Santo
Estevão – Primeiro Mártir
Evangelho: Mt 10 17-22
17 Acautelai-vos dos homens, porque vos farão comparecer nos seus
tribunais e vos açoitarão nas sinagogas. 18 Sereis levados por Minha
causa à presença dos governadores e dos reis, para dar testemunho diante deles
e diante dos gentios. 19 Quando vos entregarem, não cuideis como ou
o que haveis de falar, porque naquela hora vos será inspirado o que haveis de
dizer. 20 Porque não sereis vós que falais, mas o Espírito de vosso
Pai é o que falará em vós. 21 O irmão entregará à morte o seu irmão
e o pai o seu filho; os filhos se levantarão contra os pais e lhes darão a
morte. 22 Vós, por causa do Meu nome, sereis odiados por todos;
aquele, porém, que perseverar até ao fim será salvo.
Comentário:
A garantia
dada por Jesus Cristo é consoladora: «Porque
não sereis vós que falais, mas o Espírito de vosso Pai é o que falará em vós.»
A não ser
assim, quem poderia resistir às violências sem nome, perseguições encarniçadas,
assassínios impiedosos?
Quem,
além do mais, se atreveria, ainda nos tempos de hoje em que recrudesce o ódio
aos cristãos, a afirmar-se como seguidor fiel e dedicado do Salvador?
E, no
entanto, todos os dias, por cada cristão perseguido e aniquilado surge uma,
duas e mais dezenas de homens, mulheres e jovens que abraçam decididamente a Fé
Cristã.
Porque, e
esta é a verdade, a Igreja fundada por Jesus Cristo, não perecerá nem soçobrará
não importando as ondas alterosas que tentam submergi-la.
(ama, comentário sobre Mt 10, 17-22, 2013.12.26)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Amigos de Deus 177 a 182
177
Esta
é a vontade de Deus, a vossa santificação... que cada um saiba usar o seu corpo
santa e honestamente, não se abandonando às paixões, como fazem os pagãos que
não conhecem a Deus. Pertencemos totalmente a Deus, com a alma e com o corpo,
com a carne e com os ossos, com os sentidos e com as potências. Pedi-lhe com
confiança: Jesus, guarda o nosso coração! Faz com que o meu coração seja
grande, forte e terno, afectuoso e delicado, transbordante de caridade para Ti,
para servir todas as almas.
O
nosso corpo é santo, templo de Deus, precisa S. Paulo. Esta exclamação do
Apóstolo recorda-me o chamamento à santidade, que o Mestre dirige a todos os
homens: Estote perfecti sicut et Pater vester caelestis perfectus est. O Senhor
pede a todos, sem discriminação alguma, correspondência à graça. O Senhor exige
a cada um, de acordo com a sua situação pessoal, a prática das virtudes
próprias dos filhos de Deus.
Por
isso, ao recordar-vos que o cristão tem de guardar uma castidade perfeita,
estou a referir-me a todos: aos solteiros, que devem cingir-se a uma completa
continência, e aos casados, que vivem castamente, cumprindo as obrigações
próprias do seu estado.
Com
o espírito de Deus, a castidade, longe de ser um peso incómodo e humilhante,
torna-se uma afirmação gozosa, porque o querer, o domínio e a vitória não são
dados pela carne nem vêm do instinto, mas procedem da vontade, sobretudo se
está unida à do Senhor. Para ser castos e não simplesmente continentes ou
honestos, temos de submeter as paixões à razão, por uma causa elevada, por um
impulso de Amor.
Comparo
esta virtude a umas asas que nos permitem levar os mandamentos, a doutrina de
Deus por todos os ambientes da terra, sem receio de ficar enlameados. Essas
asas, tal como as da aves majestosas que sobem mais alto que as nuvens, pesam e
pesam muito, mas, se faltassem, não seria possível voar. Gravai isto na vossa
mente, decididos a não ceder quando sentirdes a garra da tentação, que se
insinua apresentando a pureza como uma carga insuportável. Ânimo! Subi até ao
sol, em busca do Amor!
178
Com Deus nos nossos corpos
Causou-me
sempre muita pena o costume de algumas pessoas - tantas! - que escolhem como
nota constante dos seus ensinamentos a impureza. Com isso, conseguem -
comprovei-o em bastantes almas - exactamente o contrário do que pretendem,
porque a impureza é matéria mais pegajosa que o pez e deforma as consciências
com complexos ou medos, como se a pureza da alma fosse um obstáculo quase
insuperável. Nós não faremos assim! Temos de tratar da santa pureza com
pensamentos positivos e limpos, com palavras modestas e claras.
