Tempo comum XXIX Semana
15 Então, retirando-se os fariseus, consultaram entre si como O surpreenderiam
no que falasse. 16 Enviaram seus discípulos juntamente com os
herodianos, a dizer-Lhe: «Mestre, nós sabemos que és sincero, e que ensinas o
caminho de Deus segundo a verdade, sem dar preferência a ninguém, porque não
olhas às condições das pessoas. 17 Diz-nos, pois, o Teu parecer: é
lícito ou não dar o tributo a César?». 18 Jesus, conhecendo a sua
malícia, disse: «Porque Me tentais, hipócritas? 19 Mostrai-Me a
moeda do tributo». Eles apresentaram-Lhe um denário. 20 E Jesus
disse-lhes: «De quem é esta imagem e esta inscrição?». 21
Responderam: «De César». Então disse-lhes: «Dai, pois, a César o que é de César
e a Deus o que é de Deus».
Comentário:
Este talvez seja um dos maiores problemas do homem: ter bem claro o
que é de César e o que é de Deus!
Para tal é indispensável um são critério e agir de acordo sempre e em
qualquer circunstância já que a ‘propriedade’ não muda e nem o ‘seu dono’
abdica dela.
(ama, comentário sobre Mt 22, 15-21,
2014.09.08)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CARTA ENCÍCLICA
SUMMI PONTIFICATUS
DO SUMO PONTÍFICE
PAPA PIO XII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES,
ARCEBISPOS E BISPOS
E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE O OFÍCIO DO PONTIFICADO
I. SOB O SINAL DE
CRISTO-REI
17.
Talvez nos seja lícito esperar – e Deus o permita – que esta hora de máxima
indigência seja também uma hora de rectificação do pensar e sentir de muitos que
até agora palmilhavam, com cega confiança, o caminho semeado de erros modernos,
sem suspeitarem quão insidioso e falso era o terreno que pisavam. Muitos
talvez, que não compreendiam a importância da missão da Igreja, perceberão
melhor agora os seus avisos, por eles descurados na falsa segurança de tempos
passados. As angústias do presente são uma apologia do cristianismo, e não
poderia ser mais impressionante. Do gigantesco vórtice de erros e movimentos
anticristãos originaram-se frutos tão amargos que constituem uma condenação,
cuja eficácia supera qualquer confutação teórica.
18.
Horas de tão penosa desilusão são muitas vezes horas de graça, uma
"passagem: do Senhor" (Ex 12, 11) nas quais; à palavra do Salvador:
"Eis que estou à porta, e bato" (Ap 3, 20) abrem-se as portas que, de
outra maneira, se conservariam fechadas. Bem sabe Deus com que amor compassivo,
com que santa alegria o nosso coração se volta para aqueles que, em meio de tão
dolorosas experiências, sentem nascer em si o imperioso e salutar desejo da
verdade, da justiça e da paz de Cristo. Mas também por aqueles que aguardam
ainda a luz superna que os ilumine, o nosso coração não conhece senão amor, e
de nossos lábios não se desprendem senão preces ao Pai das luzes pedindo-lhe
que faça resplandecer em suas almas, indiferentes ou inimigas de Cristo, um
raio daquela luz que transformou um dia Saulo em Paulo, daquela luz que
demonstrou sempre a sua força misteriosa mesmo nos tempos mais difíceis para a
Igreja.
Os
erros dos tempos presentes
19.
Uma atitude bem definida, doutrinal e completa, contra os erros dos tempos
presentes poderá ser adiada, se for preciso, para uma época menos agitada pelas
desgraças dos acontecimentos externos; por ora limitar-nos-emos a algumas
observações fundamentais.
20.
