Tempo de Quaresma IV Semana
Evangelho:
Jo 7 1-2 10 25-30
1
Depois disto, andava Jesus pela Galileia; não queria andar pela Judeia, visto
que os judeus O queriam matar. 2 Estava próxima a festa dos judeus chamada dos
Tabernáculos.
10
Mas, quando Seus irmãos já tinham partido, então foi Ele também à festa, não
publicamente, mas como que em segredo.
25
Diziam então alguns de Jerusalém: «Não é Este Aquele que procuram matar? 26 Eis
que fala com toda a liberdade e não Lhe dizem nada. Terão os chefes do povo
verdadeiramente reconhecido que Este é o Messias? 27 Nós, porém, sabemos donde
Este é; e o Messias, quando vier, ninguém saberá donde Ele seja». 28 Jesus, que
ensinava no templo, exclamou: «Vós Me conheceis, e sabeis donde Eu sou. Eu não
vim de Mim mesmo, mas é verdadeiro Aquele que Me enviou, a Quem vós não
conheceis. 29 Mas Eu conheço-O, porque procedo d'Ele, e Ele Me enviou». 30
Procuraram então prendê-l'O; mas ninguém Lhe lançou as mãos, porque não tinha
ainda chegado a Sua hora.
Comentário:
O
Evangelista São João escreve com o objectivo principal de destacar a verdadeira
identidade de Jesus: Verdadeiro homem, porque nasceu da santíssima Virgem e
verdadeiro Deus porque é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
É,
portanto, o Messias anunciado nas Escrituras, o único Redentor e Salvador da
humanidade.
Sem
nos atermos à linguagem própria da época em que Jesus Cristo viveu devemos
antes colher as próprias palavras do Senhor porque Ele é a Verdade.
(ama, comentário sobre Jo 7, 1-2; 25-30,
2014.04.04)
Leitura
espiritual
EXORTAÇÃO APOSTÓLICA EVANGELII GAUDIUM
DO SANTO PADRE FRANCISCO AO EPISCOPADO, AO CLERO ÀS PESSOAS CONSAGRADAS E AOS FIÉIS LEIGOS SOBRE O ANÚNCIO DO EVANGELHO NO MUNDO ACTUAL
210. Embora aparentemente
não nos traga benefícios tangíveis e imediatos, é indispensável prestar atenção
e debruçar-nos sobre as novas formas de pobreza e fragilidade, nas quais somos
chamados a reconhecer Cristo sofredor: os sem-abrigo, os toxicodependentes, os
refugiados, os povos indígenas, os idosos cada vez mais sós e abandonados, etc.
Os migrantes representam
um desafio especial para mim, por ser Pastor duma Igreja sem fronteiras que se
sente mãe de todos.
Por isso, exorto os países
a uma abertura generosa, que, em vez de temer a destruição da identidade local,
seja capaz de criar novas sínteses culturais.
Como são belas as cidades
que superam a desconfiança doentia e integram os que são diferentes, fazendo
desta integração um novo factor de progresso!
Como são encantadoras as
cidades que, já no seu projecto arquitectónico, estão cheias de espaços que
unem, relacionam, favorecem o reconhecimento do outro!
211. Sempre me angustiou a situação das
pessoas que são objecto das diferentes formas de tráfico.
Quem dera que se ouvisse o
grito de Deus, perguntando a todos nós: «Onde
está o teu irmão?»[i].
Onde está o teu irmão
escravo?
Onde está o irmão que
estás matando cada dia na pequena fábrica clandestina, na rede da prostituição,
nas crianças usadas para a mendicidade, naquele que tem de trabalhar às
escondidas porque não foi regularizado?
Não nos façamos de
distraídos!
Há muita cumplicidade...
A pergunta é para todos!
Nas nossas cidades, está
instalado este crime mafioso e aberrante, e muitos têm as mãos cheias de sangue
devido a uma cómoda e muda cumplicidade.
