Evangelho: Lc 21 1-4
1 Levantando Jesus
os olhos, viu vários ricos que lançavam as suas oferendas na caixa das esmolas.
2 Viu também uma viúva pobrezinha, que lançava duas pequenas moedas,
3 e disse: «Na verdade vos digo que esta pobre viúva lançou mais que
todos os outros. 4 Porque todos esses fizeram a Deus oferta do que
lhes sobrava; ela, porém, deu da sua própria indigência tudo o que tinha para
viver»
Comentário:
‘Dar
aos pobres é emprestar a Deus’
Esta
frase que tantas vezes ouvi a meu querido Pai traduz um profundo sentido da
realidade da esmola.
Deus
dá-nos tudo, muito ou pouco, não interessa, sobretudo porque haverá sempre quem
tenha muito, muitíssimo menos que nós.
E,
o Senhor, paga sempre com elevadíssimos juros o que damos de coração.
(ama, comentário sobre Lc 21, 1-4, 2014.10.30)
103
Cristo
vive no cristão. A fé diz-nos que o homem, em estado de graça, está endeusado.
Somos homens e mulheres; não anjos. Seres de carne e osso, com coração e
paixões, com tristezas e alegrias; mas a divinização envolve o homem todo, como
antecipação da ressurreição gloriosa. Cristo ressuscitou dentre os mortos, como
primícias dos que morreram. Porque, assim como por um homem veio a morte,
também veio por um homem a ressurreição. Porque, assim como todos morrem em
Adão, assim também em Cristo todos são vivificados.
A
vida de Cristo é vida nossa, segundo o que prometera aos. seus Apóstolos no dia
da última Ceia: Todo aquele que me ama observará os meus mandamentos, e meu Pai
o amará, e viremos a ele e faremos nele morada. O cristão, portanto, deve viver
segundo a vida de Cristo, tornando seus os sentimentos de Cristo de tal modo que
possa exclamar com S. Paulo: Non vivo ego, vivit vero in me Christus; não sou
eu quem vive; é Cristo que vive em mim.
104
Jesus Cristo, fundamento
da vida cristã
Quis
recordar, embora brevemente, alguns dos aspectos do viver actual de Cristo -
Iesus Christus heri et hodie; ipse et in saecula; Jesus Cristo é sempre o
mesmo, ontem e hoje, e por toda a eternidade - porque aí está o fundamento de
toda a vida cristã. Se olharmos ao nosso redor e considerarmos o decurso da
história da Humanidade, observaremos progressos, avanços: a Ciência deu ao
homem uma consciência maior do seu poder; a Técnica domina a Natureza melhor do
que em épocas passadas; e permite à Humanidade sonhar com um nível mais alto de
cultura, de vida material, de unidade.
Talvez
alguns se sintam levados a matizar este quadro, recordando que os homens
padecem agora injustiças e guerras maiores ainda do que as passadas. E não lhes
falta razão. Mas, por cima dessas considerações, prefiro recordar que, no
domínio religioso, o homem continua a ser homem e Deus continua a ser Deus.
Neste campo, o cume do progresso já se deu; é Cristo, alfa e ómega, princípio e
fim.
No
terreno espiritual não há nenhuma nova época a que chegar. Já tudo se deu em
Cristo, que morreu e ressuscitou, e vive, e permanece para sempre. Mas é
preciso unirmo-nos a Ele pela fé, deixando que a sua vida se manifeste em nós,
de maneira que se possa dizer que cada cristão é, não já alter Christus, mas
ipse Christus, o próprio Cristo.
105
Instaurare
omnia in Christo, é o lema que S. Paulo dá aos cristãos de Éfeso: dar forma a
tudo segundo o espírito de Jesus; colocar Cristo na entranha de todas as
coisas: Si exaltatus fuero a terra, omnia traham ad meipsum: quando Eu for
levantado sobre a terra, tudo atrairei a mim. Cristo, com a sua Encarnação, com
a sua vida de trabalho em Nazaré, com a sua pregação e os seus milagres por
terras da Judeia e da Galileia, com a sua morte na Cruz, com a sua
Ressurreição, é o centro da Criação, Primogénito e Senhor de toda a criatura.
