Capítulo
5:
O primeiro fruto que se há-de colher da consideração da segunda Palavra dita
por Cristo na Cruz. 3
Essa é, pois, a maneira
por que o Cristo, o grande Rei, mostra sua liberalidade aos que se entregam sem
reservas aos seus serviços. Não são estultos os homens que, abandonando as
bandeiras de tal monarca, desejam fazer-se escravos de Mamón, da gula, da luxúria?
Mas os que ignoram aquilo que Cristo considera como verdadeira riqueza poderiam
obstar que estas promessas não passam de palavras, pois muitas vezes
verificamos que os amigos diletos do Senhor são pobres, esquálidos, abjetos e
sofridos e, por outro lado, nunca enxergamos a tal recompensa centuplicada, que
se diz tão magnífica. Assim é porque o homem carnal não pode ver o cêntuplo que
Cristo prometeu, pois não tem olhos com que possa vê-los; não participará
jamais desse gozo durável, que engendra uma consciência pura e um verdadeiro
amor de Deus. Contudo, darei um exemplo para mostrar que até um homem carnal
pode apreciar os deleites e as riquezas espirituais. Lemos, num livro de
exemplos sobre os varões ilustres da ordem Cisterciense, que um certo homem,
nobre e rico, chamado Arnulfo, abandonou toda sua fortuna e fez-se monge
cisterciense, vivendo sob a autoridade de São Bernardo. Deus testou a virtude
desse homem mediante dores amargas e muitos tipos de sofrimentos, em particular
no final de sua vida; numa certa ocasião, quando sofria mais agudamente que de
costume, clamou com voz forte: “Tudo o que dissestes, oh! Senhor Jesus, é
verdade”. Ao perguntar-lhe, os que estavam presentes, qual a razão de sua
exclamação, respondeu-lhes:
”O Senhor, em Seu Evangelho,
diz que os que abandonam suas riquezas e todas as coisas por Ele receberiam o
cêntuplo nesta vida e, após, a vida eterna. Compreendo largamente a força e a
gravidade desta promessa, e reconheço que estou agora a receber o cêntuplo por
tudo que abandonei. Em verdade, a grande amargura desta dor me é tão agradável
por causa da esperança [que tenho] na Divina Misericórdia, que me estenderão os
sofrimentos, dos quais não consentiria libertar-me, ainda que a cem vezes o
valor da matéria mundana que abandonei. Porque, em verdade, a alegria
espiritual que se concentra na esperança do que há de vir ultrapassa cem vezes
toda alegria mundana, que brota do presente”.
O leitor, ao ponderar
estas palavras, poderá julgar em quão grande estima se há de ter a virtude
vinda do céu da esperança infalível, da felicidade eterna.
são
roberto belarmino
(Tradução:
Permanência, revisão ama).
_________________________________________
Notas:
2. Sal 45,17.
3. Mt 25,35.36.
4. Mt 19, 29.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.