavra filiação. Por isso, chamam-se filhos de
Deus por uma filiação imperfeita, fundada na semelhança da graça, que procede
de toda a Trindade. Mas, isso não se dá com Cristo, como dissemos.
E o mesmo devemos RESPONDER À TERCEIRA
OBJECÇÃO.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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