A
nossa missão de cristãos é proclamar essa Realeza de Cristo; anunciá-la com a
nossa palavra e com as nossas obras. O Senhor quer os seus em todas as
encruzilhadas da Terra. A alguns, chama-os ao deserto, desentendidos das
inquietações da sociedade humana, para recordarem aos outros homens, com o seu
testemunho, que Deus existe. Encomenda a outros o ministério sacerdotal. À
grande maioria, o Senhor quere-a no mundo, no meio das ocupações terrenas.
Estes cristãos, portanto, devem levar Cristo a todos os ambientes em que se
desenvolve o trabalho humano: à fábrica, ao laboratório, ao trabalho do campo,
à oficina do artesão, às ruas das grandes cidades e às veredas da montanha.
Gosto
de recordar a este propósito o episódio da conversa de Cristo com os discípulos
de Emaús. Jesus caminha junto daqueles dois homens que perderam quase toda a
esperança, de modo que a vida começa a parecer-lhes sem sentido. Compreende a
sua dor, penetra nos seus corações, comunica-lhes algo da vida que Nele habita.
Quando, ao chegar àquela aldeia, Jesus faz menção de seguir para diante, os
dois discípulos retêm-No e quase O forçam a ficar com eles. Reconhecem-No
depois ao partir o pão: - O Senhor, exclamam, esteve connosco! Então disseram
um para o outro: Não é verdade que sentíamos abrasar-se-nos o coração dentro de
nós enquanto nos falava no caminho e nos explicava as Escrituras? Cada cristão
deve tornar Cristo presente entre os homens; deve viver de tal maneira que
todos com quem contacte sintam o bonus odor Christi, o bom odor de Cristo, deve
actuar de forma que, através das acções do discípulo, se possa descobrir o
rosto do Mestre.
106
O
cristão sabe que está enxertado em Cristo pelo Baptismo; habilitado a lutar por
Cristo pela Confirmação; chamado a actuar no mundo pela participação que tem na
função real, profética e sacerdotal de Cristo; feito uma só coisa com Cristo
pela Eucaristia, Sacramento da unidade e do amor. Por isso, tal como Cristo,
há-de viver voltado para os outros homens, olhando com amor para todos e cada
um dos que o rodeiam, para a Humanidade inteira.
A
fé leva-nos a reconhecer Cristo como Deus, a vê-Lo como nosso Salvador, a
identificarmo-nos com Ele, actuando como Ele actuou. O Ressuscitado, depois de
arrancar das suas dúvidas o Apóstolo Tomé, mostrando-lhe as chagas, exclama:
Bem-aventurados os que, sem me verem, acreditaram. Aqui - comenta S. Gregório
Magno - fala-se de nós de um modo particular, porque nós possuímos
espiritualmente Aquele a Quem corporalmente não vimos. Fala-se de nós, mas com
a condição de que as nossas acções se conformem à nossa fé. Não crê
verdadeiramente senão quem, no seu actuar, põe em prática o que crê. Por isso,
a propósito daqueles que da fé não possuem mais do que as palavras, diz S.
Paulo: professam conhecer Deus mas negam-no com as obras.
Não
é possível separar em Cristo o ser de Deus-Homem e a sua função de Redentor. O
Verbo fez-se carne e veio à Terra ut omnes homines salvi fiant, para salvar
todos os homens. Com todas as nossas misérias e limitações pessoais, nós somos
outros Cristos, o próprio Cristo, e somos também chamados a servir todos os
homens.
É
necessário que ressoe uma e outra vez aquele mandamento que continuará a ser
novo através dos séculos: Caríssimos - escreve S. João - não vos escrevo um
mandamento novo, mas um mandamento antigo, que recebestes desde o princípio.
Este mandamento antigo é a palavra divina que ouvistes. E, no entanto, falo-vos
de um mandamento novo, que é verdadeiro n'Ele mesmo e em vós porque as trevas
já passaram e já resplandece a verdadeira luz. Quem diz que está na luz e
aborrece o seu irmão, ainda está nas trevas. Quem ama o seu irmão permanece na
luz e nele não há ocasião de queda.
