Habituámo-nos a olhar para Saulo como um homem terrível, um
criminoso que perseguia os cristãos para os matar. Enfim um homem que nada
tinha a ver com Deus.
E realmente pelo que a Bíblia nos conta, Saulo, perseguia os
cristãos para os prender, para os entregar à justiça daqueles tempos, justiça
essa que invariavelmente os condenava à morte.
Tal se percebe logo no relato do martírio de Santo Estêvão,
em que Saulo está presente, pois o Livro dos Actos dos Apóstolos narra especificamente
que: «As testemunhas depuseram as capas aos pés de um jovem chamado Saulo.» Act
7, 58
Mas Saulo não era um homem “fora de Deus”!
Pelo contrário, Saulo era um homem que procurava Deus, que
procurava viver Deus na sua vida, que estudava e tinha conhecimentos profundos
das Escrituras e tentava vivê-las o mais fielmente que lhe era possível.
Devemos lembrar-nos que naqueles tempos as leis não eram as
leis que hoje temos e que, portanto, aquilo que hoje aos nossos olhos é incompreensível,
(os martírios, etc.), eram naquele tempo compreendidos de outro modo.
Aliás, os ensinamentos de Jesus Cristo vieram precisamente
mudar esse tipo de leis, para fazer compreender aos homens que Deus é amor e
que tudo o que é feito em seu nome tem de ser feito em amor.
Saulo era portanto um homem que procurava Deus, que procurava
com entrega total servir a Deus.
Quando Saulo se desloca para Damasco, (a pé, porque os Actos
dos Apóstolos não nos referem cavalo algum), vai na sua consciência para servir
a Deus, pois a sua missão era prender aqueles que seguiam a Cristo e que nesse
tempo eram entendidos como uma seita fora de Deus.
E, «quem procura, encontra» Mt 7, 8, por isso Saulo, nessa
sua procura de Deus, vai encontra-lO num caminho em que ele nunca esperaria ter
essa posibilidade.
É o próprio Jesus Cristo que o vai fazer entender que o Deus
que Saulo procura é Aquele que ele mesmo persegue. «Saulo, Saulo, porque me
persegues?» Act 9, 4
A resposta de Saulo leva-nos logo a perceber que embora
pergunte, «Quem és Tu, Senhor?», ele já sabe que encontrou o Deus a quem quer
servir, pois logo O trata por Senhor.
De tal maneira O encontra que não hesita nem um pouco em
fazer tudo aquilo que aquele Senhor lhe ordena que faça.
Saulo encontra Deus e uma vida nova lhe é dada, uma vida de
inteiro serviço a Deus, uma vida já não como Saulo, mas agora como Paulo.
Duas notas interessantes são as seguintes:
1 – Saulo perseguia os cristãos e a voz que o interroga,
Jesus Cristo, perguntando «porque me persegues?», faz perceber que, ao perseguir
os cristãos, Saulo persegue o próprio Cristo, o próprio Deus, que assim se faz
Um connosco.
Como nos diz o próprio São Paulo na Primeira Carta aos
Coríntios, explicando-nos o Corpo Místico de Cristo: «Assim, se um membro
sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro é honrado, todos os
membros participam da sua alegria.» 1Cor 12, 26
2 – Não interessa o que fizemos no nosso passado, se
verdadeiramente queremos encontrar Deus nas nossas vidas.
Se O procuramos de coração aberto, Ele faz-se encontrado
connosco, toma-nos pela mão, e faz de nós mulheres e homens novos.
Marinha Grande, 19 de Janeiro de 2015
Joaquim Mexia Alves
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