Tempo comum XVIII Semana
Evangelho:
Mt 16, 24-28
24 Então, Jesus disse aos
Seus discípulos: «Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua
cruz e siga-Me. 25 Porque quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á;
e quem perder a sua vida por amor de Mim, achá-la-á. 26 Pois, que
aproveitará a um homem ganhar todo o mundo, se vier a perder a sua alma? Ou que
dará um homem em troca da sua alma? 27 Porque o Filho do Homem há-de
vir na glória de Seu Pai com os Seus anjos, e então dará a cada um segundo as
suas obras. 28 Em verdade vos digo que, entre aqueles que estão aqui
presentes, há alguns que não morrerão antes que vejam vir o Filho do Homem com
o Seu reino».
Comentário:
Ah a cruz!
A cruz de cada dia que é de cada um,
pesada, leve, mas... cruz, é, quase sempre, feita por nós.
Como dizia São Filipe de Néri «os
homens são frequentemente os carpinteiros das suas próprias cruzes».
O que tem o Senhor a ver com a nossa
cruz?
Tem muito a ver porque Ele próprio
carregou com ela ou, pelo menos com a parte mais pesada, mais penosa de
transportar. A Cruz que levou às costas para o monte Calvário tinha o peso de
todos os nossos pecados, faltas, omissões e desvarios de todos os homens e de
todos os tempos.
A nossa cruz do dia-a-dia tem só o peso
das faltas que acrescentamos pela nossa fragilidade; são muitas as faltas…o
peso é maior, são poucas e sem grande relevo…é mais levadeira.
A nossa cruz e a Cruz da Redenção têm
em comum que para serem levadas precisam do Senhor, dos Seus ombros fortes, da
Sua ajuda preciosa.
Sozinhos não a moveremos um milímetro!
(AMA, comentário
sobre Mt 16, 24-28, 2007.06.20)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Amigos
de Deus
252
Além
disso, seria bom que pensásseis que ninguém escapa ao mimetismo.
Os
homens, até inconscientemente, movem-se num contínuo afã de se imitarem uns aos
outros.
E
nós, abandonaremos o convite para imitar Jesus?
Cada
indivíduo esforça-se por se identificar, pouco a pouco, com aquilo que o atrai,
com o modelo que escolheu para a sua própria maneira de ser.
De
acordo com o ideal que cada um forja para si mesmo, assim resulta o seu modo de
proceder.
O
nosso Mestre é Jesus Cristo: o Filho de Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima
Trindade.
Imitando
a Cristo, alcançamos a maravilhosa possibilidade de participar nessa corrente
de amor, que é o mistério de Deus Uno e Trino.
Se
em certas ocasiões não vos sentis com forças para seguir as pisadas de Jesus
Cristo, conversai, como entre amigos, com aqueles que o conheceram enquanto
permaneceu nesta nossa terra.
Em
primeiro lugar, com Maria, que o trouxe para nós.
Com
os Apóstolos. Vários gentios aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da
Galileia, e fizeram-lhe este pedido, dizendo: desejamos ver Jesus.
Foi
Filipe e disse-o a André; André e Filipe disseram-no a Jesus.
Não
é verdade que isto nos anima?
Aqueles
estrangeiros não se atrevem a apresentar-se ao Mestre e procuram um bom
intercessor.
253
Pensas
que os teus pecados são muitos, que o Senhor não poderá ouvir-te?
Não
é assim, porque tem entranhas de misericórdia.
Se,
apesar desta maravilhosa verdade, dás conta da tua miséria, mostra-te como o
publicano: Senhor, aqui estou, tal como Tu vês!
E
observai o que nos conta S. Mateus, quando põem diante de Jesus um paralítico.
Aquele
doente não diz nada: só está ali, na presença de Deus.
E
Cristo, comovido por essa contrição, pela dor daquele que sabe que nada merece,
não tarda em reagir com a sua misericórdia habitual: Tem confiança, são-te
perdoados os teus pecados.
