Evangelho:
Jo 3, 16-18
16 «Porque Deus amou de
tal modo o mundo, que lhe deu Seu Filho Unigénito, para que todo aquele que crê
n'Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. 17 Porque Deus não enviou Seu Filho
ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. 18
Quem n'Ele acredita, não é condenado, mas quem não acredita, já está condenado,
porque não acredita no nome do Filho Unigénito de Deus.
Comentário:
Toda a
história da redenção humana é uma
história de amor.
Deus é Amor e, portanto, tudo quanto sai das Suas mãos ou é engendrado no Seu o pensamento não pode ser outra coisa que a expressão desse amor.
Por isso só se salva quem ama verdadeiramente.
Quem, por desgraça, tem o coração preso às coisas terrenas não tem
espaço para outro amor, o principal, o mais importante, o imprescindível: o
amor a Deus.
(ama, comentário sobre Jo 3, 16-21,
2013.04.10)
Leitura Espiritual
Temas
A
PACIÊNCIA
…/5
EXERCÍCIOS
DE PACIÊNCIA
Não,
não há “truques” ou “técnicas” que sirvam para viver a paciência, se o egoísmo
ainda tem o ninho no nosso coração. Com esse hóspede indesejável, é inútil
qualquer tentativa. Mas se há amor, então vão-nos ocorrendo mil maneiras de
exercitar a paciência, bem práticas, simples, bonitas... e eficazes.
Quem
tem experiência da luta por viver com Deus, sabe que o amor cristão se mexe
movido por duas asas: a da oração e a da mortificação. Por isso, todo o
exercício da virtude cristã da paciência comportará necessariamente o movimento
de uma dessas asas ou, o que será mais frequente, de ambas ao mesmo tempo.
Em
primeiro lugar, a oração. O cristão paciente procura falar antes com Deus do
que com os homens. Quando se sente à beira de uma crise de impaciência – pois
ia retrucar, censurar, queixar-se... –, faz o esforço de se calar. Alguns
recomendam contar até vinte, antes de abrir a boca. Melhor será fazer o
sacrifício de guardar silêncio, de sair, se for preciso, de perto do foco do
atrito (ir para outro cômodo, etc.), e de rezar bem devagar alguma oração, como
por exemplo o Pai-Nosso (sublinhando mentalmente as palavras-chave que acordarão
a fé e o amor e, portanto, trarão calma e lucidez à alma: Pai, ...seja feita a
vossa vontade..., perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a
quem nos tem ofendido...).
Após
essa oração, que pode ser também uma sequência de jaculatórias, de invocações breves,
pedindo paciência a Deus, e já com a alma mais tranquila, poderemos discernir o
que nos convém fazer: se é deixarmos passar, sem mais, aquele dissabor, aquela
contrariedade; ou é praticar o que lemos no n. 10 de Caminho: “Não repreendas quando sentes a indignação pela falta
cometida.
–
Espera pelo dia seguinte, ou mais tempo ainda. – E depois, tranquilo e com a
intenção purificada, não deixes de repreender [1];
ou, então, se é tomar a iniciativa de ter um gesto simpático – um afago para a esposa
ou a filha; uma palavra amável, que quebre o gelo com aquele que nos causou
mal-estar.
Não
duvidemos de que o esforço de guardar silêncio, unido ao esforço de fazer
oração, sempre conduzirá para a paciência, para a paciência real e prática, os
que lutam com boa vontade.
