Santíssimo Nome de Maria
Evangelho:
Lc 6, 39-42
39
Dizia-lhes também esta comparação: «Pode, porventura, um cego guiar outro cego?
Não cairão ambos nalguma cova? 40 O
discípulo não é mais que o mestre; mas todo o discípulo será perfeito, se for
como o seu mestre. 41 «Porque vês tu a palha no olho do teu irmão, e
não notas a trave que tens no teu?
42
Ou como podes tu dizer a teu irmão: “Deixa, irmão, que eu tire do teu olho a
palha”, não vendo tu mesmo a trave que tens no teu? Hipócrita, tira primeiro a
trave do teu olho, e depois verás bem para tirar a palha do olho de teu irmão.
Comentário:
Das palavras mais “fortes” que Jesus
Cristo usa nos Seus discursos é esta: Hipocrisia!
Realmente a hipocrisia é um defeito
sumamente detestável porque revela uma absoluta falta de inteireza de carácter.
O hipócrita não passa de um muito
sofrível actor que tenta personificar o que não é e dar de si uma imagem que
está longe de ter.
Normalmente, é alguém com a crítica
pronta e acutilante, seja qual for o motivo ou a circunstância, não perde a
ocasião de tentar mascarar os próprios defeitos com a “descoberta” dos defeitos
dos outros.
(ama, comentário sobre Lc 6, 39-42,
2014.0530)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
INSTRUÇÃO
SOBRE ALGUNS ASPECTOS DA
“TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO”
III - A LIBERTAÇÃO, TEMA
CRISTÃO
1.
Considerada em si mesma, a aspiração pela libertação não pode deixar de
encontrar eco amplo e fraterno no coração e no espírito dos cristãos.
2.
Assim, em consonância com esta aspiração, nasceu o movimento teológico e
pastoral conhecido pelo nome de “teologia da libertação”: num primeiro momento
nos países da América Latina, marcados pela herança religiosa e cultural do
cristianismo; em seguida, nas outras regiões do Terceiro Mundo, bem como em
alguns ambientes dos países industrializados.
3.
A expressão “teologia da libertação” designa primeiramente uma preocupação
privilegiada, geradora de compromisso pela justiça, voltada para os pobres e
para as vítimas da opressão. A partir desta abordagem podem distinguir-se
diversas maneiras, frequentemente inconciliáveis, de conceber a significação
cristã da pobreza e o tipo de compromisso pela justiça que ela exige. Como todo
movimento de ideias, as “teologias da libertação” englobam posições teológicas
diversificadas; suas fronteiras doutrinais são mal definidas.
4.
A aspiração pela libertação, como o próprio termo indica, refere-se a um tema
fundamental do Antigo e do Novo Testamento. Por isso, tomada em si mesma, a
expressão “teologia da libertação” é uma expressão perfeitamente válida:
designa, neste caso, uma reflexão teológica centrada no tema bíblico da
libertação e da liberdade e na urgência de suas incidências práticas. A
convergência entre a aspiração pela libertação e as teologias da libertação não
é pois fortuita. O significado desta convergência não pode ser compreendido
correctamente senão à luz da especificidade da mensagem da Revelação,
autenticamente interpretada pelo Magistério da Igreja. [2]
IV - FUNDAMENTOS BÍBLICOS
1.
Uma teologia da libertação correctamente entendida constitui, pois, um convite
aos teólogos a aprofundarem certos temas bíblicos essenciais, com o espírito
atento às graves e urgentes questões que a actual aspiração pela libertação e
os movimentos de libertação, eco mais ou menos fiel dessa aspiração, põem à
Igreja. Não é possível esquecer, por um só instante, as situações de dramática miséria
de onde brota a interpelação assim lançada aos teólogos.
2.
