07/03/2015

Nenhum libertador se faz rei 3

Moisés é o libertador da escravidão e o guia na travessia do deserto; não é o soberano do novo reino de Canaã.

Os profetas são os companheiros no êxodo, na travessia do deserto; habitam em tenda móvel de arameu errante.
A sua tarefa é tirar-nos da escravidão, proteger-nos dos ídolos, levar-nos à reconciliação e a recomeçar, depois de traições colectivas, conduzir-nos até ao limiar da nova terra, apontá-la aos nossos olhos.
Sem ir além. A terra deles é a que está entre os campos de trabalho forçado e Canaã, entre o Nilo e o Jordão.
São os homens e as mulheres do atravessamento nocturno do rio da libertação, da passagem, do limiar.
Para não se tornar um ídolo e tomar o lugar da voz – o grande risco de qualquer profeta – ele deve "morrer”, deve pôr-se de lado, apagar-se e ser apagado num momento preciso.
É o último grande decisivo acto que garante definitivamente que as palavras escutadas e transmitidas ao povo não eram da sua voz, que falava no lugar de outro ("pro-phetés"), que as suas palavras eram grandes porque não eram suas.

Todos os fundadores morrem antes do Jordão; e se o ultrapassarem tornando-se reis da nova terra prometida, significa que ou aquela terra não é a da promessa, ou eles são falsos profetas.
A terra onde se chega é a da promessa se o profeta não chegar lá. Não por estranha punição de Deus (Moisés sempre foi justo), mas pela natureza íntima da vocação.
Neste aspecto Moisés vai mais longe que Noé, o qual subiu também para a arca que tinha construído.

(cont)

luigino bruniIn "Avvenire", 

(Revisão da verão portuguesa por ama)

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