Semana VI da Páscoa
São
Matias – Apóstolo
Evangelho:
Jo 15 9-17
9
Como o Pai Me amou, assim Eu vos amei. Permanecei no Meu amor. 10 Se
observardes os Meus preceitos, permanecereis no Meu amor, como Eu observei os
preceitos de Meu Pai e permaneço no Seu amor. 11 Disse-vos estas coisas, para
que a Minha alegria esteja em vós e para que a vossa alegria seja completa. 12 «O Meu preceito é este: Amai-vos uns aos
outros, como Eu vos amei. 13 Não há maior amor do que dar a própria vida pelos
seus amigos. 14 Vós sois Meus amigos se fizerdes o que vos mando. 15 Não mais
vos chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas
chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de Meu Pai. 16 Não
fostes vós que Me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi, e vos destinei para
que vades e deis fruto, e para que o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo o
que pedirdes a Meu Pai em Meu nome, Ele vo-lo conceda. 17 Isto vos mando:
Amai-vos uns aos outros.
Comentário:
Podemos
considerar duas passagens importantes contidas neste trecho do Evangelho de São
João.
A primeira será muito consoladora já que o Senhor afirma que foi Ele Quem nos escolheu.
Assim de nos
assaltar a dúvida dos merecimentos que possamos ter ou não para nos
considerarmos como fazendo parte do Seu rebanho com todas as implicações que
tal significa, o sabermos que Ele nos escolheu sabendo das nossas imperfeições
e misérias é porque nos quer verdadeiramente tal como somos.
A segunda teremos uma vez mais a importância do amor a Deus - que é a plenitude do Amor - e o amor ao próximo, espelho e reflexo do Criador.
(ama, comentário sobre Jo
15, 9-17 2014,05.14)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
PRIMEIRA PARTE
XIII os
mandamentos da lei de deus
…/4
o amor a deus na vida social
Todavia o ser humano não é chamado a viver plenamente
no âmbito da família.
Deus
criou o homem em família e estabeleceu uma série de vínculos entre os homens
que os levam a viver em comunidade, em relação vital.
Nenhum
ser humano é uma ilha.
Tampouco
uma família.
Nenhum
ser humano nem nenhuma família nem sequer um grupo de famílias é completamente
independente e autónomo em referência aos outros seres humanos.
E essa vida social que permite o
desenvolvimento do homem em todas as facetas do seu ser é a que normal e
fecundo a que estão chamados a proteger o sétimo e o oitavo mandamentos: Não
roubar, não mentir.
Não
só a proteger mas também a tornar possível que se viva em amor e confiança
mútuas de forma a garantir um desenvolvimento normal e fecundo em serviço de
todos.
Com efeito o não roubar os bens alheios,
sejam eles quais forem: materiais, intelectuais, espirituais, familiares,
sociais etc., assegura que cada ser humano possa cooperar na convivência familiar,
social e política com o que lhe é próprio, além de empregar esses bens para a
sua perfeição humana, natural e sobrenatural, para a glória de Deus.
Só
Deus pode retirar os talentos que Ele próprio concedeu ao ser humano ainda que
por vezes o homem se aproprie indevidamente dessa capacidade e, de certo modo,
se roube a si próprio e roube a sociedade algo que lhe era devido.
Tal acontece quando o homem se fecha no
egoísmo, deixa de considerar o mandamento como um caminho para viver no amor
face a Deus e aos homens, em serviço e para glória de Deus e em serviço dos
homens e refere qualquer riqueza de qualquer tipo que tenha à sua disposição
única e exclusivamente a si próprio, para a sua própria satisfação e prazer,
quebrando assim a ordem estabelecida por Deus.
O oitavo Mandamento, não mentir, é
dirigido a que permaneça sempre a confiança entre os homens, a que essa
confiança que torna possível a boa ordem do viver social, não se perca nem
diminua.
A
Desconfiança em Deus originou o primeiro pecado de Adão, e a desconfiança nos
«filhos de Deus» destroça os vínculos indispensáveis que tornam possível aos
homens conviver entre eles e com Deus.
O mentir pressupõe sempre a persistência
do pecado do paraíso e por isso se diz com propriedade que o diabo é é «o pai
da mentira».
