Tempo de Páscoa
VI Semana
Evangelho: Jo 16, 12-15
12
Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não as podeis compreender agora. 13
Quando vier, porém, o Espírito da Verdade, Ele vos guiará no caminho da verdade
total, porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e
anunciar-vos-á as coisas que estão para vir. 14 Ele Me glorificará, porque
receberá do que é Meu e vo-lo anunciará. 15 Tudo quanto o Pai tem é Meu. Por
isso Eu vos disse que Ele receberá do que é Meu e vo-lo anunciará.
Comentário:
Podemos dizer que a salvação humana tem lugar
em três ‘fases’ em cada uma intervindo uma Pessoa da Santíssima Trindade:
A primeira: Deus Pai faz a Promessa;
A segunda: Deus Filho cumpre a promessa;
A terceira: Deus Espírito Santo confirma a
promessa.
Concluídas as duas primeiras, vivemos agora em
plena terceira ‘fase’ em que o Espírito Santo nos confirma na Fé esclarecendo o
nosso espírito e orientando o nosso caminhar.
(ama, comentário sobre Jo 16, 12-15, 2013,05.08)
CARTA ENCÍCLICA
MATER ET MAGISTRA
DE SUA SANTIDADE JOÃO XXIII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS,
BISPOS E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR, EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA, BEM
COMO A TODO O CLERO E FIÉIS DO ORBE CATÓLICO
SOBRE A RECENTE EVOLUÇÃO
DA QUESTÃO SOCIAL À LUZ DA DOUTRINA CRISTÃ
TERCEIRA
PARTE
NOVOS ASPECTOS DA QUESTÃO
SOCIAL
EXIGÊNCIAS DA JUSTIÇA
QUANTO ÀS RELAÇÕES ENTRE OS SECTORES PRODUTIVOS
A agricultura, sector
subdesenvolvido
Os
agricultores, protagonistas da própria elevação
143.
Estamos convencidos que os protagonistas do progresso económico e social e da
elevação cultural nos meios rurais devem ser os mesmos interessados, quer
dizer, os lavradores. Podem facilmente convencer-se de quanto é nobre o seu
trabalho: vivem no templo majestoso da criação; estão em relações frequentes
com a vida animal e vegetal, inesgotável nas expressões e inflexível nas leis,
a qual lembra constantemente a Providência do Criador; das suas mãos, por assim
dizer, brotam, em toda a sua variedade, os alimentos que sustentam a família
humana; e com elas proporcionam à indústria um número cada vez maior de
matérias-primas.
144.
Esse trabalho manifesta igualmente a dignidade dos que o realizam e
distingue-se pela riqueza dos conhecimentos de mecânica, química e biologia que
exige; conhecimentos que devem actualizar-se constantemente, tantas são as
repercussões dos progressos técnicos e científicos no sector agrícola. E,
igualmente, um trabalho caracterizado pelos aspectos e valores morais que lhe
são próprios, pois exige agilidade na orientação e adaptação, paciência na
espera, sentido da responsabilidade, espírito perseverante e empreendedor.
Solidariedade
e colaboração
145.
Repare-se ainda que, no sector agrícola, como aliás em qualquer outro sector produtivo,
a associação é actualmente uma exigência vital; e muito mais, quando o sector
se baseia na empresa familiar. Os trabalhadores da terra devem sentir-se
solidários uns dos outros, e colaborar na criação de iniciativas cooperativistas
e associações profissionais ou sindicais. Umas e outras são necessárias para
tirar proveito dos progressos científicos e técnicos na produção, contribuir
eficazmente para a defesa dos preços, e chegar a um plano de igualdade com as
profissões, ordinariamente organizadas dos outros sectores produtivos; e para
que a agricultura consiga fazer-se ouvir no campo político e junto dos órgãos
da administração pública. Porque hoje as vozes isoladas quase não têm
possibilidade de chamarem sobre si as atenções, e muito menos de se fazerem
atender.
Sensibilidade
às exigências do bem comum
146.
Contudo, os lavradores, como aliás os trabalhadores de qualquer outro sector
produtivo, ao utilizarem as suas multiformes organizações, devem conservar-se
dentro da ordem moral e jurídica; quer dizer, devem conciliar os seus direitos
e interesses com os das outras profissões e subordinar uns e outros às
exigências do bem comum. Os agricultores, ao trabalharem pela melhoria e
elevação do mundo rural, podem legitimamente pedir que o seu trabalho seja
ajudado e completado pelos poderes públicos, contanto que eles mesmos mostrem
atender às exigências do bem comum e contribuam para as satisfazer.
147.
