13/11/2014

Tratado do verbo encarnado 28

Questão 4: Da união relativamente ao assumido

Art. 3 — Se a Pessoa divina assumiu um homem.

O terceiro discute-se se assim. — Parece que a Pessoa divina assumiu um homem.

1 — Pois, diz a Escritura: Bem-aventurado o que elegeste e tomaste para o teu serviço, o que a Glosa expõe, de Cristo. E Agostinho diz que o Filho de Deus assumiu o homem e sofreu, nele, o que é humano.

2. Demais. — A palavra homem designa a natureza humana. Ora, o Filho de Deus assumiu a natureza humana. Logo, assumiu o homem.

3. Demais. — O Filho de Deus é homem. Ora, não é um homem, que não assumiu, porque então seria, por igual razão, Pedro ou qualquer outro homem. Logo, é o homem que assumiu.

Mas, em contrário, a autoridade do Papa e Mártir Felix, citada no Sínodo Efesino: Cremos em Nosso Senhor Jesus Cristo, nascido da Virgem Maria, porque é o Verbo e o Filho sempiterno de Deus, e não homem assumido por Deus, de modo que fosse outro, diferente dele. Nem o Filho de Deus assumiu um homem que fosse outro, diferente dele.

Como se disse, o assumido não é o termo da assunção, mas é concebido como anterior à assunção. Ora, segundo dissemos, o indivíduo no qual é assumida a natureza humana, não é outra coisa senão a Pessoa divina, que é o termo da assunção. Pois, a palavra homem significa a natureza humana enquanto lhe é natural existir num suposto. Pois, como diz Damasceno, como o nome Deus significa aquele que tem a natureza divina, assim o nome homem, o que tem a natureza humana. Donde, não há propriedade de expressão quando se diz, que o Filho de Deus assumiu o homem, supondo, como o exige a verdade das coisas, que em Cristo há um só suposto e uma só hipóstase. Mas, segundo os que introduzem em Cristo duas hipóstases e dois supostos, conveniente e propriamente se poderia dizer, que o Filho de Deus assumiu o homem. Por isso, a primeira opinião citada pelo Mestre das Sentenças concede ter sido o homem o assumido. Mas, essa opinião é errónea, como se demonstrou.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Essas locuções não se devem aplicar em sentido extensivo, como próprias, mas devem ser entendidas piamente, sempre que são empregadas pelos sagrados Doutores, de modo que quando dizemos — o homem assumido — signifiquemos que a sua natureza foi assumida, e que a assunção terminou em ser o Filho do Deus, homem.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O nome homem significa a natureza humana em concreto, isto é, como existente num suposto. E portanto, assim como não podemos dizer que o suposto foi assumido, assim também não que o homem foi assumido.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O Filho de Deus não é o homem que ele assumiu, mas aquele cuja natureza assumiu.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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