Quaresma I Semana
Evangelho: Mt 5 43-48
43 «Ouvistes que foi dito: “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”.
44 Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que
vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem. 45 Deste
modo sereis filhos do vosso Pai que está nos céus, o qual faz nascer o sol
sobre maus e bons, e manda a chuva sobre justos e injustos. 46
Porque, se amais somente os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não
fazem os publicanos também o mesmo? 4 7 E se saudardes somente os
vossos irmãos, que fazeis de especial? Não fazem também assim os próprios
gentios? 48 Sede, pois, perfeitos, como vosso Pai celestial é
perfeito.
Comentário:
O próprio
Jesus Cristo define o que é e perfeição: Deus é a perfeição!
Este mandato
que em princípio parece excessivo porque inatingível para o ser humano, é,
afinal, exequível porque o Senhor nunca nos mandaria fazer algo superior às
nossas forças.
Assim, em vez
de pormos de lado objectivo tão sublime esforcemo-nos antes por alcançá-lo com
todas as capacidades e potências de que dispomos e com as que o Espírito Santo
nos há-de dar se lhas pedirmos.
(ama comentário sobre Mt 5, 43-48, 2014.03.15)
Leitura espiritual
Santíssima Virgem
Santo Rosário
2
Porque o Anjo te disse que
tua prima Isabel – aquela quem consideravam estéril - estava esperando um
filho, não pensaste em mais nada e puseste-te a caminho para a visitar.
Porque era necessário
acompanhá-la nos últimos tempos da gravidez. Isabel já não era jovem e seria
bem-vinda a presença de uma jovem dedicada para auxiliar nas complicações de
uma gravidez fora de tempo.
Porque era necessário
estares presente em tão extraordinário acontecimento noticiado por um Anjo do
Senhor.
O mesmo Anjo que te tinha
anunciado que serias Mãe do Salvador.
Porque talvez conviesse o
sacrifício e incómodos de uma viagem longa, para pensar mais profundamente em
todas as maravilhas que te tinham acontecido. Sentias já o teu Filho no teu
seio e isto era indubitavelmente obra misteriosa e magnifica de Deus.
Talvez quisesses falar com
o teu primo Zacarias que, sendo sacerdote, poderia aclarar um pouco todo o
misterioso futuro que se descrevia nas Escrituras.
Talvez por restes motivos
todos mas, estou certo, que não pensaste me mais nada senão em ser útil e
prestável a uma família que precisava dos teus préstimos.
E tudo se desvaneceu
perante a recepção de Isabel. As palavras que te dirigiu. O estremecimento de
João no seio de sua mãe.
Tudo se torna claríssimo
como água. A Vontade de Deus é agora mais nítida mais transparente.
E rompes num canto
maravilhoso de acção de graças e louvor, de humildade e entrega.
Não pedes nada, não
desejas nada.
Sabes perfeitamente que
não precisarás de coisa alguma, nunca, porque Deus proverá tudo quanto
precisares.
E o senhor ouve da tua
boca o Magnificat esplendoroso que para sempre ficará gravado na história do
povo de Deus e será repetidamente cantado pela legião enorme dos Seus filhos.
Só tu, Virgem Maria,
poderias ter reunido com tanta simplicidade e candura um hino de louvor e
submissão ao Criador.
Um hino onde se espelham
as certezas todas, todos os caminhos que Deus manda trilhar para que a Sua
Vontade seja cumprida.
Que coração poderia albergar
tais sentimentos?
Que alma saberia elevar-se
de tal forma?
Que ser humano poderia
alguma vez, louvar e enaltecer o seu Criador de forma tão perfeita?
Sabendo, Senhora, que já
eras a Mãe do próprio Deus, sabendo tu, Senhora, que o salvador, Rei dos Reis,
habitava já no teu seio, não te exaltas nem envaideces, antes te envaideces exaltas
por o Senhor fazer o que quer, como, quando e com quem quer.
Quando dizes que serás
aclamada por todas as gerações não o dizes por ti, mas porque sabes que, ao
fazê-lo, essas gerações aclamarão a Mãe de Deus.
Dás a Deus o que seria
legítimo, humanamente falando, julgar teu.
Sabes que Jesus é
realmente o Filho de Deus e que foste apenas o instrumento de que Deus Se
serviu para dar corpo substancial à Sua Vontade.
Não te ocorre um momento
que tens o mais pequeno mérito em tal maravilha, ou que não o mereces. Não
passa tudo da Vontade do Senhor e não te compete saber ou indagar, porquê tu,
Maria.
Ah!, minha Senhora, como
tua prima deve ter gozado com a tua visita, como devem ter sido
extraordinariamente leves os tempos que ali passaste.
Ajuda-me
também a mim a compreender que não tenho que pensar ou discutir ou indagara a
Vontade do Senhor. Que sou um instrumento muito rudimentar de que Deus se
serve, apenas para ser servido e, ao fazê-lo, saiba eu também louvar e
enaltecer o Deus que me criou e me governa, porque a Sua Vontade é a única
vontade que reconheço e a minha felicidade será dar-lhe cumprimento total. [ii]
Nossa Senhora ao conhecer
pela revelação do anjo a necessidade em que se achava a sua prima santa Isabel,
próxima já do parto, apressa-se a prestar-lhe ajuda, movida pela caridade.
