Art.
2 — Se adoptar convém a toda a Trindade.
O segundo discute-se assim. — Parece
que adoptar não convém a toda a Trindade.
1. — Pois, a adopção divina é assim
chamada por semelhança com as coisas humanas Ora, na ordem humana, só podem adoptar
os que podem gerar filhos; o que, em Deus, só cabe ao Pai. Logo, na ordem
divina só o Pai pode adoptar.
2. Demais. — Os homens, pela adopção,
tornam-se irmãos de Cristo, segundo o Apóstolo: Para que ele seja o primogénito de muitos irmãos. Ora, os filhos do
mesmo pai chamam-se irmãos, donde o dizer o Senhor: Vou para meu Pai e vosso Pai. Logo, só o Pai de Cristo tem filhos
adoptivos.
3. Demais. — O Apóstolo diz: Enviou Deus a seu Filho, para que
recebêssemos a adopção de filhos. E porque vós sois filhos, mandou Deus aos
vossos corações o Espírito de seu Filho que clama nos vossos corações Pai.
Logo, é próprio adoptar àquele a que o é ter o Filho e o Espírito Santo. Ora,
isto só é próprio à pessoa do Pai. Logo, adoptar só convém à pessoa do Pai.
Mas, em contrário. — É próprio adoptar-nos
como filhos àquele a quem podemos denominar pai. Donde o dizer, o Apóstolo: Recebeste a adopção de filhos, no qual
clamamos — Pai. Ora, quando dizemos a Deus — Pai nosso, referimo-nos a toda
a Trindade, como a ele lhe pertencem os outros nomes que lhe aplicamos
relativamente à criatura, como demonstramos na Primeira Parte. Logo, adoptar convém
a toda a Trindade.
A diferença entre o Filho
adoptivo e o Filho natural de Deus está em que o Filho natural de Deus é gerado
e não, feito; ao passo que o filho adoptivo é feito, segundo o Evangelho: Deu-lhes ele o poder de se fazerem filhos de
Deus. Mas às vezes dizemos que o filho adoptivo é gerado, por ter recebido
uma nova geração espiritual. que é gratuita e não, natural; donde o dizer a
Escritura: De pura vontade sua é que ele
nos gerou. Embora, pois, gerar em Deus, seja próprio da pessoa do Pai,
contudo produzir qualquer efeito nas criatura é comum a toda a Trindade por
causa da unidade de natureza: porque onde há uma natureza é necessário haver
uma virtude e uma operação. Donde o dizer o Senhor: Tudo o que fizer o Pai o faz também semelhantemente o Filho. Donde,
adoptar os homens como filhos de Deus convém a toda a Trindade.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Todas as pessoas humanas não são numericamente da mesma natureza, para que
tenham todas a mesma operação e um mesmo efeito, como acontece com Deus. E por
isso, aí não há fundamento para semelhança, em ambos os casos.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Nós por adopção
nos tornamos irmãos de Cristo, quase tendo o mesmo Pai que ele. O qual,
contudo, de um modo, é Pai de Cristo e, de outro nosso Pai. Por isso assinaladamente
diz o Evangelho, em separado – Meu Pai,
e em separado, Vosso Pai. Pois, é Pai
de Cristo, naturalmente, pela geração, o que lhe é próprio a ele; mas é nosso
Pai, por agir voluntariamente, o que lhe é comum a ele, ao Filho e ao Espírito
Santo. Por isso não é filho de toda a Trindade, como nós.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Como dissemos,
a filiação adoptiva é uma certa semelhança da filiação eterna; assim como tudo
o que foi feito no tempo é de certo modo semelhança das coisas existentes abeterno.
Ora, o homem é assimilado ao esplendor do eterno Filho pela claridade da graça,
atribuída ao Espírito Santo. Donde, a adopção, embora comum a toda a Trindade,
é contudo apropriada ao Pai como autor, ao Filho como exemplar, ao Espírito
Santo como o que imprime em nós a semelhança desse exemplar.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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