Art.
3 — Se ser adoptado é próprio da criatura racional.
O terceiro discute-se assim. — Parece
que ser adoptado não é próprio da criatura racional.
1. — Pois, Deus não é chamado Pai da
criatura racional senão por adopção. Pois, é também chamado Pai da criatura
irracional, como quando a Escritura diz: Quem
é o Pai da chuva? Ou quem produziu as gotas de orvalho? Logo, ser adoptado
não é próprio da criatura racional.
2. Demais. — Alguns chamam-se filhos
de Deus por adopção. Ora, o serem filhos de Deus a Escritura propriamente o
atribui aos anjos, como naquele passo: Mas
um certo dia como os filhos de Deus se tivessem apresentado na frente do Senhor.
Logo, não é próprio da criatura racional o ser adoptado.
3. Demais. — O próprio a uma natureza convém
a todos os seres que a têm; assim, a faculdade de rir convém a todos os homens.
Ora, ser adoptado não convém a toda natureza racional. Logo, ser adoptado não é
próprio à natureza racional.
Mas, em contrário, os filhos adoptados
são herdeiros de Deus, como diz o Apóstolo. Ora, tal herança convém à criatura
racional. Logo, é próprio da criatura racional ser adoptada.
Como dissemos, a filiação
da adopção é uma certa semelhança da filiação natural. Pois, o Filho de Deus
naturalmente procede do Pai, como Verbo mental, tendo unidade de existência com
ele. Ora, um ser pode se assemelhar a esse Verbo, de três modos. De um modo, em
razão da forma, mas não pela mente; assim, a forma exterior de uma casa
construída se assemelha ao Verbo mental do artífice, pela espécie formal; mas
não pela mente, porque a forma da casa, na matéria; não é inteligível, quando o
era na mente do artífice. E deste modo, qualquer criatura se assimila ao Verbo
eterno, por ter sido feita pelo Verbo. - De um segundo modo, uma criatura se
assimila ao Verbo, não só em razão da forma, mas ainda quanto a sua mente,
assim, a ciência, que nasce na mente do discípulo, se assimila ao Verbo
existente na mente do Mestre. E deste modo, a criatura racional, mesmo pela sua
natureza, se assemelha ao Verbo de Deus, pela unidade que tem com o Pai;
resultante da graça e da caridade. Por isso o Senhor orava: Para que eles sejam um, como também nós
somos um. E tal assimilação completa a ideia de adopção, pois, a seres
assim assimilados é lhes devida a herança eterna. — Donde é manifesto, que ser adoptado
convém só à criatura racional, mas não a todas, senão só as que têm a caridade,
que está derramada nos nossos corações pelo Espírito Santo, no dizer do
Apóstolo. E por isso, ainda na frase do Apóstolo, o Espírito Santo se chama espírito de adopção de filhos.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Deus é chamado Pai da criatura irracional, não propriamente pela adopção, mas
pela criação, participando da semelhança, no primeiro sentido.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Os anjos chamam-se
filhos de Deus pela filiação adoptiva; não que ela lhes convenha primariamente,
mas por terem sido eles os primeiros que receberam a adopção de filhos.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A adopção não é
uma propriedade resultante da natureza, mas, da graça da qual a natureza
racional é capaz. Por isso, não é necessário que convenha a toda criatura
racional. Mas sim, que toda criatura racional seja capaz da filiação adoptiva.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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