Tempo comum VIII Semanas
Evangelho:
Mc 11 27-33
27 Voltaram
a Jerusalém. E, andando Jesus pelo templo, aproximaram-se d'Ele os príncipes
dos sacerdotes, os escribas e os anciãos, 28 e disseram-Lhe: «Com
que autoridade fazes Tu estas coisas? E quem Te deu o direito de as fazer?».
29 Jesus disse-lhes: «Eu também vos farei uma pergunta; respondei-Me e Eu
vos direi com que autoridade faço estas coisas. 30 O baptismo de
João era do céu ou dos homens? Respondei-Me». 31 Mas eles discorriam
entre si: «Se respondermos que era do céu, Ele dirá: “Porque razão, então, não
crestes nele?”. 32 Responderemos que é dos homens?». Temiam o povo,
porque todos tinham a João como um verdadeiro profeta. 33 Então
responderam a Jesus: «Não sabemos». E Jesus disse-lhes: «Pois nem Eu vos digo
com que autoridade faço estas coisas».
Comentário:
A pergunta parece ter
razão de ser. Se os chefes do povo não reconhecem Jesus como o Cristo, o Filho
de Deus, a questão “reforça” aos olhos dos circunstantes essa mesma posição.
Esta a verdadeira razão da
pergunta.
Por vezes não fazemos
exactamente o mesmo?
Formulamos uma pergunta
com o objectivo de lançar uma dúvida sobre alguém como, por exemplo: Será que
fulano é honesto?
E, quando nos respondem
porque perguntamos tal coisa não aproveitamos o ensejo para dar o nosso “parecer”,
opinião ou suspeitas?
(AMA, comentário sobre Mc
11, 27-33, 2012.06.02)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
SEGUNDA PARTE
COMO SER CRISTÃOS
II A ORAÇÃO
características gerais da oração
…/6
lugares para rezar e modos de viver a
oração
Torna-se assim mais patente ao nosso
espírito a paternidade de Deus, os laços de família que Deus Pai, Filho e
Espírito Santo desejam estabelecer com os homens para sempre.
Esta misteriosa e entranhável relação de
Deus com o homem na oração é expressa assim por S. Pedro Crisólogo:
«A consciência
que temos da nossa condição de pecadores levar-nos-ia a meter-nos debaixo de
terra, a nossa condição terrena desfazer-se-ia em pó se a autoridade do nosso
próprio Pai e o Espírito do seu Filho não nos compelissem a proferir este
grito: ‘Abba Pai’ …
Quando a
debilidade de um mortal se atreve a chamar a Deus seu Pai senão somente quando
o íntimo do homem está animado pelo poder do alt?» .
implantação da oração na alma
Antes de concluir estas breves linhas
sobre a importância da oração na vida cristã pessoal, surge a pergunta sobre a
possibilidade que essa relação com Deus chegue se torne algo habitual e
familiar no espírito de qualquer cristão.
A ninguém são ocultados os obstáculos
que podem apresentar-se – existem não poucos estudo sobre «as dificuldades na
oração» - até alcançar esses graus de amizade familiar e filial com Deus ainda
que sendo bem conscientes de que a oração é vivida por Cristo em nós e
connosco.
Josemaria Escrivá expressou a gradual e
paulatina implantação da alma na oração no texto que a seguir transcrevemos.
De forma muito esquemática e concisa
fala do começo da oração, passa pelo estado de oração e conclui com a
transformação que se experimenta na alma do crente, fruto da oração:
«Começamos com
orações vocais que muitos repetimos desde criança: são frases ardentes e
simples endereçadas a Deus e à sua Mãe que é nossa Mãe.
Todavia, pelas
manhãs e pelas tardes, não um dia, habitualmente, renovo aquele oferecimento
que os meus pais me ensinaram: ó Senhora minha, é minha Mãe! Eu me ofereço
inteiramente a vós. E como prova do meu afecto filial vos consagro neste dia os
meus olhos, os meus ouvidos, a minha língua, o meu coração…
Não é isto –
de alguma forma – um princípio de contemplação, demonstração evidente de
confiado abandono?
Que se dizem
os que se querem quando se encontram?
Como se
comportam?
Sacrificam
quanto são e quanto possuem pela pessoa que amam».
Primeiro uma jaculatória e logo outra e
outra… até que esse fervor parece insuficiente porque as palavras são pobres… e
se dá lugar à intimidade divina, num olhar a Deus sem descanso e sem cansaço.
Vivemos então
como cativos, como prisioneiros.