Vencido
o pecado e vivendo já na ordem da redenção, o cristão é chamado a ser
testemunho vivo da verdade do homem e da verdade de Deus.
Como
os outros Mandamentos o seu enunciado negativo absoluto pressupõe uma clara
afirmação positiva.
Um
convite a que a linguagem esteja ao serviço dos planos amorosos de Deus sobre o
mundo.
Daí que a maior mentira que um discípulo
de Cristo poe expressar, mais que nas suas palavras está por vezes na sua vida
quando os seus actos não reflectem a Fé, a Esperança e a Caridade que a Graça
deveria fazer crescer no seu espírito.
Assim
no lo recorda São João:
«Se
dizemos que estamos em comunhão com Ele e caminhamos nas trevas, mentimos e não
actuamos conforme a verdade»[1].
os mandamentos contra os
inimigos da caridade
Talvez
pareça mais difícil de compreender a relação directa com a fé, com a esperança
e com a caridade que os últimos preceitos do decálogo possam guardar.
E
todavia, esses mandamentos, o nono e o décimo – não desejarás a mulher do teu
próximo, não cobiçarás os bens alheios – previnem o homem contra os grandes
inimigos da caridade e da esperança e por conseguinte, também da fé.
È comum sublinhar tudo quanto no nono
Mandamento tem uma relação mais directa com o que foi estabelecido no sexto, a
propósito da pureza da carne e do espírito para manter e engrandecer a pureza
de espírito com respeito à caridade, à sexualidade e à verdade.
Este
aspecto do Mandamento reflecte-o o Catecismo com estas palavras:
«Os
corações limpos designam o que a sua inteligência e a sua vontade ajustaram às
exigências da santidade de Deus principalmente nos três domínios: a caridade, a
castidade ou rectidão sexual, o amor à verdade à ortodoxia na fé»[2].
Depois destas afirmações, também podemos
concentrar a nossa atenção uma particularidade deste Mandamento que talvez
fique mais a descoberto se se lê a versão que o Êxodo recolhe e que diz assim:
«Não
cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu
burro nem nada que seja do teu próximo»[3].
Não parece muito ousado pensar que Deus
está fazendo o homem considerar que não deve permitir que a inveja deite raízes
na sua alma.
A
cobiça e o desejo dos bens alheios supõem criticar Deus ter sido injusto ao
criar-nos por ter feito uma má distribuição dos dons e fechar o coração do homem
a viver o agradecimento pelo recebido.
Não
aceitar, em suma, a ordem da criação constituída.
O acusar Deus de injustiça e a falta de
agradecimento que o acompanha são acções que originam directamente a inveja e
são, portanto, contrárias à caridade e impedem que o amor faça crescer no homem
a fé em Deus.
A
inveja impede o homem de conseguir alcançar a «purificação do coração».
Algo semelhante, ainda que de outro
género, acontece com o estabelecido no décimo Mandamento.
O
enunciado do preceito é bem claro e sem lugar a dúvidas:
«Não
cobiçarás os bens alheios».
E
a indicação dirige-se directamente contra a avareza.
«O
décimo Mandamento proíbe a avareza e o desejo de uma apropriação imoderada dos
bens terrenos»[4].
Quando o homem centra os eus principais
interesses nso bens terenos é lógico que descuide a perspectiva da vida eterna.
E
, então, é natural que as raízes da esperança cristã murchem.
O
verdadeiro sentido da criação e da vida, que não acaba aqui na terra, mas está
completamente aberta à vida eterna, perde os seus contornos e os seus
horizontes e o homem, em suma, abandona a vida da graça e com ela os planos de
Deus sobre ele.
O
avarento pensa só na terra, o seu olhar nunca alcança a vida eterna.
A Fé, a Esperança e a Caridade crescem
no homem quando a sua vida transcorre pelos caminhos assinalados nos
Mandamentos do Decálogo.
Ao
mesmo tempo, estes preceitos tornam possível que o homem se mantenha nessa
manifestação de verdadeiro amor a Deus e à ordem estabelecida por Deus no
mundo.
Ao
viver os preceitos divinos que os Mandamentos encerram como caminhos da sua
vida cristã, o homem descobre o amor com que Deus o ama e saboreia a verdade
das palavras de Cristo:
«Se me amais guardareis os meus
mandamentos»[5].
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
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