Art.
5 — Se a graça gratuita é mais digna que a santificante.
O quinto discute-se assim. — Parece
que a graça gratuita é mais digna que a santificante.
1. — Pois, o bem da nação é superior
ao do indivíduo, como diz o Filósofo. Ora, a graça santificante ordena só para
o bem do indivíduo, ao passo que a gratuita, para o de toda a comunidade da
Igreja, como já se disse. Logo, a graça gratuita é mais digna que a santificante.
2. Demais. — É maior virtude poder
agir sobre outrem, que poder aperfeiçoar-se só a si mesmo, assim como a
claridade corpórea capaz de iluminar também os outros corpos é maior que aquela
que luz sem poder iluminá-los. Por isso, o Filósofo diz, que a justiça é a mais
preclara das virtudes, pela qual o homem age retamente, mesmo para com os
outros. Ora, pela graça santificante o homem se aperfeiçoa a si mesmo, ao passo
que, pela gratuita, opera a perfeição dos outros. Logo, esta é mais perfeita
que aquela.
3. Demais. — O que é próprio dos
melhores é mais digno que o comum a todos, assim, raciocinar, próprio do homem,
mais digno que sentir, comum a todos os animais. Ora, a graça santificante é
comum a todos os membros da Igreja, ao passo que a gratuita é dom próprio dos
membros mais dignos dela. Logo, a graça gratuita é mais digna que a
santificante.
Mas, em contrário, o Apóstolo, depois
de ter enumerado as graças gratuitas, acrescenta (1 Cor 12, 31): Mas eu ainda
vou a mostrar-vos outro caminho mais excelente. Ora, como a sequência do texto
o demonstra, ele refere-se à caridade, que pertence à graça santificante. Logo,
esta é mais excelente que a gratuita.
Toda a virtude é tanto mais
excelente quanto mais elevado é o bem a que se ordena. Pois, o fim é sempre mais
excelente que os meios. Ora, a graça santificante ordena imediatamente o homem
à união com o fim último. Enquanto a graça gratuita o ordena a certos meios
preparatórios do fim último. Assim, pela profecia, pelos milagres e por meios
semelhantes, os homens são levados à união com o fim último. Logo, a graça
santificante é muito mais excelente que a gratuita.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Como diz o Filósofo, o bem de uma multidão, como, p. ex., um exército, é
duplo. Um está na própria multidão, p. ex., a ordem do exército. Outro — o bem
do chefe, é distinto dela. E, este último é o superior, pois a ele se ordena o
primeiro. Ora, a graça gratuita ordena-se ao bem comum da Igreja, que é a ordem
eclesiástica. Ao passo que a graça santificante se ordena a um bem comum
separado, que é o próprio Deus. Logo, a graça santificante é mais nobre.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Se a graça
gratuita pudesse fazer o homem conseguir o que consegue pela graça
santificante, resultaria que ela é mais nobre que esta, assim como é mais
excelente a claridade do sol, que ilumina, do que a do corpo iluminado. Ora,
pela graça gratuita não podemos causar em outrem a união com Deus, que ele
alcança pela graça santificante, mas podemos apenas provocar certas disposições
para essa união. Donde não é necessário que seja a graça gratuita mais
excelente, do mesmo modo que o calor, manifesto da natureza específica do fogo,
e pelo qual aquece as coisas, é mais nobre que a forma substancial do mesmo.
RESPOSTA À TERCERIA. — Sentir ordena-se
a raciocinar, como ao fim, logo, raciocinar é mais nobre. Ora, no caso
vertente, dá-se o contrário, porque o próprio se ordena ao comum, como ao fim.
Logo, não há semelhança.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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