Tempo comum XI Semana
Evangelho:
Mt 5, 38-42
38 «Ouvistes que foi dito: “Olho por olho e dente por dente”. 39
Eu, porém, digo-vos que não resistais ao homem mau; mas, se alguém te ferir na
tua face direita, apresenta-lhe também a outra; 40 e ao que quer
chamar-te a juízo para te tirar a túnica, cede-lhe também a capa. 41
Se alguém te forçar a dar mil passos, vai com ele mais dois mil. 42
Dá a quem te pede e não voltes as costas a quem deseja que lhe emprestes.
Comentário:
São Mateus dá-nos conta do que,
talvez, seja um dos conselhos/preceitos do Senhor!
Não se trata de permanecer
impassível como se o mal de que somos alvo não nos atingisse mas o contrário:
retribuir-mos esse mal com o bem, sem submissão ou por medo mas com a
consciência certa que o bem vence sempre o mal e quanto mais nos custe mais
mérito alcançamos.
(ama,
comentário sobre MT 5, 38-42, 2014.06.16)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
SEGUNDA PARTE
COMO SER CRISTÃOS
xii epílogo
…/2
E a primeira conversão que se coloca na
consciência de ser criatura origina-se na Fé em Deus Pai, na Esperança em Deus
Filho e é engendrada na Caridade em Deus Espírito Santo.
O homem aceita
a Criação e reconhece o seu pecado.
O coração
clama por chegar a ser como Deus deseja ainda que sem saber exactamente o que
vai ser do homem movido pelo amor de Deus.
E assim sucessivamente qualquer nova
conversão é uma descoberta dos horizontes da Fé, da Esperança, da Caridade e um
abrir-se à perspectiva de viver em Cristo, com Cristo, por Cristo.
Este caminho de conversões – insistimos
– nunca termina pelo simples facto de que nunca chegamos a ser plenamente
cristãos ainda que não deixemos de estar enxertados em Cristo, de ser templos
do Espírito Santo e more em nós a Santíssima Trindade.
Deus não nos
tira nada do nosso ser nem nos exige deixarmos de ser nós próprios.
Sendo
plenamente nós mesmos, jamais chegamos a ser, ontológica e vitalmente, o mesmo
Cristo.
Cristo vive em
e connosco e quer que vivamos nele e com Ele e nunca se substitui a nós mesmos.
O homem é consciente das dificuldades
com que se encontra e das limitações que descobre em si próprio para que, ainda
que mantendo viva fé na divindade de Jesus Cristo e na sua Ressurreição,
desenvolver a capacidade que tem para se dirigir a Deus.
E também é
consciente de que ainda que no meio das trevas originadas pelo pecado na sua
mente, se encontra na disposição e com capacidade para amar.
O homem que se relaciona com Deus
abre-se a horizontes nunca suspeitados, inclusive quando considera que essas
relações são mais rotineiras que vividas, mais fruto do costume que de um verdadeiro
e renovado acto de amor.
Para onde nos
dirigem esses horizontes?
Ou, melhor
dito, em que consistem esses horizontes, qual é a sua verdadeira riqueza e
mistério?
Se vivemos em
Cristo, Deus acolhe-nos paternalmente como filhos.
Penetrar na
mente de Deus, nos caminhos de Deus sobre o mundo, sobre a criação é,
certamente, difícil e nem por isso temos de deixar de lado o esforço que
comporta, conscientes, além disso, de que para esse fim fomos criados por Deus.
O homem tem sempre duas opções abertas
diante de si:
- viver com Cristo;
- viver sozinho consigo próprio.
Não é possível que o homem se realize no
âmbito puramente social e cultural das construções humanas.
O homem pode
descobrir como o mundo está feito e as leis que regem a criação, o mundo que o
rodeia.
Sá o Criador,
Deus, pode dar-lhe a conhecer «porque» existe e «para que» existe.
«Não temos
aqui cidade permanente mas andamos procurando a do futuro» [1].
O homem só descobre a realidade do seu
mistério quando aceita com serenidade saber-se incapaz para certas coisas, para
certos voos da inteligência, do coração, quando se alegra com descobrir que o
seu ser é limitado e que as suas capacidades estão encerradas no seu ser.
Ao pôr-se em
contacto directamente com Deus, sabe-se «filho de Deus» com capacidade de viver
«em família com Deus».
O homem que, consciente de viver com
Cristo e em Cristo, transforma a sua vida em Redenção, em glorificação,
desenvolve as sementes que Deus pôs na sua alma com a graça: a Fé, a Esperança,
a Caridade, terá o gozo e dará a Deus o gozo de ser homem, de ser cristão, de
ser santo.
A devoção pessoal de cada cristão com a
Mãe de Deus é um estremeção no seu coração.
Ela chama à
realidade do nosso ser com o ser Mãe de Deus e convida-nos a abrir o nosso
espírito, o núcleo mais íntimo da nossa pessoa, para acolher o Espírito Santo
como Ela fez: «Faça-se em mim segundo a tua palavra» [2].
Essa é a disposição da alma cristã para
deixar Deus fazer nela a sua obra.
***
Maria é mãe da
Igreja.
E é lógico
concluir estas páginas com uma brevíssima referência explícita a que a vida
pessoal cristã de cada crente se desenvolve na harmoniosa unidade de toda a
Igreja.
Tema que,
logicamente, requer um estudo próprio e detalhado que aqui fica apenas
assinalado.
Já nos Actos dos Apóstolos consta que os
primeiros cristãos eram «um coração e uma alma» [3];
e podemos acrescentar que essa «unidade» se dá no coração do Senhor sendo todos
«filhos de Deus em Cristo» e se realiza no âmbito da Igreja, família de Deus.
O Concílio Vaticano II recorda estes
planos de Deus quando afirma:
«E estabeleceu
os que creem em Cristo na santa Igreja que já foi prefigurada desde a origem do
mundo, admiravelmente preparada na história do povo de Israel, na Antiga
Aliança» [4].
Na Igreja o homem nasce a Cristo e em
Cristo desenvolve-se e cresce.
E ao mesmo
tempo participa com todos os cristãos e com todos os homens na vida de Cristo.
Vive a
comunhão dos santos e alimenta-se sempre dessa comunhão.
Na Eucaristia,
«o corpo social da Igreja reunido em volta dos seus pastores visíveis para «o
alimento do Senhor» converte-se realmente no Corpo místico de Cristo.
E Cristo fá-lo
«próprio».
É então quando
a Igreja se torna verdadeiramente ‘corpo de Cristo’» [5].
É na Igreja onde se realiza essa unidade
no corpo de Cristo:
«Aos seus irmãos congregados de todos os povos, constitui-os misticamente o
seu corpo, comunicando-lhes o seu espírito.
Nesse corpo a vida de Cristo comunica-se aos crentes os quais estão unidos
a Cristo paciente e glorioso pelos sacramentos de um modo antigo mas real» [6].
FIM
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.