Semana VII da Páscoa
Evangelho:
Mc 16 15-20
15 E disse-lhes: «Ide por
todo o mundo, e pregai o Evangelho a toda a criatura. 16 Quem crer e
for baptizado, será salvo; mas quem não crer, será condenado. 17 Eis
os milagres que acompanharão os que crerem: Expulsarão os demónios em Meu nome,
falarão novas línguas, 18 pegarão em serpentes e, se beberem alguma
coisa mortífera, não lhes fará mal; imporão as mãos sobre os doentes, e serão
curados». 19 O Senhor, depois de assim lhes ter falado, elevou-Se ao céu e foi
sentar-Se à direita do Pai. 20 Eles, tendo partido, pregaram por
toda a parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra com os
milagres que a acompanhavam.
Comentário:
Em muitas das chamadas “igrejas” que proliferam um
pouco por toda a parte, uma das práticas correntes para atrair e fidelizar
prosélitos é precisamente o recurso a esses “milagres” que o Senhor promete aos
que O seguem e levam a Sua Palavra aos outros.
Como se sabe, tais “milagres” não passam de
mistificações mais ou menos grosseiras porque ninguém tem esse poder senão
aqueles a quem o Senhor o concede.
Os milagres são feitos por Jesus Cristo que se serve
dos homens por Si escolhidos como instrumentos para os realizar.
Não é possível, pois, operar milagres sejam quais
forem, em proveito próprio e, muito menos, se O Senhor está ausente ou é
abusivamente evocado seja por quem for.
(ama, comentário sobre Mc
16, 15-18, 2013.04.25)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
PRIMEIRA PARTE
xiv -o espírito das bem-aventuranças
…/3
o sentido de cada bem-aventurança
Quem são bem-aventurados ao chorar?
Formulamos
assim a pergunta porque parece óbvio que nem todo o pranto entra na
Bem-Aventurança.
Com efeito
participam desta promessa os que padecem tristeza e choram pelo pecado próprio
e pelo dos outros que, ao viver com Cristo, «fazer-se pecado» nunca lhes é
totalmente alheio.
Os que se doem
pelo afastamento de Deus pelos pecadores e por todo o mal contra Deus que se vive
na terra, contra os homens e contra si próprios que têm de suportar nas suas
vidas sem poder impedir que aconteça nem estar em condições de remediar as suas
consequências.
Cristo deu-nos um exemplo claro desta
Bem-Aventurança com o seu choro sobre Jerusalém: «ao aproximar-se e ver a
cidade chorou sobre ela dizendo: ‘Se também tu conhecesses neste dia a mensagem
de paz!’. Mas agora está oculto aos teus olhos» [1].
No pranto ante o mal podemos vislumbrar
a acção da Esperança.
O pranto
destes bem-aventurados anuncia a aurora da Ressurreição.
Quem são os Mansos?
Talvez que
esta Bem-Aventurança seja uma das que com mais frequência se interpreta com
sentido restrictivo e limitado, quase como um simples não irar-se ante o mal.
Se o próprio
Senhor nos aconselha que aprendamos dele que é «manso e humilde de coração»,
necessariamente está a indicar-nos o alcance e a profundidade espiritual da
mansidão que não pode, portanto, a manter a calma e a resignação em momentos
difíceis.
A mansidão é a disposição com que Jesus
Cristo leva a cabo a redenção do mundo carregando no seu coração com todo o
pecado dos homens e assim viver derrota do pecado, o triunfo sobre a morte em
comunhão com todos os redimidos.
Cristo é manso
no seu nascimento, é manso na sua vida pública, vive a mansidão no abandono da
cruz e manifesta definitivo sentido sobrenatural da mansidão na sua paciência e
compreensão com os discípulos de Emaús, com Pedro, com Madalena.
São mansos, por conseguinte, os que
suportam com serenidade o mal que os rodeia e não desistem de fazer o bem, os
que desejam vencer o mal com a abundância do bem [2],
os que cedem ante a maldade, ante a injustiça sem por isso deixar de defender a
Verdade e os seus direitos se fosse o caso.
Os mansos
nunca devolvem o mal com o mal, afastam do seu coração qualquer sentimento de
vingança e rezam pela conversão dos pecadores, dos inimigos, dos que os
perseguem, dos que os maltratam.
Cristo apresenta-se-nos como manso,
entre outras passagens do Evangelho, ao aceitar ser tentado pelo demónio [3];
ao recordar a Tiago e a João que a vingança e o castigo não são o caminho para
convencer ninguém [4], ao curar a orelha que
Pedro no Jardim das Oliveiras cortou com a espada [5].
Nesta Bem-Aventurança comprovamos a
virtude da Caridade e da Esperança que tornam possível que o homem não desista
de fazer o bem convencido que o mal, o pecado, não é nunca a última palavra.
Caridade e
Esperança que tornam possível o
martírio, acto por excelência da mansidão.
Quem são os que têm fome e sede de
Justiça?
Os que ama a
Deus – bem imutável e eterno – sobre todas as coisas e desejam que eles e todos
os homens deem glória a Deus em todas as sua acções.
Os que se
alegram com a conversão dos pecadores, os que gozam quando o nome de Deus é
louvado, querido e venerado porque sabem que essa é a verdadeira justiça e que
a criatura adquire a sua verdadeira dignidade em dar «glória a Deus».
