Evangelho: Mt 9 35 10 1 6-8
35 Jesus ia percorrendo todas as cidades e
aldeias, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino, e curando toda
a doença e toda a enfermidade.
1 Tendo convocado os Seus doze
discípulos, Jesus deu-lhes poder de expulsar os espíritos imundos e de curar
toda a doença e toda a enfermidade.
6 ide antes às ovelhas perdidas da casa
de Israel. 7 Ide, e anunciai que está próximo o Reino dos Céus. 8
«Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, lançai fora os
demónios. Dai de graça o que de graça recebestes.
Comentário:
Muitas vezes quando somos “bem-sucedidos” num trabalho apostólico, com a
natural alegria vem também um pouco de orgulho pessoal. Penso que é natural que
seja assim, somos humanos com os nossos defeitos e misérias e espanta-nos que,
não obstante, sejamos capazes de boas obras.
Lembremo-nos então destas palavras do Senhor e dos poderes que deu aos
Seus enviados. Se Ele nos convida – mais - se nos manda – trabalhar no que é
Seu como podemos admirar-nos que nos dê os meios que nos possam faltar para que
o trabalho resulte bem?
Sim… Ele conhece-nos muito bem e dar-nos-á, sempre, o que nos faltar.
(ama, comentário sobre Mt 9, 35; 10, 1, 6-8,
2013.12.07)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Cristo Que passa 181 a 187
181
O reino da alma
Como,
és grande, Senhor, Nosso Deus! Tu és quem dá à nossa vida sentido sobrenatural
e eficácia divina. Tu és a causa de que, por amor de teu filho, com todas as
forças do nosso ser, com a alma e com o corpo, possamos repetir: oportet illum
regnare!, enquanto ressoa o eco da nossa debilidade, porque sabes que somos
criaturas - e que criaturas! - feitas de barro, dos pés à cabeça, sem esquecer
o coração. Perante o divino, vibraremos exclusivamente por Ti.
Cristo
deve reinar, em primeiro lugar, na nossa alma. Mas como Lhe responderíamos, se
Ele nos perguntasse: como é que tu Me deixas reinar em ti? Eu responder-lhe-ia
que para que Ele reine em mim, preciso da sua graça abundante, pois só assim é
que o mais imperceptível pulsar do meu coração, a menor respiração, o olhar
menos intenso, a palavra mais corrente, a sensação mais elementar se traduzirão
num hossana ao meu Cristo Rei.
Se
pretendemos que Cristo reine, temos de ser coerentes, começando por Lhe
entregar o nosso coração. Se não o fizéssemos, falar do reino de Cristo seria
vozearia sem substância cristã, manifestação exterior de uma fé inexistente,
utilização fraudulenta do nome de Deus para compromissos humanos.
Se
a condição para que Jesus reinasse na minha alma, na tua alma, fosse contar
previamente em nós com um lugar perfeito, teríamos razão para desesperar. Mas
não temas, filha de Sião; eis que o teu Rei vem montado num jumentinho. Vedes?
Jesus contenta-se com um pobre animal por trono. Não sei o que se passa
convosco, mas a mim não me humilha reconhecer-me aos olhos do Senhor como um
jumento: fui diante de ti como um jumento. Porém, estarei sempre contigo:
tomaste-me pela minha mão direita, tu és quem me leva pela arreata.
Pensai
nas características dum jumento, agora que vão ficando tão poucos. Não falo dum
burro velho e teimoso, rancoroso, que se vinga com um coice traiçoeiro, mas dum
burriquito jovem, com as orelhas tesas como antenas, austero na comida, duro no
trabalho, com o trote decidido e alegre. Há centenas de animais mais formosos,
mais hábeis e mais cruéis. Mas Cristo preferiu este para se apresentar como rei
diante do povo que O aclamava, porque Jesus não sabe que fazer da astúcia
calculadora, da crueldade dos corações frios, da formosura vistosa mas vã.
Nosso Senhor ama a alegria dum coração moço, o passo simples, a voz sem
falsete, os olhos limpos, o ouvido atento à sua palavra de carinho. E é assim
que reina na alma.
