Quaresma I Semana
Evangelho: Lc 11 29-32
29 Concorrendo as
multidões, começou a dizer: «Esta geração é uma geração perversa; pede um
sinal, mas não lhe será dado outro sinal, senão o sinal do profeta Jonas. 30
Porque, assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, assim o Filho do Homem
será um sinal para esta geração. 31 A rainha do meio-dia
levantar-se-á no dia do juízo contra os homens desta geração, e condená-los-á,
porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão; e aqui está
Quem é mais do que Salomão. 32 Os ninivitas levantar-se-ão no dia do
juízo contra esta geração, e condená-la-ão, porque fizeram penitência com a pregação
de Jonas; e aqui está Quem é mais do que Jonas!
Comentário:
Alguns temos a
tendência de esperar sinais de Deus para conduzir a nossa vida.
Como que se de
um Deus particular e exclusivo ao nosso serviço.
A verdade é
que Ele nos dá sinais abundantes mas que só se tornam claramente visíveis
quando a nossa disposição for a de aceitar o que Ele deseja que façamos e não
aquilo que pensamos nos convém.
(ama, comentário sobre Lc 11 29-33,
Cascais, 2014.10.13)
Leitura espiritual
Santíssima Virgem
Santo
Rosário
1
A
Anunciação é o momento em que Nossa Senhora conhece com clareza a vocação a que
Deus a tinha destinado desde sempre.
Quando
o Arcanjo a tranquiliza e lhe diz «não temas, Maria», está a ajudá-la a superar
esse temor inicial que, ordinariamente se apresenta em toda a vocação divina.
O
facto de que isto tenha acontecido à Santíssima Virgem indica-nos que não há
nisso nem sequer imperfeição: é uma reacção natural diante da grandeza do
sobrenatural.
Imperfeição
seria não o superar, ou não nos deixarmos aconselhar por aqueles que, como São
Gabriel e Nossa Senhora podem ajudar-nos. [ii]
«Salve!»:
Literalmente o texto grego diz: alegra-te!
É claro que se trata de uma alegria totalmente singular pela notícia que Lhe
vai comunicar a seguir.
«Cheia de graça»: O Arcanjo
manifesta a dignidade e a honra de Maria com esta saudação desusada.
Os Padres e Doutores da
Igreja «ensinaram que com esta singular e solene saudação, jamais ouvida, se
manifestava que a Mãe de Deus era assento de todas as graças divinas e que
estava adornada de todos os carismas do Espírito Santo», pelo que «jamais
esteve sujeita a maldição», isto é, esteve imune de todo o pecado. Estas
palavras do arcanjo constituem um dos textos em que se revela o dogma da
Imaculada Conceição de Maria[iii].
«0 Senhor está contigo»: Estas palavras não têm um mero sentido deprecatório (o
Senhor esteja contigo), mas afirmativo (o Senhor está contigo), e em relação
muito estreita com a Encarnação. Santo Agostinho glosa a frase «o Senhor está
contigo» pondo na boca do arcanjo estas palavras: «Mais que comigo, Ele está
no teu coração, forma-Se no teu ventre, enche a tua alma, está no teu seio»[iv].
Alguns importantes
manuscritos gregos e versões antigas acrescentam no fim: «Bendita tu entre as
mulheres»: Deus exaltá-la-ia assim sobre todas as mulheres. Mais excelente que
Sara, Ana, Débora, Raquel, Judite, etc., pelo facto de que só Ela tem a suprema
dignidade de ter sido escolhida para ser Mãe de Deus. [v]
A Anunciação a
Maria e a Encarnação do Verbo é o facto mais maravilhoso, o mistério mais
entranhável das relações de Deus com os homens e o acontecimento mais transcendente
da História da humanidade. Que Deus Se faça Homem e para sempre! Até onde
chegou a bondade, a misericórdia e o amor de Deus por nós, por todos nós! E,
não obstante, no dia em que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade assumiu a
débil natureza humana das entranhas puríssimas de Maria Santíssima, nada
extraordinário acontecia, aparentemente, sobre a face da terra.
Com grande simplicidade
narra São Lucas o magno acontecimento. Com quanta atenção, reverência e amor
temos de ler estas palavras do Evangelho, rezar piedosa mente o Angelus cada dia, seguindo a
divulgada devoção cristã, e contemplar o primeiro
mistério gozoso do santo Rosário. [vi]
Virgo fidelis, Virgem fiel.
