Semana III da Páscoa
Evangelho:
Jo 6 52-59
52 Disputavam, então, entre si os
judeus: «Como pode Este dar-nos a comer a Sua carne?». 53 Jesus disse-lhes: «Em
verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não
beberdes o Seu sangue não tereis a vida em vós. 54 Quem come a Minha carne e
bebe o Meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia. 55
Porque a Minha carne é verdadeiramente comida e o Meu sangue verdadeiramente
bebida. 56 Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue permanece em Mim e Eu
nele. 57 Assim como Me enviou o Pai que vive e Eu vivo pelo Pai, assim quem Me
comer a Mim, esse mesmo também viverá por Mim. 58 Este é o pão que desceu do
céu. Não é como o pão que comeram os vossos pais, e morreram. Quem come deste
pão viverá eternamente». 59 Jesus disse estas coisas ensinando em Cafarnaum, na
sinagoga.
Comentário:
Fica
bem claro que todos entenderam muito bem o discurso de Jesus sobre o Seu Corpo
e o Seu Sangue que não se tratava de uma “imagem” mas de uma realidade. Claro
que, não entendiam como tal seria possível e, aqui, incluem-se também os
próximos de Jesus.
Só
mais tarde, depois da instituição da Eucaristia na Última Ceia e, sobretudo,
com as luzes do Espírito Santo, se tornará claro o que então parecia duvidoso.
A
Comunhão Eucarística é um acto solene e de extraordinário valor. Que o tenham
presente quantos se aproximam a comungar!
È
muito claro: Participar indevidamente num acto salvador pode ser causa de
morte!
(ama, comentário
sobre Jo 6, 52-59 2013.04.19)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
PRIMEIRA PARTE
O QUE É SER CRISTÃO?
I.
Relações que Deus estabelece com o homem.
…/
Um
esclarecimento prévio. Já assinalámos que Deus estabeleceu com o homem o
primeiro vínculo-relação com Ele: a criação.
Na sua liberdade, o homem interrompeu a
obra de Deus; e, em seguida, Deus oferecerá os seus planos ao homem, para que,
em liberdade e amor, o aceite ou o rejeite.
Este é, também, o caso da Redenção que
Cristo nos ganhou e que nos oferece na esperança de que a acolhamos com
liberdade.
Vejamos já os motivos da vinda do Senhor,
que o Catecismo colhe nos nn. 456-460, ainda que sigamos outra ordem que a que
ali se expõe.
Em
resumo, e para o propósito que nos move, podemos enunciar os quatro motivos da
Encarnação de Cristo desta forma:
1)
O Verbo
encarnou-se para nos salvar
reconciliando-nos com Deus: «Deus amou-nos e enviou-nos o seu Filho como
propiciação dos nossos pecados”.[i] «O
Pai enviou o seu Filho para ser salvador do mundo”.[ii] «Ele
manifestou-se para tirar os pecados”“.[iii]
A vinda de
Jesus Cristo relaciona-se directamente com o primeiro plano da criação
instaurado por Deus e obstaculizado pelo pecado do homem.
O Filho de
Deus fazendo-se homem introduz-se na própria criação para a devolver ao Criador
e, ao mesmo tempo, recriar a criatura e indicar-lhe de novo o caminho para o
Pai, caminho que tinha perdido ao pecar e deixar o Paraíso.
Para que o
homem possa descobrir-se de novo como uma criatura de Deus, necessita de se
libertar desse véu que o impede de ver os seus dias, as suas circunstâncias, as
suas relações com a perspectiva com contemple Deus; necessita, numa palavra,
deixar o pecado e arrepender-se.
O único caminho
para o abandono do pecado é a conversão do coração humano e o seu voltar de
novo para Deus. «Arrependei-vos, porque o Reino de Deus está próximo”.[iv]
Arrependendo-se,
o homem está em condições de descobrir o coração misericordioso de Deus, que se
goza em perdoar, porque torna possível que a sua Fé, a sua Esperança, a sua
Caridade enraízem profundamente em Deus”.
O acto de
arrependimento ajuda o homem a recompor-se no núcleo mais central de si
próprio; não se trata, simplesmente, de uma ligeira reconstrução psicológica, de
carácter ou algo do mesmo estilo.
Não.
O
arrependimento permite ao ser humano a capacidade de ver as coisas com a
clareza divina; e é o fundamento de toda a esperança: ao mesmo tempo que uma
renovação íntegra da caridade, da vontade.
Cristo vem
trazer o perdão de Deus sobre toda a humanidade. Um perdão que estabelece as
premissas para que o homem supere o «medo” a Deus, que só o diabo pode instalar
com tanta firmeza no coração humano, e seja, portanto, «capaz” de se
arrepender.
Na sua vida,
Jesus Cristo leva plenamente à prática esta missão de perdoar, adiantando as
consequências do perdão que nos vai conseguir na Cruz.
Perdoa a
adúltera e a samaritana, perdoa o centurião e Zaqueu; perdoa aos gerasenos e os
que o crucificam; perdoa a falta de fé dos Apóstolos e as dúvidas de Tomé;
perdoa as negações de Pedro e os pecados da Madalena; perdoa ao paralítico, ao
endemoninhado e inclusivamente oferece o seu perdão a Judas.
E tudo, sem se
preocupar com o escândalo suscitado entre os fariseus nem as consequências que
vão cair sobre a sua pessoa, pela destruição da ordem estabelecida que o seu
actuar supõe.
