Evangelho: Mt 23, 27-32
23 «Ai de
vós, escribas e fariseus hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã e do endro
e do cominho, e descuidais as coisas mais importantes da Lei: a justiça, a
misericórdia e a fidelidade! São estas coisas que era preciso praticar, sem
omitir as outras. 24 Condutores cegos, que filtrais um mosquito e
engolis um camelo! 25 «Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas,
que limpais o que está por fora do copo e do prato, e por dentro estais cheios
de rapina e de imundície! 26 Fariseu cego, purifica primeiro o que
está dentro do copo e do prato, para que também o que está fora fique limpo.27
«Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que sois semelhantes aos sepulcros
branqueados, que por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de
ossos de mortos e de toda a espécie de podridão! 28 Assim também vós
por fora pareceis justos aos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia
e iniquidade. 29 «Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que
edificais os sepulcros dos profetas e adornais os túmulos dos justos, 30
e dizeis: “Se nós tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido
seus cúmplices no derramamento do sangue dos profetas!”. 31 Assim
dais testemunho contra vós mesmos de que sois filhos daqueles que mataram os
profetas, e 32 acabais de encher a medida de vossos pais.
Comentário:
Os filhos são culpados dos pecados dos progenitores?
Não, evidentemente, mas sofrem as consequências desses
mesmos pecados, isto se não procurarem reparar e de alguma forma redimir os
danos.
Deus não deixa de dar oportunidades a cada um de o
fazer, aliás, como Jesus Cristo faz com os escribas e fariseus.
(ama,
comentário sobre Mt 23, 27-32, 2013.08.28)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
INSTRUÇÃO
LIBERTATIS CONSCIENTIA
SOBRE A LIBERDADE CRISTÃ E A
LIBERTAÇÃO
«A verdade nos liberta»
INTRODUÇÃO
Aspirações
à liberdade
1. A consciência da
liberdade e da dignidade do homem, conjugada com a afirmação dos direitos
inalienáveis da pessoa e dos povos, é uma das características predominantes do
nosso tempo. Ora, a liberdade exige condições de ordem económica, social,
política e cultural que tornem possível o seu pleno exercício. A viva percepção
dos obstáculos que a impedem de se desenvolver e ofendem a dignidade humana
encontra-se na origem das fortes aspirações à libertação que hoje fermentam em
nosso mundo.
A Igreja de Cristo faz
suas tais aspirações, ao mesmo tempo que exerce o seu discernimento à luz do
Evangelho que, pela sua própria natureza, é mensagem de liberdade e de
libertação. Com efeito, essas aspirações assumem, às vezes, nos níveis quer
teórico quer prático, expressões nem sempre conformes com a verdade do homem,
tal como esta se manifesta à luz da sua criação e da sua redenção. Por isso, a
Congregação para a Doutrina da Fé julgou necessário chamar a atenção para
«desvios, ou riscos de desvios, prejudiciais à fé e à vida cristã». 1 Longe de
terem perdido valor, aquelas advertências mostram-se cada vez mais pertinentes
e oportunas.
Finalidade
da Instrução
2. A Instrução «Libertatis
Nuntius» acerca de alguns aspectos da teologia da libertação anunciava que a
Congregação tencionava publicar un segundo documento, que poria em evidência os
principais elementos da doutrina cristã acerca da liberdade e da libertação. A
presente Instrução responde a esse intento. Entre os dois documentos existe uma
relação orgânica. Devem ser lidos um à luz do outro.
Sobre o tema deles,
presente na medula da mensagem evangélica, o Magistério da Igreja tem-se
manifestado em numerosas ocasiões.2 O atual documento limita-se a indicar os
seus principais aspectos teóricos e práticos. Quanto às aplicações que dizem
respeito às diversas situações locais, compete às Igrejas particulares, em
comunhão entre elas e com a Sé de Pedro, providenciá-las directamente.3
O tema da liberdade e da
libertação tem uma evidente dimensão ecuménica. Com efeito, ele pertence ao
património tradicional das Igrejas e comunidades eclesiais. Por isso mesmo o
presente documento pode ajudar o testemunho e a acção de todos os discípulos de
Cristo, chamados a responder aos grandes desafios do nosso tempo.
