Semana VII da Páscoa
Evangelho:
Jo 21 15-19
15 Depois de comerem, disse Jesus a
Simão Pedro: «Simão, filho de João, amas-Me mais do que estes?». Ele respondeu:
«Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Jesus disse-lhe: «Apascenta os Meus cordeiros».
16 Voltou a perguntar pela segunda vez: «Simão, filho de João, amas-Me?». Ele
respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Jesus disse-lhe: «Apascenta as
Minhas ovelhas». 17 Pela terceira vez disse-lhe: «Simão, filho de João,
amas-Me?». Pedro ficou triste porque, pela terceira vez, lhe disse: «Amas-Me?»,
e respondeu-Lhe: «Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que Te amo». Jesus disse-lhe:
«Apascenta as Minhas ovelhas». 18 «Em verdade, em verdade te digo: Quando tu
eras mais novo, cingias-te e ias onde desejavas; mas, quando fores velho,
estenderás as tuas mãos e outro te cingirá e te levará para onde tu não
queres». 19 Disse isto, indicando com que género de morte havia Pedro de dar
glória a Deus. Depois de assim ter falado, disse: «Segue-Me».
Comentário:
Tu que sabes tudo porque me perguntas três
vezes se Te amo?
O que pretendes com tal insistência?
Percebo, finalmente quando me perguntas se Te amo mais que os outros.
Desejaria responder-te com absoluta segurança: amo-te mais que qualquer um!
(ama, comentário sobre Jo 21, 15-19 2014.06.06)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
SEGUNDA PARTE
COMO SER CRISTÃOS
I A VIDA CRISTÃ PESSOAL
Até agora consideramos as relações que
Deus quis estabelecer com os homens: a Criação, doação de Deus Pai; a
Encarnação, doação de Deus Filho; Pentecostes a doação de Deus Espírito Santo.
Cada uma
destas relações, destas doações contem um compromisso que Deus que Deus assume
com respeito ao homens.
Deus Pai pela Criação compromete-se a
ser nosso Pai e convida o homem a ser e a viver como filho; Deus Filho pela
encarnação assume o encargo de ser nosso Redentor e convida o homem a leibertar-se
do pecado e a refazer a sua liberdade na «liberdade dos filhos de Deus»; pela
Sua vinda no Pentecostes, Deus Espírito Santo toma sobre si a tarefa de ser
nosso Santificador e convida o homem a ser santo «como e porque Deus é santo».
Com estas três relações Deus Pai, Filho
e Espírito Santo criam o homem e oferecem-lhe – convidam – participar na sua
própria vida divina que Deus apresenta ao homem para que a torne sua-
Isto é o que considerámos na Primeira
Parte tratando de descobrir o que é ser cristão.
Resumindo podemos dizer que «ser
cristão» é ser «filho de Deus em Cristo Jesus» por obra da Graça, «certa
participação na natureza divina», que o cristão recebe nos sacramentos.
O cristão está «enxertado» em Cristo e
de «filho de Deus» manifesta a sua vida por meio da Fé, acredita que Cristo é
Filho de Deus feito homem».
Por meio da
Esperança sabe-se em caminho para a vida eterna.
A Graça
enxerta o tempo do homem na eternidade de Deus.
Por meio da
Caridade o homem descobre-se vivendo movido pelo Espírito Santo e sendo
semeador de paz e de alegria nas suas actividades quotidianas: sociais,
profissionais, familiares.
Para conseguir «viver sendo cristão» o
crente necessita de cooperar com as acções de Deus, responder, por assim dizer,
aos seus convites em plena liberdade.
Não pode
coperar na acção de Deus Pai no momento da criação porque a vida humana é a
única imposição de Deus ao homem.
Ainda que
sendo uma dádiva, um dom é ao mesmo tempo um dom imposto.
Ao mesmo tempo Deus espera a
manifestação livre, clara e afirmativa da aceitação pelo homem da oferta para
que se «enxerte» em Cristo e seja assim «filho de Deus em Cristo Jesus» e
comece a sua vida cristã.
E de forma
semelhante também espera do homem uma aceitação manifesta de adesão à Redenção
e à Santificação: deixar que o Espírito Santo actue nele.
Deus respeita a liberdade humana não
impõe ao homem a realização dos sonhos divinos sobre a «única criatura
terrestre que Deus amou por si mesma» [1].
Já conhecendo o que Deus deseja e
sabendo também que o homem foi redimido do pecado dispomo-nos nesta Segunda
Parte a apresentar os canais pelos quais o homem vai dando respostas afirmativas
aos anseios e às dádivas de Deus tornado vida própria a vida que Cristo lhe
oferece e chegando assim a configurar-se como verdadeiro «filhos de Deus».
Ratzinger
comenta: «A filiação converte-se num conceito dinâmico todavia não somos
plenamente filhos de Deus mas temos de chegar a sê-lo mais e mais mediante a
nossa comunhão com Cristo cada vez mais profunda» [2].
A acção da graça divina na plenitude do
seu ser pessoal permite ao homem descobrir a dignidade, a grandeza, a beleza em
que foi criado e redimido e a dignidade e a grandeza a que é chamado-
Podemos dizer
que toda a vida cristã é o desenvolvimento dessa «filiação divina» que Deus
enxerta no ser do homem.
