Evangelho: Mc 1 14-20
14 Escolheu doze para que andassem com Ele e para os enviar a pregar, 15 com poder de expulsar os demónios: 16 Simão, a quem pôs o nome de Pedro; 17 Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão de Tiago, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer “filhos do trovão”; 18 e André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o Cananeu, 19 e Judas Iscariotes, que foi quem O entregou. 20 Depois, foi para casa e de novo acorreu tanta gente, que nem sequer podiam tomar alimento
Comentário:
A Liturgia escolheu para este
primeiro dia do ano litúrgico deste ano de 2014, este trecho de São Marcos com
uma intenção clara: o início da vida pública de Jesus Cristo.
Tenhamos em conta que, o Senhor, não
começa a Sua missão salvadora, de um momento para o outro. Houve de facto uma
preparação longa – mais ou menos 30 anos – levada a cabo pelo último dos
profetas do AT, João Baptista.
Estes primeiros escolhidos teriam
feito parte dos discípulos do Percursor que lhes indicara o próprio Jesus
Cristo como o Messias que haveria de chegar e, quando chega o convite,
encontra-os preparados e dispostos a segui-lo sem mais tergiversações.
Lição de apostolado. A acção
apostólica tem de ser cuidadosamente preparada, com critério e paciência para
que, o objecto dessa acção – a conquista de homens para Cristo – possa
encontrar terreno preparado e convenientemente apto a receber a semente.
(ama, comentário sobre Mc 1, 14-20,
2013.01.13)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Amar a Igreja 14 a 21
14
A missão apostólica de
todos os católicos
A
Igreja santifica-nos, depois de entrarmos no seu seio pelo Baptismo.
Recém-nascidos para a vida natural, podemos logo acolher-nos à graça
santificante. A fé duma pessoa, mais ainda, a fé de toda a Igreja, beneficia a
criança pela acção do Espírito Santo, que dá unidade à Igreja e comunica os
bens duns para os outros . É uma maravilha esta maternidade sobrenatural da
Igreja, que o Espirito Santo lhe confere. A regeneração espiritual, que se
opera pelo Baptismo, é de alguma maneira semelhante ao nascimento corporal.
Assim como as crianças que se encontram no seio da mãe não se alimentam por si
mesmas, porque se nutrem do sustento da mãe, também os pequeninos que não têm
uso da razão, se encontram como crianças no seio da sua Mãe, a Igreja, pois
recebem a salvação pela acção da Igreja, e não por si mesmos.
Manifesta-se
assim em toda a sua grandeza o poder sacerdotal da Igreja, que procede
directamente de Cristo. Cristo é a fonte de todo o sacerdócio, visto que o
sacerdote da Lei Antiga era como a sua figura. Mas o sacerdote da Nova Lei age
na pessoa de Cristo, segundo o que se diz em 2 Cor. II, 10: pois eu também o
que perdoo, se alguma coisa perdoo, por amor de vós o perdoo na pessoa de
Cristo.
A
mediação salvadora entre Deus e os homens perpetua-se na Igreja através do
Sacramento da Ordem, que capacita - pelo carácter e pela graça consequentes -
para agir como ministros de Jesus Cristo em favor de todas as almas. Que um
possa realizar um acto que outro não pode, não provém da diversidade na bondade
ou na malícia, mas da potestade adquirida, que um possui e outro não. Por isso,
como o leigo não recebe a potestade de consagrar, não pode fazer a consagração,
seja qual for a sua bondade pessoal.
15
Na
Igreja há diversidade de ministérios, mas um só é o fim: a santificação dos
homens. Nesta tarefa participam de algum modo todos os cristãos, pelo carácter
recebido com os Sacramentos do Baptismo e da Confirmação. Todos temos de nos
sentir responsáveis por essa missão da Igreja, que é a missão de Cristo. Quem
não tem zelo pela salvação das almas, quem não procura com todas as suas forças
que o nome e a doutrina de Cristo sejam conhecidos e amados, não compreende a
apostolicidade da Igreja.
