Art.
12 — Se a graça de Cristo podia aumentar.
O duodécimo discute-se assim. — Parece
que a graça de Cristo podia aumentar.
1 — Pois, toda quantidade finita é susceptível
de adição. Ora, a graça de Cristo era finita, como se disse. Logo, podia
aumentar.
2. Demais. — O aumento da graça faz-se
por virtude divina, segundo o Apóstolo: Poderoso é Deus para fazer abundar em
vós toda a graça. Ora, a virtude divina, sendo infinita, não se encerra em
nenhuns limites. Logo, parece que a graça de Cristo podia ser maior.
3. Demais. — O Evangelho diz: Jesus
crescia em sabedoria e em idade e em graça diante de Deus e dos homens. Logo, a
graça de Cristo podia aumentar.
Mas, em contrário, o Evangelho: E nós
o vimos, como de Filho unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade. Ora, não
podemos conceber nada maior do que alguém ser o Unigénito do Pai. Logo, não
pode existir nem ser concebida nenhuma graça maior do que aquela da qual Cristo
teve a plenitude.
De dois modos pode dar-se
que uma forma não possa aumentar, quanto ao sujeito e quanto à forma em si
mesma. Quanto ao sujeito, no caso em que este atinge o último grau no
participar, ao seu modo, dessa forma. Assim, se dissermos que o ar não pode
aumentar em quentura, quando chega ao último grau de calor de que ele, por
natureza, é susceptível, embora possa haver maior calor na natureza das coisas,
que é o do fogo. Quanto à forma, exclui-se a possibilidade do aumento, quando
um sujeito atinge a última perfeição de que tal forma é susceptível. Assim, se
dissermos que o calor do fogo não pode aumentar, por não poder haver um grau
mais perfeito de calor que o atingido pelo fogo. — Ora, assim como foi determinada
pela sabedoria divina a medida própria das outras formas, assim também a da
graça, segundo a Escritura: Todas as coisas dispuseste com medida e conta e
peso, Ora, a medida de cada forma é predeterminada por comparação com o seu fim,
assim como não há maior gravidade que a da terra, por não poder existir um
lugar inferior ao da terra. Mas, o fim da graça é a união da criatura racional
com Deus. Não pode, porém, existir nem ser concebida uma união maior da
criatura racional com Deus, do que a existente na pessoa. Donde, a graça de
Cristo atingiu a suma medida da graça. E, portanto, é manifesto que a graça de
Cristo não pode crescer, no atinente à graça em si mesma. — Mas nem tão pouco
relativamente ao sujeito, porque Cristo, enquanto homem, desde o primeiro
instante da sua concepção, tinha verdadeira e plenamente a visão clara.
Portanto, não podia nele haver aumento da graça, assim como nem nos demais
santos, cuja graça não pode aumentar, porque já chegaram ao termo. Nos homens,
porém, que ainda vivem neste mundo, a graça pode aumentar, quanto à forma,
pois, não atingem o sumo grau da graça, e quanto ao sujeito porque ainda não
chegaram ao termo.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Se nos referimos às quantidades matemáticas, a qualquer quantidade finita
pode fazer-se adição, pois, da parte da quantidade finita nada há de repugnante
à adição. Mas se nos referimos à quantidade natural, então pode haver
repugnância por parte da forma, que deve ter uma quantidade determinada, assim
como os outros acidentes determinados. Donde o dizer o Filósofo: Têm o seu
termo e sua razão a grandeza e o acréscimo de tudo o que existe em uma natureza
qualquer. E por isso não se pode fazer adição à quantidade total do céu. E com
muito maior razão consideramos, nas formas em si mesmas, um termo, que elas não
ultrapassam. Donde, não é necessário que a graça de Cristo seja susceptível de
adição, embora seja finita por essência.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A virtude
divina, embora possa fazer algo de maior e de melhor que a graça habitual de
Cristo, não pode contudo fazê-la ordenar-se a algo de maior do que a união
pessoal com o Filho Unigénito do Pai, a cuja união suficientemente corresponde
tal medida da graça, segundo a determinação da divina sabedoria.
RESPOSTA À TERCEIRA. — De dois modos
pode alguém progredir na sabedoria e na graça. — Primeiro, quanto aos hábitos próprios
da sabedoria e da graça, aumentados. E, nesse sentido, Cristo não progrediu
nelas. — De outro modo, quanto aos efeitos, isto é, no sentido em que alguém
pratica obras mais sábias e mais virtuosas. E então, Cristo progredia em
sabedoria e em graça, como em idade, porque, a medida que crescia em idade,
fazia obras mais perfeitas, para mostrar que era verdadeiramente homem, tanto
no que respeita a Deus como no que respeita aos homens.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.