Nesta Segunda Parte, portanto, temos de
procurar dar resposta à pergunta de Como ser cristão?
Em suma
assinalar o canal que transporta o ser Cristão.
O Catecismo expressa estas palavras de
São Leão Magno que expressam a nova realidade do homem e a missão a que foi
chamado depois da Redenção de Cristo e da recepção do Espírito Santo.
A «nova realidade» é esta: «Cristão,
reconhece a tua dignidade.
Uma vez que
agora participas da natureza divina não degeneres voltando à baixeza da tua
vida passada.
Recorda a que
Cabeça pertences e de que Corpo és membro.
Recorda-te que
foste arrancado do poder das trevas para seres trasladado à luz do Reino de
Deus» [3].
A «nova missão» expressa-se assim: O
cristão consciente de ter sido criado «para conhecer, amar e servir a Deus
nesta vida e gozá-lo para sempre na eterna» e reconhecendo na fé a sua nova
dignidade sente-se chamado a levar por diante uma «vida digna do Evangelho de
Cristo» [4].[5]
E é a realidade desta «vida digna do
Evangelho de Cristo» que trataremos de expressar e manifestar.
razões de um título
O título do primeiro capítulo desta
Segunda Parte, talvez possa chamar a atenção.
Ao fazer
referência ao viver «com Cristo, em Cristo, por Cristo» no Espírito Santo,
tradicionalmente é costume falar-se de «vida espiritual», de «vida interior»,
de «vida sobrenatural».
Optei por
dizer Vida pessoal cristã, por várias
razões; entre elas:
- Para alcançar uma visão cabal do ser
humano como «pessoa», vale a pena superar a contraposição entendida no sentido
mais literal entre o «espírito» e a «carne», que por vezes se estabelece na literatura
espiritual entendendo, talvez, de uma forma mais redutora, - como já
assinalámos – as palavras de São Paulo no capítulo V da Carta aos Gálatas.
«Espírito» e
«carne» antes expressam o contraste entre a redenção e o pecado, entre as obras
do homem já baptizado e redimido e as do que todavia permanece em pecado.
Já Santo
Agostinho assim o considerou: «Diz-se que alguém vive segundo a carne quando
vive para si próprio. Neste caso por «carne» entende-se todo o homem já que
tudo quanto provém do amor desordenado a si próprio se chama obra da carne» [6].
Além do mais, na fé cristã e tendo em
conta que é a «pessoa» o «eu» o centro de unidade do ser humano, vivemos s
perspectiva da «ressurreição da carne» já realizada na Virgem Santíssima.
- O viver cristão afecta a pessoa na sua
integridade: corpo, alma, espírito.
Se já
sublinhámos que também o homem no «corpo» - não só no corpo na sua simples
corporeidade –também participa da imagem e semelhança de Deus, falar de «vida
espiritual» poderia prestar-se a dar uma visão reduzida da realidade da vida
cristã.
- Diga-se a mesma coisa da «vida
interior» porque a vida «com Cristo, em Cristo e por Cristo» vive-a o homem na
plenitude do seu ser e do seu actuar, da sua pessoa, não só na interioridade
das suas faculdades.
- Podemos desenvolver um raciocínio
semelhante em torno das palavras «vida sobrenatural».
O ser humano
vive a vida cristã na plenitude da sua natureza humana, a vida da Graça não
situa o homem fora do contexto do seu viver natural e estrictamente humano e,
por outro lado, nenhuma acção humana deixa de ser «acção pessoal», também
contida na sua realidade biológico-natural.
Por acção da Graça, o cristão acaba
vivendo de uma forma que – podíamos dizer – é «toda divina sem deixar de ser
humana e toda humana sem deixar de ser divina», ou melhor, «toda divina sendo
profundamente humana, toda humana sendo profundamente divina».
Por outro lado, falar apenas de «vida
sobrenatural» poderia centrar a atenção no que de extraordinário, de
extranatural há em ser filhos de Deus em Cristo e poderia originar uma visão
desfocada, desencarnada, da vida de Cristo no homem, da vida do homem em
Cristo.
o ser «nova criatura»
Esclarecido o título parece-me que
também é necessário um breve resumo para nos situarmos perante alguns detalhes
desta vida cristã pessoal que nos convém ter presente ao longo destas áginas.
A vida pessoal cristã leva consigo:
1. A necessidade de ser «nova
criatura».
Já referimos
que a graça e os Dons do Espírito Santo tornam possível este viver do cristão
como «nova criatura».
São Paulo abre
os horizontes desta transformação do homem em «nova criatura» consciente que é
uma tarefa que jamais se conclui na terra porque não se tata de conseguir umas
metas determinadas na maturidade humana nem no conhecimento dos mistérios da
terra e do céu.
O convite que
o Apóstolo faz aos de Éfeso é claro: «Deixando a vossa antiga conduta,
despojados do homem velho que se corrompe seguindo a sedução das
concupiscências, renovai o espírito da vossa mente e vesti-vos do homem novo
criado segundo Deus na justiça e santidade da verdade»[7]
.
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
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