Discorrer
sobre este tema, significa dialogar sobre o Amor. Tenho de vos dizer que para
esse efeito me ajuda considerar a Humanidade Santíssima de Nosso Senhor, a
maravilha inefável de Deus que se humilha, até fazer-se homem. E que não se
sente aviltado por ter tomado carne igual à nossa, com todas as suas limitações
e fraquezas, menos o pecado, porque nos ama com loucura! Ele não se rebaixa com
o seu aniquilamento e, em troca, levanta-nos, deificando-nos o corpo e a alma.
Responder afirmativamente ao seu Amor com um carinho claro, ardente e ordenado,
isso é a virtude da castidade.
Temos
de gritar a todo o mundo com a palavra e com o testemunho da nossa conduta: não
empeçonhemos o coração, como se fôssemos pobres animais dominados pelos
instintos mais baixos. Um escritor cristão exprime-o assim: Reparai que o
0coração do homem não é pequeno, pois abraça muitas coisas. Medi essa grandeza,
não pelas suas dimensões físicas, mas pelo poder do seu pensamento, capaz de
alcançar o conhecimento de tantas verdades. É possível preparar o caminho do
Senhor no coração, traçar uma vereda direita, para que passem por ali o Verbo e
a Sabedoria de Deus. Preparai com uma conduta honesta e com obras
irrepreensíveis o caminho do Senhor, aplanai a estrada para que o Verbo de Deus
caminhe por vós sem tropeçar e vos dê o conhecimento dos seus mistérios e da
sua vinda.
Revela-nos
a Escritura Santa que a grandiosa obra da santificação, tarefa oculta e
magnífica do Paráclito, se verifica na alma e no corpo. Não sabeis que os
vossos corpos são membros de Cristo? - clama o Apóstolo. Tomarei eu, pois, os
membros de Cristo e fá-los-ei membros de uma prostituta? (...) Não sabeis,
porventura, que os vossos corpos são templos do Espírito Santo, que habita em
vós, o qual vos foi dado por Deus e que não pertenceis a vós mesmos, porque
fostes comprados por um grande preço? Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.
179
Alguns,
quando ouvem falar de castidade, sorriem. É um sorriso - um esgar - sem
alegria, morto, de mentes retorcidas. A grande maioria, repetem, não acredita
nisso! Eu costumava dizer aos rapazes que me acompanhavam pelos hospitais e
bairros da periferia de Madrid, há muitos anos atrás: pensai que há um reino
mineral; outro, mais perfeito, o reino vegetal, no qual, à mera existência se
acrescenta a vida; e, depois outro, o reino animal, formado quase sempre por
seres com sensibilidade e movimento.
Explicava-lhes
também, de um modo pouco académico mas expressivo, que deveríamos instituir
outro reino: o hominal, o reino dos humanos. Na verdade, as criaturas racionais
possuem uma inteligência admirável, reflexo da Sabedoria divina, que lhes
permite raciocinar por sua conta e exercer essa liberdade maravilhosa, com que
podem aceitar ou recusar uma coisa ou outra por seu arbítrio.
Pois
neste reino dos homens - comentava-lhes eu, com a experiência do meu trabalho
sacerdotal tão intenso - para uma pessoa normal, o tema do sexo ocupa um quarto
ou quinto lugar. Primeiro, estão as aspirações da vida espiritual, aquela que
cada um tiver; a seguir, as questões que interessam ao homem e à mulher
corrente: o pai, a mãe, o seu lar; depois a profissão e, muito além, em quarto
ou quinto lugar aparece o impulso sexual.
Por
isso, sempre que conheci pessoas que convertiam este assunto no tema central da
sua conversa e dos seus interesses, pensei que eram anormais, uns pobres
desgraçados, talvez doentes. E acrescentava, provocando com isto um momento de
riso e de piada entre os rapazes, que esses infelizes me faziam tanto dó como
um rapaz com a cabeça grande, enorme, de um metro de perímetro! São gente infeliz
e, da nossa parte, além das orações, nasce uma fraterna compaixão, porque
desejamos que se curem de tão triste doença. O que não são é nem mais homens
nem mais mulheres que aqueles que como nós, não estão obcecados pelo sexo.
180
A castidade é possível
Todos
nós temos paixões e todos enfrentamos, em qualquer idade, as mesmas
dificuldades. Temos, por isso, de lutar. Lembrai-vos do que escrevia S. Paulo:
datus est mihi stimulus carnis meæ, angelus Satanæ, qui me colaphizet,
rebela-se o estímulo da carne, que é como um anjo de Satanás, que me esbofeteia
para que eu não seja soberbo.
Não
se pode viver uma vida limpa sem assistência divina. Deus quer que sejamos
humildes e peçamos o seu auxílio. Deves pedir com confiança a Nossa Senhora,
agora mesmo, na solidão acompanhada do teu coração, silenciosamente: Minha Mãe,
este meu pobre coração rebela-se tolamente... se tu não me proteges... E
amparar-te-á para que o guardes puro e percorras o caminho a que Deus te
chamou.