Um
cristão passivo não é capaz de entender o que Cristo quer de todos nós. Um
cristão que se preocupa com as suas coisas e se desentende da salvação dos
outros, não ama com o Coração de Jesus.
O
apostolado não é missão exclusiva da Hierarquia, nem dos sacerdotes ou dos
religiosos. A todos nos chama o Senhor para sermos instrumentos, com o exemplo
e com a palavra, dessa corrente de graça que salta até à vida eterna.
Sempre
que lemos os Actos dos Apóstolos, emocionam-nos a audácia, a confiança na sua
missão e a sacrificada alegria dos discípulos de Cristo. Não pedem multidões.
Ainda que as multidões venham, eles dirigem-se a cada alma em concreto, a cada
homem, um por um: Filipe ao etíope; Pedro ao centurião Cornélio: Paulo a Sérgio
Paulo.
Tinham
aprendido do Mestre. Recordai aquela parábola dos operários que aguardam
trabalho, no meio da praça da aldeia. Quando o dono da vinha foi à procura de
empregados, com o dia já bem entrado, descobriu que ainda havia homens sem
fazer nada: porque estais aqui todo o dia ociosos? Eles responderam: porque
ninguém nos contratou. Isto não deve suceder na vida do cristão; não deve
encontrar-se ninguém à sua volta que possa afirmar que não ouviu falar de
Cristo, porque ninguém lh'O anunciou.
Os
homens pensam frequentemente que nada os impede de prescindir de Deus.
Enganam-se. Apesar de não o saberem, jazem como o paralítico da piscina
probática, incapazes de se deslocarem até às águas que salvam, até à doutrina
que dá alegria à alma. A culpa é muitas vezes dos cristãos, porque essas
pessoas poderiam repetir hominem non habeo não tenho sequer uma pessoa para me
ajudar. Todo o cristão deve ser apóstolo, porque Deus, que não precisa de
ninguém, precisa, contudo, de nós. Conta connosco e com a nossa dedicação para
propagar a sua doutrina salvadora.
16
Estamos
a contemplar o mistério da Igreja Una, Santa, Católica, Apostólica. É hora de
nos perguntarmos: compartilho com Cristo do seu afã de almas? Peço por esta
Igreja de que faço parte, onde hei-de realizar uma missão específica, que
ninguém pode fazer por mim? Estar na Igreja é já muito, mas não basta. Devemos
ser Igreja, porque a nossa Mãe nunca há-de ser para nós estranha, exterior,
alheia aos nossos mais profundos pensamentos.
Acabamos
aqui estas considerações sobre as notas da Igreja. Com a ajuda do Senhor, terão
ficado impressas na nossa alma e confirmar-nos-emos num critério claro, seguro,
divino, para amarmos mais esta Mãe Santa, que nos trouxe à vida da graça e nos
alimenta dia a dia com solicitude inesgotável.
Se
porventura ouvirdes palavras ou gritos de ofensa à Igreja, manifestai, com
humanidade e caridade, a essa gente sem amor, que não se pode maltratar assim
uma Mãe. Agora atacam-na impunemente, porque o seu reino, que é o do seu Mestre
e Fundador, não é deste mundo. Enquanto gemer o trigo entre a palha, enquanto
suspirarem as espigas entre a cizânia, enquanto chorar o lírio entre os
espinhos, não faltarão inimigos que digam: quando morrerá e perecerá o seu
nome? Ou seja, vede que virá tempo em que hão-de desaparecer e já não haverá
mais cristãos... Mas, quando dizem isto, eles morrem sem remédio. E a Igreja
permanece.
Aconteça
o que acontecer, Cristo não abandonará a sua Esposa. A Igreja triunfante está
já junto d'Ele à direita do Pai. E daí nos chamam os nossos irmãos cristãos,
que glorificam a Deus por esta realidade que nós ainda só podemos ver através
da clara penumbra da fé: a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica.
