Tempo comum XXX Semana
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As multidões interrogavam-no, dizendo: «Que devemos, pois, nós fazer?». 11
Respondendo, dizia-lhes: «Quem tem duas túnicas, dê uma ao que não tem; e quem
tem que comer, faça o mesmo». 12 Foram também publicanos, para serem
baptizados, e disseram-lhe: «Mestre, que devemos nós fazer?». 13 Ele
respondeu-lhes: «Não exijais nada além do que vos está fixado». 14
Interrogavam-no também os soldados: «E nós, que faremos?». Respondeu-lhes: «Não
façais violência a ninguém, nem denuncieis falsamente, e contentai-vos com o
vosso soldo». 15 Estando o povo na expectativa e pensando todos nos
seus corações que talvez João fosse o Cristo, 16 João respondeu,
dizendo a todos: «Eu, na verdade, baptizo-vos em água, mas virá um mais forte
do que eu, a Quem não sou digno de desatar as correias das sandálias; Ele vos
baptizará no Espírito Santo e no fogo; 17 tomará na Sua mão a pá,
limpará a Sua eira e recolherá o trigo no Seu celeiro, mas a palha queimá-la-á
num fogo inextinguível».
Comentário:
Por aqui se
pode ver que João é considerado como alguém a quem recorrer pelas pessoas
desejosas de levar uma vida correcta, fazer o que está certo e, com isso,
alcançarem as graças de Deus.
Pessoas de
todas as condições sociais e com os mais variados misteres que, mais tarde,
Jesus há-de considerar como «ovelhas
perdidas e sem pastor», encontram em João as respostas às suas dúvidas e
incertezas.
A Lei de
Deus tal como era conduzida e imposta pelos chefes do povo, os Príncipes dos
Sacerdotes e os anciãos que se consideravam a eles próprios como os legítimos
detentores da verdade de Lei, tinha chegado a um ponto tal de exageros e
prescrições que se tornara uma «carga
insuportável» para os judeus de boa cepa.
E, o
Baptista, não deixa a ninguém sem resposta, uma orientação, um conselho e,
também, um aviso a levar muito a sério: preparar o caminho, as almas, os
corações para a vinda eminente do Salvador arrependendo-se e mudando de vida.
(ama,
comentário sobre Lc 3, 10-18, 2012.12.16)
Leitura espiritual
HISTÓRIA
DE UMA ALMA
Santa Teresinha do Menino Jesus
Manuscrito "A" -
Parte I
…/3
Aconteceu-me, mais uma
vez, outra peripécia com Vitória, mas não tive nenhum arrependimento, pois
conservei perfeitamente minha serenidade. - Desejava ter um tinteiro que se
encontrava em cima da chaminé da cozinha. Sendo muito pequena para o tomar,
pedi à Vitória muito delicadamente mo entregasse, mas ela o recusou e mandou-me
subir numa cadeira. Sem dizer nada, tomei, a cadeira, mas a pensar que não era
atenciosa. Querendo fazer que o sentisse, busquei em minha cabecinha o que mais
me ofendia. Quando se aborrecia comigo, ela chamava-me de
"pirralhinho", o que muito me humilhava. Então, antes de pular da
minha cadeira abaixo, virei-me com dignidade e disse-lhe: "Vitória, sois
um pirralho!" Depois escapei dali, deixando que meditasse a profunda
declaração que eu acabava de fazer-lhe... A reação não se fez esperar. Logo a
escutei, que esbravejava: "Senhorita Maria... a Teresa acaba de dizer-me
que não passo de um pirralho!" Veio Maria e obrigou-me a pedir perdão, o
que, porém, fiz sem contrição, por achar merecido o título de pirralho, uma vez
que não quis estender seu grande braço para me prestar um pequeno serviço...
Entanto, ela me queria muito, e também eu gostava muito dela. Um dia, tirou-me
de grande risco em que caíra por culpa minha. Estava Vitória a passar roupa, e
tinha ao lado um balde com água dentro. Eu, porém, olhava para ela a
balouçar-me numa cadeira (e era hábito meu), e de repente me escapa a cadeira e
caio, não no chão, mas no fundo o balde!... Os pés tocavam na cabeça, e eu
abarrotava o balde como o pintinho abarrota o ovo!... A pobre da Vitória
contemplava-me com um extremo de surpresa, pois nunca tinha visto situação
igual. Tinha todo o empenho de safar-me quanto antes do meu balde, cousa que
resultava impossível. Minha prisão era tão ajustada que eu não lograva fazer
nenhum movimento. Com um pouco de dificuldade, ela salvou-me do meu grande
perigo, mas não salvou minha roupa e tudo o mais, de sorte que tive de trocar a
roupa, pois estava molhada que nem um pinto.
Outra ocasião caí dentro da
lareira. Felizmente o fogo não estava aceso. Vitória não teve senão o incômodo
de levantar-me e sacudir a cinza de que ficara coberta. Foi numa quarta-feira,
quando estáveis no ensaio de canto com Maria, que todos esses reveses me
aconteceram. Foi também numa quarta-feira que o Pe. Ducellier veio visitar-nos.
Como Vitória lhe dissesse que não havia ninguém em casa senão Teresinha, ele
entrou na cozinha para me visitar e olhou minhas lições. Muito desvanecida
fiquei em receber meu confessor, porque pouco tempo antes me tinha confessado
pela primeira vez. Que suave lembrança para mim!...