212. Duplamente pobres são
as mulheres que padecem situações de exclusão, maus-tratos e violência, porque
frequentemente têm menores possibilidades de defender os seus direitos.
E todavia, também entre
elas, encontramos continuamente os mais admiráveis gestos de heroísmo
quotidiano na defesa e cuidado da fragilidade das suas famílias.
213. Entre estes seres
frágeis, de que a Igreja quer cuidar com predilecção, estão também os
nascituros, os mais inermes e inocentes de todos, a quem hoje se quer negar a
dignidade humana para poder fazer deles o que apetece, tirando-lhes a vida e
promovendo legislações para que ninguém o possa impedir.
Muitas vezes, para
ridiculizar jocosamente a defesa que a Igreja faz da vida dos nascituros,
procura-se apresentar a sua posição como ideológica, obscurantista e
conservadora; e no entanto esta defesa da vida nascente está intimamente ligada
à defesa de qualquer direito humano.
Supõe a convicção de que
um ser humano é sempre sagrado e inviolável, em qualquer situação e em cada etapa
do seu desenvolvimento.
É fim em si mesmo, e nunca
um meio para resolver outras dificuldades.
Se cai esta convicção, não
restam fundamentos sólidos e permanentes para a defesa dos direitos humanos,
que ficariam sempre sujeitos às conveniências contingentes dos poderosos de
turno.
Por si só a razão é
suficiente para se reconhecer o valor inviolável de qualquer vida humana, mas,
se a olhamos também a partir da fé, «toda
a violação da dignidade pessoal do ser humano clama por vingança junto de Deus
e torna-se ofensa ao Criador do homem».[ii]
214. E precisamente porque
é uma questão que mexe com a coerência interna da nossa mensagem sobre o valor
da pessoa humana, não se deve esperar que a Igreja altere a sua posição sobre
esta questão. A propósito, quero ser completamente honesto.
Este não é um assunto
sujeito a supostas reformas ou “modernizações”.
Não é opção progressista
pretender resolver os problemas, eliminando uma vida humana.
Mas é verdade também que
temos feito pouco para acompanhar adequadamente as mulheres que estão em
situações muito duras, nas quais o aborto lhes aparece como uma solução rápida
para as suas profundas angústias, particularmente quando a vida que cresce
nelas surgiu como resultado duma violência ou num contexto de extrema pobreza.
Quem pode deixar de
compreender estas situações de tamanho sofrimento?
215. Há outros seres
frágeis e indefesos, que muitas vezes ficam à mercê dos interesses económicos
ou dum uso indiscriminado. Refiro-me ao conjunto da criação.
Nós, os seres humanos, não
somos meramente beneficiários, mas guardiões das outras criaturas.
Pela nossa realidade
corpórea, Deus uniu-nos tão estreitamente ao mundo que nos rodeia, que a
desertificação do solo é como uma doença para cada um, e podemos lamentar a extinção
de uma espécie como se fosse uma mutilação.
Não deixemos que, à nossa
passagem, fiquem sinais de destruição e de morte que afectem a nossa vida e a
das gerações futuras.[iii]
Neste sentido, faço meu o
expressivo e profético lamento que, já há vários anos, formularam os Bispos das
Filipinas: «Uma incrível variedade de
insectos vivia no bosque; e estavam ocupados com todo o tipo de tarefas.
(...) Os pássaros voavam pelo ar, as suas
penas brilhantes e os seus variados gorjeios acrescentavam cor e melodia ao
verde dos bosques. (...) Deus quis
que esta terra fosse para nós, suas criaturas especiais, mas não para a
podermos destruir ou transformar num baldio. (...) Depois de uma única noite de chuva, observa os rios de
castanho-chocolate da tua localidade e lembra-te que estão a arrastar o sangue
vivo da terra para o mar. (...) Como
poderão os peixes nadar em esgotos como o rio Pasig e muitos outros rios que
poluímos? Quem transformou o maravilhoso mundo marinho em cemitérios
subaquáticos despojados de vida e de cor?»[iv]
216. Pequenos mas fortes
no amor de Deus, como São Francisco de Assis, todos nós, cristãos, somos
chamados a cuidar da fragilidade do povo e do mundo em que vivemos.