17
Para
começar, gostaria de vos recordar umas palavras de S. Cipriano: A Igreja
universal apresenta-se-nos como um povo cuja unidade é obtida a partir da
unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Não estranhem, portanto, que
nesta festa da Santíssima Trindade a homilia trate da Igreja, tanto mais que a
Igreja tem as suas raízes no mistério fundamental da nossa fé católica: o de
Deus uno em essência e trino em pessoas.
A
Igreja centrada na Trindade: eis como sempre a consideraram os Padres. Reparem
como são claras as palavras de Santo Agostinho: Deus habita no seu templo; não
apenas o Espírito Santo, mas igualmente o Pai e o Filho... Por isso, a Santa
Igreja é o templo de Deus, ou seja, de toda a Trindade.
Ao
reunirmo-nos de novo no próximo Domingo, consideraremos outro dos aspectos
maravilhosos da Santa Igreja: essas notas que recitaremos dentro de pouco, no
Credo, depois de cantar a nossa fé no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Et in
Spiritum Sanctum, dizemos. E, logo a seguir, et unam, sanctam catholicam et
apostolicam Ecclesiam, confessamos que há uma só Igreja, Santa, Católica e
Apostólica.
Todos
aqueles que amaram verdadeiramente a Igreja souberam relacionar estas quatro
notas com o mais inefável mistério da nossa santa religião: a Santíssima Trindade.
Nós cremos na Igreja de Deus, Una, Santa, Católica e Apostólica, na qual
recebemos a doutrina; conhecemos o Pai, o Filho e o Espírito Santo e somos
baptizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo .
18
Momentos difíceis
É
necessário meditarmos frequentemente, para não corrermos o risco de nos
esquecermos, que a Igreja é um mistério grande, profundo. Nunca poderá ser
abarcado nesta terra. Se a razão tentasse explicá-lo por si só, veria apenas a
reunião de pessoas que cumprem certos preceitos, que pensam de forma parecida.
Mas isso não seria a Santa Igreja.
Na
Santa Igreja os católicos encontramos a nossa fé, as nossas normas de conduta,
a nossa oração, o sentido de fraternidade, a comunhão com todos os irmãos que
já desapareceram e que estão a purificar-se no Purgatório - Igreja padecente-,
ou com os que já gozam da visão beatífica - Igreja triunfante-, amando
eternamente Deus, três vezes Santo. É a Igreja que permanece aqui e, ao mesmo
tempo, transcende a história. A Igreja que nasceu sob o manto de Santa Maria e
continua a louvá-la como Mãe na terra e no céu.
Confirmemos
em nós mesmos o carácter sobrenatural da Igreja; confessemo-lo aos gritos, se
for preciso, porque nestes momentos são muitos aqueles que - embora fisicamente
dentro da Igreja, e até em altas posições - se esqueceram destas verdades
capitais e pretendem apresentar uma imagem da Igreja que não é Santa, que não é
Una, que não pode ser Apostólica porque não se apoia na rocha de Pedro, que não
é Católica porque está sulcada por particularismos ilegítimos, por caprichos de
homens.
Não
é novidade. Desde que Jesus Cristo fundou a Santa Igreja, esta Mãe, que é nossa
Mãe, sofreu uma perseguição constante. Talvez noutras épocas as agressões se
organizassem abertamente; agora, em muitos casos, trata-se de uma perseguição
camuflada. Seja como for, hoje, como ontem, há quem continue a combater a
Igreja.
Repetirei
mais uma vez que não sou pessimista, nem por temperamento nem por hábito. Como
é possível ser pessimista se Nosso Senhor prometeu que estará connosco até ao
fim dos séculos?. A efusão do Espírito Santo plasmou, na reunião dos discípulos
no Cenáculo, a primeira manifestação pública da Igreja.