Eu
aconselho-te a que, na tua oração, intervenhas nas passagens do Evangelho, como
um personagem mais.
Primeiro,
imaginas a cena ou o mistério, que te servirá para te recolheres e meditares.
Depois,
aplicas o entendimento, para considerar aquele rasgo da vida do Mestre: o seu
Coração enternecido, a sua humildade, a sua pureza, o seu cumprimento da
Vontade do Pai.
Conta-lhe
então o que te costuma suceder nestes assuntos, o que se passa contigo, o que
te está a acontecer.
Mantém-te
atento, porque talvez Ele queira indicar-te alguma coisa: surgirão essas moções
interiores, o caíres em ti, as admoestações.
254
Para
orientar a oração, costumo - talvez isto possa ajudar algum de vós -
materializar até o que há de mais espiritual.
Nosso
Senhor utilizava este processo.
Gostava
de ensinar por parábolas, tiradas do ambiente que o rodeava: do pastor e das
ovelhas, da vide e dos sarmentos, de barcos e redes, da semente que o semeador
lança às mãos cheias...
Na
nossa alma caiu a Palavra de Deus.
Que
tipo de terra é a que lhe preparámos?
Abundam
as pedras?
Está
cheia de espinhos?
É
talvez um lugar demasiadamente calcado por pegadas meramente humanas,
mesquinhas, sem brio?
Senhor,
que a minha parcela seja terra boa, fértil, exposta generosamente à chuva e ao
sol; que a tua semente pegue; que produza espigas gradas, trigo bom.
Eu
sou a videira, vós os sarmentos.
Chegou
Setembro e as cepas estão carregadas de vergônteas longas, finas, flexíveis e
nodosas, abarrotadas de fruto, prontas já para a vindima.
Reparai
nesses sarmentos repletos, porque participam da seiva do tronco.
Só
assim aqueles minúsculos rebentos de alguns meses atrás puderam converter-se em
polpa doce e madura, que encherá de alegria a vista e o coração das pessoas.
No
solo ficam talvez algumas varas toscas, soltas, meias enterradas. Eram
sarmentos também, mas secos, estiolados.
São
o símbolo mais gráfico da esterilidade. Porque, sem mim, nada podeis fazer.
O
tesouro. Imaginai a alegria imensa do afortunado que o encontra. Acabaram os
apertos, as angústias.
Vende
tudo o que possui e compra aquele campo.
Todo
o seu coração pulsa aí: onde esconde a sua riqueza.
O
nosso tesouro é Cristo; não nos deve importar o facto de deitarmos pela borda
fora tudo o que for estorvo, para o poder seguir.
E
a barca, sem esse lastro inútil, navegará directamente para o porto seguro do
Amor de Deus.
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Há
mil maneiras de rezar, digo-vos de novo.
Os
filhos de Deus não precisam de um método, quadriculado e artificial, para se
dirigirem ao seu Pai.
O
amor é inventivo, industrioso; se amamos, saberemos descobrir caminhos
pessoais, íntimos, que nos levam a este diálogo contínuo com o Senhor.
Queira
Deus que tudo o que acabamos de contemplar hoje, não passe pela nossa alma como
uma tormenta de verão: quatro gotas, sol e de novo a seca.
Esta
água de Deus tem de remansar-se, chegar às raízes e dar fruto de virtudes.
Assim
irão passando os nossos anos - dias de trabalho e de oração - na presença do
Pai.
Se
fraquejarmos, recorreremos ao amor de Santa Maria, Mestra de oração; e a S.
José, Pai e Senhor nosso, a quem tanto veneramos, que é quem mais intimamente
privou neste mundo com a Mãe de Deus e - depois de Santa Maria - com o seu
Filho Divino. E eles apresentarão a nossa debilidade a Jesus, para que Ele a
converta em fortaleza.
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A
vocação cristã, que é um chamamento pessoal do Senhor, leva cada um de nós a
identificar-se com Ele.
