Mas o argumento mais
convincente contra a autenticidade desse relato parece residir no facto de que
precisamente a Igreja Oriental que deveria ter o maior interesse nele, ou não
tinha conhecimento do mesmo, ou não o usou em nenhum documento oficial, por
estar convencida da sua falsidade. E o mesmo pode ser deduzido do facto de que
não haja qualquer menção ou utilização sobre Pafnucio, tanto nos escritos
polêmicos sobre o celibato dos ministros sagrados, como nos grandes
comentadores do Século XII – Aristeno, Zonaras, Balsamon – do Syntagma canonum
adauctum – ou seja, do códice maior de direito da Igreja Oriental, estabelecido
pelo Concílio Trullano de 691. Isso seria, de facto, mais fácil do que recorrer
à manipulação de textos históricos bem conhecidos, como veremos adiante.
Será necessário esperar
até o décimo quarto século para que apareça o relato no Syntagma alfabetcum, de
Mateus Blastares, que, contudo, parece que o considerou interessante para o
Oriente só através do Decreto de Graciano. No Ocidente, essa falsificação foi
recebida de modo completamente acrítico, ao menos pela canonística, que se
baseou, em parte, para reconhecer uma determinada disciplina celibatária
particular, diferente da Igreja Oriental. O Concílio Trullano II, ao fixar
oficialmente as regras sobre celibato válido na Igreja oriental, não fez
qualquer referência a Pafnucio.
(cont)
(Revisão da versão
portuguesa por ama)
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