Ao
lado da oração, mas sem largá-la da mão, o cristão exercita a paciência por
meio da prática voluntária, consciente, amorosa, de um sem-fim de pequenos
sacrifícios, que são uma gota de paz, de afabilidade, de bondade, sobre as
incipientes ebulições da impaciência. Talvez não seja demais lembrar, a título
de sugestão para o leitor, algumas dessas mortificações cristãs, que diariamente
podemos oferecer a Deus: fazer o esforço de escutar pacientemente a todos (ao
menos durante um tempo prudencial), sem deixar que se apague o sorriso dos
lábios, nem permitir que os olhos adquiram a inexpressiva fixidez, prelúdio de
bocejo, de um peixe;
*
não andar comentando a toda a hora e com todos, sem razão plausível nem
necessidade, as nossas gripes, as nossas dores de cabeça ou de fígado nem, em
geral, qualquer outro tipo de mal estar pessoal: propor-nos firmemente não nos
queixarmos da saúde, do calor ou do frio, do abafamento no autocarro lotado, do
tempo que levamos sem comer nada... renunciar decididamente a utilizar os verbetes
típicos do Dicionário da Impaciência:
*
“Você sempre faz isso!”, “De novo, mulher, já é a terceira vez que você passa
um cheque sem fundos!”, “Outra vez!”, “Já estou cansado”, etc., etc.;
*
evitar cobranças insistentes e antipáticas, e prontificar-nos a ajudar os
outros, usando mais vezes do expediente afável de lembrar-lhes as coisas que
omitiram ou atrasaram, e de estimulá-los a fazê-las;
*
não implicar – não vale a pena! – com pequenos maus hábitos ou cacoetes dos
outros, mas deixá-los passar como quem nem repara neles: mania de bater na
cadeira ou de tamborilar com os dedos na mesa, tendência para ler por cima do
ombro o jornal que nós estamos lendo, de fazer ruído com a boca, de cantarolar
horrivelmente enquanto se lê ou se trabalha... Lembro-me bem da “guerra fria”
que se travou entre uma filha cinquentona e um pai quase oitentão, e na qual
fui chamado a intervir como mediador. Ela sustentava que o pai vivia gemendo,
ele retrucava dizendo que “não, senhora, estou é cantarolando”... E, se não
tivesse havido a intervenção de uma “potência neutra”, o atrito poderia ter
terminado muito mal;
*
saber repetir calmamente as nossas explicações a quem não as entende e se
mostra porfiadamente obtuso; ter a calma de partir do bê-á-bá para esclarecer
assuntos técnicos a pessoas que os desconhecem e não têm vocação para lidar com
cálculos e máquinas;
*
não buzinar quando alguém reduz a marcha do veículo e estaciona inopinadamente;
por sinal, se o leitor deseja um bom conselho para o trânsito, ofereço-lhe o
seguinte, que já deu muito bons resultados: nunca olhe para a cara do
“agressor”, do motorista “barbeiro”. Continue serenamente o seu percurso sem
ficar sabendo se era homem ou mulher, jovem ou velho: vai ver que é difícil
ficar com raiva de uma sombra indefinida; se, além disso, passada a primeira
reação, reza ao Anjo da Guarda por ele/ela, para que se torne mais prudente,
mais hábil ou menos prepotente, melhor ainda;
*
por último, permito-me repisar a importância da oração para adquirir a
paciência, evocando a simpática surpresa de uma mãe impaciente que se tornou
“rezadora”. Aquela mulher de nervos frágeis tinha-se proposto rezar a Nossa
Senhora a jaculatória: “Mãe de misericórdia, rogai por nós (por mim e por esse
moleque danado)” a cada grito das crianças. Quando começava a ferver uma crise
conjugal, tinha igualmente “preparada” uma oração própria que dizia: “Meu Deus,
que eu veja aí a cruz e saiba oferecer-Vos essa contrariedade! Rainha da paz,
rogai por nós!” E quando ia ficando enervada e ríspida, rezava: “Maria.., vida,
doçura e esperança nossa, rogai por mim!” Depois comentava com certo espanto: –
“Sabe que dá certo? Fico mais calma!” E ficava mesmo.
Como
vemos, nem essa boa mãe, nem as outras pessoas acima evocadas como exemplo, conseguiam
viver a paciência à base de truques de “pensamento positivo”, mas de esforços
de fé e de amor cristão. De maneira que, sem terem a mínima noção disso, todas
elas estavam dando a razão a São Tomás de Aquino que, com o seu habitual
laconismo, sintetizou assim a questão:
Manifestum
est quod patientia a caritate causatur – “é evidente que a paciência é causada pelo
amor”, ou, por outras palavras que traduzem com igual precisão as do santo: “Só
o amor é causa da paciência” [2]
HISTÓRIAS
DE AMOR PACIENTE
O
AMOR QUE SABE SOFRER
Víamos
no começo que a paciência é a arte de sofrer. Depois das considerações que acabamos
de fazer, pode-se modificar um pouco esse enunciado e dizer que a paciência é o
amor que sabe sofrer.
Uma
das coisas mais comoventes e edificantes do mundo é ter conhecido uma pessoa
que, durante longo tempo, soube sofrer com amor. Nenhuma teoria, nenhuma
ciência, nenhum livro nos pode ensinar melhor do que ela o que é a beleza e a
grandeza da paciência. É bem certo que poucas realidades mostram tão bem a
presença de Deus e a marca da sua graça num ser humano como o faz – quase que
por transparência – o bom sofredor, o sofredor amoroso, sereno e esquecido de
si mesmo.
