Tempo comum XXII Semana
1 Estando Ele a
fazer oração em certo lugar, quando acabou, um dos Seus discípulos disse-Lhe:
«Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos». 2
Ele respondeu-lhes: «Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o Teu nome.
Venha o Teu reino. 3 O pão nosso de cada dia dá-nos hoje 4
perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todos os que nos
ofendem; e não nos deixes cair em tentação».
Comentário:
Tudo quanto o Pai-Nosso encerra é importante mas,
atrevemo-nos a considerar como “chave” que abre o coração – o nosso e o de Deus
– o último versículo: «perdoa-nos os
nossos pecados, pois também nós perdoamos a todos os que nos ofendem».
Para ser perdoado é, pois fundamental, perdoar, não
depois… mas antes…
(ama, comentário sobre Lc 11, 1-4, 2013.10.09)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CARTA ENCÍCLICA
PRINCEPS PASTORUM
DO SUMO PONTÍFICE PAPA JOÃO XXIII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS,
PRIMAZES, ARCEBISPOS, BISPOS
E AOS OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE AS MISSÕES CATÓLICAS
Educação
adaptada ao ambiente
14.
Além disto, a Igreja, como bem sabeis, veneráveis irmãos, sempre exigiu que os
seus sacerdotes sejam tornados aptos para seu ministério mediante uma educação
intelectual sólida e completa.
Que
de tanto sejam capazes os jovens de todas as raças e provenientes de todas as
partes do mundo, isto nem sequer vale mais a pena lembrá-lo, tanto os factos e
a experiência o demonstraram com evidência.
Obviamente,
a formação do clero local deve ter na devida conta os factores ambientais
próprios das várias regiões.
Para
todos os candidatos ao sacerdócio vigora a sapientíssima norma segundo a qual
eles não devem ser formados "num ambiente por demais arredio do
mundo" [13], visto que desse modo, "quando forem para o meio da
sociedade, encontrarão sérias dificuldades nas relações com o povo e com a
classe culta, e daí sucederá, com frequência ou assumirem uma atitude errada e
falsa para com os fiéis, ou considerarem desfavoravelmente a formação
recebida". [14]
Eles
deverão ser sacerdotes espiritualmente perfeitos, mas também, "gradual e
prudentemente inseridos naquela parte do mundo" [15] que lhes coube por
sorte, para que a iluminem com a verdade, a santifiquem com a graça de Cristo.
Para
tal fim, também no que respeita ao regime de vida do seminário, convém insistir
sobre o modo de viver local, não porém sem pôr a fruto todas aquelas facilidades
de ordem técnica ou material que já agora são bem e património de todas as
civilizações, enquanto representam um real progresso para um teor de vida mais
elevado e para uma mais adequada salvaguarda das forças físicas.
Educação
no senso de responsabilidade e no espírito de iniciativa
15.
A formação do clero autóctone, dizia o nosso predecessor Bento XV, deve visar a
torná-lo capaz de tomar em mãos, apenas isso for possível, o governo das novas
Igrejas, e de guiar, com o ensino e com o ministério, os próprios compatrícios
na trilha da salvação. [16]
Para
tal fim, afigura-se-nos sumamente oportuno que todos aqueles que, ou
alienígenas ou nativos, cuidam dessa formação, se empenhem conscienciosamente
em desenvolver nos seus alunos o senso de responsabilidade e o espírito de
iniciativa, [17] de modo que estes estejam em condições de assumir bem depressa
e progressivamente todas as tarefas, mesmo as mais importantes, inerentes ao
seu ministério, em perfeita concórdia com o clero alienígena, mas também em
igual medida.
Esta
será, com efeito, a prova da real eficácia da educação a eles ministrada, e constituirá
o coroamento e o prémio melhor dos que para ela contribuíram.
Utilização
dos valores locais.
16.
