São
Pedro Damião – Doutor da Igreja
Evangelho: Lc 5 27-32
27 Depois disto, Jesus saiu, e viu sentado no banco de cobrança um
publicano, chamado Levi, e disse-lhe: «Segue-Me». 28 Ele, deixando
tudo, levantou-se e seguiu-O. 29 E Levi ofereceu-Lhe um grande banquete
em sua casa, e havia grande número de publicanos e outros, que estavam à mesa
com eles. 30 Os fariseus e os seus escribas murmuravam dizendo aos
discípulos de Jesus: «Porque comeis e bebeis com os publicanos e os pecadores?».
31 Jesus respondeu-lhes: «Os sãos não têm necessidade de médico, mas
sim os doentes. 32 Não vim chamar os justos, mas os pecadores à
penitência».
Comentário:
Podemos dizer que este
trecho do Evangelho é muito apropriado para este início da Quaresma: «Os sãos não têm
necessidade de médico, mas sim os doentes. Não vim chamar os justos, mas os
pecadores à penitência».
Quem de nós ousará
considerar-se “justo” que quer dizer: Santo?
Então… o caminho para
a santidade que apresenta sempre dificuldades e obstáculos, avanços e
retrocessos e, talvez, quedas frequentes, tem de ser pontuado pela penitência
voluntária atitude muito útil para os vencer e as evitar.
(ama, comentário sobre Lc 5, 27-32, 2014.03.08)
Leitura espiritual
Santíssima Virgem
Vida
de Maria (IX)
A
adoração dos Magos
A Sagrada Família
regressou a Belém. As palavras do velho Simeão ressoavam nos ouvidos de Maria e
de José. À memória da Virgem viriam os textos de alguns profetas que, falando
do Messias, seu Filho, afirmam que não só seria Rei de Israel, mas receberia as
honras de todos os povos da terra. Isaías já o tinha anunciado com particular
eloquência: À tua luz caminharão os povos e os reis andarão ao brilho do teu
esplendor. Lança um olhar em volta e observa: todos se reuniram e vieram
procurar-te (...). Uma grande multidão de camelos te invade, camelos de Madiã e
Efa; vêm todos de Sabá, trazendo ouro e incenso e anunciando os louvores de
Javé[1].
Entretanto, o tempo
decorria na mais absoluta normalidade. Nada fazia pressagiar qualquer
acontecimento fora do comum. Até que um dia aconteceu algo extraordinário.
Tendo nascido Jesus em
Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que uns Magos vieram do Oriente a
Jerusalém, perguntando: Onde está o Rei dos judeus que acaba de nascer? Porque
nós vimos a Sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O[2].
São Mateus anota que, ao ouvir essa pergunta, o rei Herodes perturbou-se e toda
a Jerusalém com ele[3].
Sabemos muito pouco sobre
estas personagens. De qualquer forma, o texto evangélico oferece algumas
certezas: tratava-se de uns viajantes procedentes do Oriente, onde tinham
descoberto uma estrela de extraordinário fulgor, que os impeliu a deixar as
suas casas e partir em busca do Rei dos judeus. Tudo o resto — o seu número, o
país de origem, a natureza da luz celestial, o caminho que seguiram — não passa
de mera conjectura, mais ou menos fundada.
A tradição ocidental fala
de três personagens, a quem inclusive dá um nome — Melchior, Gaspar e Baltasar
— enquanto outras tradições cristãs elevam o seu número para sete e até para
doze. O facto de que procedessem do Oriente aponta para as longínquas regiões
de além Jordão: o deserto siro-árabe, Mesopotâmia, Pérsia. A favor da origem
persa pesa um episódio historicamente comprovado. Quando, nos princípios do
século VII, o rei persa Cosroes II invadiu a Palestina, destruiu as basílicas
que a piedade cristã tinha edificado em memória do Salvador, excepto uma: a
Basílica da Natividade, em Belém. E isto por uma simples razão: na sua entrada
figurava a representação de uns personagens vestidos com indumentária persa,
numa atitude de prestar homenagem a Jesus nos braços de Sua Mãe.
OS CORAÇÕES DE MARIA E DE
JOSÉ DEVEM TER-SE ENCHIDO DE ALEGRIA E GRATIDÃO. ALEGRIA PORQUE OS ANÚNCIOS
PROFÉTICOS SOBRE JESUS COMEÇAVAM A CUMPRIR-SE.
A palavra magos, com que
os designa o Evangelho, não tem nada que ver com o que hoje em dia se entende
por esse nome. Não eram pessoas dadas à magia, mas homens cultos, muito
provavelmente pertencentes a uma casta de estudiosos dos fenómenos celestes, discípulos
de Zoroastro, já conhecidos por numerosos autores da Grécia clássica. Por outro
lado, é um facto comprovado que a expectativa messiânica de Israel era
conhecida nas regiões orientais do Império Romano e inclusive na própria Roma.
Não é estranho, pois, que alguns sábios pertencentes à casta dos magos, ao
descobrir um astro de extraordinário fulgor, o tivessem interpretado —
iluminados interiormente por Deus — como um sinal do nascimento do esperado Rei
dos Judeus.
Embora a piedade popular
una, de modo quase imediato, o nascimento de Jesus com a chegada dos Magos à
Palestina, não se conhece com precisão a época em que teve lugar; sabemos, sim,
que Herodes, sentindo-se ameaçado, inquiriu deles cuidadosamente, acerca do
tempo em que lhes tinha aparecido a estrela[4].
Depois perguntou aos doutores da Lei pelo lugar de nascimento do Messias e os
escribas responderam citando o profeta Miqueias: e tu, Belém, terra de Judá, de
modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá; porque de ti sairá
um chefe que apascentará Israel, Meu povo[5].
