Art.
3 — Se Cristo é a cabeça de todos os homens.
O terceiro discute-se assim. — Parece
que Cristo não é a cabeça de todos os homens.
1. — Pois, a cabeça não tem relação
senão com os membros do seu corpo. Ora, os infiéis de nenhum modo são membros
da Igreja, que é o corpo de Cristo, como diz o Apóstolo. Logo, Cristo não é a
cabeça de todos os homens.
2. Demais. — O Apóstolo diz: Cristo entregou-se
a si mesmo pela Igreja, para a apresentar a si mesmo Igreja gloriosa, sem
mácula nem ruga, nem outro algum defeito semelhante. Ora, há ainda muito fiéis desfeados
pela mácula e a ruga do pecado. Logo, não será Cristo a cabeça de todos os
fiéis,
3. Demais. — Os sacramentos da lei
antiga estão para Cristo como a sombra para o corpo, no dizer do Apóstolo. Ora,
os Padres do Antigo Testamento viviam no regime desses sacramentos, segundo o
Apóstolo: Os quais servissem de modelo e sombra das causas celestiais. Logo,
não pertenciam ao corpo de Cristo. E, portanto, Cristo não é a cabeça de todos
os homens.
Mas, em contrário, a Escritura: É o
Salvador de todos os homens e principalmente dos fiéis. E noutro lugar: Ele é a
propiciação pelos nossos pecados, não somente pelos nossos, mas também pelos de
todo o mundo. Ora, salvar os homens ou ser propiciação pelos pecados deles
compete a Cristo enquanto cabeça. Logo, Cristo é a cabeça de todos os homens.
A diferença entre o corpo
natural do homem e o corpo místico da Igreja está em os membros todos do corpo
natural coexistirem, ao passo que não coexistem os membros do corpo místico.
Nem quanto ao seu ser natural, porque o corpo da Igreja é constituído pelos
homens existentes desde o princípio do mundo e que existirão até o fim dele, nem
quanto ao ser da graça, pois, dos que vivem num determinado tempo, uns não têm
a graça, mas tê-la-ão mais tarde, ao passo que outros já a têm. Assim, pois,
consideram-se como membros do corpo místico os que não somente o são em acto,
mas ainda os que o são em potência. Mas, alguns são-no, em potência, que nunca
serão reduzidos ao acto, outros, porém, serão reduzidos ao acto, segundo
tríplice grau - um, pela fé, o segundo, pela caridade desta vida, o terceiro,
pela fruição da pátria.
Donde devemos concluir, que,
considerando-o geralmente, segundo o tempo total do mundo, Cristo é a cabeça de
todos os homens, mas em graus diversos. Assim, primária e principalmente, é a
cabeça daqueles que actualmente lhe estão unidos pela glória. Em segundo lugar,
dos que lhe estão unidos pela caridade. Em terceiro, dos que lhe estão unidos
pela fé. Em quarto, dos que lhe estão unidos só em potência sem ainda terem
sido reduzidos ao acto, mas que a este devem ser reduzidos, segundo a divina
predestinação. O quinto, enfim, os que lhe estão unidos em potência e nunca
serão reduzidos a acto, como os homens que vivem neste mundo e que não são predestinados.
Mas que, partindo deste mundo, deixam totalmente de ser membros de Cristo, por
já não poderem ser unidos a Cristo.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Os infiéis, embora actualmente não sejam da Igreja, são-no contudo, em
potência. E essa potência tem duplo fundamento. O primeiro e principal, a virtude
de Cristo, suficiente à salvação de todo género humano. O segundo, o arbítrio
da liberdade.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Constituir a
Igreja gloriosa, sem mácula nem ruga, é o fim último a se dará no estado da
pátria, mas não no da via, no qual, se dissermos que estamos sem pecado, nós
mesmos nos enganamos, como diz a Escritura. Mas os membros de Cristo, pela
união actual da caridade, já estão isentos de certos pecados, que são os
mortais. Ao contrário, os que vivem sob o jugo desses pecados não são membros
de Cristo actualmente, mas só potencialmente. Salvo talvez se, de maneira
imperfeita, pela fé informe, que une a Cristo decerto modo, mas não
absolutamente falando, a saber, de modo que, por Cristo, o homem consiga a vida
da graça, segundo a Escritura: pois, a fé sem as obras é morta. Contudo, esses
já recebem de Cristo um certo acto de vida, que é crer, como se um membro já
atacado da morte fosse, de algum modo, movido pelo homem.
RESPOSTA À TERCEIRA — Os santos
Patriarcas não se apegavam aos sacramentos legais como a determinadas
realidades, mas como a imagens e a sombras das coisas futuras. Ora, o movimento
para a imagem, como tal, é o mesmo que para a realidade, segundo está claro no
Filósofo. Por isso, os antigos Padres, observando os sacramentos da lei, eram
levados para Cristo pela mesma fé e pelo mesmo amor pelos quais também nós para
ele somos levados. Donde, os Patriarcas antigos pertenciam ao mesmo corpo da
Igreja a que nós pertencemos.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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