Tempo comum XIX Semana
Evangelho:
Jo 12, 24-26
24 Em verdade, em verdade vos digo que, se o grão de
trigo que cai na terra não morrer, 25 fica infecundo; mas, se morrer, produz
muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á e quem aborrece a sua vida neste
mundo, conservá-la-á para a vida eterna. 26 Se alguém Me quer servir, siga-Me
e, onde Eu estou, estará ali também o que Me serve. Se alguém Me servir, Meu
Pai o honrará.
Comentário:
Parece
muito lógico – como sempre, diria – a recomendação de Cristo. De facto, como
servir alguém que não se segue, que, de alguma forma está distante ou é alheio
ao nosso dia-a-dia?
Servo
e amo são duas pessoas que têm, forçosamente, conviver, dar-se, ter uma
intimidade bastante grande.
Como
o servo saberia o que o seu senhor deseja que faça em determinado momento?
E
o senhor, como poderá esperar que o servo esteja atento e satisfaça os seus
desejos?
Pois…
convivendo intimamente. Servir Cristo é, no fundo e ao cabo, conviver com Ele,
ter uma intimidade tal que não necessite nem de palavras nem de ordens
específicas para fazer,
o que, sabemos com segurança, será do seu agrado.
(ama, comentário sobre Jo 12, 24-26, Carvide, 2013.08.10)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Amigos
de Deus
274
Todas
as festas de Nossa Senhora são grandes, porque constituem ocasiões que a Igreja
nos oferece para demonstrar com factos o nosso amor a Santa Maria.
Mas
se tivesse de escolher entre essas festividades, preferiria a de hoje: a
Maternidade divina da Santíssima Virgem.
Esta
celebração leva-nos a considerar alguns dos mistérios centrais da nossa fé,
fazendo-nos meditar na Encarnação do Verbo, obra das três pessoas da Santíssima
Trindade.
Maria,
Filha de Deus Pai, pela Encarnação do Senhor no seu seio imaculado é Esposa de
Deus Espírito Santo e Mãe de Deus Filho.
Quando
a Virgem, livremente, respondeu sim aos desígnios que o Criador lhe revelou, o
Verbo divino assumiu a natureza humana - a alma racional e o corpo formado no
seio puríssimo de Maria.
A
natureza divina e a humana uniam-se numa única Pessoa: Jesus Cristo, verdadeiro
Deus e, desde então, verdadeiro Homem; eterno Unigénito do Pai e, a partir
daquele momento, como Homem, filho verdadeiro de Maria. Por isso, Nossa Senhora
é Mãe do Verbo encarnado, da segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que uniu a
si para sempre - sem confusão - a natureza humana.
Podemos
dizer bem alto à Virgem Santa, como o melhor louvor, estas palavras que
exprimem a sua mais alta dignidade: Mãe de Deus.
275
Fé do povo cristão
Sempre
foi esta a doutrina certa da fé.
Contra
os que a negaram, o Concílio de Éfeso proclamou que se alguém não confessa que
o Emanuel é verdadeiramente Deus e que, por isso, a Santíssima Virgem é Mãe de
Deus, visto que gerou segundo a carne o Verbo de Deus encarnado, seja anátema.
A
história conservou-nos testemunhos da alegria dos cristãos perante estas
decisões claras, nítidas, que reafirmavam aquilo em que todos já acreditavam: Todo o povo da cidade de Éfeso, desde as
primeiras horas da manhã até à noite, permaneceu ansioso à espera da resolução...
Quando se soube que o autor das blasfémias tinha sido deposto, todos a uma voz
começaram a glorificar a Deus e a aclamar o Sínodo, porque tinha caído o
inimigo da fé. Logo que saímos da igreja fomos acompanhados com archotes a
nossas casas. Era de noite: toda a cidade estava alegre e iluminada.
Assim
escreve S. Cirilo e não posso negar que, mesmo passados dezasseis séculos,
aquela reacção de piedade me impressiona profundamente.
Queira
Deus Nosso Senhor que esta mesma fé arda nos nossos corações e que se erga dos
nossos lábios um cântico de acção de graças, porque a Trindade Santíssima, ao
escolher Maria para Mãe de Cristo, homem como nós, pôs cada um de nós sob o seu
manto maternal.
É
Mãe de Deus e nossa Mãe.
276
A
Maternidade divina de Maria é a raiz de todas as perfeições e privilégios que a
adornam.
Por
esse título, foi concebida imaculada e está cheia de graça, é sempre virgem,
subiu ao céu em corpo e alma, foi coroada Rainha de toda a criação, acima dos
anjos e dos santos.
Mais
que Ela, só Deus.
A
Santíssima Virgem, por ser Mãe de Deus, possui uma dignidade, de certo modo
infinita, do bem infinito que é Deus.
Não
há perigo de exageros.
Nunca
aprofundaremos bastante este mistério inefável; nunca poderemos agradecer
suficientemente à Nossa Mãe a familiaridade que nos deu com a Santíssima
Trindade.
Éramos
pecadores e inimigos de Deus.
A
Redenção não só nos livra do pecado e reconcilia com o Senhor; mas converte-nos
em filhos, entrega-nos uma Mãe, a mesma que gerou o verbo, segundo a
Humanidade.
Pode
haver maior prodigalidade, maior excesso de amor?
Deus
ansiava redimir-nos, dispunha de muitas possibilidades para executar a sua
Santíssima Vontade, segundo a sua infinita sabedoria. Escolheu uma que dissipa
todas as dúvidas possíveis sobre a nossa salvação e glorificação.