A
verdade que nos liberta
3. A palavra de Jesus: «A
verdade vos libertará» (Jo 8, 32) deve iluminar e guiar, neste terreno, todas
as reflexões teológicas e todas as decisões pastorais.
Essa verdade, que vem de
Deus, tem o seu centro em Jesus Cristo, Salvador do mundo.4 D'Ele, que é «o
Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo 14, 6), a Igreja recebe aquilo que ela oferece
aos homens. No mistério do Verbo encarnado e redentor do mundo, vai buscar a verdade
sobre ó Pai e seu amor por nós como a verdade sobre o homem e sobre a sua
liberdade.
Pela sua cruz e ressurreição,
Cristo realizou a nossa redenção: esta é a liberdade no seu sentido mais forte,
já que ela nos libertou do mal mais radical, isto é, do pecado e do poder da
morte. Quando a Igreja, instruída por seu Senhor, eleva a sua oração ao Pai:
«livrai-nos do mal», está suplicando que o mistério da salvação se manifeste,
com potência, na nossa existência de cada dia. Ela sabe que a cruz redentora é,
verdadeiramente, a fonte da luz e da vida e o centro da história. A caridade
que a inflama faz com que proclame a Boa-Nova e, através dos sacramentos,
distribua os seus frutos vivificantes. É de Cristo redentor que partem o seu
pensamento e a sua acção, quando, diante dos dramas que dilaceram o mundo,
reflecte sobre o significado e os caminhos da libertação e da verdadeira
liberdade.
A verdade, a começar pela
verdade sobre a redenção, que está no âmago do mistério da fé, é, pois, a raiz
e a regra da liberdade, fundamento e medida de qualquer acção libertadora.
A
verdade, condição da liberdade
4. A abertura à plenitude
da verdade impõe-se à consciência moral do homem; este deve procurá-la e estar
pronto para acolhê-la, quando ela se manifesta.
Segundo a ordem de Cristo
Senhor, 5 a verdade evangélica deve ser apresentada a todos os homens, e estes
têm o direito de que ela lhes seja apresentada. O seu anúncio, na potência do
Espírito, comporta o pleno respeito da liberdade de cada um e a exclusão de
qualquer forma de coacção e de pressão. 6
O Espírito Santo introduz
a Igreja e os discípulos de Cristo Jesus na «verdade plena» (Jo 16, 13). Ele
dirige o curso dos tempos e «renova a face da terra» (Sl 104, 30). É Ele que se
faz presente no amadurecimento de uma consciência mais respeitosa da dignidade
da pessoa humana. 7 O Espírito Santo encontra-se na origem da coragem, da
audácia e do heroísmo: «Onde se acha o Espírito do Senhor, aí está a liberdade»
(2 Cor 3, 17).
CAPÍTULO
I
A
SITUAÇÃO DA LIBERDADE NO MUNDO DE HOJE
I.
Conquistas e ameaças do processo moderno de libertação
A
herança do cristianismo
5. Revelando ao homem a
sua qualidade de pessoa livre, chamada a entrar em comunhão com Deus, o
Evangelho de Jesus Cristo provocou uma tomada de consciência das profundidades
– até então inimagináveis – da liberdade humana.
Assim, a busca da
liberdade e a aspiração à libertação, que se encontram entre os principais
sinais dos tempos do mundo contemporâneo, têm sua raiz primeira na herança do
cristianismo. Esta afirmação é válida, mesmo quando elas assumem formas
aberrantes, chegando a oporem-se à visão cristã do homem e do seu destino. Sem
essa referência ao Evangelho, a história dos séculos recentes, no Ocidente,
permaneceria incompreensível.
A
época moderna
6. Desde a aurora do mundo
moderno, na Renascença, pensava-se que o retorno à Antiguidade na filosofia e
nas ciências da natureza deveria possibilitar ao homem a conquista da liberdade
de pensamento e de acção, graças ao conhecimento e ao controle das leis da natureza.
Por outro lado, Lutero, a
partir da sua leitura de São Paulo, pretendia lutar pela libertação do jugo da
Lei, representada, a seus olhos, pela Igreja do seu tempo.