Nosso
Senhor veio trazer a paz, a boa nova, a vida a todos os homens. Não só aos
ricos, nem só aos pobres; não só aos sábios, nem só à gente simples; a todos;
aos irmãos, pois somos irmãos, já que somos filhos de um mesmo Pai, Deus. Não
há, portanto, mais do que uma raça: a raça dos filhos de Deus. Não há mais que
uma cor: a cor dos filhos de Deus. E não há senão uma língua: a que nos fala ao
coração e à inteligência, sem ruído de palavras, mas dando-nos a conhecer Deus
e fazendo que nos amemos uns aos outros.
107
Contemplação da vida de
Cristo
É
esse amor de Cristo que cada um de nós deve se esforçar por realizar na sua
vida. Mas para ser ipse Christus é preciso mirar-se Nele. Não basta ter-se uma
ideia geral do espírito que Jesus viveu; é preciso aprender com Ele pormenores
e atitudes. É preciso contemplar a sua vida, sobretudo para daí tirar força,
luz, serenidade, paz.
Quando
se ama alguém, deseja-se conhecer toda a sua vida, o seu carácter, para nos
identificarmos com essa pessoa. Por isso temos de meditar na vida de Jesus,
desde o Seu nascimento num presépio até à Sua morte e à Sua Ressurreição. Nos
primeiros anos do meu labor sacerdotal costumava oferecer exemplares do
Evangelho ou livros onde se narra a vida de Jesus, porque é necessário que a
conheçamos bem, que a tenhamos inteira na mente e no coração, de modo que, em
qualquer momento, sem necessidade de nenhum livro, cerrando os olhos, possamos
contemplá-la como um filme; de forma que, nas mais diversas situações da nossa
vida, acudam à memória as palavras e os actos do Senhor.
Sentir-nos-emos
assim metidos na sua vida. Na verdade, não se trata apenas de pensar em Jesus e
de imaginar aqueles episódios; temos de meter-nos em cheio neles, como actores;
temos de seguir Cristo tão de perto como Santa Maria, sua Mãe; como os
primeiros Doze; como as santas mulheres; como aquelas multidões que se
apertavam ao Seu redor. Se fizermos assim, se não criarmos obstáculos, as
palavras de Cristo penetrarão até ao fundo da nossa alma e transformar-nos-ão.
Porque a palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante que uma espada de
dois gumes; introduz-se até à divisão da alma e do espírito, até às junturas e
medulas; e discerne os pensamentos e intenções do coração.
Se
queremos levar os outros homens ao Senhor, é necessário abrir o Evangelho e
contemplar o amor de Cristo. Podíamos fixar as cenas-cume da Paixão, porque,
como Ele mesmo disse, ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos
seus amigos. Mas também podemos considerar o resto da sua vida, o seu modo
habitual de tratar com quem se cruzava com Ele.
Cristo,
perfeito Deus e perfeito Homem, procedeu de um modo humano e divino para fazer
chegar aos homens a Sua doutrina de salvação e para lhes manifestar o amor de
Deus. Deus condescende com o homem, assume a nossa natureza sem reservas,
excepto no pecado.
Dá-me
uma grande alegria considerar que Cristo quis ser plenamente homem, com carne
como a nossa. Emociona-me contemplar a maravilha de um Deus que ama com coração
de homem.
108
Entre
tantas cenas narradas pelos Evangelistas, detenhamo-nos a considerar algumas,
começando pelos relatos do convívio de Jesus com os Doze. O Apóstolo João, que
verte no seu Evangelho a experiência de uma vida inteira, narra a primeira
conversa com o encanto daquilo que nunca mais se pode esquecer: - Mestre, onde
moras? Disse-lhe Jesus: Vinde e vede. Foram, pois, e viram onde morava e ficaram
com Ele aquele dia.
Diálogo
divino e humano, que transformou a vida de João e de André, de Pedro, de Tiago
e de tantos outros; que preparou os seus corações para escutarem a palavra
imperiosa que Jesus lhes dirigiu junto ao mar da Galileia: Caminhando Jesus
junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, seu
irmão, lançando as redes ao mar, porque eram pescadores. E disse-lhes:
Segui-Me, e Eu farei de vós pescadores de homens. Deixando as redes,
imediatamente O seguiram.