Que significa esta fidelidade de Maria?
Quais são as
dimensões da fidelidade?
A primeira dimensão
chama-se busca.
Maria foi fiel,
antes de mais, quando com amor se pôs a buscar o sentido profundo do desígnio
de Deus n'Ela e para o mundo.
Quomodo fiet? (Como acontecerá isto?) perguntava Ela ao
anjo da Anunciação (...).
Não haverá
fidelidade se não houver na raiz esta ardente, paciente e generosa busca (...).
«A segunda dimensão
da fidelidade chama-se acolhimento, aceitação.
O Quomodo fiet transforma-se, nos
lábios de Maria, em um fiat. Que
se faça, estou pronta, aceito: este é o momento crucial da fidelidade, momento
em que o homem percebe que jamais compreenderá totalmente o como: que há no
desígnio de Deus mais zonas de mistério que de evidência; que, por mais que
faça, jamais conseguirá captar tudo (...).
Coerência é
a terceira dimensão da fidelidade.
Viver de acordo com
o que se crê. Ajustar a própria vida ao objecto da própria adesão. Aceitar
incompreensões, perseguições antes que permitir rupturas entre o que se vive e
o que se crê: esta é a coerência (...)
Mas toda a
fidelidade deve passar pela prova mais exigente: a da duração. Por isso a
quarta dimensão da fidelidade é a constância.
É fácil de ser
coerente por um dia uns dias.
Difícil e
importante é ser coerente toda a vida.
É fácil ser
coerente na hora da exaltação, difícil sê-lo na hora da tribulação. E só pode
chamar-se fidelidade a uma coerência que dura ao longo de toda a vida.
O fiat de Maria na
Anunciação encontra a sua plenitude no fiat silencioso que repete aos pés da
cruz.[vii]
Salve, ó cheia de graça! [viii]
Foi
com estas palavras que, Gabriel, o Anjo do Senhor se dirigiu a ti, Maria de
Nazaré.
Tão
longe estarias tu deste acontecimento.
Decerto
que, desde pequenina, a oração constante, a simplicidade nos pensamentos e nos
actos, sem a mais leve mancha de malícia ou impudor, deverias sentir Deus muito
próximo, ao alcance da tua voz.
Certamente
que sim, pois acreditavas firmemente que Ele te ouvia sempre e em cada momento.
Mas
a tua modéstia, a tua simplicidade, a tua total e humilde submissão a teu
Senhor, ao teu Deus, não permitiriam nunca que essa possibilidade te ocorresse
sequer.
O
Senhor Todo Poderoso, o Criador do Céu e da Terra e de tudo quanto existe,
enviar a Nazaré, à tua casa humilde e simples, um Anjo Seu, para te saudar!
Que
coisa mais extraordinária.
Sabias
que Deus não era um ser longínquo e distante, inacessível aos homens.
Constantemente tinha intervindo junto do povo eleito para comunicar a Sua
Vontade, os Seus desígnios.
Mas,
os Seus interlocutores tinham sido sempre grandes personagens da História
Humana: Abraão, Moisés, David, os Profetas.
E
tu, pobre e humilde menina recebias do Senhor uma graça semelhante!?
Logo
no início o salve do Mensageiro te
perturba. Salve, isto é, alegra-te.
Mas,
mais: OH! cheia de graça!
Que
saudação estranha e desusada que manifesta uma dignidade e honra que julgas não
merecer.
Alegra-te Filha... de
Jerusalém... o Senhor está no meio de ti.[ix]
Estes
altíssimos louvores ferem o teu espírito humilde e, por isso a estas palavras, ela perturbou-se e ficou a
pensar que saudação seria aquela. [x]
Mas,
Gabriel, é um Anjo do Senhor, e apercebe-se a tua confusão, talvez, o teu
natural temor.
E
sossega-te:
Não tenhas receio, Maria,
pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus.
Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo; dar-Lhe-á o Senhor Deus o
trono de Seu pai David, reinará eternamente na casa de Jacob e o seu reinado
não terá fim. [xi]
Conhecias
bem pelas Escrituras que lias e meditavas, o que significava esta saudação e
portanto, quando Gabriel evoca estas prerrogativas, entendeste claramente que
te era anunciado que irias ser a Mãe do Messias Salvador.