182
Reinar servindo
Se
deixarmos que Cristo reine na nossa alma, não nos tornaremos dominadores;
seremos servidores de todos os homens. Serviço. Como gosto desta palavra!
Servir o meu Rei e, por Ele, todos os que foram redimidos com o seu sangue. Se
os cristãos soubessem servir! Vamos confiar ao Senhor a nossa decisão de
aprender a realizar esta tarefa de serviço, porque só servindo é que poderemos
conhecer e amar Cristo e dá-Lo a conhecer e conseguir que os outros O amem
mais.
Como
o mostraremos às almas? Com o exemplo: que sejamos testemunho seu, com a nossa
voluntária servidão a Jesus Cristo em todas as nossas actividades, porque é o
Senhor de todas as realidades da nossa vida, porque é a única e a última razão
da nossa existência. Depois, quando já tivermos prestado esse testemunho do
exemplo, seremos capazes de instruir com a palavra, com a doutrina. Assim
procedeu Cristo: coepit facere et docere, primeiro ensinou com obras, e só
depois com a sua pregação divina.
Servir
os outros, por Cristo, exige que sejamos muito humanos. Se a nossa vida é
desumana, Deus nada edificará nela, porque habitualmente não constrói sobre a
desordem, sobre o egoísmo, sobre a prepotência. Precisamos de compreender todas
as pessoas, temos de conviver com todos, temos de desculpar todos, temos de
perdoar a todos. Não diremos que o injusto é o justo, que a ofensa a Deus não é
ofensa a Deus, que o mau é bom. Todavia, perante o mal, não responderemos com
outro mal, mas com a doutrina clara e com a boa acção; afogando o mal em
abundância de bem. Assim Cristo reinará na nossa alma e nas almas dos que nos
rodeiam.
Alguns
procuram construir a paz no mundo sem porem amor de Deus nos seus corações, sem
servirem por amor de Deus as criaturas. Como será possível realizar desse modo
uma missão de paz? A paz de Cristo é a paz do reino de Cristo; e o reino de
Nosso Senhor há-de alicerçar-se no desejo de santidade, na disposição humilde
para receber a graça, numa, esforçada acção de justiça, num divino derramamento
de amor.
183
Cristo no cume das
actividades humanas
Isto
é realizável, não é um sonho inútil. Se nós, homens, nos decidíssemos a
albergar nos nossos corações o amor de Deus! Cristo, Senhor Nosso, foi
crucificado e, do alto da Cruz, redimiu o mundo, restabelecendo a paz entre
Deus e os homens. Jesus Cristo lembra a todos: et ego, si exaltatus fuero a
terra, omnia traham ad meipsum, se vós Me puserdes no cume de todas as
actividades da Terra, cumprindo o dever de cada momento, sendo meu testemunho
naquilo que parece grande e naquilo que parece pequeno, omnia traham ad
meipsum, tudo atrairei a Mim. 0 meu reino entre vós será uma realidade!
Cristo,
Nosso Senhor, continua empenhado nesta sementeira de salvação dos homens e de
toda a Criação, deste nosso mundo, que é bom, porque saiu bom das mãos de Deus.
Foi a ofensa de Adão, o pecado do orgulho humano, que quebrou a harmonia divina
da criação.
Mas
Deus Pai, quando, chegou a plenitude dos tempos, enviou o seu Filho Unigénito,
que por obra do Espírito Santo encarnou em Maria sempre Virgem, para
restabelecer a paz; para que, redimindo o homem do pecado, adoptionem filiorum
reciperemus fôssemos constituídos filhos de Deus, capazes de participar na
intimidade divina, e assim fosse concedido a este homem novo, a esta nova
estirpe dos filhos de Deus a libertação de todo o universo da desordem, restaurando
todas as coisas em Cristo, que as reconciliou com Deus.
A
isto fomos chamados, nós, os cristãos; esta é a nossa tarefa apostólica e a
ânsia que nos deve queimar a alma: conseguir que seja realidade o reino de
Cristo, que não haja mais ódios nem mais crueldades, que dinfundamos na Terra o
bálsamo forte e pacífico do amor. Peçamos hoje ao nosso Rei que nos faça
colaborar humilde e fervorosamente no divino propósito de unir o que está
quebrado, de salvar o que está perdido, de ordenar o que o homem desordenou, de
levar ao seu fim aquilo que se desencaminha, de reconstruir a concórdia de tudo
o que foi criado.