A época actual, veneráveis irmãos, acrescentando novos erros aos desvios
doutrinais do passado, levou-os a extremos dos quais se não podia originar
senão desorientação e ruína. E antes de tudo, é certo que a raiz profunda e
última dos males que deploramos na sociedade moderna é a negação e repulsa de
uma norma de moralidade universal, quer na vida individual, quer na vida social
e das relações internacionais, isto é, o desconhecimento, tão difundido nos
nossos tempos, e o esquecimento da própria lei natural, que tem o seu
fundamento em Deus, criador omnipotente e Pai de todos, legislador supremo e
absoluto, omnisciente e justo vingador das acções humanas. Quando se renega
Deus, abala-se toda a base de moralidade; sufoca-se ou, pelo menos, debilita-se
de muito a voz da natureza, que ensina, até aos iletrados e às tribos ainda
alheias à civilização, o que é bem e o que é mal, o que é lícito e o que é
ilícito, e faz sentir a responsabilidade das próprias acções perante o Juiz
supremo.
21.
Pois bem, a negação da base fundamental da moralidade teve, na Europa, a sua
raiz originária no afastamento daquela doutrina de Cristo, de que é depositária
e mestra a cátedra de são Pedro; doutrina que, em tempos idos, dera certa coesão
espiritual à Europa, a qual, educada, enobrecida e civilizada pela cruz,
chegara a tal grau de progresso civil que a fizera mestra de outros povos e de
outros continentes. Afastando-se, ao invés, do magistério infalível da Igreja,
não poucos chegaram até a subverter o dogma central do cristianismo, a
divindade do Salvador, acelerando assim o processo de dissolução espiritual.
Indícios
de paganismo
22.
Narra o santo evangelho que, ao crucificarem Jesus, "escureceu-se toda a
terra" (Mt 27, 45); pavoroso símbolo do que acontece e continua a
acontecer espiritualmente onde a incredulidade, cega e orgulhosa de si mesma,
exclui Cristo da vida moderna, especialmente da vida pública, e abalando a fé
em Cristo abala também a fé em Deus. E por conseguinte, os valores morais,
pelos quais noutros tempos se julgavam as acções privadas e públicas, arcaram
como que em desuso. A tão decantada laicização da sociedade, que tem feito progressos
cada vez mais rápidos, subtraindo o homem, a família e o Estado ao benéfico e
regenerador influxo da ideia de Deus e do ensino da Igreja, fez ressurgir, em
regiões onde por espaço de tantos séculos brilharam os fulgores da civilização
cristã, indícios, cada vez mais claros, mais distintos e angustiosos de um
paganismo corrompido e corruptor: "Quando crucificaram Jesus obscureceu-se
toda a terra". (3)
23.
Muitos talvez, ao se afastarem da doutrina de Cristo, não tiveram plena consciência
de serem enganados pela falsa miragem de frases brilhantes que proclamavam tal
afastamento como um libertar-se da escravidão a que julgavam estar antes
sujeitos; nem previam as amargas consequências da triste permuta entre a
verdade, que liberta, e o erro que escraviza; nem pensavam que, renunciando à
infinitamente sábia e paternal lei de Deus e à unificadora e nobre doutrina de
amor de Cristo, se entregavam ao arbítrio de uma pobre e mutável sabedoria
humana. Falavam de progresso quando retrocediam; de elevação, quando se
degradavam; de ascensão ao amadurecimento, quando caíam na escravidão; não
percebiam a vaidade de todo o esforço humano em substituir a lei de Cristo por
alguma outra coisa que a igualasse: "tornaram-se fátuos nos seus arrazoados"
(Rm 1, 21).
24.
Enfraquecida a fé em Deus e em Jesus Cristo, ofuscada nos ânimos a luz dos
princípios morais, fica a descoberto o único e insubstituível alicerce daquela
estabilidade e tranquilidade, daquela ordem externa, e interna, privada e
pública, única que pode gerar e salvaguardar a prosperidade dos Estados.
25.
É verdade também que nos tempos em que a Europa se irmanara com ideais
idênticos recebidos da pregação cristã, não faltaram dissídios, desordens e
guerras que a desolaram; mas talvez nunca se tenha experimentado tão agudamente
o desalento dos nossos dias sobre a possibilidade de conciliação; viva era
então a consciência do justo e do injusto, do lícito e do ilícito, que facilita
os entendimentos, enquanto freis o desencadear das paixões e deixa aberta a via
a um honesto acordo. Nos nossos dias, ao contrário, os dissídios provêm não
somente do ímpeto de paixões rebeldes, mas de uma profunda crise espiritual que
subverte os sãos princípios da moral privada e pública.