Como
o primeiro Adão não nasceu de homem e de mulher, mas foi plasmado em terra,
assim também o último Adão, que havia de curar a ferida do primeiro, tomou um
corpo formado no seio de uma virgem para ser, segundo a carne, igual à carne
dos que pecaram.
277
Mãe do amor formoso
Ego quasi vitis
fructificavi...; como a videira deitei formosos ramos e
as minhas flores deram saborosos e ricos frutos.
Assim
lemos na Epístola. Que esse aroma de suavidade que é a devoção à nossa Mãe
abunde na nossa alma e na alma de todos os cristãos e nos leve à confiança mais
completa em quem vela sempre por nós.
Eu
sou a Mãe do amor formoso, do temor, da ciência e da santa esperança, lições
que hoje nos recorda Santa Maria.
Lição
de amor formoso, de vida limpa, de um coração sensível e apaixonado, para que
aprendamos a ser fiéis ao serviço da Igreja. Este não é um amor qualquer; é o
Amor.
Aqui
não há traições, nem cálculos, nem esquecimentos.
Um
amor formoso, porque tem como princípio e como fim o Deus três vezes Santo, que
é toda a Beleza e toda a Bondade e toda a Grandeza.
Mas
também se fala de temor.
Não
concebo outro temor senão o de nos afastarmos do Amor.
Porque
Deus Nosso Senhor não nos quer abatidos, timoratos ou com uma entrega anódina.
Precisa
de que sejamos audazes, valentes, delicados.
O
temor, que o texto sagrado nos recorda, traz-nos à lembrança aquela outra
queixa da Escritura: procurei o amado da
minha alma; procurei-o e não o encontrei.
Isto
pode acontecer, se o homem não compreendeu, até ao fundo, o que significa amar
a Deus.
Sucede
então que o coração se deixa arrastar por coisas que não conduzem ao Senhor.
E,
por consequência, perdemo-lo de vista.
Outras
vezes será talvez o Senhor quem se esconde; ele sabe porquê.
Anima-nos
assim a procurá-lo com maior ardor e, quando o descobrimos, exclamamos cheios
de júbilo; encontrei-o e já não o deixarei.
278
O
Evangelho da Santa Missa recordou-nos aquela cena comovente de Jesus que fica
em Jerusalém ensinando no templo.
Maria
e José perguntaram por ele a parentes e conhecidos.
E,
como não o encontrassem, voltaram a Jerusalém à sua procura.
A
Mãe de Deus, que procurou com afã o seu Filho, perdido sem sua culpa e que
sentiu a maior alegria ao encontrá-lo, ajudar-nos-á a voltar atrás, a
rectificar o que for preciso, quando, pelas nossas leviandades ou pecados, não
consigamos descobrir Cristo.
Teremos
assim a alegria de o abraçar de novo, para lhe dizer que nunca mais o
perderemos.
Maria
é Mãe da ciência, porque com Ela se aprende a lição que mais importa: que nada
vale a pena se não estamos junto do Senhor, que de nada servem todas as
maravilhas da terra, todas as ambições satisfeitas, se no nosso peito não arde
a chama de amor vivo, a luz da santa esperança, que é uma antecipação do amor
interminável, na nossa Pátria definitiva.
279
Em
mim encontra-se toda a graça de doutrina e de verdade, em mim toda a esperança
de vida e de virtude.
Com
quanta sabedoria pôs a Igreja estas palavras na boca da nossa Mãe, para que
nós, os cristãos, não as esqueçamos.
Ela
é a segurança, o Amor que nunca nos abandona, o abrigo constantemente aberto, a
mão que acaricia e consola sempre.
Um
antigo Padre da Igreja escreve que devemos procurar conservar na nossa mente e
na nossa memória um resumo ordenado da vida da Mãe de Deus.
Tereis
folheado muitas vezes prontuários de Medicina, de Matemática ou de outras
matérias.
Aí
se enumeram, para casos de necessidade urgente, os remédios imediatos, as
medidas que se devem adoptar, com o fim de não nos perdermos nessas ciências.
280
Meditemos
frequentemente tudo quanto temos ouvido sobre a nossa Mãe numa oração sossegada
e tranquila.
E,
como resultado, ir-se-á gravando na nossa alma uma espécie de compêndio, para
recorrermos a Ela sem vacilar, especialmente quando não tivermos outro apoio.
Não
será isto interesse pessoal da nossa parte?
Certamente
que o é.
Mas,
porventura, não sabem as mães que os filhos são geralmente um pouco
interesseiros e que com frequência se dirigem a elas como último remédio?
Sabem-no
e não se importam.
Por
isso são mães e o seu amor desinteressado percebe - no nosso aparente egoísmo -
o nosso afecto filial, a nossa confiança inabalável.
Não
pretendo - nem para mim, nem para vós - que a nossa devoção a Santa Maria se
limite a estas invocações prementes.
Acho,
no entanto, que não deve humilhar-nos que nos aconteça isso alguma vez.
As
mães não contabilizam os pormenores de carinho que os seus filhos lhes
demonstram, não pesam nem medem com critérios mesquinhos.
Uma
pequena demonstração de amor, saboreiam-na como se fosse mel e acabam por
conceder muito mais do que receberam.
Se
assim fazem as mães boas da terra, imaginai o que poderemos esperar da nossa
Mãe, Santa Maria!
(cont)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.