Em seguida, devemos tratar do
princípio activo na concepção de Cristo.
E nesta questão discutem-se quatro
artigos:
Art. 1 — Se a obra da concepção de
Cristo deve ser atribuída ao Espírito Santo.
Art. 2 — Se Cristo deve ser
considerado como concebido do Espírito Santo.
Art. 3 — Se o Espírito Santo deve ser
considerado pai de Cristo segundo a humanidade.
Art. 4 — Se a Santa Virgem foi de
algum modo, princípio activo na concepção do corpo de Cristo.
Art.
1 — Se a obra da concepção de Cristo deve ser atribuída ao Espírito Santo.
O primeiro discute-se assim. — Parece que a
obra da concepção de Cristo não deve ser atribuída ao Espírito Santo.
1. — Pois, conforme diz Agostinho, são
indivisas as obras da Trindade, como indivisa é a essência da Trindade. Ora, a
obra da concepção de Cristo é uma obra divina. Logo, parece que não dever ser
atribuída, antes, ao Espírito Santo, que ao Pai ou ao Filho.
2. Demais. — O Apóstolo diz: Quando veio o cumprimento enviou Deus a seu
Filho, feito de mulher. Expondo o que, diz Agostinho: Foi certamente mandado por quem o fez nascer de uma mulher. Ora, a
missão do Filho é atribuída principalmente ao Pai, como se estabeleceu na
Primeira Parte. Logo, também a concepção, enquanto foi feito de mulher, deve
ser principalmente atribuída ao Pai.
3. Demais. — A Escritura diz: A Sabedoria edificou para si uma casa.
Ora, Cristo é a Sabedoria de Deus, segundo o Apóstolo: Cristo, Virtude de Deus e Sabedoria de Deus. Ora, a casa dessa
Sabedoria é o corpo de Cristo, também chamado o seu templo, segundo o
Evangelho: Mas ele falava do templo do
seu corpo. Logo, parece que a obra da concepção do corpo de Cristo deve ser
atribuída principalmente ao Filho. Portanto, não ao Espírito Santo.
Mas, em contrário, o Evangelho: O Espírito Santo descerá sobre ti, etc.
A obra da concepção do
corpo de Cristo foi realizada por toda a Trindade. Mas é atribuída ao Espírito
Santo, por três razões. — Primeiro, porque isso convinha à causa da Encarnação,
considerada relativamente a Deus. Pois, o Espírito Santo é o amor do Pai e do
Filho, como estabelecemos na Primeira Parte. Ora, é uma prova máxima do amor de
Deus que o Filho de Deus tivesse assumido a carne no ventre virginal; donde o
dizer o Evangelho: Assim amou Deus ao
mundo, que lhe deu a seu Filho unigénito. — Segundo, porque isso convinha à
causa da Encarnação, relativamente à natureza assumida. Pois, por aí entendemos
que a natureza humana foi assumida pelo Filho de Deus na unidade de pessoa, não
por causa de nenhum mérito, senão só pela graça. E esta é atribuída ao Espírito
Santo, segundo o Apóstolo: Há repartição
de graça, mas um mesmo é o Espírito. Donde o dizer Agostinho: O modo pelo qual Cristo nasceu do Espírito
Santo nos insinua a graça de Deus; pois, o homem, no momento mesmo em que a sua
natureza começou a existir, e sem nenhum mérito anterior, foi tão perfeitamente
unido ao Verbo de Deus na unidade de pessoa, que o Filho do homem foi o mesmo
que o Filho de Deus. — Terceiro, porque convinha ao termo da Encarnação.
Pois, o fim da Encarnação foi fazer com que o homem Cristo concebido fosse
santo e Filho de Deus. Ora, ambos esses efeitos se atribuem ao Espírito Santo.
Pois, por ele os homens se tornam filhos de Deus, segundo o Apóstolo: Porque vós sois filhos de Deus, mandou Deus
aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Pai, Pai. E ele é
também o Espírito de santificação, no
dizer ainda do Apóstolo. Ora, assim como os outros homens são santificados
espiritualmente para serem os filhos adoptivos de Deus, assim Cristo foi
concebido na santidade, pelo Espírito Santo, para que fosse naturalmente o
Filho de Deus. Donde, conforme uma glosa, a palavra do Apóstolo — Que foi predestinado Filho de Deus com poder
— é explicada pelo que imediatamente se lhe segue - segundo o Espírito de santificação, isto é, por ter sido concebido do
Espírito Santo. E o próprio Anjo, anunciando pelas palavras que primeiro
pronunciou — O Espírito Santo descerá
sobre ti — conclui: E por isso mesmo
o santo que há de nascer de ti será chamado Filho de Deus.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— A obra da concepção é por certo comum a toda a Trindade; mas de um certo modo
é atribuída a cada uma das Pessoas. Assim, ao Pai é atribuída a autoridade
sobre a pessoa do Filho, que por essa concepção assumiu para si a carne. Ao
Filho é atribuída a própria assunção da carne. Mas ao Espírito Santo é
atribuída a formação do corpo assumido pelo Filho. Pois, o Espírito Santo é o
Espírito do Filho, segundo o Apóstolo: Mandou
Deus o Espírito de seu Filho. Porque, assim como a virtude da alma, existente
no sémen, pelo espírito que o sémen contém, forma o corpo, na geração dos
outros homens, assim a Virtude de Deus, que é o próprio Filho, segundo o
Apóstolo - Cristo, virtude de Deus,
formou, mediante o Espírito Santo o corpo que assumiu. E o mesmo significam
as palavras do anjo quando declarou: O
Espírito Santo descerá sobre ti, como para preparar e formar a matéria do
corpo de Cristo; é a Virtude do Altíssimo,
isto é, Cristo, te cobrirá da sua sombra,
isto é, como ensina Gregório, o teu corpo humano receberá a luz incorpórea da
Divindade; pois, a sombra supõe a luz e um corpo. E a expressão - Altíssimo,
significa o Pai, cuja virtude é o Filho.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A missão se
refere à pessoa assumente, enviada pelo Pai; enquanto a concepção refere-se ao
corpo assumido, formado por obra do Espírito Santo. E assim, embora a missão e
a concepção tivessem o mesmo sujeito, diferindo porém pelas suas noções
respectivas, a missão se atribui ao Pai; a obra da concepção, porém, ao
Espírito Santo; e enfim, o assumir a carne, ao Filho.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Diz Agostinho: A questão vertente pode ser entendida em
dois sentidos. Num primeiro sentido, a casa de Cristo é a Igreja, que edificou
com o seu sangue. Depois, também podemos chamar casa ao seu corpo, assim como
foi chamado o seu templo. Quanto ao feito do Espírito Santo, foi obra do Filho
de Deus, por causa da unidade de natureza e de vontade.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.