Usando uma mentira, Herodes pôs os Magos a caminho de Belém: ide, informai-vos
bem acerca do Menino, e, quando O encontrardes, comunicai-mo, a fim de que
também eu O vá adorar[6].
O seu propósito era bem diverso, pois propunha-se assassinar todos os meninos
nascidos na cidade e na sua comarca, menores de dois anos, para assim se
assegurar da morte daquele que — segundo o seu curto entender — lhe vinha
disputar o trono. Deduz-se destes dados que a chegada dos Magos ocorreu algum
tempo após o nascimento de Jesus; talvez um ano ou ano e meio.
Depois de receberem essa
informação os Magos dirigiram-se apressadamente para Belém, cheios de alegria
ao ver reaparecer a estrela, que tinha desaparecido misteriosamente em
Jerusalém. Este mesmo facto advoga em favor da suposição de que o astro que os
guiava não era um fenómeno natural — um cometa, uma conjunção, etc., como se
procurou muitas vezes demonstrar — mas um sinal sobrenatural dado por Deus a
esses homens escolhidos, e só a eles.
Mal saíram de Jerusalém —
prossegue São Mateus — a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles,
até que chegando ao local onde estava o Menino, parou. Entraram na casa, viram
o Menino com Maria, Sua mãe e prostrando-se O adoraram; e abrindo os seus
tesouros ofereceram-Lhe presentes de ouro, incenso e mirra[7].
Os corações de Maria e de
José devem ter-se enchido de alegria e gratidão. Alegria porque os anúncios
proféticos sobre Jesus começavam a cumprir-se; agradecimento porque os presentes
daqueles homens generosos — predecessores na fé dos cristãos procedentes dos
gentios — possivelmente, contribuíram para aliviar uma situação económica
precária. José e Maria não puderam corresponder à sua generosidade. Eles, no
entanto, consideraram-se suficientemente recompensados pelo olhar e o sorriso
de Jesus, que iluminou de novo as suas almas e pelas doces palavras de
agradecimento de Sua Mãe, Maria. [8]
***
Consideremos por momentos
este extraordinário episódio ocorrido nos primeiros dias de vida de Jesus
Cristo.
Quem são estes personagens
tradicionalmente chamados “Magos” que se apressam em vir prestar a sua
homenagem e oferecer presentes valiosos ao Menino?
Não se sabe exactamente
quem são ou donde vieram.
Os textos sagrados falam
vagamente que seriam pessoas de categoria social relevante, talvez dedicados ao
estudo e à pesquisa dos astros. Podemos inferi-lo porque, obviamente conhecem
as Escrituras e o que nelas se dizia dos sinais que haveriam de surgir quando
do nascimento do Salvador e, também, porque detectam nos céus um desses sinais
– a Estrela cintilante rara – que identificam como guia seguro para os levar ao
seu destino.
A longa distância que têm
de percorrer não é obstáculo, a identificação do local onde encontrariam o
objecto da sua busca, tão pouco. Visto e avaliado o sinal nada os faz desistir
nem sequer a matreira actuação de Herodes.
Encontrar Cristo é tarefa
difícil quando não se sabe onde está nem se conhece o caminho para O encontrar.
Há que pôr os meios disponíveis e tentar com perseverança, vencendo os
obstáculos que sempre se levantam no caminho, sejam quais forem.
A alegria do encontro
finalmente conseguido “pagará” todo o esforço e incómodos da busca.
Não temos – nós – que
fazer tão grandes esforços para O encontrar, bastará seguir os sinais tão
evidentes e claros que de tantas formas nos vão aparecendo ao longo da vida;
temos, isso sim, de estar atentos a esses sinais e ter o coração limpo de
preconceitos e disponível; com rectidão de intenção e o sincero desejo de encontrar
o Senhor do Mundo.
Não nos preocupemos com os
“presentes”, Ele não espera de nós outra coisa que nós mesmos de lama e coração
dispostos a segui-lo e, seguindo-o, encontrarmos a verdadeira finalidade da
nossa vida: assumir a nossa qualidade ímpar de Filhos de Deus, candidatos à
Vida Eterna no Seu Reino.
Não importa se somos tão
“importantes” como os Magos do oriente ou tão “simples" como os pastores
de Belém; somos o que somos e não o que pretendemos – ou talvez gostássemos –
ser.
O Senhor conhece-nos a
todos e a cada um em particular com todas as nossas capacidades, fraquezas e
desejos e o “presente” que espera de nós é que nos entreguemos confiadamente
certos que a Sua “paga” será incomensuravelmente maior que quanto possamos oferecer-lhe.
O Menino abre os Seus
braços a todos os homens porque veio salvar e redimir a todos dando a própria
vida na Cruz. Desde o Seu berço está disponível para nos acolher e guiar como
“Luz do Mundo” que ilumina mais – muito mais – que qualquer estrela.
Este Menino que parece
inerme e indefeso face a um mundo de controvérsias, lutas fratricidas, vencerá
sempre porque Ele é o Rei dos Reis, tem todo o Poder e Glória para todo o
sempre.
Vamos a Belém com o
coração nas mãos, aberto e disposto a receber a “chuva” de graças e bênçãos que
com magnanimidade divina está pronto a conceder-nos.
A Seu lado estará a Sua
Santíssima Mãe, enlevada na contemplação do seu Filho e “encantada” com a nossa
presença que – podemos estar certos - nunca esquecerá porque, como dizem os
Evangelhos, “guarda todas estas coisas no seu coração” e, uma Mãe como Ela é
jamais esquece os seus filhos.[9]
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