Filhos:
humildade, humildade! Aprendamos a ser humildes. Para guardar o Amor é preciso
prudência, é preciso vigiar com cuidado e não se deixar dominar pelo medo.
Entre os clássicos de espiritualidade, muitos comparam o demónio a um cão
raivoso, preso a uma corrente: se não nos aproximarmos, não morde, ainda que
ladre continuamente. Se fomentardes a humildade nas vossas almas, de certeza
que evitareis as tentações, reagireis com a valentia de fugir e socorrer-vos-eis
diariamente do auxílio do Céu para avançar com garbo por este caminho de
apaixonados.
181
Reparai
que aquele que está apodrecido pela concupiscência da carne não consegue andar
espiritualmente e é incapaz de qualquer obra boa. É um aleijado que permanece
estirado no chão como um trapo. Nunca vistes os doentes com paralisias
progressivas, que não conseguem ter força nem pôr-se de pé? Às vezes nem sequer
mexem a cabeça! Pois isso acontece, na vida sobrenatural, aos que não são humildes
e aos que se entregaram cobardemente à luxúria. Não vêem, não ouvem, nem
percebem nada. Estão paralíticos e parecem loucos. Cada um de nós deve invocar
o Senhor e a Mãe de Deus e pedir-lhes a humildade e a decisão de aproveitar
piedosamente o divino remédio da confissão. Não permitais que se instale na
vossa alma um foco de podridão, ainda que seja muito pequeno. Falai! Quando a
água corre, é límpida; quando estagna, forma um charco, enche-se de porcaria
repugnante e em vez de água potável passa a ser um caldo de bichos.
Que
a castidade é possível e constitui uma fonte de alegria, sabei-lo tão bem como
eu, muito embora tenhais consciência de que exige, de quando em quando, alguma
luta. Ouçamos de novo S. Paulo: Comprazo-me na lei de Deus, segundo o homem
interior, mas, ao mesmo tempo, encontro nos meus membros outra lei, a qual
resiste à lei do meu espírito e me subjuga à lei do pecado, que está nos
membros do meu corpo. Oh, que homem tão infeliz eu sou! Quem me livrará deste
corpo de morte?. Grita mais ainda, se precisas, mas não exageremos: sufficit
tibi gratia mea, basta-te a minha graça, responde-nos o Senhor.
182
Tive
oportunidade de observar, em algumas ocasiões, como reluziam os olhos de um
desportista, perante os obstáculos que tinha de saltar. Que vitória! Observai
como domina as dificuldades! Assim nos contempla Deus, que ama a nossa luta:
seremos sempre vencedores, porque nunca nos nega a omnipotência da sua graça. E
não importa então que haja luta, porque Ele não nos abandona.
A
castidade é combate e não renúncia, já que respondemos com uma afirmação
gozosa, com uma entrega livre e alegre. Não deves limitar-te a fugir da queda
ou da ocasião, nem o teu comportamento deve reduzir-se, de maneira alguma, a
uma negação fria e matemática. Já te convenceste de que a castidade é uma
virtude e, como tal, deve desenvolver-se e aperfeiçoar-se? Não basta ser
continente, cada um segundo o seu estado. Insisto: temos de viver castamente,
com virtude heróica. Este comportamento é um acto positivo, com o qual
aceitamos de boa vontade o pedido de Deus: Præbe, fili mi, cor tuum mihi et
oculi tui vias meas custodiant, entrega-me, meu filho, o teu coração e espraia
os teus olhos pelos meus campos de paz.
Pergunto-te
eu, agora: como encaras tu esta batalha? Bem sabes que a luta já está vencida,
se a mantivermos desde o princípio. Afasta-te imediatamente do perigo, mal
percebas as primeiras chispas de paixão, e até antes. Fala, além disso, com
quem dirige a tua alma; se possível antes, porque abrindo o coração de par em
par não serás derrotado. Um acto repetido várias vezes cria um hábito, uma inclinação,
uma facilidade. É preciso, pois, batalhar para alcançar o hábito da virtude, o
hábito da mortificação, para não recusar o Amor dos Amores.
Meditai
no conselho de S. Paulo a Timóteo: Te ipsum castum custodi, conserva-te a ti
mesmo puro, para estarmos, também, sempre vigilantes, decididos a defender o
tesouro que Deus nos entregou. Ao longo da minha vida, quantas e quantas
pessoas não ouvi queixarem-se: Ah! Se eu tivesse cortado ao princípio! E
diziam-no cheias de aflição e de vergonha.
(cont)
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