Em seguida devemos tratar dos
preceitos da lei antiga. E primeiro, da distinção deles. Segundo, de cada um
dos géneros distintos.
Na primeira questão discutem-se seis
artigos:
Art. 1 — Se a lei antiga continha só
um preceito.
Art. 2 — Se a lei antiga continha
preceitos morais.
Art. 3 — Se a lei antiga continha
preceitos cerimoniais, além dos morais.
Art. 4 — Se, além dos preceitos morais
e cerimoniais, há preceitos judiciais, na lei antiga.
Art. 5 — Se a lei antiga contém outros
preceitos, além dos morais, dos judiciais e dos cerimoniais.
Art. 6 — Se a lei antiga devia levar à
observância dos preceitos por promessas temporais e cominações.
Art.
1 — Se a lei antiga continha só um preceito.
O primeiro discute-se assim. — Parece
que a lei antiga não continha senão um preceito.
1. — Pois, a lei não é senão um
preceito, como já se disse (q. 90, a. 2, a. 3). Ora, a lei antiga é uma só.
Logo, não contém senão um preceito.
2. Demais. — O Apóstolo diz (Rm 13,
9): se há algum outro mandamento, todos eles vêm a resumir-se nesta palavra:
Amarás a teu próximo como a ti mesmo. Ora, este é um só mandamento. Logo, a lei
contém só um mandamento.
3. Demais. — A Escritura diz (Mt 7,
12): tudo o que vós quereis que vos façam os homens, fazei-o também vós a eles;
porque esta é a lei e os profetas. Ora, toda a lei antiga está contida na lei e
nos profetas. Logo, ela não tem senão um preceito.
Mas, em contrário, o Apóstolo diz (Ef
2, 15): Abolindo com os seus decretos a lei dos preceitos; referindo-se à lei
antiga, como é claro pela Glosa a esse lugar. Logo, a lei antiga continha em si
muitos mandamentos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Diz-se que a lei antiga é una por se ordenar a um fim único; e contudo,
contêm diversos preceitos, relativos à distinção das coisas ordenadas para esse
fim. Assim como a arte da construção é uma pela unidade de fim, por visar à
edificação da casa; e contudo, contém preceitos diversos, conforme a
diversidade dos actos para esse fim ordenados.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Como diz o
Apóstolo (1 Tm 1, 5), o fim do preceito é a caridade. Pois, toda a lei visa
constituir a amizade dos homens entre si, ou deles para com Deus. Por isso,
toda lei está completa só neste mandamento — Amarás a teu próximo como a ti
mesmo — que é como o fim de todos os mandamentos. Pois, no amor do próximo
também se inclui o de Deus, quando ele é amado por amor de Deus. Por isso, o
Apóstolo pôs este único preceito, pelos dois, referentes ao amor de Deus e do
próximo, dos quais diz o Senhor (Mt 22, 40): destes dois mandamentos depende
toda a lei e os profetas.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Como diz
Aristóteles, a amizade para com outrem vem da nossa para connosco mesmo, porque
procedemos para com outrem como procedem para connosco. Donde, o dito — tudo o
que vós quereis que vos façam os homens, fazei-o também vós a eles — deve ser
entendido como regra de amor do próximo, implicitamente contida naquele outro
lugar: amarás a teu próximo como a ti mesmo. E assim, é uma explicação deste
mandamento.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.