16/01/2015

Tratado do verbo encarnado 92

Questão 14: Das fraquezas do corpo, que Cristo assumiu na natureza humana.

Art. 3 — Se Cristo contraiu alguma fraqueza corporal.

O terceiro discute-se assim. — Parece que Cristo contraiu certas fraquezas corporais.

1 — Pois, diz-se que contraímos o que temos desde a origem da nossa natureza. Ora, Cristo, juntamente com a natureza humana, trouxe originariamente, de sua mãe, as misérias e as fraquezas do corpo. Logo, parece que contraiu essas fraquezas.

2. Demais. — O causado pelos princípios da natureza nós o recebemos juntamente com ela e isso se chama contrair. Ora, as referidas penalidades são causadas pelos princípios da natureza humana. Logo, Cristo contraiu-as.

3. Demais. — Pelas referidas misérias Cristo é semelhante aos outros homens, como diz o Apóstolo. Ora, os outros homens contraem essas misérias. Logo, parece que também Cristo as contraiu.

Mas, em contrário, essas misérias foram contraídas pelo pecado, segundo o Apóstolo: Por um homem entrou o pecado neste mundo e pelo pecado a morte. Ora, em Cristo não existia nenhum pecado. Logo, Cristo não contraiu essas misérias de que tratamos.

A palavra contrair implica uma relação entre causa e efeito: isto é, diz-se contraído o efeito simultânea e necessariamente resultante da sua causa. Ora, a causa da morte e outras misérias da natureza humana é o pecado, pois, pelo pecado entrou a morte neste mundo, na frase do Apóstolo. Donde, diz-se propriamente que contraem os referidos defeitos os que neles incorrem como uma consequência do pecado. Ora, Cristo não tinha essas misérias como consequência do pecado, pois, conforme Agostinho, comentando o Evangelho. - O que vem lá de cima é sobre todos, Cristo veio lá de cima, isto é, das alturas da natureza humana, que tinha antes do pecado do primeiro homem. Pois, assumiu a natureza humana sem pecado, na pureza que ela tinha no estado de inocência. E, do mesmo modo, podia ter assumido a natureza humana sem as suas misérias. Donde é claro que Cristo não contraiu as referidas fraquezas, como se as tivesse em consequência do pecado, mas, por vontade própria.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A carne da Virgem foi concebida no pecado original [1] e por isso contraiu as referidas fraquezas. Mas a carne de Cristo assumiu, da Virgem, a natureza sem a culpa. E semelhantemente podia ter assumido a natureza sem a pena. Quis porém assumir a pena para realizar a obra da nossa redenção, como se disse. E por isso teve as referidas fraquezas, não pelas contrair, mas pelas voluntariamente assumir.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A causa da morte e das outras misérias da natureza humana é dupla. Uma remota, resultante dos princípios materiais do corpo humano, enquanto composto de elementos contrários. Mas, essa causa ficava impedida pela justiça original. Donde, a causa próxima da morte e das outras misérias é o pecado, que privou da justiça original. E por isso, por Cristo não ter tido pecado, dissemos que não contraiu tais misérias, senão que as assumiu voluntariamente.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Cristo, por essas misérias, equiparou-se aos outros homens, quanto à qualidade delas, mas não quanto à causa. Por isso não as contraiu como os outros.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.




[1] Nota de ama: Não está correcto já que a Santíssima Virgem foi concebida sem pecado original.

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