Nossa Senhora das Dores
Evangelho:
Jo 19, 25-27
«25 Estavam, de pé, junto à cruz de Jesus,
Sua mãe, a irmã de Sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. 26
Jesus, vendo Sua mãe e, junto dela, o discípulo que amava, disse a Sua mãe:
«Mulher, eis o teu filho». 27 Depois disse ao discípulo: «Eis a tua mãe». E,
desde aquela hora, o discípulo recebeu-a na sua casa.»
Comentário:
Ó Mater dolorosa junto da Cruz donde o Filho pendia
Estoicamente participando
No Sacrifício supremo, lacrimosa
Mas orando
Ao Pai que tal consente.
Ó Mater dolorosa
Que te traz aqui, Senhora minha?
Não sabes que Ele morreu?
Esse Filho teu
Teve uma morte gloriosa
Que na Cruz
Nos salvou a todos
Da morte mais horrorosa
A que ao pecado conduz.
Ó Mater Dolorosa
Como é bela a tua dor
Que torna mais preciosa
A morte do Salvador.
(ama, meditação sobre
Lc 2, 32-15, Convento de Monte Real 2010.09.15)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
INSTRUÇÃO
SOBRE ALGUNS ASPECTOS DA
“TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO”
X - UMA NOVA HERMENÊUTICA
1.
A concepção partidarista da verdade, que se manifesta na praxis revolucionária
de classe, corrobora esta posição. Os teólogos que não compartilham as teses da
“teologia da libertação”, a hierarquia e sobretudo o Magistério romano são
assim desacreditados a priori, como pertencentes à classe dos opressores. A
teologia deles é uma teologia de classe. Os argumentos e ensinamentos não
merecem pois ser examinados em si mesmos, uma vez que reflectem simplesmente os
interesses de uma classe. Por isso, decreta-se que o discurso deles é, em
princípio, falso.
2.
Aparece aqui o carácter global e totalizante da “teologia da libertação”. Por
isso mesmo, deve ser criticada não nesta ou naquela afirmação que ela faz, mas
a partir do ponto de vista de classes que ela adopta a priori e que nela
funciona como princípio hermenêutico determinante.
3.
Por causa deste pressuposto classista, torna-se extremamente difícil, para não
dizer impossível, conseguir com alguns “teólogos da libertação” um verdadeiro
diálogo, no qual o interlocutor seja ouvido e seus argumentos sejam discutidos
objetivamente e com atenção. Com efeito estes teólogos mais ou menos
conscientemente, partem do pressuposto de que o ponto de vista da classe
oprimida e revolucionária, que seria o mesmo deles constitui o único ponto de
vista da verdade. Os critérios teológicos da verdade, vêem-se, deste modo,
relativizados e subordinados aos imperativos da luta de classes. Nesta
perspectiva substitui-se a ortodoxia como regra correcta da fé pela ideia da
ortopráxis, como critério de verdade. A este respeito, é preciso não confundir
a orientação prática, própria à teologia tradicional, do mesmo modo e pelo
mesmo título que lhe é própria também a orientação especulativa, com um primado
privilegiado, conferido a um determinado tipo de praxis. Na realidade esta
última é a praxis revolucionária que se tornaria assim critério supremo da
verdade teológica. Uma metodologia teológica sadia toma em consideração, sem
dúvida, a praxis da Igreja e nela encontra um dos seus fundamentos, mas isto
porque essa praxis é decorrência da fé e constitui uma expressão vivenciada
dessa fé.
4.
A doutrina social da Igreja é rejeitada com desdém. Esta procede, afirma-se, da
ilusão de um possível compromisso, próprio das classes médias, destituídas de
sentido histórico.
5.
A nova hermenêutica inserida nas “teologias da libertação” conduz a uma
releitura essencialmente política da Escritura. É assim que se atribui a máxima
importância ao acontecimento do Êxodo, enquanto libertação da escravidão
política. Propõe-se igualmente una leitura política do Magnificat. O erro aqui
não está em privilegiar uma dimensão política das narrações bíblicas; mas em
fazer desta dimensão a dimensão principal e exclusiva, o que leva a uma leitura
redutora da Escritura.
6.
Quem assim procede, coloca-se por isso mesmo na perspectiva de um messianismo
temporal, que é uma das expressões mais radicais da secularização do Reino de
Deus e de sua absorção na imanência da história humana.
