Tempo comum XV Semana
Evangelho:
Mt 12, 14-21
14 Os fariseus, saindo dali, tiveram conselho contra Ele sobre o modo de
O levarem à morte. 15 Jesus, sabendo isto, retirou-Se daquele lugar.
Muitos seguiram-n'O, e curou-os a todos. 16 Ordenou-lhes que não O
descobrissem, 17 para que se cumprisse o que tinha sido anunciado
pelo profeta Isaías: 18 “Eis o Meu servo, que Eu escolhi, o Meu
amado, em Quem a Minha alma pôs as suas complacências. Farei repousar sobre Ele
o Meu Espírito, e Ele anunciará a justiça às nações. 19 Não
discutirá, nem clamará, nem ouvirá alguém a Sua voz nas praças; 20
não quebrará a cana rachada, nem apagará a torcida que fumega, até que faça
triunfar a justiça; 21 e as nações esperarão no Seu nome”.
Comentário:
A
prudência é uma virtude muito mais difícil de alcançar do que possa pensar-se.
Confunde-se, muitas vezes, prudência com
hesitação, medo, cobardia e não tem nada a ver.
Ser prudente é, antes de mais, uma medida
inteligente porque, em suma, se trata de obter as informações e referências que
permitam decidir melhor o que fazer, que atitude tomar.
A prudência é, pois, oposta à precipitação, ao
repentismo.
Prudência é, também, obter conselho de quem dá
garantias de boa e sólida formação.
(ama, comentário sobre Mt
12, 14-21, 2011.07.16)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Amigos
de Deus
133
Como
o bater do coração
Enquanto falo, sei que vós, na presença de
Deus, procurais ir revendo o vosso comportamento.
Não
é verdade que a maioria dessas preocupações que têm inquietado a tua alma,
dessas faltas de paz, deriva de não teres correspondido aos convites divinos ou
talvez de estares a percorrer o caminho dos hipócritas, porque te procuravas a
ti próprio?
Com
o triste desejo de manter perante os que te rodeiam a mera aparência de uma
atitude cristã, no teu interior negavas-te a aceitar a renúncia, a mortificar
as tuas paixões tortuosas, a dares-te sem condições, abnegadamente, como Jesus
Cristo.
Reparai, nestes momentos de meditação
perante o sacrário, não vos podeis limitar a ouvir as palavras que o sacerdote
pronuncia como que materializando a oração íntima de cada um.
Apresento-te
umas considerações, indico-te uns pontos, para que os recebas activamente e
reflictas por tua conta, convertendo-os em tema de um colóquio pessoalíssimo e
silencioso entre ti e Deus, de maneira que os apliques à tua situação actual e,
com as luzes que o Senhor te der, distingas na tua conduta o que vai direito do
que vai por mau caminho, a fim de rectificares com a sua graça.
Agradece ao Senhor esse cúmulo de boas
obras que realizaste, desinteressadamente, porque podes cantar com o salmista: Ele tirou-me do abismo de miséria e do lodo
profundo. E firmou os meus pés sobre a rocha e dirigiu os meus passos.
Pede-lhe
também perdão pelas tuas omissões ou pelos teus passos em falso, quando te
meteste nesse lamentável labirinto da hipocrisia, ao afirmar que desejavas a
glória de Deus e o bem do teu próximo, mas na verdade só procuravas honras para
ti mesmo...
Sê audaz, sê generoso e diz que não, que já
não queres defraudar mais o Senhor e a humanidade.
134
É a hora de recorreres à tua Mãe bendita do
Céu, para que te acolha nos seus braços e te consiga do seu Filho um olhar de
misericórdia.
E
procura depois fazer propósitos concretos: corta de uma vez, ainda que custe,
esse pormenor que estorva e que é bem conhecido de Deus e de ti.
A
soberba, a sensualidade, a falta de sentido sobrenatural aliar-se-ão para te
sussurrarem: isso?
Mas
se se trata de uma circunstância tonta, insignificante!
Tu
responde, sem dialogar mais com a tentação: entregar-me-ei também nessa
exigência divina!
E
não te faltará razão: o amor demonstra-se especialmente em coisas pequenas.
Normalmente,
os sacrifícios que o Senhor nos pede, os mais árduos, são minúsculos, mas tão
contínuos e valiosos como o bater do coração.
Quantas mães conheceste como protagonistas
de um acto heróico, extraordinário?
Poucas,
muito poucas.
