Os
patriarcas do Génesis tinham morrido de modo diverso, circundados por mulher,
filhos, filhas e netos, as muitas "estrelas" prometidas no dia do
chamamento.
Morreram
em casa, muitos deles foram sepultados na mesma gruta de Macpela[i], o único
pedaço de terra prometida que Abraão possuiu.
Moisés
morreu sozinho, sem ninguém a acompanhá-lo na última viagem, sem a consolação
dos afetos.
Morreu
como tinha vivido, dentro daquele diálogo solitário e contínuo com a voz que o
tinha chamado da sarça quando, sozinho, pastoreava o rebanho do sogro Jetro no
Horeb; e com a qual mais tarde, naquele mesmo monte, tinha sozinho falado na
tenda da reunião.
Não
sabemos se naquela última viagem, no monte Nebo, a voz continuou a falar-lhe,
se o acompanhou ou se se retirou, como aconteceu a muitos profetas que morreram
no silêncio da voz.
Podemos
imaginá-lo na companhia do seu Deus, tendo presentes as expressões do livro do
Êxodo que nos sugerem um relacionamento muito íntimo entre Moisés e o Senhor:
«amigo de Deus»[ii],
«tenho confiança em ti e és do meu agrado»[iii].
Para
a tradição midrash, enquanto Moisés exala o último suspiro o Senhor beija-o na
boca, continuando até ao fim o diálogo "boca a boca" misterioso e único.
Nesta
morte misteriosa e dolorosa revela-se em toda a sua força e plenitude a
natureza da vocação de Moisés, mas também a de todos os fundadores de
comunidades e de movimentos carismáticos, de grandes obras espirituais. Todos
os profetas morrem fora da terra prometida, porque a promessa não era para eles
mas para o "povo" libertado.
(cont)
luigino bruni, In "Avvenire",
(Revisão da verão portuguesa por ama)
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