Art.
3 — Se Cristo pode ser chamado o homem do Senhor.
O terceiro discute-se assim. — Parece
que Cristo pode ser chamado. o homem do Senhor.
1. — Pois, diz Agostinho: Devemos
advertir que são de se esperar os bens que existiam naquele homem do Senhor.
Ora, refere-se a Cristo. Logo, parece que Cristo é homem do Senhor.
2. Demais. — Assim como o domínio
convém a Cristo em razão da natureza divina, assim também a humanidade pertence
à natureza humana. Ora, Deus é dito humanado, como o faz Damasceno quando, se
refere à humanização, que demonstra a união com o homem. Logo, pela mesma
razão, pode-se dar ao homem Cristo a denominação de homem do Senhor.
3. Demais. — Assim como a denominação
latina dominicus (do Senhor) deriva de dominas, assim divino deriva de Deus.
Ora, Dionísio diz que Cristo denomina o diviníssimo Jesus. Logo, pela mesma
razão, podemos dizer que Cristo é o homem do Senhor.
Mas, em contrário, Agostinho diz: Não
vejo se se chama com acerto a Jesus Cristo homem do Senhor, pois é propriamente
Senhor.
Como dissemos, quando
dizemos o homem. Jesus Cristo, designamos o suposto eterno, que é a pessoa do
Filho de Deus, porque ambas as suas naturezas tem o mesmo suposto. Ora, da pessoa
do Filho de Deus se predica Deus e Senhor, essencialmente. Logo, não devem ser
predicados denominativamente, porque iria contra a verdade da união. Donde,
como dominicus (do Senhor) tira a sua denominação de dominus (Senhor), não
podemos dizer verdadeira e propriamente que Cristo seja o homem do Senhor, mas
antes, que é Senhor, Mas, se pela expressão Jesus Cristo homem designamos um
suposto criado, como o ensinam os que introduzem em Cristo dois supostos, podemos
então dizer que Cristo é homem do Senhor, por ter sido assumido para participar
da honra divina, como o ensinavam os Nestorianos. E também deste modo não
dizemos que a natureza é essencialmente deusa, mas, deificada, não, certamente,
por se converter na natureza divina, mas pela união com a natureza divina, na
unidade da hipóstase, como está claro em Damasceno.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Agostinho retratou essas expressões e outras semelhantes. Por isso, depois
das palavras dessa retratação acrescenta: Onde disse, que Cristo Jesus fosse
homem do Senhor, não queria tê-lo dito, pois, vi a seguir, que não devia ser
assim, porque nenhuma razão o pode sustentar. Isto é, porque poderia alguém
dizer que é chamado homem do Senhor em razão da natureza humana, significada
pela palavra homem, mas não em razão do suposto.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Esse suposto
único, da natureza divina e da humana foi, primeiro, da natureza divina isto é,
abeterno, mas depois temporalmente, pela Encarnação foi feito o suposto da
natureza humana. E por isso se chama humanado, não por ter assumido o homem,
mas porque assumiu a natureza humana. Mas não se dá o inverso, a saber, que o
suposto da natureza humana tivesse assumido a natureza humana. Por isso, Cristo
não pode ser chamado homem deificado ou do Senhor.
RESPOSTA À TERCEIRA. — O nome divino
costuma predicar-se também daquilo de que se predica essencialmente o nome de
Deus. Assim, dizemos que a essência divina é Deus, em razão da identidade, e
que a essência é de Deus ou divina, pelo modo diverso de significar, e Verbo
divino, embora o Verbo seja Deus. E semelhantemente, dizemos pessoa divina como
dizemos também a pessoa de Platão, por causa do modo diverso de significar.
Ora, a expressão — do Senhor — não se predica daquilo de que se predica o nome
de Senhor, assim, não se costuma dizer que um homem, que é senhor, seja do
senhor, mas, o que de algum modo é do senhor se chama do senhor, como quando
dizemos: a vontade do Senhor ou a mão do Senhor ou a paixão do Senhor. Donde, o
homem Cristo, que é Senhor, não pode ser chamado do Senhor, mas a sua carne
pode ser denominada carne do Senhor e a sua paixão do Senhor.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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