Em vista justamente de uma formação intelectual que leve em conta as
necessidades reais e da mentalidade de cada povo, esta Sé Apostólica sempre
recomendou os estudos especiais de missiologia não só para o clero alienígena,
como também para o clero nativo. Assim o nosso predecessor Bento XV, decretava
a instituição do ensino de matérias missionárias no Pontifício ateneu Urbaniano
"de Propaganda Fide", [18] e Pio XII salientava com satisfação a erecção
do Instituto missionário científico no mesmo ateneu Urbaniano, "e a instituição,
quer em Roma, quer noutros lugares, de faculdades e cátedras de
missiologia". [19]
Por
isto os programas dos seminários locais em terra de missão não deixarão de
assegurar cursos de estudo nos vários ramos da missiologia e o ensino dos
diversos conhecimentos e técnicas especialmente úteis para o ministério futuro
do clero daquelas regiões.
Para
tal fim prover-se-á a um ensino que, no espírito da mais pura e sólida tradição
eclesiástica, saiba formar acuradamente o juízo dos sacerdotes sobre os valores
culturais locais especialmente filosóficos e religiosos, na sua relação com o
ensino e a religião cristã.
"A Igreja Católica – disse o nosso
imortal predecessor Pio XII – não despreza ou rejeita completamente o
pensamento pagão, mas, antes, depois de o haver purificado de toda escória de
erro, completa-o e aperfeiçoa-o com sabedoria cristã.
Assim
igualmente ela acolheu o progresso no campo das ciências e das artes... e
consagrou de alguma maneira os costumes particulares e as tradições antigas dos
povos, as próprias festas pagãs, transformadas, serviram para celebrar as
memórias dos mártires e os divinos mistérios". [20]
Nós
mesmo já manifestamos o nosso pensamento sobre este assunto: "Em toda
parte... onde autênticos valores de arte e de pensamento são suscetíveis de
enriquecer a família humana, a Igreja está pronta a favorecer tais trabalhos do
espírito.
Ela
mesma, como sabeis, não se identifica com nenhuma cultura, nem mesmo com a
cultura ocidental, à qual a sua história está estreitamente ligada.
Porque
a sua missão pertence a uma outra ordem, à ordem da salvação religiosa do
homem.
Porém
a Igreja, tão rica de juventude que incessantemente se renova ao sopro do
Espírito, está sempre disposta a reconhecer, antes a acolher, e mesmo animar,
tudo aquilo que é de honra para a inteligência e para o coração humano nas
outras partes do mundo, diverso desta bacia mediterrânea, que foi berço
providencial do cristianismo". [21]
Penetração
entre as classes cultas
17.
Bem preparados e adestrados neste campo tão difícil e importante, no qual estão
em condições de oferecer contributos bastante preciosos, os sacerdotes nativos
poderão, sob a direcção dos seus Bispos, dar vida a movimentos de penetração
mesmo entre as classes cultas, especialmente nas nações de antiga e alta
cultura, a exemplo de famosos missionários, dos quais basta citar por todos o
Pe. Matteo Ricci.
Com
efeito, também ao clero nativo cabe a tarefa de "reduzir todo o intelecto
ao obséquio de Cristo" (cf. 2 Cor 10,5), como dizia aquele incomparável
missionário que foi S. Paulo, e assim "atrair a si, na pátria, a estima
mesmo das personalidades e dos doutos". [22]
A
seu juízo, os Bispos providenciem oportunamente no sentido de constituir, para
as necessidades de uma ou mais regiões, centros de cultura, nos quais
missionários alienígenas e sacerdotes nativos tenham meios de fazer frutificar
o seu preparo intelectual e a sua experiência em beneficio da sociedade em que
vivem por escolha ou por nascimento.