Mas
há ainda no teu espírito esclarecido, não obstante a tua juventude, uma dúvida séria: Como poderias tu, virgem humilde, teres sido escolhida para Mãe de Jesus
Salvador pelo próprio Deus a quem tinhas dedicado a tua virgindade?!
E,
não obstante a tua humildade de jovem simples não deixas de interrogar:
Como será isso, se eu não
conheço homem?! [xii]
Ah!...
mas o Anjo tranquiliza-te:
Virá sobre ti o Espírito
Santo, e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a Sua sombra. [xiii]
Esta
resposta corresponde também ao que nas Escrituras se revelava sobre o
aparecimento do Messias.
Eis que uma virgem
conceberá e dará à luz um filho a quem será dado o nome de Emanuel, que quer
dizer Deus connosco. [xiv]
Não
tinhas mais dúvidas por isso nada mais perguntaste. Não quiseste saber como,
quando, porquê.
Nada,
nada absolutamente te interessava averiguar porque:
Heis aqui a escrava do Senhor: seja-me feito segundo a
tua palavra! [xv]
Assim,
tal qual, tu, Senhora, a quem acabava de anunciado seres eleita por Deus a
maior, a mais sublime de entre as mulheres da Terra, assim, com esta
simplicidade que fere pela sua inteira singeleza, assim, tu defines um coração
puro, uma alma de Deus, uma total entrega ao Senhor.[xvi]
«Oh!
Mãe, Mãe! com essa tua palavra - «fiat» - tornaste-nos irmãos de Deus e
herdeiros da Sua glória. - Bendita sejas!» [xvii]
«Em
Maria, nada existe da atitude das virgens néscias, que obedecem, sim, mas como
insensatas.
Nossa
Senhora ouve com atenção o que Deus quer, pondera aquilo que não entende,
pergunta o que não sabe. Imediatamente a seguir, entrega-se sem reservas ao
cumprimento da Vontade divina: heis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim
segundo a Vossa palavra. Vedes esta maravilha?»[xviii]
«Uma
vez conhecido o desígnio divino, Nossa Senhora entrega-se à Vontade de Deus com
obediência pronta e sem reservas.
Dá-se
conta da desproporção entre o que vai ser - Mãe de Deus - e o que é - uma
mulher -. Não obstante, Deus o quer e nada é impossível para Ele, e por isto
ninguém é capaz de por dificuldades ao desígnio divino. Daí que, juntando-se em
Maria a humildade e a obediência, pronunciará o sim ao chamamento de Deus com
essa resposta perfeita: «Heis a escrava do Senhor, seja-me feito segundo a Tua
palavra».[xix]
Por
isso Deus te escolheu.
A
Mãe do Salvador, do Deus feito homem, perfeito homem, que haveria de morrer na
Cruz para salvar todos os homens, num sacrifício cruento, completo, total, não
poderia senão expressar a aceitação pronta e total da Vontade Divina.
Faça-se
a Tua Vontade de uma forma total e completa.
Não
para meu bem, não para minha glória, não para benefício de quem quer que seja,
não...só e unicamente porque é a Tua Vontade Senhor; o resto não me
interessa...
E,
no entanto esta jovem era já a Mãe do Salvador, escolhida desde o princípio dos
tempos.
Poderei
eu, algum dia, alguma vez, do fundo do coração, manifestar tal sentimento?
Decerto
que não.
Quantas
vezes me proponho aceitar a Vontade de Deus, mas reservando no meu íntimo, que
ela esteja de acordo com a minha vontade.
Que
se satisfaçam os meus desejos, que obtenha o que quero que o Senhor, actue
assim, como uma espécie de Deus privado, ao meu serviço.
Heis aqui a escrava do
Senhor: seja-me feito segundo a tua palavra! [xx]
Ah!
Senhora minha, que maravilha a tua resposta, que espantosa a tua entrega.
Ajuda-me,
querida Mãe, a dizer a cada momento sim ao Senhor.
Instila
no meu coração de filho, porque és minha Mãe, esses sentimentos puros e
humildes, esse desprendimento das coisas, essa disponibilidade permanente para
ouvir e, ouvindo, dizer que sim aos desejos do Senhor.
