O papa Francisco pediu a representantes de Igrejas e
Comunidades Eclesiais cristãs presentes em Roma para que evitem «fechar-se em
particularismos e exclusivismos», abstendo-se igualmente de «impor uniformidade
segundo planos meramente humanos».
«O compromisso comum de anunciar o Evangelho permite superar
qualquer forma de proselitismo e a tentação da competição. Estamos todos ao
serviço do único e mesmo Evangelho», afirmou o papa este domingo, em Roma, na
celebração litúrgica que encerrou a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.
O tema da iniciativa, «Dá-me de beber», foi extraído das
palavras que Jesus, à beira de um poço, dirigiu a uma mulher samaritana que
para lá se dirigia para tirar água.
O episódio, narrado no Evangelho segundo S. João, ganha
especial significado no âmbito ecuménico porque judeus, como era o caso de
Jesus, e samaritanos não se davam bem.
«Jesus, cansado da viagem, não hesita em pedir de beber à
mulher samaritana. Mas a sua sede estende-se muito para além da água física: é
também sede de encontro, desejo de abrir diálogo com aquela mulher,
oferecendo-lhe assim a possibilidade de um caminho de conversão interior»,
apontou.
Francisco realçou que «as pessoas, para se compreenderem e
crescerem na caridade e na verdade, precisam de se deter, acolher e escutar»,
sendo desta forma que se começa «já a experimentar a unidade»
«Hoje, há uma multidão de homens e mulheres, cansados e sedentos,
que nos pedem, a nós cristãos, para lhes dar de beber. É um pedido a que não
nos podemos subtrair», vincou Francisco na basílica de S. Paulo Fora dos Muros.
Na intervenção que proferiu na oração litúrgica de Vésperas,
no dia em que se evocou a conversão do apóstolo S. Paulo, o papa salientou que
Jesus elimina o acessório e privilegia o que é mais importante.
«A mulher de Sicar interpela Jesus sobre o verdadeiro lugar
da adoração a Deus. Jesus não toma partido em favor do monte nem do templo, mas
vai ao essencial derrubando todo o muro de separação. Remete para a verdade da
adoração: “Deus é espírito; por isso, os que o adoram devem adorá-lo em
espírito e verdade”», apontou.
Este episódio, prosseguiu Francisco, é um apelo à
convergência: «É possível superar muitas controvérsias entre cristãos, herdadas
do passado, pondo de lado qualquer atitude polémica ou apologética e
procurando, juntos, individuar em profundidade aquilo que nos une».
«A unidade dos cristãos não será o fruto de sofisticadas
discussões teóricas, onde cada um tenta convencer o outro da justeza das suas
opiniões. Temos de reconhecer que, para se chegar à profundeza do mistério de
Deus, precisamos uns dos outros, encontrando-nos e confrontando-nos sob a guia
do Espírito Santo, que harmoniza as diversidades e supera os conflitos», assinalou.
O «amor» divino, declarou Francisco, «é a razão mais profunda
da unidade que liga todos os cristãos e que é muito maior do que as divisões
ocorridas no decurso da história.
Para o papa, «a busca da unidade dos cristãos não pode ser
prerrogativa apenas de qualquer indivíduo ou comunidade religiosa particularmente
sensível a tal problemática».
Fonte: Pastoral da cultura
Rui Jorge Martins
Publicado em 25.01.2015
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