05/06/2014

Tratado da lei 14

Questão 93: Da lei eterna.

Art. 2 — Se a lei eterna é conhecida de todos.

(Supra, q. 19, a. 4, ad 3, In Iob, cap. XI, lect. I).

O segundo discute-se assim. — Parece que a lei eterna não é conhecida de todos.

1. — Pois, como diz o Apóstolo (1 Co 2, 11), as coisas de Deus ninguém as conhece senão o Espírito de Deus. Ora, a lei eterna é uma razão existente na mente divina. Logo, é desconhecida de todos, menos de Deus.

2. Demais. — Como diz Agostinho, pela lei eterna é justo que todas as coisas sejam ordenadíssimas. Ora, nem todos sabem como são ordenadíssimas todas as coisas. Logo, nem todos conhecem a lei eterna.

3. Demais. — Agostinho diz: A lei eterna é a de que os homens não podem julgar. Ora, no dizer de Aristóteles, cada qual julga bem aquilo que conhece. Logo, a lei eterna não é conhecida por nós.

Mas, em contrário, diz Agostinho: O conhecimento da lei eterna está impresso em nós.

Um objecto pode ser conhecido de dois modos: em si mesmo, e no seu efeito, onde se encontra alguma semelhança dele. Assim, quem não vê o sol na sua substância conhece-o pela irradiação. Donde, deve dizer-se que a lei eterna ninguém pode conhecê-la como em si mesma é, senão apenas os bem-aventurados, que vêm a Deus em essência. Mas toda criatura racional a conhece por alguma maior ou menor irradiação dela. Pois, todo conhecimento da verdade é uma certa irradiação e participação da lei eterna, que é a verdade imutável, como diz Agostinho. Ora, a verdade todos a conhecem de certo modo, pelo menos quanto aos princípios comuns da lei natural. Quanto aos outros, uns participam mais e outros, menos do conhecimento da verdade, e assim também conhecem mais ou menos a lei eterna.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — As coisas de Deus não podem, em si mesmas, ser conhecidas por nós, mas manifestam-se pelos seus efeitos, conforme a Escritura (Rm 1, 20): As coisas invisíveis de Deus vêm-se, consideradas pelas obras que foram feitas.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora cada um conheça a lei eterna segundo a sua capacidade, do modo que acabamos de dizer, ninguém contudo pode compreendê-la, porque ela não pode manifestar-se totalmente pelos seus efeitos. Donde, não é necessário, que quem conhece a lei eterna, da maneira predita, conheça toda a ordem das coisas, pela qual todas elas são ordenadíssimas.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O julgar das coisas pode ser entendido em duplo sentido. — De um modo, como a faculdade cognitiva julga do seu objecto próprio, conforme a Escritura (Jó 12, 11): Porventura o ouvido não julga das palavras e o paladar de quem come não julga do sabor? E conforme este modo de julgar, o Filósofo diz que cada qual julga bem aquilo que conhece, i. é, julgando se o que lhe é proposto é verdade. — De outro modo, como o superior julga o inferior, por um juízo prático, i. é, se deve ser de tal maneira e não de tal outra. E assim, ninguém pode julgar a lei eterna.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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