Mas é sobretudo no Século
das Luzes e na Revolução Francesa que o apelo à liberdade ressoa com toda a sua
força. Desde então, muitos veem a história por vir como um irresistível processo
de libertação que deve conduzir o homem a uma era em que, enfim totalmente
livre, ele poderá gozar a felicidade, já a partir desta terra.
Rumo
ao domínio sobre a natureza
7. Na perspectiva de uma
tal ideologia de progresso, o homem pretendia tornar-se senhor da natureza. A
servidão, que até então era a sua, baseava-se na ignorância e nos preconceitos.
Extraindo da natureza os seus segredos, o homem submetê-la-ia ao seu serviço.
Dessa forma, a conquista da liberdade era a meta que se buscava através do desenvolvimento
da ciência e da técnica. Os esforços despendidos alcançaram sucessos notáveis.
Embora o homem não esteja isento das catástrofes naturais, muitas das ameaças
da natureza foram afastadas. O alimento é assegurado a um número crescente de
indivíduos. As possibilidades de transporte e de comércio favorecem o
intercâmbio dos recursos alimentares, das matérias-primas, da força de
trabalho, das capacidades técnicas, de sorte que se pode razoavelmente
prognosticar uma existência na dignidade e livre da miséria para os seres
humanos.
Conquistas
sociais e políticas
8. O movimento moderno de
libertação propunha-se uma finalidade política e social. Ele deveria pôr um fim
à dominação do homem sobre o homem e promover a igualdade e a fraternidade de
todos os homens. Que, nesse campo, tenham sido alcançados resultados positivos,
é um facto inegável. A escravidão e a servidão legais foram abolidas. O direito
de todos à cultura fez significativos progressos. Em numerosos países, a lei
reconhece a igualdade entre homem e mulher, a participação de todos os cidadãos
no exercício do poder político e os mesmos direitos para todos. O racismo é
rejeitado como contrário ao direito e à justiça. A formulação dos direitos do
homem significa uma consciência mais viva da dignidade de todos os homens.
Comparando-se com os sistemas anteriores de dominação, as conquistas da
liberdade e da igualdade, em numerosas sociedades, são inegáveis.
(cont)
(Revisão da versão
portuguesa por ama)
______________________________
Notas:
1
Congregação para a Doutrina dá Fé, Instrução sobre alguns aspectos da teologia
da libertação (Libertatis Nuntius), Premissas: AAS 76 (1984), 876-877.
2
Cfr. Constituição pastoral Gaudium et Spes e a Declaração Dignitatis Humanae,
do Concílio Ecuménico Vaticano II; as Encíclicas Mater et Magistra, Pacem in
Terris, Populorum Progressio, Redemptor Hominis e Laborem Exercens; as
Exortações apostólicas Evangelii Nuntiandi e Reconciliatio et Poenitentia; a
Carta apostólica Octogesima Adveniens. João Paulo II tratou deste tema em seu
Discurso Inaugural da 3a Conferência do Episcopado latino-americano em Puebla:
AAS 71 (1979), 187-205. A ele voltou em numerosas outras ocasiões. O tema foi
igualmente tratado no Sínodo dos Bispos, em 1971 e 1974. As Conferências do Episcopado
latino-americano fizeram-no objeto de suas reflexões. Ele atraiu também a
atenção de outros Episcopados, como o Episcopado francês: Liberation des hommes
et salut en Jésus-Christ, 1975.
3
Paulo VI, Carta apost. Octogesima Adveniens, nn. 1-4: AAS 63 (1971), 401-404.
4
Cfr. Jo 4, 42; 1 Jo 4, 14.
5
Cfr. Mt 28, 18-20; Mc 16, 15.
6
Cfr. Decl. Dignitatis Humanae, n. 10.
7
Cfr. Paulo VI, Exort. apost. Evangelii Nuntiandi, nn. 78-80: AAS 68 (1976),
70-75; Decl. Dignitatis Humanae, n. 3;
João Paulo II, Enc. Redemptor Hominis,
n. 12: AAS 71 (1979), 278-281.
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