Moisés
é o libertador da escravidão e o guia na travessia do deserto; não é o soberano
do novo reino de Canaã.
Os
profetas são os companheiros no êxodo, na travessia do deserto; habitam em
tenda móvel de arameu errante.
A
sua tarefa é tirar-nos da escravidão, proteger-nos dos ídolos, levar-nos à
reconciliação e a recomeçar, depois de traições colectivas, conduzir-nos até ao
limiar da nova terra, apontá-la aos nossos olhos.
Sem
ir além. A terra deles é a que está entre os campos de trabalho forçado e
Canaã, entre o Nilo e o Jordão.
São
os homens e as mulheres do atravessamento nocturno do rio da libertação, da
passagem, do limiar.
Para
não se tornar um ídolo e tomar o lugar da voz – o grande risco de qualquer
profeta – ele deve "morrer”,
deve pôr-se de lado, apagar-se e ser apagado num momento preciso.
É
o último grande decisivo acto que garante definitivamente que as palavras
escutadas e transmitidas ao povo não eram da sua voz, que falava no lugar de
outro ("pro-phetés"), que
as suas palavras eram grandes porque não eram suas.
Todos
os fundadores morrem antes do Jordão; e se o ultrapassarem tornando-se reis da
nova terra prometida, significa que ou aquela terra não é a da promessa, ou
eles são falsos profetas.
A
terra onde se chega é a da promessa se o profeta não chegar lá. Não por
estranha punição de Deus (Moisés sempre foi justo), mas pela natureza íntima da
vocação.
Neste
aspecto Moisés vai mais longe que Noé, o qual subiu também para a arca que
tinha construído.
(cont)
luigino bruni, In "Avvenire",
(Revisão da verão portuguesa por ama)
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