Nos
três anos seguintes Jesus convive com os seus discípulos, conhece-os, responde
às suas perguntas, resolve as suas dúvidas. Sim, é o Rabi, o Mestre que fala
com autoridade, o Messias enviado por Deus; mas, ao mesmo tempo, é acessível,
próximo. Um dia Jesus retira-se para orar. Os discípulos estavam perto, olhando
talvez para Ele e tentando adivinhar as suas palavras. Quando regressa, um
deles roga-Lhe: - Domine, doce nos orare, sicut docuit et Ioannes discipulos
suos; ensina-nos a orar, como João ensinou aos seus discípulos. E Jesus
responde-lhes: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o Teu nome...
Também
com autoridade de Deus e com carinho humano recebe o Senhor os Apóstolos,
quando, assombrados pelos frutos da sua primeira missão, Lhe comentavam as
primícias do seu apostolado: Vinde, retiremo-nos a um lugar deserto e repousai
um pouco.
Uma
cena muito similar se repete quase no final da vida de Jesus na Terra, pouco
antes da Ascensão: Ao surgir a manhã, apresentou-Se Jesus na praia, mas os
discípulos não sabiam que era Ele. Disse-lhes então Jesus: Rapazes, tendes
alguma coisa de comer? Aquele que tinha perguntado como homem, fala depois como
Deus: Lançai a rede à direita do barco e encontrareis. Lançaram-na, pois, e mal
a podiam arrastar., devido à grande quantidade de peixe. Então o discípulo
predilecto de Jesus disse a Pedro: É o Senhor.
E
Deus espera-os na margem: Logo que saltaram para terra viram ali umas brasas
com peixe em cima, e pão. Disse-lhes Jesus: Trazei dos peixes que apanhastes
agora. Simão Pedro subiu à barca e puxou a rede para terra, cheia de cento e
cinquenta e três grandes peixe; e, sendo tantos, não se rompeu a rede.
Disse-lhes, Jesus: Vinde comer. E nenhum dos discípulos se atrevia a
perguntar-Lhe: Quem és Tu?, sabendo que era o Senhor. Então Jesus aproximou-Se,
tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com o peixe.
Esta
delicadeza e carinho, manifesta-os Jesus, não só com um pequeno grupo de
discípulos, mas com todos: com as santas mulheres, com representantes do
Sinédrio, com Nicodemus e com publicamos, como Zaqueu, com doentes e com sãos,
com doutores da Lei e com pagãos, com pessoas, individualmente, e com multidões
inteiras.
Narram-nos
os Evangelhos que Jesus não tinha onde reclinar a cabeça, mas contam-nos também
que tinha amigos queridos e de confiança, ansiosos por recebê-Lo em sua casa. E
falam-nos da sua compaixão pelos enfermos, da sua mágoa pelos que ignoram e
erram, da sua indignação perante a hipocrisia. Jesus chora pela morte de
Lázaro, ira-se com os mercadores que profanam o Templo, deixa que se enterneça
o seu coração com a dor da viúva de Naim.
109
Cada
um destes gestos humanos é gesto de Deus. Em Cristo habita toda a plenitude da
divindade corporalmente. Cristo é Deus feito homem; homem perfeito; homem
cabal. E, na sua humanidade, dá-nos a conhecer a divindade.
Ao
recordarmos esta delicadeza humana de Cristo, que gasta a sua vida em serviço
dos outros, fazemos muito mais do que descrever um modo possível de nos
comportarmos: estamos a descobrir Deus. Toda a actuação de Cristo tem um valor
transcendente; dá-nos a conhecer o modo de ser de Deus; convida-nos a crer no
amor de Deus, que nos criou e que quer levar-nos até à sua intimidade.
Manifestei o teu nome aos homens que, do mundo, me deste. Eram teus e Tu deste-mos,
e eles guardaram a tua palavra. Agora sabem que tudo quanto me deste vem de Ti,
exclamou Jesus na longa oração que o Evangelista João nos conserva.