E mais, esse
escândalo é uma confirmação indirecta, se se quiser, de que os que ouviam
Cristo estavam conscientes que o perdão tinha chegado e que o perdão abria as
portas da eternidade, fechadas até então, do amor de Deus aos homens.
Este amor de
Deus leva-o a reparar não só com juros, mas de forma superabundante, e mais
para além das faltas recebidas.
Deus quer que
desapareça para sempre o abismo que separa as suas criaturas dele, tornando-se
uma delas.
Perdoado o
pecado e acolhendo o coração arrependido do homem, Cristo afasta o obstáculo
que separa o homem de Deus, lhe devolve a confiança em Deus e tornam possível
que esteja em condições de receber a «segunda criação” que Deus quer levar a
cabo nele.
Daí a
importância que tem consigo ver a realidade existencial de Cristo como
verdadeiro Filho de Deus feito homem.
Com efeito,
como poderia ter-nos reconciliado com Deus Pai, se a sua realidade de ser Filho
de Deus não passará a ser a de um homem que consegue de forma inefável «tomar
de alguma forma consciência da profundidade do amor de Deus que o queira como
um filho”? Esse «tomar consciência”, que os que pretendem «reduzir existencialmente
a vida de Cristo” afirmam, não chega a constituir uma pessoa que possa dizer
com plena verdade que «O Pai e eu somos uma mesma coisa”.[v]
Daí, o segundo
motivo da Encarnação de Cristo:
2)
O Verbo
encarnou-se para tornar-nos partícipes da natureza divina: «fez-nos mercê dos
preciosos” e maiores bens prometidos, para que – por estes - cheguemos a ser
partícipes da natureza divina”.[vi]
“Porque tal é a razão pela qual o Verbo se fez homem e o Filho de Deus, Filho
do homem: para que o homem, ao entrar em comunhão com o Verbo e ao receber
assim a filiação divina, se convertesse em filho de Deus” [vii].
«Porque o Filho de Deus se fez homem para nos fazer Deus” [viii].
Este segundo
motivo da Encarnação é o que mais profundamente expressa os planos de Deus com
os homens, esses mistérios insondáveis do coração de Deus que São Paulo anseia
descobrir.
À Trindade
Santíssima, Pai, Filho e Espírito, não lhe pareceu suficiente perdoar a ofensa
do homem e apagá-la da sua presença. Cristo, Filho de Deus feito homem, consubstancial
ao Pai, que diz de si próprio: «O Pai e eu somos uma só coisa” [ix] e
(Tudo quanto tem o Pai é meu”,[x]
faz-nos partícipes da natureza divina – enxerta-nos em Deus – e leva-o a cabo
através dos Sacramentos que Ele mesmo institui.
Fazendo-nos partícipes
da sua natureza e vivendo connosco pessoalmente na Eucaristia, podemos dizer
com João Paulo II: «Em Cristo e por Cristo, Deus revelou-se plenamente a ela;
e, ao mesmo tempo, em Cristo e por Cristo, Deus revelou-se plenamente à humanidade
e aproximou-se definitivamente dela; e, ao mesmo tempo, em Cristo e por Cristo,
o homem conseguiu plena consciência da sua dignidade, da sua elevação, do valor
transcendental da própria humanidade, do sentido da sua existência”.[xi]
São Josemaria
Escrivá expressa assim o mistério da nova criatura em Cristo: «Deus Pai,
chegada a plenitude dos tempos, enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que
restabelecesse a paz; para que, redimindo o homem do pecado, adoptionem filiorum reciperemus,[xii]
fossemos constituídos filhos de Deus, libertados do jugo do pecado, tornados
capazes de participar na intimidade divina da Trindade. E assim se tornou
possível a este homem novo, a este novo enxerto dos filhos de Deus,[xiii]
libertar a criação inteira da desordem, restaurando todas as coisas em Cristo,[xiv] que
os reconciliou com Deus”[xv].[xvi]
Na Encarnação
da Segunda Pessoa da Trindade, Deus deixa reduzida a nada a tentação de Satanás
ao homem. «Sereis como deuses” é o oferecimento do diabo a Adão e a Eva.
Deus vai mais
além e, o Filho de Deus ao fazer-se homem, convida-nos a participar da sua
própria vida divina, a entrar nele, na Trindade.
Como poderia
ter-nos feito partícipes da natureza divina, se não fosse verdade, sem reduções
de nenhum tipo, as suas afirmações que: «O Pai e eu somos uma só coisa” [xvii] e
de que «(Tudo quanto tem o Pai é meu”?[xviii]
Fazendo-nos
partícipes, em Cristo e por Cristo, da sua própria «natureza divina”, Deus
enxerta no nosso ser um princípio de vida divina no nosso actuar, no nosso ser
e no nosso actuar que só pode ser «conhecido pela fé” e, ao mesmo tempo, «nos
incita a uma fé cada vez maior”.[xix]
Como pode o
homem viver e desenvolver essa «participação na natureza divina”?
Essas duas
questões encontram uma resposta adequada nos outros dois motivos da Encarnação
do Filho de Deus:
3)
O Verbo
encarnou para ser nosso modelo de santidade:
(Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”.[xx]
«Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração”.[xxi] E o
Pai, no monte da Transfiguração, ordena: «Escutai-o”.[xxii]
Ele é, com efeito, o modelo das bem-aventuranças e a norma da nova lei:
«Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.[xxiii]
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
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