Não
é por acaso que São Paulo, quando começa a enumerar as qualidades do amor
cristão, como quem apresenta as facetas de uma pedra preciosa, menciona em
primeiro lugar que a caridade é paciente, e arremata os elogios dizendo que a
caridade tudo sofre (cf. 1 Cor 13, 4.7). A vida dos santos, ou simplesmente a
vida dos homens e mulheres bons, que optaram por transformar a sua existência
numa amorosa tarefa de edificar, confirma o que Deus nos diz por meio de São Paulo.
Por
isso, como o exemplo é o melhor livro e o testemunho vivido a mais pedagógica
das escolas, vamos adentrar neste novo capítulo em quatro histórias de amor
paciente ou, para sermos mais precisos, vamos relatar numas poucas pinceladas
alguns episódios significativos de quatro vidas que souberam encarnar o amor
paciente.
Dos
dois primeiros casos, quem escreve estas páginas foi, em parte, testemunha
presencial.
Os
outros dois, conhece-os pela tocante narração de um médico.
UM
MESTRE DE BOM HUMOR
Durante
dois anos, tive o privilégio – seria mais exato dizer a graça – de conviver em
Roma com o Fundador do Opus Dei, o Bem-aventurado Josemaría Escrivá.
Muito
alegre e desportivamente, uns cento e vinte alunos do Colégio Romano da Santa
Cruz nos acomodávamos como podíamos nos escassos e surrealistas espaços de um
prédio ainda em construção. Mas, para nós, o sol raiava todos os dias, mesmo
quando a Cidade Eterna se cobria de nuvens, porque saboreávamos a experiência
de estar convivendo com um santo.
Todos
os biógrafos de Mons. Escrivá, hoje já numerosos, coincidem em afirmar que uma das
características da sua personalidade era a alegria, patenteada num constante
bom humor. Um desses biógrafos dá justamente o título de Mestre de bom humor à
obra de recordações pessoais que lhe dedica. [3]
Os
que convivemos durante algum tempo com ele somos testemunhas de que esse título
é exacto.
Quase
diariamente, os alunos do Colégio Romano da Santa Cruz, anexo então à sede
central do Opus Dei em Roma, tínhamos a feliz oportunidade de estar e de
conversar uns bons momentos com Mons. Escrivá. Eu, que chegara a Roma em
outubro de 1953 e só sairia de lá no fim do ano lectivo de 1955, guardo a viva
lembrança do Fundador do Opus Dei como um sacerdote inflamado em amor de Deus,
amor que fundia maravilhosamente com um enorme carinho humano, sempre sorridente,
sempre otimista, sempre vibrante, sempre bem- disposto.
Todos
os que o conhecíamos de perto víamos nele a extraordinária harmonia das
diversas virtudes cristãs – mesmo das aparentemente contraditórias, como a mais
terna compreensão e a firmeza mais exigente –, a erguer-se como picos elevados
na cordilheira compacta da sua vida santa. Pois bem, um desses cumes elevados
era, sem dúvida alguma, a paciência. Esta virtude manifestava-se, no dia-a-dia,
de diversas formas; uma das mais patentes era a equanimidade que se percebia a
todas as horas e em todas as circunstâncias. Equanimidade, ou seja, igualdade
de ânimo, boa disposição permanente, que atraía com força irradiante e
estimulava a imitá-lo.
Não
é que tudo fosse um mar calmo à sua volta, nem que ele – homem de temperamento vivo,
sensível e ardente – fosse impassível. Mesmo sem conhecermos muitos detalhes,
todos nós tínhamos noção das dificuldades grandes que o Padre – assim o
chamávamos – tivera e tinha que enfrentar para levar a Obra de Deus para a
frente. Sabíamos em parte, ou imaginávamos saber, o calibre das provações e
sofrimentos por que Deus permitiu que passasse, forjando-lhe assim a têmpera do
santo: incompreensões dolorosas, incríveis calúnias, perseguições, carência
absoluta de meios materiais... Contradições brutais, que acabaram por deixar a
sua farpada na saúde do Padre.
Desde
os anos quarenta, de facto, padecia de uma séria diabete mellitus. Mas, se alguém
nos perguntasse: – “Como vai a saúde do Padre?”, teríamos respondido, com a
maior naturalidade: – “Ora, graças a Deus, vai muito bem”.
E,
com efeito, era assim mesmo que víamos o Fundador: muito bem.
Todos
os dias nos deixava a imagem de um homem cheio de Deus e pletórico de
humanidade, transbordante de alegria e de dinamismo.
(cont.)
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