Portanto,
o convívio de Jesus com os homens não fica em meras palavras nem em atitudes
superficiais; Jesus toma a sério o homem e quer dar-lhe a conhecer o sentido
divino da sua vida. Jesus sabe exigir, colocar os homens perante os seus
deveres, arrancar do comodismo e do conformismo os que O escutam, para levá-los
a conhecer o Deus três vezes santo. A fome e a dor comovem Jesus, mas sobretudo
comove-O a ignorância: Viu Jesus uma grande multidão e compadeceu-Se deles,
porque eram como ovelhas sem pastor. Começou então a ensiná-los demoradamente.
110
Aplicação à nossa vida
corrente
Percorremos
algumas páginas dos Santos Evangelhos para contemplar Jesus no seu convívio com
os homens e para aprendermos a levar Cristo aos nossos irmãos, os homens, sendo
nós próprios Cristo. Apliquemos esta lição à nossa vida corrente, à vida de
cada um de nós. Porque a vida corrente e ordinária, a vida de cada homem entre
os seus concidadãos e seus iguais, não é coisa baixa e sem relevo; é
precisamente nessas circunstâncias que o Senhor quer que se santifique a imensa
maioria dos seus filhos.
É
necessário repetir uma e mais vezes que Jesus não se dirigiu a um grupo de
privilegiados, mas veio revelar-nos o amor universal de Deus. Todos os homens
são amados por Deus; de todos eles espera amor, de todos, quaisquer que sejam a
sua condição, a sua posição social, a sua profissão ou oficio. A vida corrente
e ordinária não é coisa de pouco valor; todos os caminhos da Terra podem ser
uma ocasião de encontro com Cristo, que nos chama a identificar-nos com Ele,
para realizarmos - no lugar onde estamos - a sua missão divina.
Deus
chama-nos através dos incidentes da vida de cada dia, no sofrimento e na
alegria das pessoas com quem convivemos, nas preocupações dos nossos
companheiros, nas pequenas coisas da vida familiar. Deus também nos chama
através dos grandes problemas, conflitos e ideais que definem cada época
histórica, atraindo o esforço e o entusiasmo de grande parte da Humanidade.
111
Compreende-se
muito bem a impaciência, a angústia, os inquietos anseios daqueles que, com uma
alma naturalmente cristã, não se resignam perante a injustiça individual e
social que o coração humano é capaz de criar. Tantos séculos de convivência dos
homens entre si, e ainda tanto ódio, tanta destruição, tanto fanatismo
acumulado em olhos que não querem ver e em corações que não querem amar! Os bens
da Terra, repartidos entre muito poucos; os bens da cultura, encerrados em
cenáculos...E, lá fora, fome de pão e de sabedoria; vidas humanas - que são
santas, porque vêm de Deus - tratadas como simples coisas, como números de uma
estatística! Compreendo e compartilho dessa impaciência, levantando os olhos
para Cristo, que continua a convidar-nos a pormos em prática o mandamento novo
do amor.
Todas
as situações que a nossa vida atravessa nos trazem uma mensagem divina, nos
pedem uma resposta de amor, de entrega aos demais. Quando vier o Filho do homem
em toda a sua majestade, acompanhado de todos seus anjos, há-de sentar-se então
no seu trono de glória. Perante Ele reunir-se-ão todas as nações e Ele apartará
as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. À sua
direita porá as ovelhas, e os cabritos à esquerda. O Rei dirá então, aos da sua
direita: Vinde, benditos do meu Pai, recebei em herança o Reino que vos está
preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-Me de comer, tive
sede e destes-Me de beber; era peregrino e recolhestes-Me; estava nu e
vestistes-Me; adoeci e visitastes-Me, estive na prisão e fostes ter comigo.
Então os justos responder-Lhe-ão: Senhor, quando é que Te vimos com fome e Te
demos de comer, com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos peregrino e
Te recolhemos, ou nu e Te vestimos? E quando Te vimos doente ou na prisão e
fomos visitar-Te? E o Rei dir-lhes-á em resposta: Em verdade vos digo, sempre
que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes.
É
preciso reconhecer Cristo que nos sai ao encontro nos nossos irmãos, os homens.
Nenhuma vida humana é uma vida isolada; entrelaça-se com as demais. Nenhuma
pessoa é um verso solto; todos fazemos parte de um mesmo poema divino, que Deus
escreve com o concurso da nossa liberdade.
(cont)
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