09/03/2015

Nenhum libertador se faz rei 5

A história e a morte de Moisés, no entanto, dizem-nos que o afastamento entre a terra prometida e a terra aonde nós chegámos não é fracasso: é simplesmente a vida, é a nossa boa condição humana.

O vau do rio que não atravessámos diz a todos, incluindo Israel, que a verdadeira promessa não é uma terra firme; é caminho nómada através de um deserto, atrás de uma voz.
Para no final descobrir que a terra prometida era precisamente o deserto que se estava a atravessar; foi lá que se desenrolou a nossa história de amor (Oseias).
Foi lá que vimos descer a coluna de fogo, foi lá que escutámos a voz e recebemos as suas palavras, foi lá que libertámos escravos e os protegemos dos ídolos; foi lá que vimos a terra prometida para o nosso povo, foi lá que falámos com Deus "directamente".

A conclusão da vida de Moisés repete-nos, uma vez mais e definitivamente, a palavra que nos acompanhou durante toda a meditação do livro do Êxodo: gratuitidade.
gratuitidade maior que o profeta vive é o desprendimento da terra prometida; pode e deve vê-la sem a ela chegar.
Porque o preço da gratuitidade do profeta é manter vivo para todos o afastamento entre cada terra e cada promessa; é nesse afastamento que se acende a vida, é lá que se alimentam os desejos e os sonhos grandes (o grande engano do nosso tempo é extinguir com produtos do mercado os desejos das crianças).

É este afastamento que nos recorda que toda a terra prometida é para a "nossa descendência", não é para nós.
O mundo viverá enquanto continuarmos a libertar alguém da escravidão, enquanto caminharmos para uma terra prometida a oferecer aos filhos e aos netos, aos jovens de hoje e de amanhã.
A felicidade mais importante não é a nossa, mas sim a dos filhos de todos.


luigino bruniIn "Avvenire", 

(Revisão da verão portuguesa por ama)

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