Enquanto
realizamos com a maior perfeição possível, dentro dos nossos equívocos e
limitações, as tarefas próprias da nossa condição e do nosso ofício, a alma
anseia por escapar-se.
Vai-se a Deus
como o ferro atraído pela força do íman.
Começa-se a
amar Jesus de forma mais eficaz com um doce sobressalto» .
De forma muito simples e clara o autor
assinala o desenvolvimento de uma comunicação – mais que diálogo – confiada,
leal, serena, levada a cabo dentro da maior normalidade de espírito entre a
pessoa humana e Deus.
Inclusivamente
parece que o caminho nem sequer tem sobressaltos nem grande vales aos quais
descer nem grandes montanhas às quais subir.
Na verdade, podemos dizer que a oração é
a comunicação ordinária de cada filho de Deus em Cristo Jesus com o seu Pai
Deus com Cristo Jesus movida e alentada por Deus Espírito Santo.
***
Nos tratados que estudam os pormenores
da oração é costume apresentar os diferentes modos que o homem tem à sua
disposição para se relacionar com Deus, sem esquecer, em caso algum, que o
verdadeiramente importante é o facto em si da oração e que qualquer modo de
actuar do homem pode converter-se numa oração, num «elevar o coração a Deus.
Segundo sejam os desejos que a pessoa
anseie expressar a Deus, e como já comentámos, fala-se de oração: de louvor, de
arrependimento, desagravo, petição, intercessão, agradecimento, adoração, etc.
Se se quiser sublinhar o modo de
dirigir-se a Deus divide-se a oração em vocal, mental ou meditação e contemplativa.
Em qualquer
caso, temos de ter presente que na oração é a pessoa toda quem se relaciona com
Deus, não só os lábios, a mente ou o fundo da alma.
Além disso,
também podemos assinalar que toda a oração é, de certo modo, ao mesmo tempo
vocal, mental e contemplativa.
Recolhemos somente uns breves textos
orientadores a propósito de cada um destes modos de viver a oração, remetendo a
tratados clássicos, como por exemplo As
Moradas de Santa Teresa, par um estudo mais detalhado e prolixo.
«A oração vocal é a oração por
excelência das multidões por ser exterior e tão plenamente humana.
Mas
inclusivamente a mais interior das orações não poderia prescindir da oração
vocal.
A oração
torna-se interior na medida em que tomamos consciência daquele “a quem falamos”
.
Por isso a
oração vocal converte-se numa primeira forma de oração contemplativa» .
«A meditação faz intervir o pensamento,
a imaginação, a emoção e o desejo.
Esta
mobilização é necessária para aprofundar nas convicções de fé, suscitar a
conversão do coração e fortalecer a vontade de seguir Cristo.
A oração
cristã aplica-se preferentemente a meditar “os mistérios de Cristo” como na
‘lectio divina’ ou no Rosário.
Esta forma de
reflexão orante é de grande valor, mas a oração cristã deve ir mais longe: até
ao conhecimento do amor do Senhor Jesus, à união com Ele» .
Essa união vital com Jesus Cristo
consolida-se na oração chamada contemplação.
A propósito
desta oração diz o Catecismo: «O que é esta oração? Santa Teresa responde: ‘Não
é outra coisa, penso eu, senão tratar de amizade estando muitas vezes
comunicando a sós com quem sabemos que nos ama’» .
«A contemplação procura o ‘amado da
minha alma’ . Isto é, Jesus e, nele, o
Pai. É procurado porque desejá-lo é sempre o começo do amor e é procurado na
pura fé, esta fé que nos faz nascer dele e viver nele. Na contemplação também
se pode meditar mas o olhar está centrado no Senhor» .
***
Não obstante as boas disposições e os
bons desejos com que nos dirigimos à oração, não é estranho que ao longo da
vida todos os cristãos encontrem obstáculos para desenvolver com uma certa constância
e normalidade uma vida de oração.
«No combate da oração temos de encarar
em nós próprios e à nossa volta conceitos erróneos sobre a oração.
Uns vêm nela
uma simples operação psicológica, outros um esforço de concentração para
alcançar um vazio mental.
Outros
reduzem-na a atitudes e palavras rituais,
No
inconsciente de muitos cristãos orar é uma ocupação incompatível com o muito
que têm que fazer: não têm tempo.
Há os que
procuram Deus por meio da oração mas logo se desalentam porque ignoram que a
oração também vem do Espírito Santo e não somente deles» .
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)