05/05/2014

As sete palavras de Cristo na Cruz 5

Capítulo 1: Explicação literal da Primeira Palavra: «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.» 4

Todas estas desgraças foram preditas por Nosso Senhor nas parábolas do vinhateiro que contratou obreiros para sua vinha, do rei que fez uma boda para seu filho, da figueira estéril, e, mais claramente, quando chorou pela cidade no Domingo de Ramos. A oração de Nosso Senhor foi também escutada se é que fazia referência ao crime dos judeus, pois obteve para muitos a graça da compunção e da reforma da vida. Houve alguns que “retiravam-se, batendo no peito” 7. Houve o centurião que disse “Na verdade este era filho de Deus” 8. E houve muitos que algumas semanas depois se converteram pela pregação dos Apóstolos, e confessaram Aquele que tinham negado, adoraram Aquele que tinham desprezado. Mas a razão por que a graça da conversão não foi outorgada a todos é que a vontade de Cristo se conforma à sabedoria e à vontade de Deus, que São Lucas manifesta quando nos diz nos Atos dos Apóstolos: “E creram todos os que eram predestinados para a vida eterna” 9.

“Perdoai-Lhes”. Esta palavra é aplicada a todos por cujo perdão Cristo orou. Em primeiro lugar é aplicada àqueles que realmente pregaram Cristo na Cruz, e repartiram seus vestidos lançando sortes. Pode ser também estendida a todos os que foram causa da Paixão de Nosso Senhor: a Pilatos, que pronunciou a sentença; às pessoas que gritaram: “Seja crucificado. [...] Seja crucificado” 10; aos sumos-sacerdotes e escribas que falsamente o acusaram, e, para ir mais longe, ao primeiro homem e a toda a sua descendência, que por seus pecados ocasionaram a morte de Cristo. E assim, de sua Cruz, Nosso Senhor orou pelo perdão de todos os seus inimigos. Cada um, porém, se reconhecerá a si mesmo entre os inimigos de Cristo, de acordo com as palavras do Apóstolo: “sendo nós inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho” 11. Portanto, nosso Sumo Sacerdote, Cristo, fez uma comemoração para todos nós, até antes de nosso nascimento, naquele sacratíssimo “Memento”, se assim o posso dizer, que Ele fez no primeiro Sacrifício da Missa que celebrou no altar da Cruz. Que retribuição, ó alma minha, farás ao Senhor por tudo o que fez por ti, ainda antes de que fosses? Nosso amado Senhor viu que tu também algum dia estarias nas fileiras de Seus inimigos, e, conquanto não o tivesses pedido, nem o tivesses buscado, Ele orou por ti a Seu Pai, para que não carregasse sobre ti a falta cometida por ignorância. Não te importa, portanto, ter em conta tão doce Protector, e fazer todo o esforço por servi-Lo fielmente em tudo? Não é justo que com tal exemplo diante de ti aprendas não só a perdoar a teus inimigos com facilidade, e a orar por eles, mas até a atrair quantos possas a fazer o mesmo? É justo, e isto desejo e tenho o propósito de fazer, com a condição de que Aquele que me deu tão brilhante exemplo me dê também em sua bondade a ajuda suficiente para realizar tão grande obra.

são roberto belarmino

(Tradução: Permanência, revisão ama).
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Notas:
7. Lc 23,48.
8. Mt 27,54.
9. Atos 13,48.
10. Mt 27,23.
11. Rom 5,10.


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