O
nosso Pai Deus - Pai amoroso que cuida de nós como da menina dos olhos,
conforme nos diz a Escritura com uma expressão tão gráfica, para podermos
perceber - não cessa de santificar, pelo Espírito Santo, a Igreja fundada pelo
seu Filho muito amado. Mas a Igreja vive actualmente dias difíceis: são anos de
grande desconcerto para as almas. O clamor da confusão levanta-se por toda a
parte e renascem com estrondo todos os erros que houve ao longo dos séculos.
19
Fé.
Precisamos de fé. Se olharmos com olhos de fé, descobrimos que a Igreja contém
em si mesma e difunde à sua volta a sua própria apologia. Quem a contempla,
quem a estuda com olhos de amor à verdade, deve reconhecer que ela,
independentemente dos homens que a compõem, e das modalidades práticas com que
se apresenta, leva em si mesma uma mensagem de luz universal e única, libertadora
e necessária, divina.
Quando
ouvimos vozes de heresia - porque são exactamente isso, nunca me agradaram os
eufemismos-, quando observamos que se ataca impunemente a santidade do
matrimónio e do sacerdócio; a concepção imaculada da Nossa Mãe Santa Maria e a
sua virgindade perpétua, com todos os restantes privilégios e excelências com
que Deus a adornou; o milagre perene da presença real de Jesus Cristo na
Sagrada Eucaristia, o primado de Pedro, a própria Ressurreição de Nosso Senhor,
como não sentir a alma cheia de tristeza? Mas tenham confiança: a Santa Igreja
é incorruptível. A Igreja vacilará se o seu fundamento vacilar, mas poderá
Cristo vacilar? Enquanto Cristo não vacilar, a Igreja jamais fraquejará até ao
fim dos tempos .
20
O humano e o divino na
Igreja
Assim
como em Cristo há duas naturezas - a humana e a divina - também, por analogia,
podemos referir-nos à existência na Igreja de um elemento humano e de um
elemento divino. A ninguém passa despercebida a evidência dessa parte humana. A
Igreja, neste mundo, está composta por homens e para homens, e dizer homem é
falar da liberdade, da possibilidade de actos grandes e de actos mesquinhos, de
heroísmos e de claudicações.
Se
só admitíssemos essa parte humana da Igreja nunca conseguiríamos compreendê-la,
pois não teríamos chegado à porta do mistério. A Sagrada Escritura utiliza
muitos termos - tirados da experiência terrena - para os aplicar ao Reino de
Deus e à sua presença entre nós, na Igreja. Compara-a ao redil, ao rebanho, à
casa, à semente, à vinha, ao campo onde Deus planta ou edifica. Mas destaca uma
expressão que compendia tudo: a Igreja é o Corpo de Cristo.
E
Ele a uns constituiu Apóstolos, a outros profetas, a outros evangelistas, a
outros pastores e doutores, para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do
ministério, para a edificação do Corpo de Cristo. São Paulo escreve também que
somos um só corpo em Cristo, e cada um de nós membros uns dos outros. Como é
luminosa a nossa fé! Todos somos em Cristo, porque Ele é a Cabeça do corpo da Igreja.
21
É
a fé que os cristãos sempre confessaram. Ouçam comigo estas palavras de Santo
Agostinho: e desde então Cristo está formado pela cabeça e pelo corpo, verdade
que, não duvido, conheceis bem. A cabeça é o nosso próprio Salvador, que
padeceu sob Pôncio Pilatos e agora, depois de ressuscitar de entre os mortos,
está sentado à direita do Pai. E o Seu corpo é a Igreja. Não esta ou aquela
igreja, mas a que se encontra espalhada por todo o mundo. Nem sequer é apenas a
que existe entre os homens actuais, uma vez que a ela pertencem também os que
viveram antes de nós e os que hão-de existir depois, até ao fim do mundo.
Assim, toda a Igreja, formada pela reunião dos fiéis - e porque todos os fiéis
são membros de Cristo-, possui Cristo como Cabeça, que governa do Céu o Seu
corpo. E, embora esta Cabeça se encontre fora da vista do corpo, está unida
pelo amor.
(cont)
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