Capítulo
1:
Explicação literal da Primeira Palavra: «Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.» 4
Todas estas desgraças
foram preditas por Nosso Senhor nas parábolas do vinhateiro que contratou
obreiros para sua vinha, do rei que fez uma boda para seu filho, da figueira
estéril, e, mais claramente, quando chorou pela cidade no Domingo de Ramos. A
oração de Nosso Senhor foi também escutada se é que fazia referência ao crime
dos judeus, pois obteve para muitos a graça da compunção e da reforma da vida.
Houve alguns que “retiravam-se, batendo no peito” 7. Houve o centurião que
disse “Na verdade este era filho de Deus” 8. E houve muitos que algumas semanas
depois se converteram pela pregação dos Apóstolos, e confessaram Aquele que
tinham negado, adoraram Aquele que tinham desprezado. Mas a razão por que a
graça da conversão não foi outorgada a todos é que a vontade de Cristo se conforma
à sabedoria e à vontade de Deus, que São Lucas manifesta quando nos diz nos
Atos dos Apóstolos: “E creram todos os que eram predestinados para a vida
eterna” 9.
“Perdoai-Lhes”. Esta
palavra é aplicada a todos por cujo perdão Cristo orou. Em primeiro lugar é
aplicada àqueles que realmente pregaram Cristo na Cruz, e repartiram seus vestidos
lançando sortes. Pode ser também estendida a todos os que foram causa da Paixão
de Nosso Senhor: a Pilatos, que pronunciou a sentença; às pessoas que gritaram:
“Seja crucificado. [...] Seja crucificado” 10; aos sumos-sacerdotes e escribas
que falsamente o acusaram, e, para ir mais longe, ao primeiro homem e a toda a
sua descendência, que por seus pecados ocasionaram a morte de Cristo. E assim,
de sua Cruz, Nosso Senhor orou pelo perdão de todos os seus inimigos. Cada um,
porém, se reconhecerá a si mesmo entre os inimigos de Cristo, de acordo com as
palavras do Apóstolo: “sendo nós inimigos, fomos reconciliados com Deus pela
morte de seu Filho” 11. Portanto, nosso Sumo Sacerdote, Cristo, fez uma
comemoração para todos nós, até antes de nosso nascimento, naquele sacratíssimo
“Memento”, se assim o posso dizer, que Ele fez no primeiro Sacrifício da Missa
que celebrou no altar da Cruz. Que retribuição, ó alma minha, farás ao Senhor
por tudo o que fez por ti, ainda antes de que fosses? Nosso amado Senhor viu que
tu também algum dia estarias nas fileiras de Seus inimigos, e, conquanto não o
tivesses pedido, nem o tivesses buscado, Ele orou por ti a Seu Pai, para que
não carregasse sobre ti a falta cometida por ignorância. Não te importa,
portanto, ter em conta tão doce Protector, e fazer todo o esforço por servi-Lo
fielmente em tudo? Não é justo que com tal exemplo diante de ti aprendas não só
a perdoar a teus inimigos com facilidade, e a orar por eles, mas até a atrair
quantos possas a fazer o mesmo? É justo, e isto desejo e tenho o propósito de
fazer, com a condição de que Aquele que me deu tão brilhante exemplo me dê
também em sua bondade a ajuda suficiente para realizar tão grande obra.
são
roberto belarmino
(Tradução:
Permanência, revisão ama).
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Notas:
7.
Lc 23,48.
8.
Mt 27,54.
9.
Atos 13,48.
10.
Mt 27,23.
11.
Rom 5,10.
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