III.
O bem comum e a paz social
217. Falámos muito sobre a
alegria e o amor, mas a Palavra de Deus menciona também o fruto da paz[v].
218. A paz social não pode
ser entendida como irenismo ou como mera ausência de violência obtida pela
imposição de uma parte sobre as outras.
Também seria uma paz falsa
aquela que servisse como desculpa para justificar uma organização social que
silencie ou tranquilize os mais pobres, de modo que aqueles que gozam dos
maiores benefícios possam manter o seu estilo de vida sem sobressaltos,
enquanto os outros sobrevivem como podem.
As reivindicações sociais,
que têm a ver com a distribuição das entradas, a inclusão social dos pobres e
os direitos humanos não podem ser sufocados com o pretexto de construir um
consenso de escritório ou uma paz efémera para uma minoria feliz.
A dignidade da pessoa
humana e o bem comum estão por cima da tranquilidade de alguns que não querem
renunciar aos seus privilégios.
Quando estes valores são
afectados, é necessária uma voz profética.
219. E a paz também «não se reduz a uma ausência de guerra, fruto
do equilíbrio sempre precário das forças.
Constrói-se,
dia a dia, na busca duma ordem querida por Deus, que traz consigo uma justiça
mais perfeita entre os homens».[vi]
Enfim, uma paz que não
surja como fruto do desenvolvimento integral de todos, não terá futuro e será
sempre semente de novos conflitos e variadas formas de violência.
220. Em cada nação, os
habitantes desenvolvem a dimensão social da sua vida, configurando-se como
cidadãos responsáveis dentro de um povo e não como massa arrastada pelas forças
dominantes. Lembremo-nos que «ser cidadão
fiel é uma virtude, e a participação na vida política é uma obrigação moral».[vii]
Mas, tornar-se um povo é
algo mais, exigindo um processo constante no qual cada nova geração está
envolvida. É um trabalho lento e árduo que exige querer integrar-se e aprender
a fazê-lo até se desenvolver uma cultura do encontro numa harmonia pluriforme.
221. Para avançar nesta
construção de um povo em paz, justiça e fraternidade, há quatro princípios
relacionados com tensões bipolares próprias de toda a realidade social.
Derivam dos grandes
postulados da Doutrina Social da Igreja, que constituem o «primeiro e fundamental parâmetro de referência para a interpretação e o
exame dos fenómenos sociais».[viii]
À luz deles, desejo agora
propor estes quatro princípios que orientam especificamente o desenvolvimento
da convivência social e a construção de um povo onde as diferenças se
harmonizam dentro de um projecto comum.
Faço-o na convicção de que
a sua aplicação pode ser um verdadeiro caminho para a paz dentro de cada nação
e no mundo inteiro.
(cont)
(Revisão
da versão portuguesa por ama)
[i] Gn 4, 9
[ii] João Paulo II,
Exort. ap. pós-sinodal Christifideles laici (30 de Dezembro de 1988), 37: AAS
81 (1989), 461.
[iii] Cf. Propositio 56.
[iv] Conferência dos
Bispos católicos das Filipinas, Carta past. What is Happening to our Beautiful
Land? (29 de Janeiro de 1988).
[v] cf. Gal 5, 22
[vi] Paulo VI, Carta
enc. Populorum progressio (26 de Março de 1967), 76: AAS 59 (1967), 294-295.
[vii] Conferência dos
Bispos Católicos dos Estados Unidos, Carta past. Forming Consciences for
Faithful Citizenship (2007), 13.
[viii] Pont. Conselho
«Justiça e Paz», Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 161.
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