Abraçar
a fé cristã é comprometer-se a continuar entre as criaturas a missão de Jesus.
Temos de ser, cada um de nós, altar Christus, ipse Christus, outro Cristo, o
próprio Cristo. Só assim poderemos realizar esse empreendimento grande, imenso,
interminável: santificar a partir de dentro todas as estruturas temporais,
levando até elas o fermento da Redenção.
Nunca
falo de política. Não penso na tarefa dos cristãos na terra como o nascer duma
corrente político-religiosa - seria uma loucura - nem mesmo com o bom propósito
de difundir o espírito de Cristo em todas as actividades dos homens. O que é
preciso pôr em Deus é o coração de cada um, seja ele quem for. Procuremos falar
a todos os cristãos, para que no lugar onde estiverem - em circunstâncias que
não dependem apenas da sua posição na Igreja ou na vida civil, mas do resultado
das mutáveis situações históricas - saibam dar testemunho, com o exemplo e com
a palavra, da fé que professam.
O
cristão vive no mundo com pleno direito, por ser homem. Se aceita que no seu
coração habite Cristo, que reine Cristo, em todo o seu trabalho humano
encontrará - bem forte - a eficácia Senhor. Não tem qualquer importância que
essa ocupação seja, como costuma dizer-se, alta ou baixa, porque um máximo
humano pode ser, aos olhos de Deus, uma baixeza, e o que chamamos baixo ou
modesto pode ser um máximo cristão de santidade e de serviço.
184
A liberdade pessoal
O
cristão, quando trabalha, como é sua obrigação, não deve marginar nem iludir as
exigências próprias do que é natural. Se com a expressão abençoar as
actividades humanas se entendesse anular ou escamotear a sua dinâmica própria,
negar-me-ia a usar essas palavras. Pessoalmente, nunca me consegui convencer
que as actividades correntes dos homens precisassem de ostentar, como um
letreiro postiço, um qualificativo confessional, porque me parece, embora
respeite a opinião contrária, que se corre o perigo de usar em vão o santo nome
da nossa fé e, além disso, porque em certas ocasiões, a etiqueta católica se
utilizou até para justificar atitudes e actuações que não são às vezes sequer
honradamente humanas.
Se
o mundo e tudo o que nele há - menos o pecado - é bom, porque é obra de Deus
Nosso Senhor, o cristão, lutando continuamente por evitar as ofensas a Deus -
uma luta positiva de amor - há-de dedicar-se a tudo aquilo que é terreno, ombro
a ombro com os outros cidadãos, e tem obrigação de defender todos os bens
derivados da dignidade da pessoa.
Existe
um bem que deverá sempre procurar dum modo especial - o da liberdade pessoal.
Só se defende a liberdade individual dos outros com a correspondente
responsabilidade pessoal, poderá, com honradez humana e cristã, defender da
mesma maneira a sua. Repito e repetirei sem cessar que o Senhor nos deu
gratuitamente uma grande dádiva sobrenatural, a graça divina, e outra
maravilhosa dádiva humana, a liberdade pessoal, que exige de nós - para que não
se corrompa, convertendo-se em libertinagem - integridade, empenho sério por
desenvolver a nossa conduta dentro da lei divina, porque onde está o Espírito
de Deus, aí há liberdade.
O
Reino de Cristo é de liberdade: nele não existem outros servos além daqueles
que livremente se deixaram prender por Amor a Deus. Bendita escravidão de amor,
que nos faz livres! Sem liberdade, não podemos corresponder à graça; sem
liberdade, não podemos entregar-nos livremente ao Senhor pela razão mais
sobrenatural: porque nos apetece.
Alguns
daqueles que me escutam já me conhecem há muitos anos. Podeis testemunhar que
durante toda a minha vida preguei a liberdade pessoal, com pessoal
responsabilidade. Procurei-a e procuro-a, por toda a terra, como Diógenes
procurava um homem. E amo-a cada vez mais, amo-a sobre todas as coisas
terrenas: é um tesoiro que nunca saberemos apreciar suficientemente.