II. O ESQUECIMENTO DA LEI
DA CARIDADE
26.
Entre os multíplices erros derivados da fonte envenenada do agnosticismo
religioso e moral, queremos chamar a vossa atenção, veneráveis irmãos, para
dois de modo especial, que são, a bem dizer, os que tornam quase impossível, ou
ao menos precária e incerta, a convivência pacífica dos povos.
27.
O primeiro desses erros perniciosos, hoje largamente difundidos, é o
esquecimento daquela lei de caridade e solidariedade humana, sugerida e
imposta, quer pela identidade de origem, e pela igualdade da natureza racional
em todos os homens, sem distinção de povos, quer pelo sacrifício da redenção
oferecido por Jesus Cristo sobre a cruz ao Pai celeste em favor da humanidade
pecadora.
28.
De fato, logo na primeira página, narra-nos a Escritura com grandiosa
simplicidade que Deus, para coroar a sua obra criadora, fez o homem à sua
imagem e semelhança (Gn 1,26-27); e diz-nos a mesma Escritura que o enriqueceu
de dons e privilégios sobrenaturais, destinando-o a uma eterna e inefável
felicidade. Mostra-nos, além disso, como do primeiro casal tiveram origem os
outros homens, dando-nos a seguir, com insuperável plasticidade de linguagem, a
divisão em vários grupos e a sua dispersão pelas diversas partes do mundo.
Mesmo quando se afastaram do seu Criador, Deus continuou a considerá-los como
filhos que, segundo o seu misericordioso desígnio, deveriam um dia gozar ainda
da sua amizade (Gn 12, 3).
29.
O Apóstolo das gentes faz-se depois arauto desta verdade, que irmana os homens
numa grande família, quando anuncia ao povo grego que Deus "tirara de um
único tronco toda a progênie dos homens, para que povoassem toda a superfície
da terra, e determinara o curso da sua existência e os limites das suas
habitações, a fim de que procurassem o Senhor" (At 17, 26). Maravilhosa
visão que nos faz contemplar o gênero humano na unidade de uma origem comum em
Deus: um só "Deus e Pai de todos, aquele que está acima de todos, por
todos e em todos" (Ef 4, 6): na igualdade de natureza, igualmente
constituída em todos de corpo material e alma espiritual e imortal; na unidade
do fim imediato e da sua missão no mundo; na unidade de habitação, a terra, de
cujos bens, por direito natural, todos os homens podem valer-se a fim de
sustentar e desenvolver a vida; na unidade do fim sobrenatural, o próprio Deus,
a que todos devem tender; na unidade dos meios para conseguir tal fim.
30.
E o mesmo Apóstolo mostra-nos a humanidade na unidade de relações com o Filho
de Deus, imagem do Deus invisível, no qual foi criado tudo o que existe; na
unidade do resgate de todos operado por Cristo que, fazendo-se mediador entre
Deus e os homens, mediante sua santa e acerbíssima paixão restituíra à
humanidade a primitiva amizade de Deus: "Pois há um só Deus e um só
mediador entre Deus e os homens, um homem, Cristo Jesus" (1 Tm 2, 5).
31.
E para tornar mais íntima tal amizade entre Deus e a humanidade, este mesmo
mediador divino e universal de salvação e de paz, no sagrado silêncio do
Cenáculo, antes de consumar o sacrifício supremo, deixou cair de seus lábios
divinos a palavra que vem sendo repetida no correr dos séculos, suscitando ao
mesmo tempo heroísmos de caridade em meio de um mundo vazio de amor e
dilacerado pelo ódio: "Eis o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como
eu vos amei" (Jo 15, 12).
32.
Verdades sobrenaturais estas, que estabelecem bases profundas e solidíssimos
vínculos de união, reforçados pelo amor de Deus e do divino Redentor, do qual
recebem todos a saúde "pela edificação do corpo de Cristo, até que
cheguemos todos a unidade da fé, ao pleno conhecimento do Filho de Deus, ao
estado do homem perfeito, segundo a medida da plenitude de Cristo" (Ef 4,
12-13).
