Art.
3 — Se a alma de Cristo foi assumida pelo Verbo, antes da carne.
O terceiro discute-se assim. — Parece
que a alma de Cristo foi assumida pelo Verbo, antes da carne.
1 — Pois, o Filho de Deus assumiu a
carne mediante a alma, como se disse. Ora, chegamos ao meio antes de chegarmos
ao fim. Logo, o Filho de Deus assumiu a alma primeiro que o corpo.
2. Demais. — A alma de Cristo é mais
digna que a dos anjos, conforme a Escritura: Adorei ao Senhor, todos os seus
anjos. Ora, os anjos foram criados desde o princípio, como se estabeleceu na
Primeira Parte. Logo, também a alma de Cristo, que não foi primeiro criada que
assumida, pois, como diz Damasceno, nunca a alma nem o corpo de Cristo tiveram
nenhuma hipóstase própria além da hipóstase do Verbo. Logo, parece que a alma
foi primeiro assumida que a carne, a qual foi concebida no ventre da Virgem.
Demais. — O Evangelho diz: E nós o
vimos cheio de graça e de verdade. E depois acrescenta: Todos nós participamos
da sua plenitude, isto é, todos os fiéis em qualquer tempo, como Crisóstomo
expõe. Ora, isso não seria, se Cristo não tivesse tido a plenitude da graça e
da verdade, antes de todos os santos que existiram desde o princípio do mundo,
porque a causa não pode ser posterior ao causado. Tendo, pois, a plenitude da
graça e da verdade existido na alma de Cristo, pela união com o Verbo, segundo a
Escritura — Nós vimos a sua glória como de Filho unigénito do Pai, cheio de
graça e de verdade — resulta que desde o princípio do mundo a alma de Cristo
foi assumida pelo Verbo de Deus.
Mas, em contrário, Damasceno diz:
Antes da encarnação no ventre da Virgem, o intelecto não se uniu ao Deus Verbo,
para então ser chamado Cristo, como pensam muitos, erradamente.
Orígenes ensinava que todas
as almas foram criadas desde o princípio, e entre elas também punha a alma de
Cristo, como criada. — Mas isto é inadmissível, entendendo-se que foi então
criada mas não unida imediatamente ao Verbo, pois daí resultaria que essa alma
teve, durante um certo tempo, uma subsistência própria, sem o Verbo. E assim,
quando foi assumida pelo Verbo, ou a união não teria sido feita segundo a
subsistência, ou teria desaparecido a subsistência preexistente da alma. —
Também semelhantemente é inadmissível dizer que essa alma foi, a princípio,
unida ao Verbo e, depois, se encarnou no ventre da Virgem. Porque então a sua
alma não teria sido da mesma natureza que a nossa, que é simultaneamente criada
e infundida no corpo. Donde o dizer o Papa Leão: A carne de Cristo não era de
outra natureza que a nossa, nem lhe foi inspirada, a princípio, uma alma
diferente da dos outros homens.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Como se disse, a alma de Cristo é considerada um meio, na união da carne com
o Verbo, na ordem da natureza. Mas isso não implica em que tivesse sido meio na
ordem do tempo.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Como diz o Papa
Leão, a alma de Cristo é excelente não pela diversidade genérica, mas pela
sublimidade da virtude. Pois, é do mesmo género que as nossas almas, mas sobrepuja
também os anjos, pela plenitude da graça e da verdade. Pois, o modo da
Encarnação corresponde à alma segundo a propriedade do seu género, donde vem
que, sendo a forma do corpo, é criada simultaneamente com a sua infusão no
corpo e a sua união com ele. O que não convém aos anjos, que são substâncias
completamente separadas de corpos.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Todos os homens
participam da plenitude de Cristo, pela fé que nele têm. Pois, diz o Apóstolo:
A Justiça de Deus é infundida pela fé de Jesus Cristo em todos e sobre todos os
que nele creem. Pois, assim como nós cremos nele, como encarnado, assim os
antigos nele creram como nascituro: Tendo um mesmo espírito de fé, cremos. Ora
a fé em Cristo tem a virtude de justificar por decreto da graça de Deus,
segundo o Apóstolo: Ao que não crê e crê naquele que justifica ao ímpio, a sua
fé lhe é imputada à justiça, segundo o decreto, da graça de Deus. Donde, sendo
esse decreto eterno, nada impede alguns de se justificarem pela fé de Jesus
Cristo, antes ainda de ter a sua alma cheia de graça e de verdade.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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