Quando
falo de liberdade pessoal, não me refiro com esta desculpa a outros problemas
talvez muito legítimos, que não correspondem ao meu ofício de sacerdote. Sei
que não me corresponde tratar de temas seculares e transitórios, que pertencem
à esfera do temporal e civil, matérias que o Senhor deixou à livre e serena
controvérsia dos homens. Sei também que os lábios do sacerdote, evitando a todo
o transe parcialidades humanas, hão-de abrir-se apenas para conduzir as almas a
Deus, à sua doutrina espiritual salvadora, aos sacramentos que Jesus Cristo
instituiu, à vida interior que nos aproxima do Senhor por nos sabermos seus
filhos e, portanto, irmãos de todos os homens sem excepção.
Celebramos
hoje a festa de Cristo Rei. E não saio do meu ofício de sacerdote quando digo
que, se alguma pessoa entendesse o reino de Cristo como um programa político,
não teria aprofundado como devia na finalidade da Fé e estaria a um passo de
sobrecarregar as consciências com pesos que não são os de Jesus porque o seu
jugo é suave e o seu peso é leve. Amemos de verdade todos os homens, amemos a
Cristo acima de tudo e então não teremos outro remédio senão amar a legítima
liberdade dos outros, numa pacífica e justa convivência.
185
Serenos, filhos de Deus
Talvez
me façais a seguinte sugestão: mas poucos querem ouvir isto e, menos ainda,
pô-lo em prática. Consta-me que a liberdade é uma planta forte e sã, que se
aclimata mal entre as pedras, espinhos ou nos caminhos calcados pelas pessoas.
Isto já nos tinha sido anunciado, mesmo antes de Cristo vir à terra.
Recordai
o Salmo número dois: porque razão se amotinam as nações e os povos maquinam
planos vãos? Os reis da terra sublevam-se e os príncipes coligam-se contra o
Senhor e contra o seu Messias. Vedes? Nada de novo. Opunham-se a Cristo antes
de que este nascesse; opuseram-se-lhe enquanto os seus pés pacíficos percorriam
os caminhos da Palestina; perseguiram-nO depois e agora, atacando os membros do
seu Corpo Místico e real. Porquê tanto ódio, porquê este encarniçar-se contra a
cândida simplicidade, porquê este universal esmagamento da liberdade de cada
consciência?
Quebremos
as suas cadeias, e sacudamos de nós o seu jugo. Quebram o jugo suave, lançam
fora a sua carga, maravilhosa carga de santidade e de justiça, de graça, de
amor e de paz. Enfurecem-se perante o amor, riem-se da bondade inerme dum Deus
que renuncia ao uso das suas legiões de anjos para se defender. Se o Senhor
admitisse um arranjo, se sacrificasse uns poucos de inocentes para satisfazer a
maioria de culpados, ainda poderiam tentar algum entendimento com Ele. Mas não
é esta a lógica de Deus. O nosso Pai é verdadeiramente pai, e está disposto a
perdoar a inumeráveis fautores do mal, contanto que haja só dez justos. Os que
se movem pelo ódio, não podem entender esta misericórdia, e afincam-se na sua
aparente impunidade terrena, alimentando-se da injustiça.
Aquele
que habita nos céus ri-se, o Senhor zomba eles. Ele lhes fala então na sua ira,
e os aterroriza no seu furor. Que legítima é a ira de Deus e que justo o seu
furor! E que grande também a sua clemência!
Eu,
porém, fui por Ele constituído Rei sobre Sião, seu monte santo, para anunciar
os seus preceitos. O Senhor disse-me: Tu és meu filho, eu gerei-te hoje. A
misericórdia de Deus Pai deu-nos como Rei o seu Filho. Quando ameaça,
enternece-Se; anuncia a sua ira e entrega-nos o seu amor. Tu és meu filho:
dirige-se a Cristo e dirige-se a ti e a mim, se nos decidimos a ser alter
Christus, ipse Christus.