É-nos grato expressar aqui a nossa complacência àqueles nossos filhos que nas
diversas partes do mundo se ocupam em organizações cooperativistas,
profissionais e sindicais, tendentes à promoção económica e social de todos os
cultivadores da terra.
Vocação
e missão
148.
O homem encontra no trabalho agrícola mil incentivos para se afirmar, progredir
e enriquecer, mesmo na esfera dos valores do espírito. É, portanto, um trabalho
que se deve considerar e viver como vocação e missão; isto é, como resposta ao
convite recebido de Deus para colaborar na realização do seu plano providencial
na história, como compromisso tomado de se elevar cada um a si e elevar os
outros, e ainda como auxilio para a civilização humana.
Nivelamento
e promoção nas zonas subdesenvolvidas
149.
Não é raro que, entre cidadãos do mesmo país, haja desigualdades económicas e
sociais pronunciadas. Isso deve-se principalmente a viverem e trabalharem uns
em zonas economicamente desenvolvidas e outros em zonas atrasadas. A justiça e
a equidade exigem que os poderes públicos se empenhem em eliminar ou diminuir
essas desigualdades. Para isso, deve procurar-se que, nas zonas menos
desenvolvidas, sejam garantidos os serviços públicos essenciais segundo as
formas e os graus sugeridos ou reclamados pelo meio e correspondentes, em
princípio, ao padrão de vida médio, vigente no país. Mas não se requer menos
uma política económica e social adequada, principalmente quanto à oferta de
trabalho, às migrações da população, aos salários, aos impostos, ao crédito,
aos investimentos, atendendo de modo particular às indústrias de carácter
propulsivo: política capaz de promover a absorção e o emprego remunerador da
mão-de-obra, de estimular o espírito empreendedor e de aproveitar os recursos
locais.
150.
Contudo, a acção dos poderes públicos há-de encontrar sempre justificação em
motivos de bem comum. Deve, portanto, exercer-se num plano de conjunto para
toda a nação, com o intento constante de contribuir para o progresso gradual,
simultâneo e proporcionado, dos três sectores produtivos: agricultura,
indústria e serviços; e procurar que os cidadãos das zonas menos desenvolvidas
se sintam e sejam deveras, na medida possível, os responsáveis e os
realizadores da sua elevação económica.
151.
Recordemos, finalmente, que também a iniciativa particular deve contribuir para
estabelecer o equilíbrio económico e social entre as diferentes zonas de nação.
Mais ainda, os poderes públicos, em virtude do princípio de subsidiariedade,
devem favorecer e ajudar a iniciativa privada, proporcionando-lhe, onde e logo
que seja possível de maneira eficiente, a continuação do desenvolvimento económico.
Eliminar
ou diminuir a desproporção entre terra e povoamento
152.
Convém observar que, em não poucas nações se verificam flagrantes desigualdades
entre território e população. Efectivamente, numas há escassez de homens e
abundância de terras aproveitáveis; ao passo que noutras são numerosos os
homens e escasseia a terra cultivável.
153.
Há também nações, em que, apesar das riquezas em estado potencial, a condição
ainda primitiva da agricultura não permite produzir bens suficientes para as
necessidades elementares das populações, enquanto, noutros países, o alto grau
de modernização alcançado pela lavoura determina uma superprodução de bens
agrícolas com reflexos negativos sobre as respectivas economias nacionais.
154.
É óbvio que a solidariedade humana e a fraternidade cristã pedem que sejam
estabelecidas, entre os povos, relações de colaboração activa e multiforme, que
permita e favoreça o movimento de bens, capitais e homens, com o fim de
eliminar ou diminuir as desigualdades apontadas. Mas deste ponto falaremos a
seguir mais pormenorizadamente.
155.
Queremos contudo manifestar desde já a nossa sincera estima pela obra
eminentemente benéfica que vem realizando a Organização das Nações Unidas a
favor da alimentação e da agricultura (FAO), fomentando relações fecundas entre
os povos, promovendo a modernização das culturas sobretudo nas nações em vias
de desenvolvimento, aliviando o mal-estar das populações subalimentadas.
EXIGÊNCIAS DE JUSTIÇA NAS
RELAÇÕES ENTRE PAÍSES DE DIFERENTE PROGRESSO ECONÓMICO
O problema da época
moderna
156.
