05/10/2014

Tratado da Graça 17

Questão 111: Da divisão da graça.

Art. 3 — Se a graça se divide convenientemente em preveniente e subsequente.

[II Sent., dist. XXVI, a. 5, a, art. 2, De Verit., q. 27, a. 5, ad 6, In Psalm. XXII, II Cor., cap. XI, lect. I].

O terceiro discute-se assim. — Parece que a graça se divide inconvenientemente, em preveniente e subsequente.

1. — Pois, a graça é efeito do amor divino. Ora, o amor divino nunca é subsequente, mas sempre, preveniente, conforme a Escritura (1 Jo 4, 10): Não em termos nós sido os que amamos a Deus, mas em que ele foi o primeiro que nos amou a nós. Logo, a graça não deve se dividir em preveniente e subsequente.

2. Demais. — A graça santificante, sendo suficiente, é uma só num mesmo homem, segundo a Escritura (2 Cor 12, 9): Basta-te a minha graça. Ora, o que é anterior não pode ser, simultaneamente, posterior. Logo, a graça se divide, inconvenientemente, em preveniente e subsequente.

3. Demais. — A graça é conhecida pelos seus efeitos. Ora, estes que precedem uns aos outros, são infinitos. Donde, se a graça devesse, de acordo com eles, ser dividida em preveniente e subsequente, resultariam infinitas as suas espécies. Ora, o infinito escapa a toda ciência. Logo, a graça não se divide, convenientemente, em preveniente e subsequente.

Mas, em contrário, a graça de Deus provém da sua misericórdia. Ora, na Escritura se encontram as duas funções da misericórdia (Sl 58, 11): A misericórdia dele se antecipará, e (Sl 22, 6): A tua misericórdia irá após de mim. Logo, a graça divide-se, convenientemente, em preveniente e subsequente.

Assim como a graça se divide, quanto aos seus diversos efeitos, em operante e cooperante, assim também, em preveniente e subsequente, em qualquer acepção que seja tomada. Ora, a graça produz em nós cinco efeitos. O primeiro é santificar a alma, o segundo, levá-la a querer o bem, o terceiro, a realizar eficazmente o bem querido, o quarto, perseverar no bem, o quinto, chegar à glória. Donde, a graça, que produz em nós o primeiro efeito, chama-se preveniente, em relação ao segundo, e enquanto produz o segundo, chama-se subsequente, em relação ao primeiro. E assim como um efeito qualquer da graça é posterior ao precedente e anterior ao seguinte, pode ela chamar-se preveniente e subsequente, relativamente a um mesmo efeito, a títulos diversos. E isto diz Agostinho: Ele nos previne para curar-nos, acompanha-nos para, depois de curados, nos fortificarmos, previne-nos para sermos chamados, acompanha-nos para alcançarmos a glória.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O amor de Deus significa algo de eterno, e portanto não pode designar senão o que é preveniente. Ao contrário, a graça significa um efeito temporal, que pode preceder a uma coisa e ser subsequente a outra. Logo, pode chamar-se preveniente e subsequente.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A graça por ser preveniente e subsequente, não essencialmente de espécies diversas, mas só quanto aos seus efeitos, como já dissemos, a respeito da graça operante e cooperante. Donde, a graça subsequente, por dizer respeito à glória, não difere numericamente da preveniente, que actualmente nos justifica. Pois, assim como a caridade desta vida não é abolida, mas aperfeiçoada na pátria, o mesmo deve dizer-se do lume da graça, porque nenhum dos seus dois aspectos implica imperfeição essencial.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Embora os efeitos da graça possam ser numericamente infinitos, como infinitos são os actos humanos, contudo todos se reduzem a espécies determinadas. E além disso, todos convêm em que um precede o outro.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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