33.
À luz desta unidade de direito e de facto de toda a humanidade, os indivíduos
não nos aparecem desligados entre si, como grãos de areia; mas sim unidos por
relações, diversas com o variar dos tempos, mas orgânicas, harmoniosas e
mútuas, por natural e sobrenatural destino e impulso. E os povos, evoluindo e
diferenciando-se segundo as diversas condições de vida e de cultura, não são
destinados a quebrar a unidade do género humano, mas sim a enriquecê-lo e
aformoseá-lo, com a comunicação dos seus dotes peculiares e com aquela
recíproca permuta dos bens, possível e ao mesmo tempo eficaz somente quando um
mútuo amor e uma caridade vivamente sentida venha unir todos os filhos do mesmo
Pai e todos os redimidos pelo mesmo sangue divino.
34.
A Igreja de Cristo, fidelíssima depositária de uma sabedoria divina e
educativa, não pode cogitar nem cogita em criticar ou menosprezar as
características especiais que cada povo guarda, com ciosa devoção e
compreensível ufania, e considera como património precioso. O seu escopo é a
unidade sobrenatural no amor universal, sentido e praticado, e não a
uniformidade, exclusivamente exterior, superficial, e por isso mesmo
debilitante.
A
Igreja saúda jubilosa e acompanha com seus votos maternais todas as directrizes e solicitudes que visem a criterioso e ordenado desenvolvimento de forças e
tendências particulares e têm suas raízes nos mais recônditos escaninhos de
cada estirpe, contanto que não contrastem com os deveres da humanidade
derivados da unidade de origem e comum destino.
Na
sua atividade missionária, a Igreja vem afirmando repetidamente que tal norma é
a estrela polar do seu apostolado universal. Inúmeras pesquisas e investigações
de pioneiros, realizadas com sacrifício, amor e dedicação pelos missionários de
todos os tempos, propunham-se facilitar a compreensão interior e o respeito das
diversas formas de civilização, e tornar fecundos os valores espirituais por
meio da pregação viva e vital do evangelho de Cristo.
Tudo
o que em tais usos e costumes não seja indissoluvelmente ligado a erros
religiosos, será sempre benevolamente examinado, e quando possível, promovido e
tutelado. E o nosso imediato predecessor, de santa e veneranda memória, ao
aplicar tais normas a uma questão de singular delicadeza, tomou decisões
generosas que elevaram um monumento à vastidão do seu intuito e ao ardor do seu
espírito apostólico.
É
escusado dizer-vos, veneráveis irmãos, que entendemos prosseguir por esta via
sem a menor hesitação.
Todos
aqueles que passam a fazer parte da Igreja, qualquer seja a sua origem ou
língua, devem saber que têm igual direito de filhos na casa do Senhor, onde
impera a lei e a paz de Cristo. De acordo com estas normas de igualdade, a
Igreja consagra as suas solicitudes à formação de numeroso clero indígena e ao
aumento gradual do episcopado indígena. E para dar uma prova destas nossas
intenções, escolhemos a iminente festa de Cristo-Rei para elevar à dignidade
episcopal sobre o túmulo do príncipe dos apóstolos, doze representantes de
diversos povos e estirpes.
35.
Entre os dilacerantes contrastes que dividem a família humana, possa este ato
solene proclamar a todos os nossos filhos, esparsos pelo mundo, que o espírito,
o ensino e a obra da Igreja nunca poderão ser diversos daquilo que pregava o
Apóstolo das gentes: "E vos revestistes do homem novo, que se renova para
o conhecimento segundo a imagem do seu Criador. Aí não há mais grego e judeu,
circunciso e incircunciso, bárbaro; cita, escravo, livre, mas Cristo é tudo e
em todos" (Cl 3, 10-11).
(cont)
(Revisão da versão portuguesa por ama)
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Notas:
(3)
Breviário romano.
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