O maior problema da época moderna talvez seja o das relações entre as
comunidades políticas economicamente desenvolvidas e as que se encontram em
vias de desenvolvimento económico; as primeiras, por conseguinte, com alto
nível de vida, as outras, em condições de escassez ou de miséria. A
solidariedade, que une todos os seres humanos e os torna membros de uma só
família, impõe aos países, que dispõem com exuberância de meios de
subsistência, o dever de não permanecerem indiferentes diante das comunidades
políticas cujos membros lutam contra as dificuldades da indigência, da miséria
e da fome, e não gozam dos direitos elementares da pessoa humana. Tanto mais
que, dada a interdependência cada vez maior entre os povos, não é possível que
entre eles reine uma paz durável e fecunda, se o desnível das condições económicas
e sociais for excessivo.
157.
Consciente da nossa paternidade universal, nós sentimos o dever de inculcar, de
forma solene, quanto noutra ocasião já afirmamos: "Todos somos
solidariamente responsáveis pelas populações subalimentadas...". [34] (Por
isso) "é necessário educar as consciências no sentimento da
responsabilidade que pesa sobre todos e cada um, particularmente sobre os mais
favorecidos". [35]
158.
É bem claro que o dever, sempre proclamado pela Igreja, de ajudar quem se
debate com a indigência e a miséria, devem-no sentir mais intensamente os
católicos, pelo motivo nobilíssimo de serem membros do corpo místico de Cristo.
O Apóstolo São João proclama: "Nisto conhecemos o Amor: ele deu a sua vida
por nós. E nós também devemos dar a nossa vida pelos irmãos. Se alguém,
possuindo os bens deste mundo, vê o seu irmão na necessidade e lhe fecha o
coração, como permanecerá nele o amor de Deus?" (1 Jo 3,16-17).
159.
Vemos, pois, com agrado, que as nações dotadas de sistemas económicos altamente
produtivos prestam ajuda às comunidades políticas em fase de progresso económico,
para que estas cheguem, com menor dificuldade, a melhorar as próprias condições
de vida.
Auxílios
de urgência
160.
Há nações em que se produzem bens de consumo e sobretudo géneros agrícolas em
excesso; e há outras em que grandes sectores da população lutam contra a
miséria e a fome. Motivos de justiça e de humanidade pedem que as primeiras vão
em socorro das outras. Destruir ou desperdiçar bens que são indispensáveis à
sobrevivência de seres humanos é ferir a justiça e a humanidade.
161.
Sabemos que produzir bens, sobretudo agrícolas, para além das necessidades de
um país, pode ter repercussões economicamente negativas para algumas categorias
de pessoas. Mas não é razão suficiente para cessar o dever de prestar auxílio
de urgência aos necessitados e famintos, seria antes uma razão a mais para
empregar todos os meios para diminuir aquelas repercussões negativas e as
distribuir equitativamente entre todos os cidadãos.
Cooperação
científica, técnica e financeira
162.
Os auxílios de urgência, ainda que obedeçam a um dever de humanidade e de
justiça, não bastam para eliminar, nem sequer para diminuir, as causas que, num
considerável número de países, determinam um estado permanente de indigência,
de miséria, ou de fome. Essas causas encontram-se, principalmente, no
primitivismo ou atraso dos sistemas económicos. Por isso não se podem eliminar
ou diminuir senão por meio de uma colaboração multiforme, destinada a fazer
adquirir aos seus cidadãos as habilitações profissionais e as competências
científicas e técnicas; e a fornecer os capitais indispensáveis para iniciar e
acelerar o progresso económico segundo critérios e métodos modernos.
163.
Bem sabemos como, nestes últimos anos, se foi desenvolvendo e armando a
consciência do dever de fomentar o progresso económico e social das nações que
se debatem com maiores dificuldades.
164.Organismos
mundiais e regionais, Estados, fundações, sociedades particulares, oferecem
cada vez mais a esses países a sua própria cooperação técnica em todos os sectores
da produção; e proporcionam a milhares de jovens ocasião de irem estudar nas
universidades das nações mais adiantadas e adquirir uma formação científica,
técnica e profissional actualizada. Ao mesmo tempo, instituições bancárias
mundiais, Estados, e entidades particulares fornecem capitais e dão ou
contribuem para dar vida a uma rede cada vez mais extensa de iniciativas económicas
dentro das nações ainda em vias de desenvolvimento. Apraz-nos aproveitar a
oportunidade para manifestarmos o nosso sincero apreço por semelhante obra,
rica de frutos. Mas não podemos deixar de observar que a cooperação científica,
técnica e económica, entre as comunidades políticas mais adiantadas e aquelas
que se encontram ainda na fase inicial ou a caminho do progresso, exige uma
expansão maior ainda que a actual; e é para desejar que essa expansão nos
próximos decénios chegue a caracterizar as relações intercomunitárias.
______________________________________
Notas:
[34]
Alocução de 3 de maio de 1960. AAS, 52 (1960), p. 465.
[35]
Cf. ibid.
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