As
palavras não podem seguir o coração, que se emociona diante da bondade de Deus:
tu és meu filho. Não um estranho, não um servo benevolamente tratado, não um
amigo, que já seria muito. Filho! Concede-nos via livre para que vivamos com
Ele a piedade do filho e, atrever-me-ia a afirmar, também a desvergonha do
filho dum Pai que é incapaz de lhe negar o que quer que seja.
186
Que
há muita gente empenhada em comportar-se com injustiça? Sim, mas o Senhor
insiste: pede-me, e eu te darei as nações em herança, e os teus domínios irão
até aos confins da Terra. Tu os governarás com vara de ferro, e quebrá-los-ás
qual vaso de oleiro. São promessas fortes e são de Deus. Por isso, não podemos
dissimulá-las. Não é em vão que Cristo é o Redentor do mundo, e reina,
soberano, à direita do Pai. É o terrível anúncio daquilo que espera a cada um
de nós, quando a vida passar - porque passa - e a todos, quando a história
acabar, se o coração se endurece no mal e na desesperança.
Contudo,
Deus, que sempre pode vencer, prefere convencer: E agora, ó reis, atendei:
instruí-vos, vós que governais a Terra.. Servi ao Senhor com temor, e louvai-o
com alegria; com tremor, prestai-lhe vassalagem, para que não Se ire, e não
pereçais fora do caminho, quando daqui a pouco se incendiar a sua indignação.
Cristo é o Senhor, o Rei. E nós vos anunciamos que aquela promessa, que foi
feita a nossos pais, Deus a cumpriu para nossos filhos, ressuscitando Jesus,
como também está escrito no salmo segundo: Tu és meu Filho, eu te gerei hoje...
Seja-vos,
pois, notório, homens, irmãos, que por Ele vos é anunciada a remissão dos
pecados e de tudo aquilo de que não pudestes ser justificados pela lei de
Moisés. Por Ele é justificado todo aquele que crê. Tomai pois cuidado que não
venha sobre vós o que foi fito pelos profetas: Vede, ó despertadores, e
admirai-vos e desaparecei, que eu faço uma obra em vossos dias, uma obra que
vós não crereis, se alguém vo-la contar.
É
a obra da salvação, o reinado de Cristo nas almas, a manifestação da
misericórdia de Deus. Bem-aventurados todos os que confiam n'Ele! Nós,
cristãos, temos direito a enaltecer a realeza de Cristo, porque, ainda que a
injustiça abunde, ainda que muitos não desejem este reinado de amor, na própria
história humana que é o cenário do mal, vai-se tecendo a obra da salvação eterna.
187
Anjos de Deus
Ego
cogito cogitationes pacis, et non afilictionis , eu tenho pensamentos de paz e
não de tristeza, diz o Senhor. Sejamos homens de paz, homens de justiça,
fazedores do bem, e o Senhor não será para nós juiz, mas amigo, irmão.
Que
neste caminhar - alegre! - pela Terra, nos acompanhem os anjos de Deus. Antes
do nascimento do nosso Redentor - escreve São Gregório Magno - tínhamos perdido
a amizade dos Anjos. O pecado original e os nossos pecados quotidianos
tinham-se afastado da sua luminosa pureza... Mas desde o momento que nós
reconhecemos o nosso Rei, os anjos reconheceram-nos como concidadãos.
E
como o Rei dos Céus quis tornar a nossa carne terrena, os Anjos já não se
afastam da nossa miséria. Não se atrevem a considerar inferior à sua esta
natureza que adoram, vendo-a exaltada, acima deles, na pessoa do Rei do Céu; e
não sentem já inconveniente em considerar o homem como companheiro.
Maria,
a Mãe santa do nosso Rei, a Rainha do nosso coração, cuida de nós como só Ela
sabe fazê-lo. Mãe compassiva, trono da graça, pedimos-te que saibamos compor na
nossa vida e na vida dos que nos rodeiam, verso a verso, o poema simples da
caridade, quasi fluvium pacis, como um rio de paz. Porque tu és mar de
inesgotável misericórdia: os rios vão dar todos ao mar e o mar não se enche.
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