22/04/2015

Evangelho, comentário L. Esp. (A beleza de ser cristão)


Semana III da Páscoa


Evangelho: Jo 6 35-40

35 Jesus respondeu-lhes: «Eu sou o pão da vida; aquele que vem a Mim não terá jamais fome, e aquele que crê em Mim não terá jamais sede. 36 Porém, já vos disse que vós Me vistes e que não credes. 37 Tudo o que o Pai Me dá virá a Mim; e aquele que vem a Mim não o lançarei fora. 38 Porque desci do céu não para fazer a Minha vontade, mas a vontade d'Aquele que Me enviou. 39 Ora a vontade d'Aquele que Me enviou é que Eu não perca nada do que Me deu, mas que o ressuscite no último dia. 40 A vontade de Meu Pai que Me enviou é que todo o que vê o Filho e crê n'Ele tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia».

Comentário:

São João continua o discurso de Jesus sobre a Sua missão aquela que O Pai O encarregou de levar a cabo.
Quer deixar bem claro que Jesus é o Salvador e Redentor da humanidade e a forma como esta terá de agir e o caminho que terá de percorrer para conseguir essa meta
Assim, Jesus quer deixar bem clara e inequívoca a realidade da união intima entre O Pai e O Filho de tal forma que afirmará claramente:
O Pai e Eu somos Um!
(ama, comentário sobre Jo 6, 35-40, 2014.35.07)

Leitura espiritual

a beleza de ser cristão

PRIMEIRA PARTE

O QUE É SER CRISTÃO?

I.            Relações que Deus estabelece com o homem.

…/9

VI. a redenção

        Depois de ter visto os planos de Deus na criação e na oposição d homem ao querer de Deus manifestada no pecado, é agora a altura de considerar a reacção de Deus ante o pecado do homem. Esta resposta de Deus ao pecado do homem constitui o que denominámos segunda relação de Deus com os homens: a Redenção.

        Deus não permite que a obra da criação que Ele iniciou no Amor fique destroçada pelo pecado do homem.
Depois da queda no paraíso, Deus não rejeita o homem nem o abandona à sua sorte, como aconteceu com os anjos rebeldes.
A natureza do homem é mais frágil que a do anjo, e a visão da grandeza e da majestade de Deus de que o ser humano goza, é mais débil e imprecisa.

        A liberdade do anjo, pela clareza da sua visão de Deus, levava consigo uma responsabilidade maior na sua decisão.

De facto, o mal realizado pelos anjos é irreparável.

        Não é assim no caso do homem.
Deus, depois de o por ante o seu pecado, não o amaldiçoa.
Amaldiçoa, ao invés, Satanás e prepara a recuperação do homem. Podemos dizer que o plano original da criação do ser humano e a sua finalidade na criação - «que o homem conhecesse, amasse e servisse a Deus nesta terra e o gozasse para sempre no céu” - não sofrem nenhuma mutação pelo pecado. Muda, todavia, o modo de ser levada a cabo, e mudam e enriquecem-se os caminhos de que o homem vai dispor para a sua realização.[i]

        Uma vez mais, Deus toma a iniciativa e recria o homem - «nova criatura” - introduzindo nele uma perspectiva que não se esgota no gozo do paraíso e o seu cuidado.
Parece como se o Criador quisesse «corrigir” o que poderíamos chamar um erro de cálculo na primeira criação.

Houve realmente um erro de cálculo que tenha propiciado o pecado do homem?

Deus sonhou demasiado com o homem?

A criatura humana era demasiado frágil para a grandeza que Deus depositou nela?

O coração do homem podia realmente suportar e gozar na imensidade do amor de Deus?

        Sou consciente de que estas perguntas são uma ousadia diante de Deus e que as repostas elaboradas somente com a inteligência humana seriam Sim, excepto a última, que exigiria um Não, se as outras são, efectivamente, Sim.

        Mas talvez seja necessário fazê-las se queremos alguma vez descobrir, ou pelo menos vislumbrar, o amor com o qual Deus criou o mundo, o homem; amor que fica tão escondido e tão difícil de apreciar, ante as misérias, as dores, as penas que afloram à superfície de qualquer vida humana, também, as dos santos.

        Deus introduziu uma determinada correcção na segunda criação.
Viu que não era suficiente dotar Adão de uma série de dons e com eles conceder-lhe uma certa plenitude natural.
Já desde o princípio decidiu levar a cabo o plano inicial de adoptar o homem como seu filho.
Agora melhora a adopção, fazendo-o filho no seu próprio Filho Unigénito.
        Desta forma, o homem não só se aproxima mais intimamente de Deus, como recebe, de certo modo, uma participação na própria natureza divina.
E isto comportou a Encarnação do Filho de Deus.

Esta participação é o que nós cristãos chamamos Graça, e
que estudaremos mais adiante.

        O ser humano, na sua condição de criatura, goza, sim, de uma pré-disposição natural para receber a luz de Deus, fruto do seu ser «imagem e semelhança” de Deus e seu filho.
Essa recepção da luz, todavia, nem sempre tem consigo o fazer germinar imediatamente, nem por si, nenhum fruto no seu espírito.
O homem há-de aprender, e ser ajudado na sua aprendizagem, a exercitar a sua liberdade, a ser livre, para livremente procurar Deus e amá-lo livremente.