E
contudo, mães heróicas, verdadeiramente heróicas, que não aparecem como figuras
de nada espectacular, que nunca serão notícia - como se diz - tu e eu
conhecemos muitas: vivem sacrificando-se a toda a hora, renunciando com alegria
aos seus gostos e passatempos pessoais, ao seu tempo, às suas possibilidades de
afirmação ou de êxito, para encher de felicidade os dias dos seus filhos.
135
Tomemos outros exemplos, também da vida
corrente. S. Paulo menciona-os: todos os que combatem na arena de tudo se
abstêm, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém esperamos uma
incorruptível.
Basta
deitar um olhar à nossa volta.
Reparai
a quantos sacrifícios se submetem de boa ou má vontade, eles e elas, para
cuidar do corpo, para defender a saúde, para conseguir a estima alheia...
Não
seremos nós capazes de nos comover perante esse imenso amor de Deus, tão mal
correspondido pela humanidade, mortificando o que tiver de ser mortificado,
para que a nossa mente e o nosso coração vivam mais pendentes do Senhor?
Alterou-se de tal forma o sentido cristão em
muitas consciências que, ao falar de mortificação e de penitência, se pensa
apenas nesses grandes jejuns e cilícios que se mencionam nos admiráveis relatos
de algumas biografias de santos.
Ao
iniciar esta meditação, aceitámos a premissa evidente de que temos de imitar
Jesus Cristo, como modelo de conduta.
É
certo que Ele preparou o começo da sua pregação retirando-se para o deserto, a
fim de jejuar durante quarenta dias e quarenta noites, mas antes e depois
praticou a virtude da temperança com tanta naturalidade, que os seus inimigos
aproveitaram para rotulá-lo caluniosamente de glutão e bebedor de vinho, amigo
dos publicanos e dos pecadores.
136
Interessa-me que descubrais em toda a sua
profundidade esta simplicidade do Mestre, que não faz alarde da sua vida
penitente, porque isso mesmo te pede Ele a ti: quando jejuais, não vos mostreis tristes como os hipócritas, que
desfiguram os seus rostos para mostrar aos homens que jejuam.
Na verdade vos digo que já
receberam a sua recompensa.
Mas tu, quando jejuas,
unge a tua cabeça e lava o teu rosto, a fim de que não pareça aos homens que
jejuas, mas a teu Pai, que está presente ao que há de mais secreto, e teu Pai,
que vê no secreto, te dará a recompensa.
Assim te deves exercitar no espírito de penitência:
na presença de Deus e como um filho, como o pequenito que demonstra a seu pai
quanto o ama, renunciando aos seus poucos tesouros de escasso valor - um carro
de linhas, um soldado sem cabeça, uma carica; custa-lhe dar esse passo, mas no
fim o carinho pode mais e estende satisfeito a mão.
137
Permiti-me que vos repita uma e outra vez o
caminho que Deus espera que cada um percorra, quando nos chama para o servir no
meio do mundo, para santificar e nos santificarmos através das ocupações
normais.
Com
um sentido comum colossal, ao mesmo tempo cheio de fé, pregava S. Paulo que na
lei de Moisés está escrito: não atarás a boca ao boi que debulha o grão.
E pergunta-se: Porventura preocupar-se-á
Deus com os bois?
Ou,
pelo contrário, dirá isto sobretudo por nós?
Sim,
com certeza que se escreveram estas coisas por nós; porque a esperança faz
lavrar o que lavra, e o que debulha fá-lo com esperança de participar dos
frutos.
Nunca se reduziu a vida cristã a uma trama
angustiante de obrigações, que deixa a alma submetida a uma desesperada tensão;
a vida cristã adapta-se às circunstâncias individuais como a luva à mão e pede
que no exercício das nossas tarefas habituais, nas grandes e nas pequenas, na
oração e na mortificação, não percamos nunca o ponto de vista sobrenatural.
Pensai
que Deus ama apaixonadamente as suas criaturas, e como trabalhará o burro se
não se lhe dá de comer nem dispõe de tempo para restaurar as forças ou se se
quebranta o seu vigor com excessivas pauladas?
O
teu corpo é como um burrico - um burrico foi o trono de Deus em Jerusalém - que
te carrega pelos caminhos divinos da terra: é necessário dominá-lo para que não
se afaste dos caminhos de Deus e animá-lo para que o seu trote seja o mais
alegre e brioso que se pode esperar de um jumento.
(cont)
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