Não
devemos esquecer-nos, porém, de que Ele veio à Terra para redimir o mundo
inteiro, porque quer que os homens se salvem.
Não
há uma só alma que não interesse a Cristo. Cada uma lhe custou o preço do seu
Sangue.
Ao
considerar estas verdades, vem-me à memória a conversa dos Apóstolos com o
Mestre momentos antes do milagre da multiplicação dos pães.
Uma
grande multidão acompanhara Jesus.
Nosso
Senhor ergue os olhos e pergunta a Filipe: Onde
compraremos pão para dar de comer a toda esta gente?
Fazendo
um cálculo rápido, Filipe responde: Duzentos
dinheiros de pão não bastam para cada um receber um pequeno bocado.
Como
não dispõem de tanto dinheiro, lançam mão de uma solução caseira.
Diz-lhe
um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro: Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixes, mas que
é isto para tanta gente.
257
O fermento e a massa
Nós
queremos seguir o Senhor e desejamos difundir a sua Palavra. Humanamente
falando, é lógico que também perguntemos a nós mesmos: mas que somos nós para
tanta gente?
Em
comparação com o número de habitantes da Terra, ainda que nos contemos por
milhões, somos poucos.
Por
isso, temos de considerar-nos como uma pequena levedura, preparada e disposta a
fazer o bem à humanidade inteira, recordando as palavras do Apóstolo: Um pouco de levedura fermenta toda a massa,
transforma-a.
Precisamos,
portanto, de aprender a ser esse fermento, essa levedura, para modificar e
transformar as multidões.
Por
si mesmo é o fermento melhor do que a massa?
Não.
Mas
é o meio necessário para que a massa se transforme, tornando-se alimento
comestível e são.
Pensai
mesmo que seja a traços largos, na eficácia do fermento, que serve para
fabricar o pão, alimento básico, simples, ao alcance de todos.
A
preparação da fornada, em muitos sítios, é uma verdadeira cerimónia, e dali sai
um produto estupendo, saboroso que se come "com os olhos"...
Talvez
já a tenhais presenciado.
Escolhem
farinha boa; se é possível, da melhor.
Trabalham
a massa na masseira, para a misturar bem com o fermento, em longo e paciente
labor.
Depois
um tempo de repouso, imprescindível para que a levedura cumpra a sua missão,
inchando a massa.
Entretanto
arde o lume no forno, animado pela lenha que se consome...
E
aquela massa, metida no calor do lume, torna-se o pão fresco, esponjoso, de
grande qualidade.
Resultado
impossível de conseguir, se não fosse pela levedura - em pouca quantidade - que
se diluiu, que desapareceu no meio dos outros elementos, num trabalho
eficiente, mas que não se vê...
258
Se
meditarmos com sentido espiritual no texto de S. Paulo, compreenderemos que
temos de trabalhar em serviço de todas as almas. O contrário seria egoísmo.
Se
olharmos para a nossa vida com humildade, veremos claramente que o Senhor nos
concedeu talentos e qualidades, além da graça da fé.
Nenhum
de nós é um ser repetido.
O
Nosso Pai criou-nos um a um, repartindo entre os seus filhos diverso número de
bens.
Pois
temos de pôr esses talentos, essas qualidades, ao serviço de todos; temos de
utilizar esses dons de Deus como instrumentos para ajudar os homens a
descobrirem Cristo.
Não
vejais este afã como um acrescentamento, como uma espécie de enfeite que se
junta à nossa condição de cristãos.
Se
a levedura não fermenta, apodrece.
Pode
desaparecer dando vida à massa, mas também pode desaparecer porque se perde em
homenagem à ineficácia e ao egoísmo.
Não
prestamos um favor a Deus Nosso Senhor quando o damos a conhecer aos outros: por pregar o Evangelho não tenho de que me
gloriar, pois me é imposta essa obrigação, por mandato de Jesus Cristo; e ai de
mim se eu não evangelizar!
(cont)
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