Desejo
tanto ser honesto comigo mesmo para poder ser honesto para com os outros e para
com Deus. Não me mentir, não me enganar, não me esconder atrás de falsas
coisas, defeitos ou virtudes, para me esquivar constantemente ao que me é
pedido.
E
a Tua Vontade, o Teu mandato, claríssimo é que eu seja santo [xxi]
Não
um dia, não qualquer dia, agora - «nunc coepi - pois pode ser que o amanhã me
falte.» [xxii]
"Ave Cheia de Graça, o Senhor está contigo".
[xxiii]
Assim
te falou o Anjo do Senhor.
Ave
minha Mãe Santíssima.
Ave,
minha querida Mãe que estás no Céu, digo-te eu, com a esperança, que é certeza,
que me ouves e atenderás as minhas súplicas.
Como
tu, também eu quero dizer “fiat”, faça-se,
«cumpra-se a justíssima e amabilíssima Vontade de Deus sobre todas as
coisas.» [xxiv]
«Monstra
te esse mater»[xxv],
mostra que és mãe, ajuda-me e guia-me todos os dias da minha vida para que eu
seja um bom filho. [xxvi]
Procuremos aprender, seguindo também o seu exemplo de
obediência a Deus, numa delicada combinação de submissão e de fidalguia.
Em Maria, nada
existe da atitude das virgens néscias, que obedecem, sim, mas como insensatas.
Nossa Senhora ouve
com atenção o que Deus quer, pondera aquilo que não entende, pergunta o que não
sabe.
Imediatamente a
seguir, entrega-se sem reservas ao cumprimento da vontade divina: eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim
segundo a Vossa palavra. Vedes esta maravilha? Santa Maria, mestra de toda a
nossa conduta, ensina-nos agora que a obediência a Deus não é
servilismo, não subjuga a consciência, pois nos move interiormente a descobrir
a liberdade dos filhos de Deus. [xxvii]
(ama, meditações
sobre o Santo Rosário – 1999)
[i] Lc
1, 26-38
[ii]
Bíblia Sagrada anotada pela Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra,
comentário a Lc 1, 30
[iii] (Cfr Ineffabilis Deus; Credo do Povo de Deus, n.
14)
[iv] (Sermo de Nativitate Domini, 4)
[v]
Bíblia Sagrada anotada pela Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra,
comentário a Lc 1, 28
[vi]
Bíblia Sagrada anotada pela Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra,
comentário a Lc 1, 26-38
[vii] João Paulo II, Homilia na Missa na Catedral
México, 26.01.1979
[viii] Lc 1, 28
[ix] So 3, 14. 17a
[x] Lc 1, 29
[xi] Lc 1, 30,33
[xii] Lc 1, 34
[xiii] Lc 1, 35
[xiv] Is
7, 14.
[xv] Lc
1, 38
[xvi] Na
antiguidade, quando está plenamente vigente a escravatura, é onde se deve
avaliar a força e o sentido desta expressão de Maria. O escravo não tinha outra
vontade nem outro querer que o do seu amo. Vive para o seu dono e está de modo
permanente ao seu serviço, sem horas fixas de dedicação e sem condições. Assim
a Virgem, assim cada cristão que queira seguir Cristo.(Francisco Fernandez
Carvajal, Vida de Jesus, Barbosa & Xavier, Lda - Artes Gráficas, pg. 45)
[xvii] S.
Josemaría Escrivá, Caminho, nr 512
[xviii] S.
Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, nr 173
[xix]
Bíblia Sagrada, anotada pela Fac. de Teologia da Univ. de Navarra, Comentário
Lc 1,38
[xx] Lc 1, 38
[xxi]
Pois n'Ele elegeu-nos antes da criação do mundo para que fôssemos santos Ef 1,
4-6
[xxii]
cfr. Beato Josemaría, Caminho, nrs 251 a 254
[xxiii] Lc
1, 28
[xxiv]
cfr. S. Josemaría Escrivá, Forja 769
[xxv]
cfr. Paulo VI, Discurso em Fátima, 13.05.19
[xxvi]
AMA, 2000
[xxvii] S.
Josemaría Escrivá, Cristo que Passa, 173
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