A Santíssima Virgem não
repara em dificuldades (...) o trajecto desde Nazaré até à montanha da Judeia
supunha na antiguidade uma viagem de quatro dias.
Este facto da vida da
Santíssima Virgem tem um claro ensinamento para os cristãos: devemos aprender
dEla a solicitude pelos outros. [iii]
(Isabel bendiz Maria) Para
que se veja que deve ser honrada pelos anjos e pelos homens e que com razão se
deve antepor a todas as mulheres. [iv]
Isabel ao chamar a Maria
«mãe do meu Senhor», movida pelo Espirito Santo, manifesta que a Santíssima
Virgem é Mãe de Deus. [v]
O Magnificat é, ao mesmo
tempo o cântico da Mãe de Deus e o da Igreja, cântico da filha de Sião e do
Povo de Deus, cântico de acção de graças pela plenitude de graças derramadas na
economia da salvação, cântico dos «pobres» cuja esperança foi realizada com o
cumprimento das promessas feitas a nossos pais em favor de «Abraão e da sua
descendência para sempre» [vi]
Maria é a que conhece mais
a fundo o mistério da misericórdia divina. Sabe o seu preço e sabe quão alto é.
Neste sentido a chamamos
Mãe da misericórdia: Virgem da misericórdia ou Mãe da divina misericórdia; em
cada um destes títulos se encerra um profundo significado teológico, porque
expressam a preparação particular da sua alma, de toda a sua personalidade,
sabendo ver primeiramente através dos complicados acontecimentos de Israel, e
de todo o homem e da humanidade inteira depois, aquela misericórdia de que por
todas as gerações nos tornamos participantes segundo o eterno desígnio da
santíssima Trindade. [vii]
Adorar a Deus é, como
Maria no Magnificat, louvá-Lo, exaltá-Lo e humilhar-se, confessando com
gratidão que Ele fez grandes coisas e que o Seu Nome é santo. [viii]
(...) As palavras usadas
por Maria, no limiar da casa de Isabel, constituem uma profissão inspirada desta sua fé, na qual se exprime a resposta à palavra da revelação, com a elevação
religiosa e poética de todo o seu ser no sentido de Deus. Nessas palavras
sublimes, ao mesmo tempo muito simples e totalmente inspiradas nos textos
sagrados do povo de Israel, transparece a experiência pessoal de Maria, o
êxtase do seu coração. Resplandece nelas um clarão do mistério de Deus, a
glória da sua inefável santidade, o amor
eterno que, como dom irrevogável, entra na história do homem.
Maria é a primeira a
participar nesta nova revelação de Deus e, mediante ela, nesta nova «auto-doação»
de Deus. (...)
As suas palavras reflectem
a alegria de espirito, difícil de exprimir: «O meu espírito exulta em Deus, meu
salvador». Porque «a verdade profunda, tanto a respeito de Deus como a respeito
da salvação dos homens, manifesta-se-nos... em Cristo, que é, simultaneamente,
o mediador e a plenitude de toda a revelação»
No arroubo do seu coração,
Maria confessa ter-se encontrado no próprio âmago desta plenitude de Cristo.
Ten consciência de que em si está a cumprir-se a promessa feita aos pais e, em
primeiro lugar, em favor de «Abraão e da sua descendência para sempre»: que em
si, portanto, como mãe de Cristo, converge toda
a economia salvífica, na qual «de geração em geração» se manifesta Aquele
que, como Deus da Aliança, «recorda-se da sua misericórdia». [ix]
A Igreja, que desde o
inicio modela a sua caminhada terrena pela caminhada da Mãe de Deus, repete
constantemente, em continuidade com ela, as palavras do Magnificat. (...)
«escora-se» na força da verdade sobre Deus, proclamada então com tão
extraordinária simplicidade; e, ao mesmo tempo, deseja iluminar com esta mesma verdade sobre Deus os difíceis e por
vezes intricados caminhos da existência terrena dos homens. [x]
Com desejos de imitar
Nossa Senhora, nós, os cristãos podemos repetir com frequência o Magnificat. E, como ela, devemos
confessar abertamente que, à nossa medida, também fez em nós grandes coisas o
Todo-Poderoso.
Não podemos, não devemos,
ocultá-lo com o pretexto de uma falsa humildade.
Reconhecer que somos
devedores de uma grande soma mover-nos-á a corresponder e a levar uma vida de
acção de graças. [xi]
Esta cena da Visitação
apresenta-nos uma faceta da vida interior de Maria: a sua atitude de serviço
humilde e de amor desinteressado para quem se encontra em necessidade.