Cristo expressou a sua «fome e sede de
justiça», entre outros momentos, ao recordar aos Apóstolos que «vim trazer fogo
(o fogo prefigura o Espírito Santo) à terra e quero que ateie» [6].
Ao actuar
movido «pelo zelo da casa do Pai» e expulsar do templo os mercadores [7].
Ao
prometer-nos que: «oque pedirdes em meu nome Eu o farei para que o Pai seja
glorificado no Filho» [8].
Esta Bem-Aventurança manifesta
claramente a acção da Caridade na alma do cristão, Caridade que leva a amar a
Deus sobre todas as coisas e a alegrar-se em que Cristo seja reconhecido como
Filho de Deus feito homem e ver que os homens caminham na verdade: «Alegrar-me-ei
muito ao encontrar entre os teus filhosn os que vivem segundo a verdade» [9].
A quais se pode chamar misericordiosos?
Aos que têm o
seu coração na miséria moral, física e espiritual do outros, os compassivos, os
que compreendem as debilidades e fraquezas do próximo e o ajudam a superá-las.
São
misericordiosos os que amam verdadeiramente os seus irmãos com o coração e no
coração de Cristo e não descriminam ninguém, não julgam ninguém, não deixam de
rezar por ninguém e oferecem a sua vida por todos sem esperar nada em troca.
Cristo, ao perdoar a mulher adúltera,
dá-nos um vivo exemplo do seu coração misericordioso.
Uma vez que a
mulher admite o seu pecado Cristo não a condena: deixa-a ir-se embora e
incita-a para que não volte a pecar [10].
Cristo oferece-nos o supremo acto de
misericórdia ao pedir ao Pai pelos que o crucificam, por cada um de n´s: «Pai
perdoai-lhes porque não sabem o que fazem» [11].
Esta Bem-Aventurança assinala um dos
mais altos graus da Caridade - juntamente com o martírio – que o homem pode
alcançar na terra.
O
misericordioso realiza em Cristo esse mistério do amor de Deus que São Paulo
revela nos últimos versículos do seu canto à Caridade: «A Caridade (…) tudo
desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta» [12].
Quem são os limpos de coração?
Os que
convencidos da afirmação de São Paulo: «Deus faz concorrer todas as coisas para
o bem dos que o amam» [13],
vêm a acção de Deus Pai em todos os acontecimentos da sua vida.
Nunca pensam
mal das actuações dos outros sem por isso desejar descobrir a injustiça e o mal
real e objectivo que podem levar a cabo e procuram salvar a intenção de todas
as pessoas até que se reconheça claramente a sua acção.
Estão de tal forma unidos ao querer e ao
olhar de Deus que o seu coração limpo é como um espelho que reflecte a luz do
olhar de Deus sobre o mundo.
Sofrem pelas
ofensas que à sua volta, em toda a terra, se fazem a Deus e anseiam amar a Deus
pelos que não O amam.
E fazem-nos de
tal forma que nada os apoquenta.
São Marcos
refere-se aos limpos de coração ao concluir o seu Evangelho: «Aos que
acreditarem acompanhá-los-ão estes sinais: em meu nome expulsarão os demónios,
falarão novas línguas, pegarão serpentes com as mãos e se beberem veneno não
lhes fará mal, porão as mãos sobre os doentes e curá-los-ão» [14].
Cristo sublinha a importância desta
Bem-Aventurança quando nos recomenda: «procurai, pois, primeiro o reino e a sua
justiça, e todas estas coisas (refere-se ao comer, ao beber, ao vestir, ou
seja, à necessidades normais do viver) dar-se-vos-ão por acréscimo» [15].
HNesta Bem-Aventurança a acção da Fé e
da Caridade apoiam-se e engrandecem-se mutuamente.
A Fé limpa a
inteligência, a Caridade purifica o coração.
E o coração e
a inteligência tornam possível que o crente, em alma e corpo, nas suas actuações
e nas suas palavras, seja um resplendor da luz do Céu.
Quais merecem ser considerados
pacíficos?
Os que ordenam
todos os movimentos da sua alma segundo o querer de Deus, se esforçam em viver
segundo a Vontade conhecida de Deus e submetem o seu coração à Verdade recebida
de Deus.
Os que não
põem outra resistência à acção do Espírito Santo neles que a sua fragilidade
humana e, então, o Espírito Santo cura a fragilidade.
Pacíficos no seu interior e
«construtores de paz» em todas as relações com os homens.
Os pacíficos
sendo semeadores de paz são um testemunho vivo da paz que Cristo dá, fruto da
reconciliação obtida na Cruz.
«Deus houve
por bem fazer residir em Cristo toda a Plenitude e reconciliara por ele e para
ele todas as coisas opacificando mediante o sangue da sua Cruz o que existe na
terra e nos céus» [16].
Cristo antes da sua morte dirigiu-se
assim aos Apóstolos: «A paz vos deixo a minha paz vos dou não como o mundo a
dá, eu vo-la dou» [17],
e ao apresentar-se perante eles depois da Ressurreição ofereceu-lhe de novo a
paz: «A paz esteja convosco» [18].
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
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