Art.
3 — Se Cristo contraiu alguma fraqueza corporal.
O terceiro discute-se assim. — Parece
que Cristo contraiu certas fraquezas corporais.
1 — Pois, diz-se que contraímos o que
temos desde a origem da nossa natureza. Ora, Cristo, juntamente com a natureza
humana, trouxe originariamente, de sua mãe, as misérias e as fraquezas do
corpo. Logo, parece que contraiu essas fraquezas.
2. Demais. — O causado pelos
princípios da natureza nós o recebemos juntamente com ela e isso se chama
contrair. Ora, as referidas penalidades são causadas pelos princípios da
natureza humana. Logo, Cristo contraiu-as.
3. Demais. — Pelas referidas misérias
Cristo é semelhante aos outros homens, como diz o Apóstolo. Ora, os outros
homens contraem essas misérias. Logo, parece que também Cristo as contraiu.
Mas, em contrário, essas misérias
foram contraídas pelo pecado, segundo o Apóstolo: Por um homem entrou o pecado
neste mundo e pelo pecado a morte. Ora, em Cristo não existia nenhum pecado.
Logo, Cristo não contraiu essas misérias de que tratamos.
A palavra contrair implica
uma relação entre causa e efeito: isto é, diz-se contraído o efeito simultânea
e necessariamente resultante da sua causa. Ora, a causa da morte e outras
misérias da natureza humana é o pecado, pois, pelo pecado entrou a morte neste
mundo, na frase do Apóstolo. Donde, diz-se propriamente que contraem os
referidos defeitos os que neles incorrem como uma consequência do pecado. Ora,
Cristo não tinha essas misérias como consequência do pecado, pois, conforme
Agostinho, comentando o Evangelho. - O que vem lá de cima é sobre todos, Cristo
veio lá de cima, isto é, das alturas da natureza humana, que tinha antes do
pecado do primeiro homem. Pois, assumiu a natureza humana sem pecado, na pureza
que ela tinha no estado de inocência. E, do mesmo modo, podia ter assumido a
natureza humana sem as suas misérias. Donde é claro que Cristo não contraiu as
referidas fraquezas, como se as tivesse em consequência do pecado, mas, por
vontade própria.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— A carne da Virgem foi concebida no pecado original [1] e por
isso contraiu as referidas fraquezas. Mas a carne de Cristo assumiu, da Virgem,
a natureza sem a culpa. E semelhantemente podia ter assumido a natureza sem a
pena. Quis porém assumir a pena para realizar a obra da nossa redenção, como se
disse. E por isso teve as referidas fraquezas, não pelas contrair, mas pelas
voluntariamente assumir.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A causa da morte
e das outras misérias da natureza humana é dupla. Uma remota, resultante dos
princípios materiais do corpo humano, enquanto composto de elementos contrários.
Mas, essa causa ficava impedida pela justiça original. Donde, a causa próxima
da morte e das outras misérias é o pecado, que privou da justiça original. E
por isso, por Cristo não ter tido pecado, dissemos que não contraiu tais
misérias, senão que as assumiu voluntariamente.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Cristo, por
essas misérias, equiparou-se aos outros homens, quanto à qualidade delas, mas
não quanto à causa. Por isso não as contraiu como os outros.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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