A experiência radical da liberdade cristã [3] constitui aqui o primeiro ponto
de referência. Cristo, nosso Libertador, libertou-nos do pecado e da escravidão
da lei e da carne, que constitui a marca da condição do homem pecador. Ê pois a
vida nova da graça, fruto da justificação, que nos torna livres. Isto significa
que a mais radical das escravidões é a escravidão do pecado. As demais formas
de escravidão encontram pois, na escravidão do pecado, a sua raiz mais profunda.
É por isso que a liberdade, no pleno sentido cristão, caracterizada pela vida
no Espírito, não pode ser confundida com a licença de ceder aos desejos da
carne. Ela é vida nova na caridade.
3
As “teologias da libertação” recorrem amplamente à narração do Livro do Êxodo.
Este constitui, de facto, o acontecimento fundamental na formação do Povo
eleito. É preciso não perder de vista, contudo, que o significado específico do
acontecimento provém de sua finalidade, já que esta libertação está orientada
para a constituição do povo de Deus e para o culto da Aliança celebrado no
Monte Sinai. [4] Por isso a libertação do Êxodo não pode ser reduzida a uma
libertação de natureza prevalentemente ou exclusivamente política. É significativo,
de resto, que o termo libertação seja às vezes substituído na Sagrada Escritura
pelo outro, muito semelhante, de redenção.
4.
Jamais se apagará da memória de Israel o episódio que originou o Êxodo. Ele é o
ponto de referência quando, após a destruição de Jerusalém e o Exílio de
Babilónia, o Povo eleito vive na esperança de uma nova libertação e, para além
dessa, na expectativa de uma libertação definitiva. Nesta experiência, Deus é
reconhecido como o Libertador. Ele estabelecerá com seu povo uma nova Aliança,
marcada pelo dom do seu Espírito e pela conversão dos corações. [5]
5.
As múltiplas angústias e desgraças experimentadas pelo homem fiel ao Deus da
Aliança servem de tema para diversos salmos: lamentações, pedidos de socorro, acções
de graças referem-se à salvação religiosa e à libertação. Neste contexto, a
desgraça não se identifica pura e simplesmente com uma condição social de
miséria ou com a sorte de quem sofre opressão política. Inclui também a
hostilidade dos inimigos, a injustiça, a morte e a culpa. Os salmos remetem-nos
para uma experiência religiosa essencial: somente de Deus se espera a salvação
e o remédio. Deus, e não o homem, tem o poder de mudar as situações de
angústia. Assim, os “pobres do Senhor” vivem numa dependência total e confiante
na providência amorosa de Deus. [6] Aliás, durante toda a travessia do deserto,
o Senhor nunca deixou de prover à libertação e à purificação espirituais de seu
povo.
6.
No Antigo Testamento, os profetas, desde Amos, não cessam de recordar, com
particular vigor, as exigências da justiça e da solidariedade e de formular um
juízo extremamente severo sobre os ricos que oprimem o pobre. Tomam a defesa da
viúva e do órfão. Proferem ameaças contra os poderosos: a acumulação de
iniquidades acarretará necessariamente terríveis castigos. Isto porque não se
concebe a fidelidade à Aliança sem a prática da justiça. A justiça em relação a
Deus e a justiça em relação aos homens são inseparáveis. Deus é o defensor e o
libertador do pobre.
7.
Semelhantes exigências encontram-se também no Novo Testamento. Ali são até
radicalizadas, como demonstra o discurso das Bem-aventuranças. Conversão e
renovação devem operar-se no mais íntimo do coração.
8.
Já anunciado no Antigo Testamento, o mandamento do amor fraterno estendido a
todos os homens constitui agora a suprema norma da vida social. [7] Não há
discriminações ou limites que possam opor-se ao reconhecimento de todo e
qualquer homem como o próximo. [8]
9.
A pobreza por amor ao Reino é exaltada. E na figura do Pobre, somos levados a
reconhecer a imagem e como que a presença misteriosa do Filho de Deus que se
fez pobre por nosso amor. [9] Este é o fundamento das inexauríveis palavras de
Jesus sobre o Juízo, em Mt 25, 31-46. Nosso Senhor é solidário com toda
desgraça; toda desgraça leva a marca de sua presença.
