A
história e a morte de Moisés, no entanto, dizem-nos que o afastamento entre a
terra prometida e a terra aonde nós chegámos não é fracasso: é simplesmente a
vida, é a nossa boa condição humana.
O
vau do rio que não atravessámos diz a todos, incluindo Israel, que a verdadeira
promessa não é uma terra firme; é caminho nómada através de um deserto, atrás
de uma voz.
Para
no final descobrir que a terra prometida era precisamente o deserto que se
estava a atravessar; foi lá que se desenrolou a nossa história de amor
(Oseias).
Foi
lá que vimos descer a coluna de fogo, foi lá que escutámos a voz e recebemos as
suas palavras, foi lá que libertámos escravos e os protegemos dos ídolos; foi
lá que vimos a terra prometida para o nosso povo, foi lá que falámos com Deus
"directamente".
A
conclusão da vida de Moisés repete-nos, uma vez mais e definitivamente, a
palavra que nos acompanhou durante toda a meditação do livro do Êxodo: gratuitidade.
A gratuitidade maior que o profeta vive é o desprendimento da terra prometida; pode
e deve vê-la sem a ela chegar.
Porque
o preço da gratuitidade do profeta é manter vivo para todos o afastamento entre cada terra e cada promessa; é nesse afastamento que se acende a vida, é lá que
se alimentam os desejos e os sonhos grandes (o grande engano do nosso tempo é
extinguir com produtos do mercado os desejos das crianças).
É
este afastamento que nos recorda que toda a terra prometida é para a
"nossa descendência", não é para nós.
O
mundo viverá enquanto continuarmos a libertar alguém da escravidão, enquanto
caminharmos para uma terra prometida a oferecer aos filhos e aos netos, aos
jovens de hoje e de amanhã.
A
felicidade mais importante não é a nossa, mas sim a dos filhos de todos.
luigino bruni, In "Avvenire",
(Revisão da verão portuguesa por ama)
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