Este sucesso (...)
convida-nos à entrega pronta, alegre e simples àqueles que nos rodeiam. Muitas
vezes o serviço que prestaremos será consequência, como no caso de Maria, do
gozo interior, fruto do trato com Jesus Cristo, que transborda e chega aos
outros. [xii]
A Anunciação, é portanto,
a revelação do mistério da Incarnação exactamente no inicio da sua realização
terrena. [xiii]
Isabel saudou-a: «Feliz
aquela que acreditou no cumprimento de quanto lhe foi dito da parte do Senhor» [xiv]
Maria chegou a casa de
Isabel e saudou-a.
Que virtude prodigiosa
haveria naquela voz?
Porque a velha Isabel
ficou como que petrificada, e estremeceram os seus cabelos brancos, e o rosto
enrugado cobriu-se de cor de cera pálida, e limitou-se a cruzar as mãos e
inclinar a cabeça, e a deixar escapar um grito inarticulado em que se
misturavam a adoração, o assombro, o respeito e o amor.
O Espirito Santo
enchera-a, a voz de Maria fora para ela um divino amanhecer; num repente
adivinhara tudo. Revelam-no as primeiras palavras que conseguiu pronunciar:
«Bendita és tu entre as
mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre. Como pude eu merecer que viesse
ter comigo a mãe do meu Senhor?» [xvii]
A minha alma glorifica o
Senhor;
E o meu espírito se alegra
em Deus, meu Salvador;
Porque pôs os olhos na
humildade da sua serva;
De hoje em diante me
chamarão bem-aventurada todas as gerações.
O Todo-Poderoso fez em mim
maravilhas,
Santo é o seu nome.
A sua misericórdia se
estende de geração em geração
Sobre aqueles que O temem.
Manifestou o poder do seu
braço
E dispersou os soberbos.
Derrubou os poderosos dos
seus tronos
E exaltou os humildes.
Aos famintos encheu de
bens
E aos ricos despediu de
mãos vazias.
Acolheu Israel seu servo,
Lembrado da sua
misericórdia,
Como tinha prometido a
nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre. [xviii]
O Magnificat é a explosão
lírica de uma alma que se sente como vida pela gratidão e pela admiração; é um
solilóquio sublime, inspirado pela mais profunda emoção (...)
Tudo são contrastes nas
suas palavras; humildade e grandeza, pequenez exaltada e orgulho abatido, fome
saciada e saciedade faminta. E o mais desconcertante é a segurança absoluta com
que aquela jovem sem bens de fortuna, inteiramente desconhecida, sem qualquer
título de nobreza, anuncia que todos os séculos se hão-de inclinar perante ela.
Reconhece que é pobre e pequena como uma escrava, mas sabe que todos os povos
hão-de bendizer o seu nome.
E as suas palavras
cumpriram-se. [xix]
Foi a partir desta
singular cooperação de Maria com a acção do Espírito Santo que as Igrejas
desenvolveram a oração à santa Mãe de Deus, centrando-a na pessoa de Cristo
manifestada nos seus mistérios.
Nos inúmeros hinos e
antífonas em que esta oração se exprime, alternam habitualmente dois movimentos: um «magnífica» o Senhor
pelas «grandes coisas» que fez pela sua humilde serva e, através d'Ela, por
todos os seres humanos; o outro confia à Mãe de Jesus as súplicas e louvores
dos filhos de Deus, pois Ela agora conhece a humanidade que n'Ela foi desposada
pelo Filho de Deus. [xx]
(ama, meditações sobre o Santo Rosário – 1999)
[i] Lc 2, 25-35
[ii] AMA 2000
[iii] Bíblia Sagrada,
anotada pela Fac. de Teologia da Univ. de Navarra, Comentário Lc 1, 39
[iv] S. Beda, In Lucae
Evangelium expositio, ad loc.
[v] Bíblia Sagrada,
anotada pela Fac. de Teologia da Univ. de Navarra, Comentário Lc 1, 43
[vi] cfr. Catecismo da
Igreja Católica nr 2619
[vii] cfr. João Paulo II,
Enc. Dives in misericordia, 30-11-1990, nr. 9
[viii] cfr. Catecismo da
Igreja Católica Nr 2097
[ix] cfr. João Paulo II,
Enc. Redemptoris Mater, nr 36
[x] cfr. João Paulo
II, Enc. Redemptoris Mater, nr 37
[xi] Francisco Fernandez Carvajal, Vida de Jesus,
Barbosa & Xavier, Lda - Artes Gráficas, pg.. 60 nota 10
[xii] .Francisco
Fernandez Carvajal, Vida de Jesus, Barbosa & Xavier, Lda - Artes Gráficas,
pg.. 57 nota 5
[xiii] cfr. Enc.
Redemptoris Mater, nr 9
[xiv] Lc 1, 45
[xv] cfr. Lc 2,35
[xvi] Catecismo da Igreja
Católica, nr 148
[xvii] Perez de Urbel,
Vida de Cristo, Éfeso, 1955, pg. 31
[xviii] cfr Catecismo da
Igreja Católica nr. 2619
[xix] Perez de Urbel,
Vida de Cristo, Éfeso, 1955, pg. 32-33
[xx] Catecismo da Igreja
Católica, nr. 2675
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