7.
Privilegiar deste modo a dimensão política, é o mesmo que ser levado a negar a
radical novidade do Novo Testamento e, antes de tudo, a desconhecer a pessoa de
Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, bem como o carácter
específico da libertação que Ele nos traz e que é fundamentalmente libertação
do pecado, fonte de todos os males.
8.
Aliás, pôr de lado a interpretação autorizada do Magistério, denunciada como
interpretação de classe, é afastar-se automaticamente da Tradição. É, por isso
mesmo, privar-se de um critério teológico essencial para a interpretação e
acolher no vazio assim criado, as teses mais radicais da exegese racionalista.
Retoma-se, então, sem espírito crítico, a oposição entre o “Jesus da história”
e o “Jesus da fé”.
9.
Conserva-se, sem dúvida, a letra das fórmulas da fé, especialmente a de Calcedónia,
mas atribui-se a essas fórmulas um novo significado, que constitui uma negação
da fé da Igreja. De um lado, rejeita-se a doutrina cristológica apresentada
pela Tradição, em nome do critério de classe; e de outro lado, pretende-se
chegar ao “Jesus da história” a partir da experiência revolucionária da luta
dos pobres pela sua libertação.
10.
Pretende-se reviver uma experiência análoga à que teria sido a de Jesus. A experiência
dos pobres lutando pela sua libertação, que teria sido a de Jesus, e só ela,
revelaria assim o conhecimento do verdadeiro Deus e do Reino.
11.
É claro que a fé no Verbo encarnado, morto e ressuscitado por todos os homens,
a Quem “Deus fez Senhor e Cristo” [25] é negada. Toma o seu lugar uma “figura”
de Jesus, uma espécie de símbolo que resume em si mesmo as exigências da luta
dos oprimidos.
12.
Propõe-se assim uma interpretação exclusivamente política da morte de Cristo.
Nega-se desta maneira o seu valor salvífico e toda a economia da redenção.
13.
A nova interpretação atinge assim todo o conjunto do mistério cristão.
14.
De um modo geral, ela opera o que se poderia chamar de inversão dos símbolos.
Assim, em lugar de ver no Êxodo com São Paulo, uma figura do batismo, [26] se
tenderá ao extremo de fazer deste um símbolo da libertação política do povo.
15.
Pelo mesmo critério hermenêutico, aplicado à vida eclesial e à constituição
hierárquica da Igreja, as relações entre a hierarquia e a “base” tornam-se
relações de dominação que obedecem à lei da luta de classes. A
sacramentalidade, que está na raiz dos ministérios eclesiásticos e que faz da
Igreja uma realidade espiritual que não se pode reduzir a uma análise puramente
sociológica, é simplesmente ignorada.
16.
Verifica-se ainda a inversão dos símbolos no domínio dos sacramentos. A
Eucaristia não é mais entendida na sua verdade de presença sacramental do
sacrifício reconciliador e como dom do Corpo e do Sangue de Cristo. Torna-se
celebração do povo na sua luta. Por conseguinte, a unidade da Igreja é
radicalmente negada. A unidade, a reconciliação, a comunhão no amor não mais
são concebidas como um dom que recebemos de Cristo. [27] É a classe histórica
dos pobres que, mediante o combate, construirá a unidade. A luta de classes é o
caminho desta unidade. A Eucaristia torna-se, deste modo, Eucaristia de classe.
Nega-se também, ao mesmo tempo a força triunfante do amor de Deus que nos é
dado.
XI - ORIENTAÇÕES
1.
Chamar a atenção para os graves desvios que algumas “teologias da libertação”
trazem consigo não deve, de modo algum, ser interpretado como uma aprovação,
ainda que indirecta, aos que contribuem para a manutenção da miséria dos povos,
aos que dela se aproveitam, aos que se acomodam ou aos que ficam indiferentes
perante esta miséria. A Igreja, guiada pelo Evangelho da Misericórdia e pelo
amor ao homem, escuta o clamor pela justiça [28] e deseja responder com todas
as suas forças.
2.
Um imenso apelo é assim dirigido à Igreja. Com audácia e coragem, com
clarividência e prudência, com zelo e força de ânimo, com um amor aos pobres
que vai até ao sacrifício, os pastores, como muitos já fazem, hão-de considerar
como tarefa prioritária responder a este apelo.
3.
