Art. 4 — Se a oração de
Cristo foi sempre ouvida.
O
quarto discute-se assim: — Parece que a oração de Cristo nem sempre foi ouvida.
1.
— Pois, pediu que passasse de si o cálice da paixão, e contudo dele não passou.
Logo, parece que nem toda sua oração foi ouvida.
2.
Demais. — Cristo pediu que fosse perdoado o pecado dos que o crucificaram, como
se lê no Evangelho. Contudo esse pecado não foi perdoado a todos, pois os
Judeus foram punidos por ele. Logo parece que nem todas as suas orações foram
ouvidas.
3.
Demais. — O Senhor orou por aqueles que haviam de crer nele, por meio da
palavra dos Apóstolos, para que todos fossem nele um e chegassem à união com
ele. Ora, nem todos chegam a tal. Logo, nem todas as suas orações foram
ouvidas.
4.
Demais. — A Escritura diz, da Pessoa de Cristo: Clamarei durante o dia e tu não me ouvirás. Logo, nem todas as suas
orações foram ouvidas.
Mas,
em contrário, diz o Apóstolo: Oferecendo
com um grande brado e com lágrimas, foi atendido pela sua reverência.

DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O pedido de Cristo de se lhe ser evitado o
cálice os santos expõem-no diversamente. - Assim, Hilário diz: Quando rogava que de si passasse aquele
cálice, não pedia que fosse livre dele, mas que recaísse sobre outros o que de
si passasse. E desse modo orava pelos que depois dele haveriam de sofrer, sendo
o sentido: Assim como eu bebo este cálice da paixão, assim também o bebam com
esperança confiante, sem sentir dor e sem medo da morte. - Ou, segundo Jerónimo:
Diz assinaladamente – este cálice, isto
é, do povo judeu, que não tem nenhuma escusa de ignorância, se me matar, porque
tem as leis e os profetas que todos os dias vaticinam a meu respeito. — Ou
segundo Dionísio Alexandrino: Quando disse — Passe de mim este cálice — não quis significar — Não me seja oferecido
— pois, sem lho ter sido oferecido, dele não podia passar. Mas significava que
assim como o pretérito nem é intacto nem permanente, assim o Salvador pede seja
afastado a tentação que de leve ia penetrando. — Ambrósio, porém, Orígenes
e Crisóstomo, dizem que pediu como homem, que por vontade natural foge a morte.
— Se, pois, entendermos que pedia, com essas palavras, que os outros mártires
lhe viessem a ser os imitadores da paixão, segundo Hilário, ou se pediu que o
temor de beber o cálice não o perturbasse, ou que a morte não o detivesse, de
qualquer modo cumpriu-se o que ele pediu. — Se porém se entende que pediu para
não beber o cálice da morte e da paixão, ou que não o bebesse, dado pelos
Judeus, por certo não se cumpriu o que pediu, porque a razão, que propôs a
petição, não queria que tal se cumprisse, mas, para nossa instrução, quis nos
mostrar a sua vontade natural e o movimento da sensibilidade, que, como homem
tinha.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — O Senhor não orou por todos os que o crucificaram, nem também por
todos os que haviam de acreditar nele, mas só pelos predestinados para que, por
ele, conseguissem a vida eterna.
Donde
se deduz também a RESPOSTA À TERCEIRA OBJECÇÃO.
RESPOSTA
À QUARTA. — A expressão — Clamarei e tu
não me ouvirás — devemos entendê-la quanto ao efeito da sensibilidade, a
que repugnava a morte. Cristo foi porém ouvido quanto ao afecto da razão, como
se disse.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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