Ó minha Mãe querida! com
que solicitude me preparastes, quando me explicastes que não era a um homem,
mas ao Bom Deus que iria contar meus pecados. Disto estava tão convicta, que
fiz minha confissão com grande espírito de fé, e cheguei até a perguntar-vos,
se não seria mister referir ao Padre Ducellier que o amava de todo o meu
coração, pois que em sua pessoa era ao Bom Deus que ia falar...
Bem instruída a respeito
de tudo quanto devia fazer e dizer, entrei no confessionário e pus-me de
joelhos. Quando, porém, abriu o postigo, Padre Ducellier não enxergou ninguém.
Era tão pequena, que a cabeça não alcançava o parapeito, onde se apóiam as
mãos. Então mandou-me ficar de pé. Obedecendo imediatamente, levantei-me e postei-me
bem na frente dele para o ver melhor. Fiz minha confissão como se fosse uma
menina grande e recebi sua bênção com grande devoção, porque me havíeis
explicado que, nesse momento, as lágrimas do Menino Jesus purificariam minha
alma. Lembro-me de que a primeira exortação que me foi feita, incitava-me
principalmente a ter devoção à Santíssima Virgem, e prometi a mim mesma
redobrar minha ternura para com ela. Ao sair do confessionário estava tão
contente e lépida, como jamais sentira tamanha alegria na alma. Depois, tornava
a confessar-me em todas as grandes festas litúrgicas, e para mim era cada vez
um verdadeiro gozo, quando o fazia.
Os dias santos!... Ah!
quantas recordações não desperta esta palavra! Os dias santos, como os
amava!... Vós, minha querida Mãe, sabíeis explicar-me tão bem todos os
mistérios ocultos em cada um deles, que para mim eram verdadeiramente dias do
Céu. Gostava mormente das procissões do Santíssimo Sacramento. Que alegria
espalhar flores aos pés do Bom Deus!... Antes, porém, de deixá-las cair,
atirava-as o mais alto que podia, e nunca me dava por tão feliz como na ocasião
que via minhas rosas desfolhadas tocarem no sagrado Ostensório...
Os dias santos! Ah! se os
grandes eram raros, cada semana trazia de novo um muito chegado ao meu coração:
"o Domingo!" Que dia grande, o Domingo!...
Era o dia santo do Bom
Deus, o dia santo do repouso. Primeiro ficava nanando mais tempo do que nos
outros dias, e depois mamãe Paulina mimava sua filhinha, quando lhe servia o
chocolate em sua dormida, e ato contínuo a vestia como uma rainhazinha... Vinha
a madrinha fazer o penteado da afilhada. Esta nem sempre ficava quietinha,
quando lhe assentavam o cabelo, mas depois tinha toda a satisfação de ir pegar
a mão de seu Rei que, em tal dia, lhe dava um abraço mais afectuoso do que de
ordinário, pois toda a família se movimentava para a Missa. Em todo o trajeto
do caminho, e mesmo dentro da igreja, a "Rainhazinha do Papai"
dava-lhe a mão. Tomava lugar ao lado dele, e quando nos víamos obrigados a
chegar mais adiante para o sermão, era preciso ainda encontrar dois assentos,
um ao lado do outro. Não se tornava muito difícil. Toda a gente parecia achar
tão amorável ver um ancião tão imponente com uma filha tão pequenina, que as
pessoas não se incomodavam em ceder seus lugares. Meu tio que ficava nos bancos
dos fabriqueiros, alegrava-se quando nos via chegar. Dizia ser eu seu mimoso
raio de Sol... Por mim, não me inquietava de ser alvo de olhares. Ouvia muito
atenta os sermões, dos quais, aliás, não alcançava muita cousa. O primeiro que
entendi, e que me comoveu profundamente foi um sermão sobre a Paixão, pregado
pelo Padre Ducellier. Dali por diante entendi todos os outros sermões. Quando o
pregador falava de Santa Teresa, papai curvava-se para me dizer baixinho:
"Escuta bem, minha rainhazinha, ele fala de tua Santa Padroeira".
Realmente, estava escutando bem, mas olhava mais vezes para o papai do que para
o pregador. Seu belo semblante dizia-me tantas coisas!... Por vezes, seus olhos
marejavam-se de lágrimas. Em vão procurava sopitá-las. Parecia estar já
desligado da terra, tanto sua alma gostava de imergir nas verdades eternas...
Sua carreira, porém, estava longe do termo final. Longos anos deviam passar,
antes que o belo Céu se abrisse a seus olhos embevecidos, e o Senhor enxugasse
as lágrimas do seu bom e fiel servidor!...
Mas, novamente torno ao
meu dia de Domingo. Esse dia de gozo que passava tão depressa, tinha seu toque
de melancolia. Lembra-me que, até a hora de Completas, minha felicidade era sem
travo algum. Durante essa hora canónica, vinha-me o pensamento de que o dia de
repouso ia terminar... que no dia seguinte seria necessário recomeçar a vida,
trabalhando, aprendendo lições, e o coração sentia o exílio da terra...
Suspirava pelo eterno repouso do Céu, pelo Domingo sem ocaso da Pátria!...
(cont.)
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