10.
Contemporaneamente as exigências da justiça e da misericórdia, já enunciadas no
Antigo Testamento, são aprofundadas a ponto de revestirem no Novo Testamento um
novo significado. Aqueles que sofrem ou são perseguidos são identificados com
Cristo. [10] A perfeição que Jesus exige de seus discípulos (Mt 5, 18) consiste
no dever de serem misericordiosos “como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 36).
11.
É à luz da vocação cristã ao amor fraterno e à misericórdia que os ricos são
severamente admoestados para que cumpram o seu dever. [11]São Paulo, perante as
desordens na Igreja de Corinto, acentua vigorosamente a ligação que existe
entre tomar parte no sacramento do amor e repartir o pão com o irmão que se
encontra em necessidade. [12]
12.
A Revelação do Novo Testamento ensina-nos que o pecado é o mal mais profundo,
que atinge o homem no cerne da sua personalidade. A primeira libertação, ponto
de referência para as demais, é a do pecado.
13.
Se o Novo Testamento se abstém de exigir previamente, como pressuposto para a
conquista desta liberdade, uma mudança da condição política e social, é sem
dúvida, para salientar o carácter radical da emancipação trazida por Cristo,
oferecida a todos os homens, sejam eles livres ou escravos politicamente.
Contudo a Carta a Filémon mostra que a nova liberdade, trazida pela graça de
Cristo, deve necessariamente ter repercussão também no campo social.
14.
Não se pode portanto restringir o campo do pecado, cujo primeiro efeito é o de
introduzir a desordem na relação entre o homem e Deus, àquilo que se denomina “pecado
social”. Na verdade, só uma adequada doutrina sobre o pecado permitirá insistir
sobre a gravidade de seus efeitos sociais.
15.
Não se pode tampouco situar o mal unicamente ou principalmente nas “estruturas”
económicas, sociais ou políticas, como se todos os outros males derivassem
destas estruturas como de sua causa: neste caso a criação de um “homem novo”
dependeria da instauração de estruturas económicas e socio-políticas diferentes.
Há, certamente, estruturas iníquas e geradoras de iniquidades, e é preciso ter
a coragem de mudá-las. Fruto da acção do homem, as estruturas boas ou más são
consequências antes de serem causas. A raiz do mal encontra-se, pois, nas
pessoas livres e responsáveis, que devem ser convertidas pela graça de Jesus
Cristo, para viverem e agirem como criaturas novas, no amor ao próximo, na
busca eficaz da justiça, do auto-domínio e do exercício das virtudes. [13]
Ao
estabelecer como primeiro imperativo a revolução radical das relações sociais e
ao criticar, a partir desta posição, a busca da perfeição pessoal, envereda-se
pelo caminho da negação do sentido da pessoa e de sua transcendência, e
destroem-se a ética e o seu fundamento, que é o carácter absoluto da distinção
entre o bem e o mal. Ademais, sendo a caridade o princípio da autêntica
perfeição, esta não pode ser concebida sem abertura aos outros e sem espírito
de serviço.
(cont)
(Revisão da versão portuguesa por ama)
________________________________________
Notas:
[2]
Cf. Dei Verbum, n. 10.
[3]
Cf. Gál 5, 1 ss.
[4]
Cf. Êx 24.
[5]
Cf. Jer 31, 31-34; Ez 36, 26 ss.
[6]
Cf. Sof 3, 12 ss.
[7]
Cf. Deut 10, 18-19.
[8]
Cf. Lc 10, 25-27.
[9]
Cf. 2 Cor 8, 9.
[10]
Cf. Mt 25, 31-46; At 9, 4-5; Col 1, 24.
[11]
Cf. Tg 5, 1 ss.
[12]
Cf. 1 Cor 11, 17-34.
[13]
Cf. Tg 2, 14-26.
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