Neste
campo é necessário também lembrar aquilo que o nosso imediato predecessor Pio
XII sugeriu, isto é, que é dever dos féis "multiplicar e difundir a
imprensa católica em todas as suas formas" [23], e preocupar-se outrossim
com as "técnicas modernas de difusão e de cultura, sabida como é a importância
de uma opinião pública formada e iluminada". [24]
Nem
tudo se poderá fazer em toda parte, mas não se deve perder nenhuma boa ocasião
para prover a estas reais e urgentes necessidades, mesmo se às vezes "quem
semeia não é o mesmo que colhe" (Jo 4,37).
Cautelas
nos empreendimentos de carácter social e assistencial
18.
A difusão da verdade e da caridade de Cristo é a verdadeira missão da Igreja,
que tem o dever de oferecer aos povos, "na medida máxima possível, as
substanciais riquezas da sua doutrina e da sua vida, animadora de uma nova
ordem social cristã". [25]
Por
isto, nos territórios de missão, ela provê com toda a largueza possível também
a iniciativas de carácter social e assistencial que são de sumo proveito para
as comunidades cristãs e para os povos entre os quais elas vivem.
Tenha-se,
todavia, o cuidado de não atravancar o apostolado missionário com um complexo
de instituições de ordem puramente profana. Fique-se nos limites daqueles
serviços indispensáveis de fácil manutenção e de uso fácil, cujo funcionamento
possa o mais depressa possível ser posto nas mãos do pessoal local, e
disponham-se as coisas de modo que ao pessoal propriamente missionário seja
oferecida a possibilidade de dedicar as melhores energias ao ministério de ensino,
de santificação e de salvação.
Formação
no espírito de caridade universal
19.
Se é verdade que, para um apostolado o mais amplamente frutífero, é de primária
importância que o sacerdote nativo conheça e saiba com toda inteligência e
prudência estimar os valores locais, com ainda maior razão ficará sendo verdade
que para ele vale aquilo que o nosso imediato predecessor dizia de todos os
fiéis: "As perspectivas universais da Igreja serão as perspectivas normais
da sua vida cristã". [26]
Para
tal fim, deverá o clero local ser não somente informado dos interesses e das
vicissitudes da Igreja universal, mas também deverá ser educado numa íntima,
universal respiração de caridade. S. João Crisóstomo dizia das celebrações
litúrgicas cristãs: "Quando estamos no altar, oramos antes de tudo pelo
mundo inteiro e pelos interesses coletivos [27], e Santo Agostinho lindamente
afirmava: "Se queres amar Cristo, derrama a caridade por toda a terra,
porque os membros de Cristo estão no mundo inteiro" .[28].
20.
No desejo, justamente, de salvaguardar em toda a sua pureza este espírito
católico que deve animar a obra dos missionários, o nosso predecessor Bento XV
não hesitou em denunciar com expressões severas um perigo que podia fazer
perder de vista as altíssimas finalidades do apostolado missionário e, assim,
comprometer-lhe a eficácia: "Seria coisa bem triste se algum missionário
se revelasse tão descuidado de sua dignidade que pensasse mais na pátria
terrena do que na celeste, e se preocupasse excessivamente com dilatar o poder
dela e lhe estender a glória. Este modo de agir constituiria um dano
funestíssimo para o apostolado, e, no missionário, extinguiria todo impulso de
caridade para com as almas e lhe diminuiria o prestígio na opinião do
povo". [29]
21.
O mesmo perigo poderia hoje repetir-se sob outras formas, pelo facto de em
muitos territórios de missão se ir tornando geral a aspiração dos povos ao
autogoverno e à independência, e a conquista das liberdades civis poder
infelizmente acompanhar-se de excessos que absolutamente não estão em harmonia
com os autênticos e profundos interesses espirituais da humanidade.
22.
Estamos plenamente confiante de que o clero nativo, movido por sentimentos e
por propósitos superiores em conformidade com as exigências universalistas da religião
cristã, contribuirá outrossim para o bem real da própria nação.
23.
