Art.
7 — Se em Cristo havia as graças gratuitas.
O sétimo discute-se assim. — Parece
que em Cristo não havia as graças gratuitas.
1. — Pois, quem possui a plenitude de
um bem não irá possuí-lo por participação. Ora, Cristo tinha a plenitude da
graça, conforme o Evangelho: Cheio de graça e de verdade. Ora, as graças
gratuitas parecem umas participações divinas atribuídas dividida e particularmente
a diversos, segundo o Apóstolo: Há repartição de graças. Logo, parece que em
Cristo não havia as graças gratuitas.
2. Demais. — O devido a alguém não lhe
é dado de graça. Ora, era devida ao homem Cristo a abundância em palavras de
sabedoria e de ciência, o ser eminente na prática das virtudes, e outras
semelhantes graças gratuitas, pois, ele é, no dizer do Apóstolo, a virtude de
Deus e a sabedoria de Deus. Logo, não convinha a Cristo ter as graças gratuitas.
3. Demais — As graças gratuitas ordenam-se
à utilidade dos fiéis, segundo o Apóstolo: A cada um é dada a manifestação do
Espírito para proveito. Ora, não constitui utilidade para ninguém um hábito ou
uma disposição qualquer se deles não usa, segundo a Escritura: Suponha-se que a
sabedoria se conserva escondida e que o tesouro não está visível, que utilidade
haverá em ambas estas coisas? Ora, não lemos no Evangelho que Cristo usasse de
todas as graças gratuitas, sobretudo quanto aos géneros das línguas. Logo, em
Cristo não existiam todas as graças gratuitas.
Mas, em contrário, diz Agostinho, que
assim como na cabeça estão todos os sentidos, assim em Cristo existiam todas as
graças.
Como se estabeleceu na
Segunda Parte, as graças gratuitas ordenam-se à manifestação da fé e da
doutrina espiritual. Pois, é necessário a quem ensina ter os meios de
manifestar a sua doutrina, que, de contrário, seria inútil. Ora, o primeiro e
principal Doutor da doutrina espiritual e da fé é Cristo, segundo o Apóstolo: A
qual tendo sido começado a ser anunciada pelo Senhor, foi depois confirmada
entre nós pelos que a ouviram, confirmando-a ao mesmo tempo Deus com sinais e
maravilhas, etc. Donde, é manifesto que Cristo teve excelentissimamente todas
as graças gratuitas, como primeiro e principal Doutor da fé.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Como a graça santificante se ordena aos actos meritórios, tanto interiores
como exteriores, assim, as graças gratuitas se ordenam a alguns actos
exteriores manifestantes da fé, como a operação de milagres e outros semelhantes.
Ora, de ambas essas graças Cristo teve a plenitude, pois, por estar a sua alma
unida à divindade, tinha plena eficácia para praticar com perfeição todos os
referidos actos. Ao passo que os outros santos movidos por Deus como
instrumentos não unidos, mas separados, recebem uma eficácia particular para
realizar tais actos ou tais outros. Por isso, os outros santos têm essas graças
divididas, mas não Cristo.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Cristo é chamado
a virtude de Deus e a sabedoria de Deus, enquanto Filho eterno de Deus. E como
tal não lhe cabe ter a graça, mas antes, ser o distribuidor dela. Cabe-lhe,
porém, ter a graça, pela sua natureza humana.
RESPOSTA À TERCEIRA. — O dom das
línguas foi dado aos Apóstolos, porque foram enviados a ensinar todos os povos.
Ao passo que Cristo quis pregar pessoalmente só à gente dos Judeus, como ele
próprio o disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas que pertencem à casa de
Israel. E o Apóstolo: Digo de Jesus Cristo foi ministro da circuncisão. Por
isso não tinha necessidade de falar muitas línguas. Mas nem por isso lhe faltou
o conhecimento delas, a ele a quem não se lhe esconde nem o oculto nas
profundezas dos corações, como depois diremos, do que as palavras, quaisquer
que sejam, são os sinais. Nem contudo lhe foi inútil esse conhecimento que
tinha: assim como não tem inutilmente um hábito quem dele não usa quando não é
oportuno.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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