        A experiência criatural de Adão foi muito significativa e permite-nos melhor a nossa situação, consequência não só da fragilidade própria da natureza humana, mas também da acção do pecado na nossa alma.

        Adão, antes do pecado e na plenitude e na integridade da sua condição de criatura, desconfia da palavra de Deus, não obstante ter passeado com Ele, ao entardecer, no paraíso.
Usou mal a sua liberdade e amou pouco, porque ninguém desconfia da pessoa amada nem desobedece às suas indicações.
Depois do pecado, pretende ocultar-se do olhar de Deus, como se procurasse na sombra, no anonimato, na obscuridade, o estar seguro face a Deus e a salvo de um possível castigo.

        Porque temeu Adão que Deus o castigasse?

O ter comido do fruto proibido da árvore da ciência do bem e do mal era motivo suficiente para o homem enfrentar Deus?

Acaso não se tinha enfrentado já antes de o comer, com o simples desejo de o desejar?

O pecado de Adão é anterior a comer o fruto; e isso quer dizer que já tinha nele a ciência do bem e do mal.
        Talvez não seja demasiada ousadia pensar que o primeiro pecado do homem, com a desconfiança para com Deus seguida da desobediência, tenha consistido na rebelião de não aceitar os limites da sua condução de criatura.
O pensar «ser como deuses” é uma tentação que parece estar fora do alcance da compreensão de Adão.
Não está, todavia, o anseio de se libertar dos seus limites e o sonho de poder consegui-lo, com as suas forças e com a ajuda da «serpente”.

        «Yavé Deus fez para o homem e a sua mulher túnicas de pele e vestiu-os. E disse: Heis aqui que o homem veio a ser como um de nós, no que respeita a conhecer o bem e o mal! Agora, pois, não estenda a sua mão e tome também da árvore da vida e comendo dela viva para sempre”.[ii]

        Estas palavras de Deus ao preparar a expulsão de Adão e Eva do paraíso aparecem na Escritura depois do anúncio do Redentor e, mais que cheias de um sentido irónico que alguns querem ver, podemos considerá-las como a descoberta do mal que o homem fez a si próprio que Deus nos descobre; mal que Deus vai pretender sanar e curar, restaurando no homem na sua verdadeira condição com o novo vínculo oculto nas palavra da promessa já anunciada: a Redenção.

        Se o homem «veio a ser como um de nós», e o Senhor consciente que o homem não está em condições d suportar essa «nova condição», porque nunca se poderá converter em juiz último do bem e do mal,  Deus decide fazer-se «uma das suas criaturas», para na verdade abrir ao homem o sentido da árvore da vida.
Jesus Cristo manifestou-no-lo sem peias ao afirmara de sei próprio: «Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”[iii].

        E com essas palavras descobre-nos o pleno sentido do desígnio original de Deus ao criara o homem.
Desígnio que, insistimos, Deus não suprimiu nem rebaixou por causa do pecado original, mas que, mantendo-o intacto, o elevou ao modo, ao caminho, para o levar a cabo; o homem contará com a própria vida de Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem.

        “Fomos constituídos filhos de Deus. Com esta livre decisão divina, a dignidade natural do homem elevou-se incomparavelmente e, se o pecado destrui-o este prodígio, a Redenção reconstrui-o de modo ainda mais admirável; levando-nos todavia a participar mais estreitamente da filiação divina”.[iv]

        Deus tinha criado o ser humano “à sua imagem e semelhança” para o adoptar como filho. Depois do pecado quer redimi-lo, convertendo-o em «seu filho” em seu Filho, Jesus Cristo.

        E no mesmo instante da sua queda, anuncia a chegada de um redentor. «Ponho inimizade perpétua entre ti e a mulher e entre a tua linhagem e a sua; esta te esmagará a cabeça e tu mordê-la-ás no calcanhar.[v]
        O Redentor é Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim podemos dizer, sem deixar de sempre considerar que Deus é Uno e Trino e que o homem se relaciona sempre coma Santíssima Trindade, que, se a criação é o vínculo do homem com Deus Pai, a Redenção é o vínculo do homem com Deus Filho. O ser «imagem e semelhança e filho adoptivo” converte-se em “ser filho de Deus na Graça de Cristo”, na riqueza definitiva da criatura: a «filiação divina”, pela Graça, sem por isso deixar de ser ”filho adoptivo”.

        Para melhor entender o verdadeiro alcance desta relação da Redenção e chegar a vislumbrar os planos de Deus com os homens, parece oportuno pararmos a reflectir sobre os motivos que acompanharam o amor da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade que, na sua vinda à terra, se «diminui-o a si mesmo tomando condição de servo, tornando-se semelhante aos homens».[vi] Assim poderemos compreender um pouco melhor o alcance do amor que Deus Pai, Filho e Espírito Santo tem ao ser humano.

(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)






[i] cfr. Catecismo n. 412
[ii] Gn 3, 22
[iii] Jo 10, 10
[iv] são josemaria escrivá, 1967. Citado por f. ocácriz-i. celaya, Vivir como hijos de dios, Eunsa, Pamplona 1993, cap. 1, nota 14.
[v] Gn 3, 15
[vi] Flp 2, 7

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