"A Igreja de Deus é católica, e não é estrangeira, para nenhum povo ou
nação", [30] dizia o mesmo nosso predecessor, e nenhuma Igreja local
poderá exprimir a sua união vital com a Igreja universal se o seu clero e o seu
povo se deixarem sugestionar pelo espírito particularista, por sentimentos de
malevolência para com os outros povos, por um mal compreendido nacionalismo que
destruiria a realidade dessa caridade universal que edifica a Igreja de Deus, a
única verdadeiramente "católica".
III. O LAICATO DAS MISSÕES
Os
leigos na vida da Igreja
24.
Insistindo sobre a necessidade de preparar com o maior zelo o advento do clero
autóctone e de formá-lo adequadamente para sua finalidade, o nosso venerado
predecessor Bento XV certamente não pretendeu excluir a importância, também
fundamental, de um laicato nativo à altura da sua vocação cristã e empenhado no
apostolado. Isso fê-lo expressamente e com todo o relevo o nosso imediato predecessor
Pio XII, [31] que muitas vezes voltou sobre este assunto vital que, hoje mais
do que nunca, se impõe à consideração e requer ser resolvido, em toda parte, na
medida máxima possível.
25.
O mesmo Pio XII – e isto redunda em seu singular mérito e louvor – com copiosa
doutrina e renovados incitamentos advertiu e incentivou os leigos a assumirem
solicitamente o seu lugar activo no campo do apostolado em colaboração com a
hierarquia eclesiástica, com efeito, desde os primórdios da história cristã e
em todas as épocas sucessivas, esta colaboração dos fiéis fez com que os Bispos
e o clero pudessem eficazmente desenvolver a sua obra entre os povos, quer no
campo propriamente religioso, quer no campo social.
Pode
e deve isto verificar-se também nos nossos tempos, que, antes, revelam maiores
necessidades, proporcionais a uma humanidade numericamente mais vasta e com
exigências espirituais multiplicadas e complexas.
Aliás,
onde quer que a Igreja é fundada, deve estar sempre presente e ativa com toda a
sua estrutura orgânica, e portanto não somente com a hierarquia nas suas várias
ordens, mas também com o laicato: e, portanto, é por meio do clero e dos leigos
que ela deve necessariamente desenvolver a sua obra de salvação. [32]
(cont)
(revisão da versão portuguesa por ama)
_________________________________________
Notas:
[13]
Pio XII, Exort. Apost. Menti Nostrae, AAS 42 (1950), p. 686.
[14]
Ibid.
[15]
Ibid. p. 687.
[16]
Carta Apost. Maximum illud: AAS 11(1919), p. 445.
[17]
Cf. Pio XII, Exort. Apost. Menti Nostrae: AAS 42(1950), p. 686.
[18]
Carta Apost. Maximum illud: AAS 11(1919), p. 448.
[19]
Carta enc. Evangelii praecones, AAS 43(1951), p. 500.
[20]
Ibid. p. 522.
[21]
Cf. Discurso aos participantes no II Congresso mundial dos escritores e
artistas negros: L'Osservatore Romano,de 3 de abril de 1959, AAS 51(1959), p.
260.
[22]
Pio XI, Carta enc. Rerum Ecclesiae: AAS 18(1926), p. 77.
[23]Carta
enc. Fidei donum, AAS 49(1957), p. 233.
[24]
Ibid.
[25]
Ibid., p. 231.
[26]
Ibid., p. 238.
[27]
Hom. II in II Cor., PG, 61, 398.
[28]In
Ep. Ioan. ad Parthos, tr 10, c. 5, PL, 35, 2060.
[29]Carta
Apost. Maximum illud, AAS 11(1919), p. 446.
[30]
Ibid. p. 445.
[31]
Carta enc. Evangelii praecones, AAS 43(1951), p. 510ss.
[32]
Cf. Pio XII, Carta enc. Mystici Corporis: AAS 35(1943), p. 200-201, Pio XI,
Carta enc. Rerum Ecclesiae: AAS 18(1926), p. 78.
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