Todos aqueles, sacerdotes, religiosos e leigos que, auscultando o clamor pela
justiça, quiserem trabalhar na evangelização e na promoção humana, fá-lo-ão em
comunhão com seu bispo e com a Igreja, cada um na linha de sua vocação eclesial
específica.
4.
Conscientes do carácter eclesial de sua vocação, os teólogos colaborarão
lealmente e em espírito de diálogo com o Magistério da Igreja. Saberão
reconhecer no Magistério um dom de Cristo à sua Igreja [29] e acolherão a sua
palavra e as suas orientações com respeito filial.
5.
Somente a partir da tarefa evangelizadora, tomada na sua integralidade, se
compreendem as exigências de uma promoção humana e de uma libertação
autênticas. Esta libertação tem como pilares indispensáveis, a verdade sobre
Jesus Cristo, o Salvador, a verdade sobre a Igreja, a verdade sobre o homem e
sobre a sua dignidade. [30] É à luz das bem-aventuranças, da bem-aventurança
dos pobres de coração em primeiro lugar, que a Igreja, desejosa de ser no mundo
inteiro a Igreja dos pobres, quer servir a nobre causa da verdade e da justiça.
Ela dirige-se a cada homem e, por isso mesmo, a todos os homens. Ela é a “Igreja
universal. A Igreja do mistério da encarnação. Não é a Igreja de uma classe ou
de uma só casta. Ela fala em nome da própria verdade. Esta verdade é realista”.
Ela leva a ter em conta “cada realidade humana, cada injustiça, cada tensão,
cada luta”. [31]
6.
Uma defesa eficaz da justiça deve apoiar-se na verdade do homem, criado à
imagem de Deus e chamado à graça da filiação divina. O reconhecimento da
verdadeira relação do homem com Deus constitui o fundamento da justiça,
enquanto regula as relações entre os homens. Esta é a razão pela qual o combate
pelos direitos do homem, que a Igreja não cessa de promover, constitui o
autêntico combate pela justiça.
7.
A verdade do homem exige que este combate seja conduzido por meios que estejam
de acordo com a dignidade humana. Por isso o recurso sistemático e deliberado à
violência cega, venha de um lado ou de outro, deve ser condenado. [32] Pôr a
confiança em meios violentos na esperança de instaurar uma maior justiça é ser
vítima de uma ilusão fatal. Violência gera violência e degrada o homem. Rebaixa
a dignidade do homem na pessoa das vítimas e avilta esta mesma dignidade
naqueles que a praticam.
8.
A urgência de reformas radicais que incidam sobre estruturas que segregam a
miséria e constituem, por si mesmas, formas de violência, não podem fazer
perder de vista que a fonte da injustiça se encontra no coração dos homens. Não
se obterão pois mudanças sociais que estejam realmente ao serviço do homem
senão fazendo apelo às capacidades éticas da pessoa e à constante necessidade
de conversão interior. [33] Pois na medida em que colaborarem livremente, por
sua própria iniciativa e em solidariedade, nestas necessárias mudanças, os
homens, despertados no sentido de sua responsabilidade, crescerão em
humanidade. A inversão entre moralidade e estruturas é própria de uma
antropologia materialista, incompatível com a verdade do homem.
9.
É pois igualmente ilusão fatal crer que novas estruturas darão origem por si
mesmas a um “homem novo”, no sentido da verdade do homem. O cristão não pode
desconhecer que o Espírito Santo que nos foi dado é a fonte de toda verdadeira
novidade e que Deus é o senhor da história.
(cont)
(revisão
da versão portuguesa por ama)
______________________________________________
Notas:
[25]
Cf. At 2, 36.
[26]
Cf. 1 Cor 10, 1-2.
[27]
Cf. Ef 2, 11-12.
[28]
Cf. Doc. de Puebla, I, 2, n. 3. 3.
[29]
Cf. Lc 10, 16.
[30]
Cf. João Paulo PP. II, Discurso na abertura da Conferência de Puebla: AAS 71,
1979, pp. 188-186.
[31]
Cf. João Paulo PP. II, Discurso na Favela “Vidigal”, no Rio de Janeiro, 2 de
Julho de 1980: AAS 72, 1980, pp. 852-858.
[32]
Cf. Doc. de Puebla, II, 2, n. 5. 4.
[33]
Cf. Doc. de Puebla, IV, 3, n. 3. 3.
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